GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO

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Transcrição:

GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO Introdução Em primeiro lugar, importante assentar que a greve é um direito dos servidores públicos, assegurado pela Constituição da República (art. 37, VII) 1, a ser exercido nos termos de lei ordinária específica 2. No entanto, como essa lei jamais foi editada pelo Congresso Nacional, entendia o STF que esse direito constitucional de greve não poderia ser exercitado pelos servidores públicos 3. Essa proibição, no entanto, jamais impediu que diversas categorias de servidores públicos fizessem greve, embora sob a pecha de ilegais. Esse quadro se alterou a partir de 25 de outubro de 2007, com as decisões do Supremo Tribunal Federal nos Mandados de Injunção nºs 670, 708 e 712. Nessa sessão histórica, o STF abandonou a corrente abstrata da eficácia da decisão nos mandados de injunção, reposicionando o papel da Corte Constitucional nesse campo, passando a adotar uma postura muito mais ativa. Ao invés de simplesmente comunicar a mora ao Legislativo pela não edição da lei de greve dos servidores públicos civis, o Supremo estabeleceu que, enquanto não sobreviesse a norma regulamentadora a que se refere o art. 37, VII, da Constituição, o direito de greve assegurado na Constituição deveria seguir os parâmetros, mutatis mutandis, da Lei nº 7.730/89, que cuida da greve na iniciativa privada. Além disso, definiu o STF a competência provisória dos órgãos judiciais para julgar as demandas relacionadas com o movimento paredista dos servidores públicos, usando como analogia a Lei nº 7.701/88, que trata do processo coletivo na Justiça do Trabalho, como também declarou que poderiam ser 1 O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica (Art. 37, VII, CF/88). 2 A Emenda Constitucional nº 19/1998 abrandou a exigência da Constituição na sua redação original de lei complementar. 3 Em que pese esse entendimento do STF, há notícia de que alguns tribunais admitiram que o direito de greve fosse exercido pelos servidores públicos civis.

descontados os salários dos grevistas pelos dias de paralisação, ainda que legal a greve 4. Essas decisões da Suprema Corte concretizaram no plano da legalidade o direito de paralisação no serviço público, ao mandar aplicar a Lei de Greve do setor privado. Não resolveu, contudo, todas as questões, porquanto há evidente problema de adequação da lei geral de greve às peculiaridades do serviço público, notadamente na caracterização da essencialidade do serviço, sendo tais questões e suas consequências jurídicas decididas caso a caso pelo Poder Judiciário. De qualquer maneira, a questão da legalidade do exercício do direito de greve pelos servidores públicos restou superada com essas decisões da Suprema Corte, de modo que o cerne da questão restou para o modo de exercício desse direito. A presente cartilha, portanto, tem como objetivo informar, de forma objetiva e clara, o conteúdo das decisões do STF e da aplicação adaptada das Leis nºs 7.730/89 e 7.701/88, e trazer algumas orientações sobre o modo de exercício do direito de greve, cujo atendimento poderá ser preponderante no resultado de eventual julgamento da abusividade/legalidade da greve pelo Poder Judiciário. Procedimentos e formalidades para deflagrar a greve Nos julgamentos dos Mandados de Injunção nºs 670, 708 e 712, o Supremo Tribunal Federal afirmou que a greve é um direito exercitável pelos servidores públicos civis. Porém, não se trata de um direito absoluto e imune a restrições, formalidades ou a decisões judiciais. Primeiramente, é importante afirmar que a greve não pode ser o primeiro passo em busca da realização das reivindicações. Uma greve deve ser precedida de um procedimento preparatório que tem início na elaboração da pauta de reivindicações, sua posterior aprovação pela categoria, sua apresentação perante a autoridade estatal competente, e, muito importante, medidas concretas de negociação (ou ao menos tentativas de) desta pauta. 4 Como regra geral, portanto, os salários dos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento aos servidores públicos civis ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão do contrato de trabalho (STF, MI nº 670-ES, MI nº 708-DF e MI nº 712- PA, em 25/10/2007). A jurisprudência das Turmas que compõem a 1ª Seção é uníssona no sentido de que, ainda que reconhecida a legalidade da greve, podem ser descontados dos vencimentos dos servidores públicos os dias não trabalhados, tendo em conta a suspensão do contrato de trabalho (STJ, AgRg no REsp 1273802/RS, DJe 02/08/2013).

Além disso, há uma tendência em separar a greve em dois tipos: [1] greves para exigir cumprimento de acordo já existente e [2] greves com novas demandas. Os procedimentos preparatórios para o segundo tipo de greve são mais rigorosos e seu atendimento será determinante para declarar a abusividade ou a legalidade do movimento. A ANAFE deve, assim, adotar os seguintes procedimentos prévios: 1º Passo 2º Passo 3º Passo 4º Passo 5º Passo 6º Passo Aprovação da pauta em Assembleia Geral Apresentação da pauta à(s) Autoridade(s) Negociação exaustiva Convocação de Assembleia de Deflagração da greve Deliberação sobre a greve pela categoria Comunicação do início da greve ao órgão público e à sociedade com antecedência mínima de 72 h 1º Passo: Aprovação da pauta A pauta de reivindicações deve ser aprovada pela assembleia geral da ANAFE, com divulgação do Edital de Convocação em jornal de grande circulação nacional, observando-se os critérios definidos no estatuto da ANAFE, com antecedência de pelo menos 20 dias ou, excepcionalmente, 10 dias (art. 24 do Estatuto da ANAFE). É importante discutir a pauta de reivindicações e votá-la, narrando na ata o processo de discussão e de votação, além do conteúdo das reivindicações. Se for necessário, desdobrar as exigências nacionais e as locais. Lembrar da outorga de poderes negociais à Diretoria da ANAFE ou ao comando de greve. 2º Passo: Apresentação da pauta A pauta de reivindicações aprovada em Assembleia deve ser formalmente entregue, por escrito, à autoridade administrativa responsável. Deve haver prova do recebimento (documentar a entrega). O documento pode ser protocolado no órgão público respectivo, no caso, na sede da AGU. A pauta também pode ser entregue solenemente, dando início ao processo de negociação.

3º Passo: Negociação exaustiva É fundamental [1] negociar com a autoridade competente e [2] comprovar o processo negocial: [1] Estabelecer tentativas prévias de entendimento com a Administração, para que sejam voluntariamente acolhidas as reivindicações, buscando de forma exaustiva o acordo. A negociação deve ser buscada o máximo possível e de boafé. Se houver recusa por parte da Administração de negociar, será possível deliberar sobre a paralisação. [2] Documentar o mais amplamente possível o processo de negociação (ofícios de remessa e de resposta às reivindicações iniciais e sua evolução, atas de negociação, reportagens sobre visitas às autoridades, notícias de jornal sobre as mobilizações, de preferência não apenas da assessoria de imprensa da ANAFE, mas de outros veículos de comunicação etc.); 4º Passo: Convocação da Assembleia e Deliberação sobre a Greve Frustradas as negociações (art. 3º da Lei nº 7.783/89) é facultada a deflagração da greve, que deve ser deliberada em assembleia da categoria (não apenas dos associados), com ponto específico de pauta, observando as regras estatutárias e mediante ampla publicidade, especialmente a publicação do Edital de Convocação em jornal de circulação nacional. Destacamos: a deflagração de uma greve é uma decisão da categoria, não dos associados. 5º Passo: Deliberação sobre a greve A deliberação sobre a greve deve observar o quorum de instalação e deliberação do estatuto da ANAFE. É fundamental registrar na ata, de modo claro, o processo de discussão e decisão, conforme as formalidades estatutárias. Importante, também, deliberar sobre as medidas necessárias para preservar o atendimento de questões emergenciais, a proposta de percentual mínimo de atividade, o comando de greve e a deliberação de estado permanente de assembleia. 6º Passo: Comunicação do início da greve Deve-se comunicar com, no mínimo, 72 (setenta e duas) horas de antecedência, de maneira formal, o início da greve decidida pela assembleia da categoria à(s) autoridade(s) competente(s), como também divulgar na imprensa comunicado (aviso) dirigido à sociedade, informando o início da paralisação e as reivindicações da categoria.

Procedimentos e formalidades para deflagrar a greve na hipótese de descumprimento de acordo O art. 14 da Lei de Greve (Lei nº 7.783/89) considera abusiva a greve na vigência de acordo anterior, salvo quando (1) a paralisação tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição antes acordada ou (2) seja motivada pela superveniência de fatos novos ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho. Na hipótese de descumprimento de acordo, a Justiça Trabalhista já reconheceu que os trabalhadores ficam dispensados das formalidades prévias estipuladas na citada lei, podendo exercer, de pronto, o seu direito de greve. 5 Nada obstante, orientamos que sejam observadas, ao menos, a formalidade de comunicação prévia de 72 (setenta e duas) horas e que a deflagração seja decidida por assembleia da categoria, convocada especialmente para este fim. Evidentemente, providências como a notificação prévia do descumprimento são salutares. Lembramos, por fim, que o termo do acordo tem natureza de título executivo, podendo algumas de suas deliberações ser objeto de execução judicial. 6 Orientações ao exercício da greve Durante a greve, deve-se continuar a buscar a negociação para o atendimento das reivindicações, documentando-a ao máximo. Não pode haver suspensão total dos serviços, apenas parcial. Observar a definição legal de serviços essenciais e considerar a opinião do STF, no sentido de que todo serviço público é essencial. No entanto, com base nas decisões do STF, o Poder Judiciário vem impondo limites de 30% (para atividades normais sem caráter de essencialidade), de 70% (para atividades essenciais), assim por diante, conforme o caso, existindo casos da proibição da própria greve por considerá-las, ao menos na oportunidade, essencialíssimas. 7 5 TRT-3 - DCG: 00527201000003008 0052700-95.2010.5.03.0000, Relator: Convocada Wilmeia da Costa Benevides, Seção Espec. de Dissídios Coletivos, Data de Publicação: 25/11/2010 24/11/2010. DEJT. Página 24. Boletim: Sim. 6 AgRg na Pet 10.274/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 23/09/2014. 7 No ano de 2014, diversos movimentos paredistas foram abortados pelo Poder Judiciário em face da realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil (Policiais Federais STJ PET 10484) e das eleições (Servidores da Justiça Eleitoral TRF1 e TRF3).

Se for interessante e possível, manter até o final da greve um sistema de ponto paralelo, para registro pelos servidores grevistas, que poderá ser instrumento útil para discutir eventual desconto dos dias parados. Porém, é preciso cuidado, pois esse mesmo ponto poderia ser usado como fundamento para suspende o pagamento de vencimentos. Em nenhuma hipótese, os meios adotados por grevistas e Governo poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem. As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa. Observar que as questões jurídicas envolvendo eventual greve dos Advogados Públicos Federais serão analisadas pelo Superior Tribunal de Justiça (Primeira Seção), restringindo-se a análise (1) à abusividade ou não da greve, (2) ao pagamento ou não dos dias parados, (3) à imposição de regime de greve mais severo que o da Lei, de acordo com as peculiaridades do caso concreto e (4) as medidas cautelares incidentes, como, por exemplo, sobre o percentual mínimo a ser mantido em serviço e interditos possessórios. Ao contrário do que ocorre na Justiça do Trabalho, não haverá deliberação direta sobre as reivindicações dos grevistas. O servidor em estágio probatório pode fazer greve? SIM. Mesmo sem estar efetivado, o servidor em estágio tem todos os direitos dos demais. Portanto, pode exercer o direito constitucional de greve. O estágio probatório é meio de avaliar a aptidão para o cargo e o serviço público. A avaliação deve ser feita por critérios objetivos. A participação em greve não representa falta de habilitação para a função pública nem inassiduidade. Não

pode prejudicar a avaliação. O servidor em estágio probatório não pode ser penalizado pelo exercício de seu direito constitucional de greve. O servidor pode ser punido por ter participado da greve? NÃO. A simples adesão à greve não constitui falta grave. A greve é direito constitucional dos servidores e foi regulamentada pelo STF, diante da omissão do Congresso Nacional. Não há espaço para punição de servidor por aderir ao movimento grevista (Súmula 316/STF). O que pode ser punido é só o eventual abuso ou excesso cometido durante a greve. Por isso, o movimento grevista deve organizar-se a fim de evitar tais abusos e assegurar percentuais mínimos, manutenção dos serviços essenciais e atendimento das necessidades inadiáveis. Os dias parados são descontados? REGRA GERAL, SIM. 8 O STF estabeleceu que a greve dos servidores também suspende o contrato de trabalho. Em decorrência, os salários não seriam pagos. Porém, deverão sempre ser pagos quando a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento e outras situações excepcionais. Se a greve for levada a julgamento, caberá ao Tribunal decidir sobre o pagamento ou não dos dias de paralisação. E não serão pagos se a greve for declarada ilegal ou abusiva. Portanto, é essencial observar as exigências formais para deflagração do movimento, evitar abusos e negociar sempre. Normalmente, porém, o pagamento dos dias parados tem sido objeto de negociação durante a própria greve 9. Existe, porém, a possiblidade de compensação dos dias parados, decorrente de acordo com a Administração 10. Referências BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MI 670, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007, DJe-206 8 Vide nota de rodapé 4, acima. 9 Destacar que o Decreto nº 1.480/1995, que dispõe sobre os procedimentos a serem adotados em casos de paralisações dos serviços públicos federais, enquanto não regulado o disposto no art. 37, inciso VII, da Constituição, embora flagrantemente inconstitucional, já declarado em diversas ações judiciais, ainda está em vigor. 10 STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.497.127/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/03/2016, DJe de 11/03/2016.

DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008 EMENT VOL-02339-01 PP-00001 RTJ VOL-00207-01 PP-00011. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MI 708, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007, DJe-206 DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008 EMENT VOL-02339-02 PP-00207 RTJ VOL-00207-02 PP-00471. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MI 712, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007, DJe-206 DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008 EMENT VOL- 02339-03 PP-00384. MACHADO, Pedro Maurício Pita et al. Cartilha da Greve no Serviço Público da FENAJUFE Federação dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União. Disponível em: <http://sindijuspr.com.br/cartilha_greve_no_servico_publico.pdf>. Acesso em 25/01/2015. BORDAS, Francis Campos e SILVA, Luís Fernando. Cartilha Greve no serviço público. Coletivo Nacional de Advogados de Servidores Públicos. Disponível em: <http://www.assufrgs.org.br/wpcontent/uploads/2012/06/cartilha_greve_no_servio_pblico1.pdf>. Acesso em 25/01/2015.