Indicadores morfotectônicos de um Graben cenozóico intraplaca na Provincia Borborema, Nordeste do Brasil
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- Daniela Camarinho Carmona
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1 Indicadores morfotectônicos de um Graben cenozóico intraplaca na Provincia Borborema, Nordeste do Brasil Silvana Praxedes de Paiva Gurgel, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Francisco Hilário R. Bezerra, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Willame Medeiros Cocentino, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, INTRODUÇÃO Sabe-se que a ação construtora da tectônica está presente em todas as escalas de análise do relevo, pois nenhuma porção da litosfera é dotada de absoluta estabilidade crustal. A gênese de algumas feições geomorfológicas depende das variações espaciais e temporais e do caráter e intensidade das tensões ocorrentes, este é o objeto de estudo da morfotectônica (SAADI, 1998). Os termos morfoestrutura e morfotectônica podem gerar ambigüidades. Todavia, no primeiro as unidades de relevo são geradas pela combinação da atividade tectônica e clima, sendo que o controle do arcabouço litoestrutural é passivo, enquanto que o agente erosivo é ativo na elaboração da paisagem. O segundo termo consiste no estudo dos processos geradores de formas, relacionados a qualquer tipo de atividade tectônica. Uma das principais frentes de estudos morfotectônicos é a do reconhecimento e estudo das formas de relevo indicativas de movimento tectônico contemporâneo ou recente (FACINCANI, 2001). Em adição aos movimentos verticais, causadores de soerguimentos, ocorrem movimentos verticais de subsidência que dão origem aos grabens em bacias intracratônicas ou bacias de margens passivas. Estas feições morfotectônicas são comumente encontradas na Província da Borborema, Nordeste do Brasil. Aqui se sugere a presença um Graben, entre os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, na região de São Miguel e Dr. Severiano (RN) Ererê e Pereiro (CE), o Graben Merejo. Para a sistematização do trabalho foram utilizados procedimentos do mapeamento geomorfológico tradicional (NUNES, 2009), associado ao uso de geotecnologias, como a extração de produtos orbitais da imagem Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM), através do ArcGis 9.2 e incursões de campo.
2 Tema 3 Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Trabalhos como este tem demonstrado que a teoria da Pediplanação por si só não dá conta de explicar a gênese de muitas das feições encontradas em áreas intraplacas tradicionais no Nordeste do Brasil. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o cumprimento dos objetivos propostos no presente trabalho utilizou-se os seguintes procedimentos: (1) Revisão bibliográfica; (2) Associação de técnicas tradicionais (aerofotogrametria e mapeamento geomorfológico) com geoprocessamento, apoiado no ArcGis 9.2, em seu aplicativo ArcMap (Figura 1); (3) Incursões de campo: mapeamento geomorfológico para verificação e descrição das feições in locu, além de amostragem de sedimentos (colúvio e alúvio) para posterior caracterização sedimentológica e datação por SAR. Figura 1- Fluxograma dos procedimentos metodológicos utilizados. 2
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudos abrange Municípios do Extremo Oeste do Estado do Rio Grande do Norte, Doutor Severiano e São Miguel, e parte Municípios de Pereiro e Ererê do Sudoeste do Estado do Ceará. Localiza-se geologicamente no Domínio Rio Grande do Norte, distando mais de 400 km da capital do Estado, Natal, encontra-se entre as coordenadas UTM, em metros, e , Sul e Oeste; e Sul e Oeste (Figura 1). Quanto à litologia são distingue-se três unidades litoestratigráficas: ortognaisses plutônicos de idade Paleoproterozóica Inferior (Período Riaciano), Complexo Pau dos Ferros; metassedimentos e metavulcânicas alcalinas de idade Paleoproterozóica Inferior (Período Estateriano), Grupo São José e granitóides plutônicos cálcio-alcalinos de alto potássio de idade Neoproterozóica (Período Neoproterozóico III), Complexo Granítico Neoproterozóico (MAGINI, 2001). No aspecto geotectônico sua história evolucional abrange desde o Proterozóico Inferior até o Neoproterozóico, fazendo parte do Supercontiente Atlântica. O referido supercontinente foi retrabalhado durante as orogenêneses colisionais (Transamazônica 2,2 2,0 Ga, Rodínia 1,0 Ga e Brasiliana 600 Ma) e do rifteamentodos períodos Estateriano (1,8 1,6 Ga) e Gondwana Ocidental/Panótia. Estes processos deram origem a duas suítes, de Doutor Severiano e São Miguel, as quais são formadas de granodioritos e gnaisses, respectivamente (MAGINI, 2001). No aspecto geomorfológico de acordo com a classificação do RADAM (1979) e Ab Saber (2003) a área assenta-se nos Planaltos Residuais e Depressão Sertaneja, possui altitudes que variam entre as máximas de 783m e mínimas de 171. Entretanto, salvaguardando-se adequações de escala, o presente trabalho propõe uma revisão da classificação genética de algumas feições que na literatura clássica são denominadas de erosivas para morfotectônicas.
4 Tema 3 Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Figura 2 - Localização da área de estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A bacia hidrográfica é a unidade essencial de análise geomorfológica revelando as tendências espaciais de desenvolvimento dos processos. Partindo deste principio obteve-se o primeiro resultado revelador no presente estudo, com a delimitação de três sub-bacias hidrográficas, tomando por base a SRTM. Com isso foi feita a demarcação dos divisores de água, que são justamente as Serras delimitadoras do Graben Merejo (Figura 3). 4
5 Figura 3 Sub-bacias da área de estudo. Em paralelo, através da aerofotogrametria associada ao uso da SRTM, foram traçados os lineamentos, os quais serão utilizados para elaboração do mapa de falhas da área. Estes lineamentos (Figura 4) nortearam o entendimento de algumas feições visualizadas em campo, mas principalmente foi possível visualizar a tendência regional
6 Tema 3 Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais dos lineamentos e identificou-se que estes se adensam nas bordas do Graben Merejo, demonstrando mais uma vez o controle tectônico desta importante feição. Em campo constata-se que as falhas possuem direção principal NW-SE, concordando com o trend dos grandes lineamentos regionais da Província da Borborema, possivelmente tendo sido reativadas no Brasiliano. O mapeamento feito em escala compatível a 1: , pelo RADAM (1979) é a classificação geomorfológica clássica da região, atribui a muitas feições gênese erosiva, o que no mapeamento de detalhe constata-se gênese tectônica, exemplificadas na Figura 5. Em muitas ocasiões os Mapas Geomorfológicos são entendidos, apenas e tão somente como produto final de uma pesquisa geomorfológica. Entretanto, ressalta-se que estas ferramentas não são apenas um demonstrativo/resumo, mas a base, pois toda a teoria que se pode discutir está sustentada nos dados fornecidos por eles. Por esta razão todo trabalho de cunho geomorfológico desde os primórdios de seus estudos partem do/para o mapeamento. O presente trabalho está em consonância com as tendências atuais da geomorfologia que agregam às técnicas de mapeamento geomorfológico tradicional, um ferramental tecnológico que o torna mais ágil e mais preciso. Isso é possível porque há maior disponibilidade de dados e o acesso mais facilitado. A utilização dos produtos das imagens SRTM mostrou excelentes resultados, alcançando-se os objetivos propostos. Nesta perspectiva através da associação destas técnicas foi possível identificar evidências da ação tectônica na área de estudo. Como exemplos disso foram identificados um sulco estrutural que gera um vale encaixado em falha, colmatados por colúvio-alúvio, por onde passa um dos afluentes da Sub-Bacia do Rio Merejo. Na Sub-bacia do Ererê foi identificada feição com padrão repetitivo e bem marcada de facetas triangulares, Serra do Cantinho, indicativa de controle tectônico. Este trabalho também demonstra que as teorias clássicas de pediplanação por si só não explicam a gênese da paisagem em escala de mapeamento de detalhe, como por exemplo, a classificação dada à escarpa de falha da Serra dos Macacos, um dos Hosts do Graben Merejo, cuja gênese atribuída pela literatura clássica era erosiva (Figura 5). 6
7 Figura 4 Lineamentos traçados por aerofotogrametria em conjunto com SRTM+Hillshade.
8 Tema 3 Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Figura 5- Feições importantes indicativas de morfotectônica encontradas na área. 1. Facetas triangulares Serra do Cantinho; 2. Escarpas de falha, Serra dos Macacos; 3. Sulco Estrutural colmatado de colúvio-alúvio. 8
9 Referências Bibliográficas AB SABER, A.N. 2003, Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas, Ateliê Editorial, São Paulo. COELHO, A.L.N. Uso de dados SRTM como ferramenta de apoio ao mapeamento geomorfológico de Bacia de Médio-Porte. Revista Geografica Academica: v.2, n.2 (viii.2008) p EMBRAPA. Imagem Shuttle Radar Topografic Mission- SRTM: SB-24-A-Z. Disponível em: Acesso em: Dezembro de FACINCANI, E. M. Base Conceitual: Morfoestrutura e Morfotectônica Principais feições Associadas: relevo e drenagem. Revista Pantaneira, Aquidauana, v. 3, n. 1, p jan./ jun KELLER, A. E.; PINTER, N. Active Tectonic: earthquakes, upflit, and landscape. New Jersey: Prentice Hall, MAGINI, C.; HACKSPACHER, P. C. (2005) Evolução metamórfica de arcos magmáticos neoproteozóicos: região NE da província Borborema. Revista de Geologia: Fortaleza, 18(2) p NUNES, B. de A. et al. (Coord.) Manual técnico de geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, p. (Manuais técnicos em geociências, n. 5) RADAMBRASIL. Mapa de Geomorfologia. Rio de Janeiro: RODRIGUES, C.; ADAMI, S. Técnicas Fundamentais para o estudo de bacias hidrográficas. In: Praticando Geografia: técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de Texto, p , SAADI, A. Modelos morfogenéticos e tectônica global: reflexões conciliatórias. GEONOMOS, 6 (2): 55-63, SUMMERFIELD, M. A. Landforms tectonics of plate interiors. In:.Global Geomorfhology. British: Pearsion Education, 1991.
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