Construção, Aplicação e Proposta de estratégias didácticas para o ensino do tema: Diminuição da Espessura da Camada de Ozono na Estratosfera no ensino básico Susana C. A. Tavares (1), Joaquim C. G. Esteves da Silva (2) e João C. M. Paiva (3) o (1) Mestre em uímica para o Ensino pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Email: susana azevedo@inetc.yt (2) LAUIPAI, Departamento de uímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto R. Campo Alegre 687, 4169-007 Porto, Portugal, Email: icsi1va(~fc.up.pt (3) Departamento de uímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto e Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra R. Campo Alegre 687, 4169-007 Porto, Portugal, Email: icpaiva(~ifc.up.pt Resumo O ensino das Ciências, nomeadamente da uímica, tem vindo a ser alvo de inúmeras críticas por se constatar ser sucessivamente incapaz de colmatar as reais necessidades da sociedade contemporânea (Marfins, 2002). Um dos objectivos a que nos propomos neste trabalho, dado que os problemas relacionados com a camada de ozono têm de forma crescente adquirido interesse social, é desenvolver metodologias de abordagem inovadoras, atendendo à tão necessária orientação CTS. A intenção é, pois, a de ensinar cada vez mais e melhor um problema no âmbito da Educação Anibiental. Esta problemática, ocupa um lugar de destaque nos novos programas dos ensinos básico e secundário mas venficou-se existir um enorme desconhecimento da comunidade escolar, no estudo internacional PISA 2000. As ~ O metodologias propostas têm componentes significativas diferentes, uma de actividades de laboratóno, outra de interacção multimédia e uma outra de desenvolvimento mais teórico, com textos de apoio. Além da descrição das metodologias em si, apresenta-se o resultado de um estudo piloto junto dos alunos do 7 ano, de onde se extrairam resultados que apontam para uma certa equivalência das três abordagens. Introdução Hoje, a aprendizagem das Ciências não pode continuar a limitar-se à aprendizagem de conteúdos. É pertinente que se encare o ensino das Ciências como uma actuação complexa, necessariamente inserida num contexto social, com o intuito de conduzir efectivamente ao desenvolvimento de competências, atitudes e valores indispensáveis à integração do indivíduo no mundo (Cachapuz, 2000).
Com esta viragem é ffilcral que os professores, corno elementos essenciais ao processo de ensino, estejam receptivos à própria mudança (Lopes, 1994), predispondo se a reflectir na forma corno propõeni aos alunos o caminho para o conhecimento. Assim, os objectivos de estudo, sempre que possível, devem passar a ter um cariz investigativo, permitindo efectivamente a participação activa dos alunos na construção do própno conhecimento. Acreditamos mesmo que só assirn será possível responder ao grande desafio da diversidade e da heterogeneidade, que hoje fazem parte integrante da vida das escolas. Neste trabalho pretende-se então dar resposta à seguinte questão: ue impacte tem o uso de estratégias com forte componente laboratorial/multimédia e qual a sua relação com outras mais teóncas, no ensinoaprendizagem de temáticas sobre a Diminuição da Espessura da Camada de Ozono? Estudo de impacte com os alunos O estudo do uso de diferentes estratégias de abordagem da problemática da Diminuição na Espessura da Camada de Ozono na Estratosfera decorreu em duas secções no âmbito da área curricular não disciplinar a Área de Projecto. A primeira sessão serviu para apresentar aos alunos os objectivos do estudo e avaliar a sua disponibilidade. Como todos se voluntariaram a participar, nessa mesma aula, foram submetidos a um questionário de resposta escrita (pré-teste), construído para o efeito, com questões maiontariamente fechadas, para avaliar os sobre a problemática em estudo. seus conhecimentos No sentido de testar a eficácia das duas diferentes estratégias de ensino O aprendizagem e compará-las com uma estratégia mais teórica a amostra usada foi dividida em três grupos de estudo, designados respectivamente por: Grupo Teónco (T), Grupo Laboratonal (L) e Grupo Multimédia (M). É de referir que para este estudo quase experirnen tal (a amostra e os grupos constituídos não são perfeitamente aleatorizados), se tentou que os três grupos fossem o mais equivalente possível, o que de outra fonua não permitiria a comparação dos dados obtidos. Numa secção seguinte, que decorreu numa das tardes livres da turma, cada um destes grupos abordou este problema com o recurso a uma estratégia diferente, como de seguida se refere. Ao grupo designado por Teónco fez-se uma abordagem com forte componente teórica (sem componente prática, laboratorial ou multimédia), numa das salas de aula da escola. Foi-lhes fornecido um texto informativo, a partir do qual se pretendia que desenvolvessem em grupo a pesquisa, selecção e organização da informação, para que 2
posteriormente realizassem uma exposição oral sobre esta problemática a toda a turma. Esta abordagem decorreu durante cerca de 90 minutos. Com o grupo Laboratorial desenvolveu-se uma actividade prática no laboratório de Ciências Físico-uímicas da escola. Em termos concretos, neste trabalho, propusemos três experiências simples, que podem ser desenvolvidas por estudantes de diferentes níveis de ensino, para investigar a protecção à radiação ultravioleta por diferentes sistemas, sendo estes: - O material sintético de Perspex polimetacrilado de metilo (este material absorve a radiação ultravioleta, de tal forma que placas deste são usadas para simular a camada de ozono); - Os protectores solares; - Os tecidos de algodão de diferentes cores. Esta abordagem decorreu em simultâneo com a anterior, pois a sala de aula onde se desenvolvia a abordagem de cariz mais teórico e o laboratóno Ciências Físico-uímicas eram contíguos havendo assim a possibilidade da professora, neste caso também investigadora, alternar com frequência e rapidez entre ambos os locais. Esta abordagem, devido essencialmente ao tempo de exposição das soluções aquosas de iodeto de potássio, à radiação ultravioleta, decorreu durante mais tempo, cerca de 240 minutos. Ao grupo Multimédia deu-se a possibilidade de explorar um protótipo multimédia por nós desenvolvido, numa das salas de aula com computadores da escola (este software encontra-se em http://nautilus.fis.uc.pt/cec/ozono). O recurso ao computador, com este protótipo, deu a possibilidade a este grupo de abordar o problema de uma forma lúdica, na medida em que estes foram adquirindo os conhecimentos com um software educativo com componente multimédia significativa, ou seja, os alunos aprenderam divertindo-se! Apesar de todas as abordagens seguirem o mesmo fio condutor, a informação surge para estes elementos de maneira diferente, pois surge-lhes por: texto, imagem e som. Para a exploração, propriamente dita, que decorreu durante cerca de 90 minutos, sempre na presença da professora, o promovendo-se assim uma discussão produtiva entre eles. grupo foi dividido em grupos mais pequenos Imediatamente no final de cada uma das sessões os alunos foram sujeitos ao mesmo questionário (pós-teste) para que se avaliasse o acréscimo ou não dos conhecimentos sobre este assunto. 3
Há que salientar que, desde o início, este estudo pretende ser apenas um estudo piloto. Os grupos são extremamente pequenos, o que implica que todas as conclusões não devem ser generalizadas com confiança para o universo (alunos portugueses do 7 ano de escolaridade), pois a amostra poderá não ser representativa. Consideramos por isso, que fará todo o sentido em fmturas oportunidades repetir este estudo expandindo o tamanho da amostra e a sua representatividade. Todavia, consideramos que esta investigação é válida, como estmdo piloto que pretende ser, podendo mesmo fornecer alguma infonuação da realidade do universo. É de notar ainda que do questionário consta alguma informação qualitativa que confere ao presente estudo uni carácter que não é estritamente quantitativo. Alguns resultados No que se refere à amostra em estudo constatamos que independentemente da estratégia usada os alunos mantiveram-se interessados e motivados, facilitando deste modo a aprendizagem. Ao compararmos as duas metodologias de índole laboratorial e multimédia propostas, com a abordagem mais teórica, constatamos não ser notória grande diferença entre elas, pelo menos nos resultados de curto prazo, explicitados nos testes objectivos usados. Porém, não consideramos de modo algum tal conclusão como uma decepção. Ela pode sustentar, afinal, urna intuição que até corroboramos como verdadeira, emergente da experiência prática lectiva: não há metodologias de privilégio e importa até a convergência. Estratégias mais teóricas, com maior componente laboratorial ou com maior componente multimédia podem ser, equivalentemente, quando bem planeadas e protagonizadas, bons camiiihos para aprender. Conclusões Acreditamos que com qualquer uma destas abordagens, se usadas adequadamente, graças às suas enormes potencialidades, podemos melhorar substancialmente o processo ensino-aprendizagem. Acreditamos também que esta amostra ficou motivada no sentido de se comprometer, quer individualmente quer colectivamente, na resolução dos problemas ambientais actuais, ajudando assim a evitar o surgimento de outros novos problemas. Pois cada vez mais é necessário Compreender para Agir de forma consciente. Ao chegar à conclusão, neste estudo, que não se observam diferenças estatísticas significativas entre as médias amostrais para cada uma das abordagens (Cohen, 1994), 4
pensamos demonstrar que todas as práticas pedagógicas poderão e deverão ser ferramentas possíveis ao dispor do professor, devendo ser vistas sempre como mais urna estratégia para a aprendizagem, sem que sejam consideradas imprescindíveis. Acresce ainda a convicção de que não obstante a neutralidade objectiva dos resultados quantitativos, os dados qualitativos e a nossa própria intuição nos remetem para uma supremacia de competências e atitudes, de médio-longo prazo, nas metodologias laboratorial/multimédia. Concluindo, pensamos poder referir que corno não se pretende que os alunos façam Ciência, mas que aprendam Ciência, devemos utilizar todos os recursos disponíveis de forma adequada e equilibrada para melhorar o processo de ensino, tendo muito claro o que é essencial para promover o gosto pelo saber e pelo conhecimento. Isto porque cada vez mais se pretende que o ensino seja para todos, devendo preocupar-se simultaneamente com questões de literacia, mas também com as bases necessárias ao prosseguimento de estudos. Assim, o desafio que se coloca aos professores é de serem capazes de conciliar um grande dilema. Por um lado, ensinar e tomar acessíveis a todos os conteúdos escolares, e por outro manter níveis de exigência elevados, O caminho não parece ser fácil mas, por isso mesmo, um grande e motivador desafio. Referências: Cachapuz, A. (org.) (2000). Perspectivas de ensino, Colecção Formação de Professores-Ciências, Textos de apoio n 1. Porto: Centro de estudos de educação em Ciência. Cohen, L., Manion L. (1994). Research methods in education. New York: Routledge. Conceitos fundamentais emjogo na avaliação de literacia científica e competências de alunos portugueses, PISA 2000. [consult 2003-12-28]. Disponível em: http:/íwww. gave.pt/pisa/conceitos literacia científica.pdf Lopes, J. (1994). Mapas Supervisão do trabalho experimental no 3 ciclo do ensino básico: um modelo inovador. Aveiro: [s. n.]. Marfins, 1. (2002). Problemas e perspectivas sobre a integração CTS no sistema educativo português. Revista Electrónica de Ensehanza de las Ciências Vol. 1 [consult 2004-04-15]. Disponível em: httø ://www.saurn.uvi go.es/reec/v olumenes/volumen 1/Numero 1/Art2.pdf N 1. 5