ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS MORTES PEQUENO SÃO JOÃO DEL REI MG

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Transcrição:

134 ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS MORTES PEQUENO SÃO JOÃO DEL REI MG Thaís Aparecida Silva; silvata91@gmail.com; Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia (Análise Ambiental), IGC-UFMG, Bolsista CAPES; Eliana Mazzucato; mazzucato@usp.br; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geociências (Mineralogia e Petrologia), IGC-USP, Bolsista CNPq; Marta Felícia Marujo Ferreira; martafelicia@uol.com.br; Profa. Associada, ICN- UNIFAL-MG Introdução A análise geomorfológica permite uma integração dos elementos que compõem a paisagem, incluindo a estrutura geológica, o clima, a rede de drenagem e a atividade antrópica. Além disso, é possível compreender a gênese e a evolução da paisagem e sua dinâmica atual. Neste sentido o modelado é resultante de um delicado equilíbrio entre as forças endógenas (tectonismo e vulcanismo) e exógenas (intemperismo e erosão), ao longo do tempo geológico e histórico. A paisagem resulta da busca do equilíbrio frente às perturbações tectônicas ou/e climáticas, também, as humanas. O regime paleoclimático brasileiro nos últimos milhões de anos (Era Cenozoica), principalmente no Quaternário, promoveu a exumação do relevo e a geração de profundos mantos de alteração. Nesse sentido, a influência tectônica na paisagem é mascarada, porém ela existe. Partindo disto, a análise detalhada do relevo e, essencialmente, da drenagem, fornecem alguns subsídios que apontam este controle estrutural. Torna-se possível correlacionar a ocorrência generalizada de processos erosivos, como indicativo de instabilidades tectônicas mais recentes na paisagem ou mesmo vinculadas a pressões antrópicas. Objetivo O objetivo da pesquisa consistiu na análise do relevo e da drenagem da bacia do rio das Mortes Pequeno, localizada na mesorregião do campo das Vertentes incluindo parte dos municípios de Conceição da Barra de Minas e São João del Rei MG. Procurou-se caracterizar estes elementos da paisagem considerando a recorrência dos processos erosivos (ravinas e voçorocas) e sua relação com um possível controle lito-estrutural da bacia. Referencial Teórico A evolução da paisagem é lenta, controlada pela interação entre dois geossistemas. Ambos envolvem mecanismos térmicos, que podem ser classificados como forças endógenas, governadas pela dinâmica termal do interior da terra, e, responsável pela criação de montanhas e

vulcões, e forças exógenas que inclui os processos climáticos, cuja energia provém do sol, que provocam o intemperismo e a erosão das montanhas e também a deposição (PRESS et al.,2006). Partindo deste pressuposto, a compartimentação geomorfológica permite uma análise da paisagem apresentando de forma sintética os dados na forma de mapas e relatórios a fim de deixar as informações mais acessíveis e claras. Isso é possível, através do uso da cartografia geomorfológica, uma importante ferramenta para quem visa representar espacialmente o relevo e suas principais características (lito-estrutura; declividade; altimetria; formas). Atualmente, estudos geomorfológicos voltados à cartografia geomorfológica tem forte contribuição da evolução tecnológica, mantendo estreita relação com o Sensoriamento Remoto e o Geoprocessamento. Dentre os diversos componentes da paisagem natural, os rios são os principais agentes modificadores e escultores da mesma (PRESS et al., 2006). Nesta perspectiva, a drenagem, de modo geral, é o elemento mais sensível às modificações tectônicas crustais, respondendo quase de modo imediato aos processos deformativos, mesmo os de pequena magnitude (ETCHEBEHERE et al., 2004). Alguns estudos que abordam a gênese e evolução destes processos erosivos indicam que estas feições podem estar associadas a um condicionamento natural da paisagem, sendo originadas pela própria busca por um novo equilíbrio rompido devido a um agente natural. Bigarella (2007) afirma que no passado geológico as voçorocas originavam-se por fenômenos naturais, podendo ser de caráter climático ou tectônico. Materiais e Métodos As etapas metodológicas partiram do levantamento e revisão dos materiais bibliográficos e cartográficos disponíveis para a área de estudo. Foram utilizadas cartas geológicas de Lavras e São João Del Rei-MG, escala 1:100.000 da CODEMIG (2002); cartas topográficas disponibilizadas pelo IBGE (1975) de São João Del Rei, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Piedade do Rio Grande e Tiradentes, escala 1:50.000. Para a identificação e mapeamento dos processos erosivos (ravinas e voçorocas) foram utilizadas imagens do Google Earth. A análise das formas de relevo foi baseada em imagens Aster. Trabalhos de campo foram realizados para checagem e atualização dos mapas temáticos. Os mapas foram elaborados a partir dos softwares ArcGis 10.1, Iwis 3.0, Quantum Gis 2.2.0 e Spring 5.2.3. Para a interpretação dos lineamentos e anomalias de drenagem utilizou-se as metodologias propostas por Howard (1967). Além disso, aplicou-se o Fator de Assimetria de bacia (FA), Cox (1994), que calcula o quanto a bacia é assimétrica, a partir da área, e se a mesma sofre basculamento. Para a compartimentação do relevo apoiou-se na taxonomia do relevo definida por Ross (1992), considerando o quarto táxon (formas de relevo) e o sexto táxon (dinâmica da vertente ravinas e voçorocas). Resultados e Discussão 135

A bacia foi compartimentada em quatro setores de acordo com o modelado e suas características, e teve como categorias de análise a geologia, declividade, altitudes, formas do relevo e a drenagem. O compartimento I possui o substrato litológico mais homogêneo da bacia, com gnaisses e granitóides. O relevo é composto por um conjunto de colinas amplas de topos arredondados. A densidade de drenagem é baixa. As maiores altitudes são encontradas nos setores a montante da bacia, em torno de 1050 a 1100m, ocorrendo isoladamente topos mais altos que atingem entre 1150 e 1180m. Neste compartimento, a drenagem se apresenta encaixada em vales amplos (FIGURA 1). 136 FIGURA 1.Compartimentação geomorfológica O compartimento II (Figura 1) apresenta uma diversidade litológica, alternando entre quartzitos, biotita xistos e filitos, e granitoides. O relevo apresenta cotas altimétricas altas (1050-1000m), como no anterior, porém a declividade aumenta significativamente, podendo ser classificado como relevo de morros. Nota-se que as vertentes são marcadas por sulcos erosivos efêmeros, que caracterizam um relevo que sofreu soerguimento após a instalação da drenagem. Além disso, o rio das Mortes Pequeno possui alta sinuosidade, com meandros comprimidos e forte grau de encaixamento, formando em alguns trechos paredes subverticais similares a canyons. As voçorocas e ravinas presentes no compartimento estão localizadas próximas à borda de uma superfície rebaixada de direção NE-SW, definida por Saadi (1990) como o hemi-gráben de São João Del Rei. Os processos erosivos desenvolvem-se concentrados em canais de primeira ordem, que podem estar relacionados ao forte controle tectônico. O compartimento III (Figura 1) é complexo em termos geológicos, devido ao alto metamorfismo, além de formações cenozoicas (Terciário e Quaternário). A morfologia deste compartimento é dissecada e composta por morros com encostas suaves, intercalados com colinas amplas e morros residuais. Os vales estão ora encaixados, ora extensos. As áreas de maiores declives e altitudes restringe-se a Serra do Lenheiro (escarpa de falha com topos de altitudes que variam de 1100 a 1180m) cuja orientação é paralela às falhas principais de direção NE-SW. O rio das Mortes Pequeno, logo após sair do segundo compartimento é composto por uma ampla planície deposicional aluvionar, onde se espera que o rio apresente geometria típica

meandrante, porém ele assume traços retilíneos e encaixados. Os processos erosivos estão relacionados às zonas de falhas e aos contatos litológicos. O último compartimento (IV) encontra-se à jusante do rio das Mortes Pequeno (Figura 1), possui rochas graníticas, metabásicas, principalmente anfibolitos, diques de diabásio e também, a planície aluvionar quaternária. Em relação às estruturas, ocorrem falhas associadas à zona de cisalhamento de direção NE-SW. O relevo é semelhante ao anterior, porém há um predomínio de colinas amplas, com alguns relevos residuais próximos à cidade Conceição da Barra de Minas, sustentados por um litologia mais resistente (granito). O rio principal divaga sobre essa planície quaternária com seguimentos que se alternam entre geometrias meandrantes e retilíneas. A ocorrência de voçorocas pode estar associada ao controle estrutural apresentando alinhamentos em concordância com a falha de direção NE-SW (zona de cisalhamento), também marcantes nos canais de primeira ordem. A partir da aplicação do FA constatou-se que a bacia é assimétrica (FA=33%), configurando na margem esquerda, uma rede hidrográfica mais desenvolvida do que na direita. Assim, este valor sugere basculamento da margem esquerda e migração do canal principal para direita. Esse processo pode estar provocando a concentração de processos erosivos nos canais de primeira ordem da margem esquerda, pois com a inclinação do bloco e a migração do canal a energia dos rios aumenta. Esta constatação pode ser verificada nos compartimentos II, III e IV. A fim de se estabelecer as direções preferênciais da drenagem, elaborou-se o diagrama de rosetas, ilustrando frequência absoluta e comprimento absoluto. As principais direções identificadas foram E-W e NE-SW. Elas são concordantes com as direções das falhas que cortam a área de estudo. Conclusões 137 A compartimentação geomorfológica da bacia contribuiu para o levantamento de informações básicas acerca dos elementos que compõem sua paisagem. A análise de drenagem identificou um comportamento atípico do rio principal, dentre eles destacam-se o atual escavamento de sua planície ampla a jusante, como também, os meandros encaixados ao longo do curso médio e trechos retilíneos relacionados a vales amplos à montante. Os processos erosivos mapeados na área, ravinas e voçorocas, tem seu desenvolvimento associado a canais de primeira ordem, principalmente na margem esquerda do rio das Mortes Pequeno, atribuindo sua ocorrência a reativações promovidas pela migração do rio principal para a margem direita. A pesquisa apresentou resultados relevantes a partir da metodologia aplicada, constituindo um trabalho de base para a compreensão da geomorfologia. Referencias Bibliográficas BIGARELLA, J. J. et al. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. 2. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, v.3, 2007.

COX, R.T. Analysis of drainage-basin symmetry as a rapid technique to identify areas of possible Quaternary tilt-block tectonics: na example from the Mississippi Embayment. Geol. Soc. Am. Bull., 106:571-581, 1994. ETCHEBEHERE, M. L. C.; SAAD, A. R.; PERINOTTO, J.A.J.; FULFARO, V.J. Aplicação do Índice "Relação Declividade-Extensão - RDE" na Bacia do Rio do Peixe (SP) para detecção de deformações neotectônicas, Revista do Instituto de Geociências da USP - Série Científica FERREIRA, M.F.M. Geomorfologia e análise Morfotectônica do alto vale do Sapucaí - Pouso Alegre (MG). Tese de Doutorado, IGCE-UNESP, 275p. HOWARD, A.D. Drainage analysis in geologic interpretation: a summation. Bull. of Amer. Assoc. of Petr. Geol., v. 51, p. 2246-2259, 1967. MAZZUCATO, E.; SILVA T. A. Geomorfologia da bacia hidrográfica do rio das mortes pequeno (MG): implicações morfodinâmicas e estruturais. Monografia de graduação. ICN-UNIFAL-MG. Alfenas, 2014, 67p. PRESS F., SIEVER R., GROTZINGER J., JORDAN T.H. 2006. Para entender a Terra. 4 ed., Trad. R. Menegat, P.C.D. Fernandes, L.A.D. Fernandes, C.C. Porcher. Porto Alegre, Bookman, 656p. ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo: Edusp, n. 6, p.17-30, 1992. SAADI, A. e VALADÃO, R.C. Eventos Tectono-Sedimentares na bacia Neo-Cenozóica do Rio das Mortes (região de são João del Rei - MG) In: Workshop Neotectonica e Sedim. Cont. SE Bras., 1, Belo Horizonte, SBG/MG, p. 81-99, 1990. 138