Depósitos Elúvio-Coluvionares de Areia em Goiás
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- Victorio Diegues Bernardes
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1 Depósitos Elúvio-Coluvionares de Areia em Goiás Homero Lacerda DNPM-GO/DF-DIPLAM/Distritos Mineiros UEG-UnUCSEH-Curso de Licenciatura em Geografia Palavras-Chave: Areia, Tipos de Jazimentos, Goiás 1 INTRODUÇÃO As reservas de areia para construção civil em Goiás e Distrito Federal estão concentradas em uma faixa que engloba a região de Goiânia, o Distrito Federal e seu entorno, bem como todos os municípios goianos com população superior a habitantes (Figura 1). Figura 1: Distribuição das reservas de areia em Goiás e Distrito Federal. Fonte: Elaborado pelo autor, com utilização dos dados de Andrade et al. (2007) 1
2 O maior mercado consumidor é constituído pelo denominado Eixo Brasília-Goiânia, englobando o Distrito Federal e seu entorno, Goiânia e Anápolis. Outras áreas de alto consumo são as cidades de porte médio, como Rio Verde e Caldas Novas. O objetivo deste resumo é caracterizar os jazimentos elúviocoluvionares de areia de Goiás e Distrito Federal quanto à geologia e geomorfologia. 2 MATERIAL E MÉTODOS A primeira etapa do trabalho foi o levantamento das reservas, produção e fluxo de comercialização de areia. Os dados foram obtidos a partir da bibliografia, em trabalhos de síntese como o de Mandetta et al. (2002) e Andrade et al. (2007). Os dados foram tabulados e serviram para elaborar mapas em escala de síntese, mostrando a distribuição das reservas e o fluxo da comercialização. A segunda etapa foi a caracterização geomorfológica e geológica dos jazimentos. A caracterização geomorfológica foi feita a partir da compartimentação do relevo no entorno e na área da jazida, utilizando dados de altimetria das imagens SRTM disponíveis no site da EMBRAPA ( A caracterização geológica dos jazimentos foi feita a partir de pesquisa bibliográfica tendo como fontes os levantamentos geológicos de semi-detalhe já publicados ou disponíveis e os dados contidos em relatórios submetidos ao Departamento Nacional da Produção Mineral. A terceira e última etapa é a síntese, com uma proposta de classificação geológica-geomorfológica dos depósitos abordados. 3 DEPÓSITOS DE AREIA EM GOIÁS As fontes de areia para construção civil do estado de Goiás podem ser enquadradas no seguinte esquema classificatório: 1. Depósitos Aluvionares; 2. Depósitos Elúvio-Coluvionares; 3. Rocha Britada. Os depósitos aluvionares respondem pela maior parte da produção e a areia é retirada do leito ativo das drenagens, com poucos locais onde existem lavras e/ou reservas na planície de 2
3 inundação e nos terraços aluvionares (Figura 2). Depósitos Elúvio-Coluvionares vêm se tornando progressivamente mais importantes desde o final da década de Isto se deve à uma conjunção de fatores, como restrições ambientais à mineração em canais fluviais, pouca disponibilidade de áreas com areia aluvionar não oneradas por títulos minerários e redução das reservas aluvionares nas proximidades dos centros consumidores. A produção de areia a partir de rocha britada existe, já é significativa, mas os dados quantitativos não estão disponíveis. Figura 2: Tipologia dos depósitos de areia. Os depósitos elúvio-coluvionares citados no texto são: 1 Nazário, 2 Nova Veneza, 3 Aparecida de Goiânia, 4 Cristalina, 5 Corumbá e 6 Formosa. Fonte: Elaborado pelo autor. Com relação aos trabalhos anteriores, Matos & Lobo (1995) assinalam que em Goiás os depósitos de areia são relacionados à ação fluvial, com a maior parte das operações em leito ativo e, subordinadamente, extração de areia em planícies de inundação. Mais recentemente, Mandetta et al. (2002) citam jazidas geradas por alteração de quartzito no entorno do Distrito Federal e em Nazário (GO). O depósito de Aparecida de Goiânia, no local denominado Serra da Areia, foi 3
4 estudado por Carraro (2004) que propôs uma compartimentação do relevo em: Interflúvios Amplos, desenvolvidos sobre micaxistos e com latossolos vermelhos distróficos; Vales Fluviais, em áreas de micaxistos, com solos hidromórficos nas cabeceiras e latossolos no médio e baixo curso das drenagens; Serra da Areia, condicionada a ocorrência de uma lente de quartzito atribuída ao Grupo Araxá. O último compartimento foi subdividido em: Topo, com neossolos litólicos e afloramento de rocha; Vertentes, também com neossolos litólicos e afloramento de rocha; e Sopés, caracterizados pela presença de neossolos quartzarênicos, que constituem a fonte da areia lavrada no local. A despeito de sua importância crescente, pouco se sabe sobre a geologia dos depósitos eluvio-coluvionares de areia de Goiás de Distrito Federal, à exceção do depósito de Aparecida de Goiânia, estudado por Carraro (2004). Nos tópicos seguintes serão descritos alguns depósitos eluvio-coluvionares de areia do estado de Goiás e, a partir da descrição, será feita uma proposta de síntese, apresentada como conclusão. 3.1 Área de Cristalina As rochas aflorantes na área de Cristalina pertencem ao Grupo Paranoá (Mesoproterozóico) e na base aflora uma camada de metarritmito constituído pela alternância centimétrica de metargilito e metassiltito, contendo intercalações de quartzito fino (Faria, 1985). Acima desta camada aflora um quartzito fino, bem selecionado e de cor cinza claro ou branco, sobre o qual está a jazida de areia (Figura 3). A geomorfologia da Área de Cristalina é marcada por uma superfície de cimeira caracterizada pelas declividades <5% em cotas de a metros. Esta superfície é afetada pela dissecação fluvial subatual, gerando formas com declividades de 5 a 15% e amplitudes de 60 a 120 metros. 4
5 Figura 3: Jazimento de areia da área de Cristalina. Fonte: Elaborado pelo autor. A Jazida de Areia de Cristalina ocorre em cotas de a 1.120m, em um interflúvio estreito - caracterizado como remanescente de superfície de cimeira - avançando sobre as cabeceiras de drenagens caracterizadas como modelado de dissecação. O depósito de areia compreende um horizonte de até 5 metros de saprolito de quartzito, recoberto por um horizonte superficial de solo arenoso cinza a cinza escuro, com espessura em torno de 1 metro. 3.2 Área de Nova Veneza As rochas da área da jazida pertencem à Associação Ortognáissica- Migmatítica e compreendem gnaisses graníticos, tonalíticos e granodioríticos (Figura 4). Os granitóides estão encaixados em rochas do Complexo Granulítico Anápolis Itauçu, representado por granulitos máficos (Araujo et al. 1994). A geomorfologia local foi descrita como constituída por uma elevação ladeada por vertentes e cabeceiras de drenagem, que formam complexos de rampas de colúvios depositados no piso de anfiteatros (DNPM , 2007). A elevação principal é condicionada pelos gnaisses da Associação Ortognáissica-Migmatítica, tem amplitude da ordem de 200 metros e vertentes íngremes, com declividades de 10 a 40%. As elevações são ladeadas por um modelado de dissecação em colinas, com declividades de 5% a 15% e por interfluvios tabulares com declividades inferiores a 5%. 5
6 Figura 4: Jazimento de Areia de Nova Veneza: Fonte: Elaborado pelo autor. A jazida de areia está sobre a Associação Ortognáissica-Migmatítica ocupando a base das elevações residuais e o modelado em colinas, em cabeceiras de drenagem e pisos de anfiteatros (DNPM , 2007). Uma seção típica do depósito, com espessura da ordem de 5 a 10 metros, inicia com saprolito, recoberto pelo que foi denominado zona de transição entre saprolito e material arenoargiloso. Sobrejacente a este material ocorrem depósitos areno-argilosos de granulometria fina a média e cores cinza, amarela/bege e laranja. O horizonte superficial é um solo arenoso orgânico de cor marrom. Os materiais de interesse econômico são a zona de transição e os depósitos areno-argilosos de cores cinza e bege. 3.3 Área de Nazário O substrato rochoso é constituído por rochas da Sequência Vulcano- Sedimentar de Anicuns-Itaberaí, compreendendo uma unidade quartzítica e uma unidade xistosa. A primeira é constituída por muscovita quartzo xistos e sericita quartzitos que condicionam a Serra da Gibóia (Figura 5) e a segunda é formada por granada-biotita-quartzo xistos feldspáticos (Baeta Junior et al., 1994; Lacerda Filho et al. 2000). 6
7 Figura 5: Jazida de areia da Serra da Gibóia (Jazida Faz. Roncador). Fonte: Elaborado pelo autor. Em relação à geomorfologia, destacam-se dois compartimentos principais. O primeiro é a Serra da Gibóia, um morro sustentado por quartzitos, com topo na cota de metros, amplitude da ordem de 300 metros e vertentes com declividades entre 10 e 40%. O segundo compartimento engloba Interflúvios Tabulares e Colinas, ocupando uma superficie rebaixada em cotas de 600 a 720 metros. A jazida Roncador (DNPM /1999) está situada no compartimento rebaixado e a espessura total do pacote arenoso varia entre 3 e 20 metros. As maiores espessuras (>15m) ocorrem no eixo do interflúvio e a estratigrafia do depósito compreende, da base em direção ao topo: rocha quartzitica saprolitizada, material arenoso e latossolo. 4 CONCLUSÕES Parte significativa da produção de areia de Goiás provém de jazidas elúvio-coluvionares e neste trabalho é proposta a existência de dois tipos de jazimentos, definidos com base no contexto geomorfológico e natureza da acumulação de areia. O primeiro tipo compreende depósitos situados em remanescentes de superfície de erosão, onde a areia provém de saprolitos de quartzitos e de metarritmitos. O segundo tipo consiste em acumulações de areia no sopé de elevações residuais, sustentadas por quarzitos e gnaisses, que constituem as rochas fontes das acumulações de areia, representadas por saprolitos e colúvios. 7
8 O primeiro tipo ocorre nos arredores do Distrito Federal, em Formosa e Cristalina, no compartimento de relevo denominado Planalto do Distrito Federal. Os depósitos estão sobre quartzitos e metarritmitos pertencentes ao Grupo Paranoá (Mesoproterozóico) em cotas de a 1.200m, sobre uma superfície de erosão preservada. O depósito de areia é o manto de intemperismo, com espessura da ordem de 5 metros. Quando a rocha subjacente é o quartzito, o saprolito é constituído de areia fina e, quando a rocha é o metarritmito, o saprolito é um material contendo argila, silte e areia em proporções variáveis. Depósitos do segundo tipo ocorrem em Aparecida de Goiânia, Nazário e Nova Veneza, em cotas de 600 a 900 metros, no compartimento de relevo denominado Planalto Rebaixado de Goiânia. A areia tem como fontes gnaisses granodioríticos a tonalíticos (Paleoproterozóico) e quartzitos atribuídos ao Grupo Araxá (Meso/Neoproterozóico) e à Sequência Vulcanossedimentar (Paleoproterozóico). As acumulações de areia estão em vertentes suaves e cabeceiras de drenagem, situadas no sopé de elevações residuais sustentadas pelos quartzitos ou gnaisses. Os depósitos compreendem, da base em direção ao topo: saprolito de quartzito ou gnaisse; pacote arenoso ou areno-argiloso coluvionar, com espessura de cerca de 5 metros, que pode conter na base uma linha de seixos; e solo superficial arenoso. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. R. et al. Desempenho do Setor Mineral: Goiás e Distrito Federal. Goiânia: DNPM-6o DS, 2007, 172p. ARAÚJO, V. A. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil Folha SE.22- X-B-I, Nerópolis. Brasília: DNPM, 1994, 98p. BAETA JUNIOR, J. D. A. et al. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil - Folha SE.22-X-A-VI, Nazário. Brasília: DNPM, 1994, 108p. CARRARO, N. M. S. R. Compartimentação morfopedológica, uso do solo e impactos ambientais na alta bacia do Córrego das Lajes, Município de Aparecida de Goiânia - GO. Goiânia: UFG/IESA (dissertação de mestrado), 2004, 124p. 8
9 DNPM /2007 Relatório final de pesquisa Nova Veneza Mineração Ltda. julho p. DNPM /1999 Relatório Final de Pesquisa Projeto Areia Roncador EDEM - Empresa de Desenvolvimento em Mineração e Participações Ltda. Abril 2002, 39p. FARIA, A. Geologia do Domo de Cristalina. Revista Brasileira de Geociências, 15(3): , setembro de LACERDA FILHO, J. V.; REZENDE, A.; SILVA, A. (Org.). Geologia e recursos minerais do estado de Goiás e do Distrito Federal. Goiânia. Goiânia: CPRM/METAGO/UnB, MANDETTA, P. M. et al. Diagnóstico do Setor Mineral Goiano. Goiânia: DNPM/AGIM, 2002, 110 p. (inédito). MATTOS, S. C.; LOBO, R. L. de M. Areia para construção civil em Goiás: Perfil da produção, danos ambientais e propostas de mitigação. In: SIMP. GEOL. CENTRO-OESTE, 5, 1995, Cuiabá. Anais...Cuiabá: SBG, 1995, p
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