DEGRADAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE POR EXTRAÇÃO DE AREIA NO RIO TURVO EM ADELÂNDIA, GOIÁS.



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Autor: Uriálisson Mattos Queiroz Instituição: Escola de Engenharia Mecânica da Bahia(EEMBA)/IQUALI

Transcrição:

DEGRADAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE POR EXTRAÇÃO DE AREIA NO RIO TURVO EM ADELÂNDIA, GOIÁS. SOUZA, Gisele 1 ; RODRIGUES, Dayanne Machado 2 ; SIQUEIRA, Renata Cabral 2 ; RODOVALHO, Fabrício Camargos Cunha 3 ; ANTUNES, Erides Campos 4 giambiental@pop.com.br RESUMO O presente estudo enfoca a degradação da Área de Preservação Permanente, APP, por extração de areia em trechos na margem direita do alto curso do rio Turvo, entre a sede urbana da cidade de Adelândia e a confluência com o rio São Manuel, em Goiás. Após coleta de informações em pesquisa bibliográfica e a avaliação de Planos de Controle Ambiental, PCA s, foram levantados os requisitos legais e as características ambientais da área. Em seguida foi desenvolvido um check list, contendo 10 critérios, para o diagnóstico das condições de degradação da APP. Foram escolhidas, de forma aleatória, 30 áreas de extração de areia para a verificação em campo. Levantaram-se, em todas as áreas, o não cumprimento da legislação e das exigências do órgão ambiental estadual. As medidas pertinentes à mitigação dos danos observados constam dos planos avaliados, donde uma ação fiscalizatória mais efetiva na operação pode reduzir os efeitos adversos verificados na APP. Palavras-chaves: Área de Preservação Permanente, Degradação, Extração de Areia, Caixa de Areia, rio Turvo. ABSTRACT The present study it focuses the degradation of the Permanent Preservation Area, PPA, for sand extration in stretches on stream bed of the high course of the river Turvo, between the urban seat of the Adelandia City and the confluence with the river Sao Manuel, in Goiás. After collection of information in bibliographical research and the evaluation of Plans of Ambient Control, PACs, were raise the legal requisites and the ambient characteristics of the area. Next was develop a check list, containing 10 criterions for the diagnostic in condition of the degradation of the PPA. Were choise, of the aleatory form, 30 areas of sand extration for the verification in field. They had been arisen, in all the areas, legislation s disobedience, as well, to the demands the state environmental institution. The relevant measures to the mitigation of the established damages are included in the assessed plans, where a more effective supervising action can reduce the adverse effects appointed in the PPA. Keywords: Permanent Preservation Area, Degradation, Sand Extration, Sandbox, river Turvo. 1 Eng.ª Ambiental, pós-graduanda em Perícia Ambiental/UCG. 2 Eng.ª Ambiental. 3 Acadêmico de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Goiás. 4 Eng.º Ftal, Doutorando CIAMB/UFG, professor do curso de engenharia ambiental da UCG. 1

1 INTRODUÇÃO O rio Turvo é um tributário da margem goiana do rio Paranaíba. Ao cruzar o município de Adelândia, 98 km a oeste de Goiânia, o rio possui um leito de aproximadamente 10 m de largura e grande quantidade de pontos de dragagem de areia. É um dos principais fornecedores de areia para a região e para o município de Goiânia. No processo de extração de areia em leitos de cursos d água, são formadas caixas de areia, freqüentemente instaladas dentro da Área de Preservação Permanente, APP, dos cursos d água, ou mais afastadas dos mesmos. A instalação destas caixas de areia deve ser fora da APP, respeitando os limites estabelecidos no artigo 3 da Resolução 303/CONAMA, de 20 de março de 2002 e no Código Florestal Brasileiro, que dispõem sobre parâmetros, definições e restrições para utilização destas áreas. Este trabalho objetiva verificar a adequação da atividade de extração de areia aos requisitos legais e aspectos ambientais, e levantar as principais alterações ambientais associadas à atividade sobre as áreas de preservação permanente no alto curso do rio Turvo. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A atividade de extração de areia A areia é um recurso mineral fundamental para a atividade de construção civil. Sua definição tem variado ao longo das décadas dentre os autores. Leinz & Amaral (1980), a definem como um sedimento clástico inconsolidado, formado mais comumente por grãos com 0,2 a 2,0 mm de diâmetro e tendo como cores mais usuais o cinza, o amarelo ou o vermelho. Moreira et al (1997), definem areia como uma massa mineral inconsolidada com alto teor de sílica, constituída predominantemente de grãos de quartzo, os quais têm formas e texturas superficiais que podem variar amplamente. Segundo Mattos & Lobo (1992), a classificação de areias pode ser feita em relação ao diâmetro de seus grãos, forma dos grãos e sua pureza. Quanto ao tipo, a areia pode ser aluvionar, comum, de barranco, de fundição, fina, fluvial, in natura, 2

industrial, lavada, monazítica, para filtros, para jateamento, para perfuração, para vidro, quartzosa e silicosa (AREIA, 2004). Conforme Lacerda Filho et al (1999), em Goiás a areia é extraída das aluviões, principalmente ao longo dos rios dos Bois, Piracanjuba, Verde, das Almas, Turvo, Meia Ponte, do Peixe e do ribeirão Lambari. Trata-se de areia quartzosa média a grossa, com pequenos grânulos de quartzo. A extração de areia em leitos de rios é feita com o uso de dragas de sucção posicionadas em balsas. A areia é conduzida por canalizações ou transportada na própria balsa até caixas de areia às margens dos rios ou mais afastadas dos mesmos. Nestas caixas, a areia é peneirada para a retirada de cascalho e outros materiais, e é classificada granulometricamente. A água carreada às caixas com a areia, deve retornar ao rio por uma canalização, embora isto ocorra em poucos casos. A atividade prevê um ciclo sazonal de deslocamento contínuo ao longo do leito dos rios, seguindo o ciclo de exploração de deposições e sua renovação por processos naturais, às vezes favorecidos por atividades antrópicas. De acordo com indicações de Mattos & Lobo (1992), confirmadas em campo, a extração de areia em APPs determina várias formas de degradação ambiental, dentre as quais citam-se: desmatamento de APP para implantação de caixas, pátios e acessos; corte de taludes e aterros para a implantação de caixas; erosões e assoreamento em acessos; emissão de ruídos na operação de dragas; erosão de taludes em pontos de retorno d água com sedimentos da caixa para o leito; turbidez da água de drenagem, principalmente em caixas de areia de pequeno porte, ocasionando problemas de aproveitamento; contaminação da água de drenagem por óleo combustível, graxas e outros efluentes de forma difusa e/ou acidental; compactação do solo pelo tráfego de máquinas pesadas nos acessos; contaminação de solos e água por destinação inadequada de resíduos sólidos. APPs garantem a estabilização das margens de cursos d água, atuando no controle da erosão do solo e na manutenção da vazão e qualidade da água, atenuando o carreamento de sedimentos, nutrientes e produtos químicos do solo para o ambiente aquático, que podem afetar a qualidade da água e/ou diminuir a vida útil dos reservatórios. 3

2.2 Aspectos Legais A mineração é uma atividade econômica com definições na Constituição Federal e legislação estipulada pelo Código de Mineração e extensa legislação correlata. Neles disciplinam-se acessos, conflitos de propriedade, direitos e obrigações, bem como a necessidade de recuperação de áreas degradadas pela atividade (SINTONI, 2001). O Código de Mineração foi criado pelo Decreto-Lei 227/67 e modificado pela Lei 9.314/96. Em seu artigo 1, legisla sobre a competência da União, que é de administrar os recursos minerais, a indústria de produção mineral e a distribuição, o comércio e o consumo de produtos minerais. Toda atividade de mineração é sujeita ao licenciamento ambiental, inclusive as dos minerais de uso direto na construção civil, como a areia. A Resolução CONAMA 010/90 estabelece que a exploração de areia deva suceder licenciamento ambiental pelo órgão executivo estadual ou federal de meio ambiente. A Resolução CONAMA 237/97, regulamenta o licenciamento ambiental que foi previsto pela Política Nacional do Meio Ambiente. Em Goiás, o licenciamento ambiental de extrações de areia em leito de cursos d água é sujeito ao cumprimento de um Plano de Controle Ambiental, PCA, em que se prevêem as ações mitigadoras dos efeitos ambientais adversos da atividade. O Departamento Nacional de Produção Mineral, DNPM, é o regulamentador da atividade mineral, atuando como órgão co-participante com os órgãos ambientais estaduais no licenciamento ambiental das extrações minerais em Goiás, a Agência Goiana de Meio Ambiente. Apesar desta co-participação, um grande volume de atividades clandestinas de extração de areia se desenvolve à revelia da legislação mineral e ambiental. Áreas de Preservação Permanente, APPs, são definidas no artigo 2 do Código Florestal (Lei 4.771/65) como áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Seus limites são definidos no artigo 3 da Resolução CONAMA 303/02. Em sua Política Florestal, o Estado de Goiás também dedica um capítulo à legislação sobre APPs. 4

2.3 Características da área de estudo A área em estudo localiza-se na margem direito do rio Turvo, entre o município de Adelândia e o rio São Manuel (vide Mapa de Localização). Mapa de Localização Área de estudo situada no rio Turvo em Adelândia, GO. Fonte: Carta do Exército IBGE Escala 1:100000 5

Conforme a Agência Goiana de Meio Ambiente (AGMA, 2003), o clima da área de estudo é do tipo climático Aw, segundo a classificação de Koppen, ou seja, tropical úmido, com duas estações bem definidas, sendo um inverno seco e um verão chuvoso. Em Goiás estas estações ocorrem respectivamente entre maio e setembro e entre outubro e abril. As médias de temperatura anual situam-se entre 26 ºC e 30 ºC (INMET, 2004). A área possui pluviosidade média em torno de 1500 mm/ano, com 210 a 240 dias com precipitação (INMET, 2004). Quanto à geologia, encontram-se na área de estudo rochas do Arqueano, representadas pelo Complexo Basal. São constituídas, sobretudo, por grande variedade de rochas gnáissicas, migmatitos, metabasitos e diversas eruptivas, com subordinados micaxistos, metaconglomerados e quartizitos. Na região ocorre também o Complexo Máfico-Ultramáfico tipo Americano do Brasil (RADAMBRASIL,1983). A área de estudo se insere no Planalto Central Goiano, apresentando-se de forma geral como um extenso planalto dissecado, onde algumas serras se sobressaem, constituindo morros residuais ou cristas monoclinais (RADAMBRASIL, 1983). Ocorrem predominantemente Latossolos Vermelhos e Argilossolos, eutroférricos, ricos em argila e profundos, com manchas de Nitossolos de Latossolos Vermelhos Amarelos, profundos e bem drenados, nas áreas mais planas (AGMA, 2004). A cobertura vegetal predominante são fitofisionomias da formação florestal do cerrado, representadas por mata de galeria, mata ciliar, mata seca estacional semidecidual e cerradão, ocorrendo também cerrado típico denso na formação savânica. Nas áreas remanescentes de APP, destacam-se entre as espécies nativas o ipê-amarelo da mata (Tabebuia serratifolia), a palmeira bacuri (Shellea sp), o angico monjolo (Piptadenia sp), o jenipapo (Genipa americana), a pimentade-macaco (Xylopia aromatica), a sangra d água (Croton urucurana), a embaúba (Cecropia sp) e herbáceas ruderais e introduzidas. Os remanescentes de vegetação nativa são ecologicamente simplificados na forma de pequenos fragmentos. A APP está desmatada ou com sub-bosque 6

pisoteados por bovinos e há apenas poucos trechos de largura compatível com os requisitos legais. 3 METODOLOGIA Em outubro de 2004 foram localizadas, de forma aleatória, e visitadas 30 áreas de extração de areia em 03 propriedades rurais da margem direita do alto curso do rio Turvo, entre a sede urbana de Adelândia e a confluência com o rio São Manuel, no mesmo município de Adelândia. Na área se apresenta um vale aberto, sem grande aprofundamento do leito natural, que é bastante meandrante e deposita grande volume de areia no período das cheias. Em cada área foi aplicado um check list para o diagnóstico das condições de degradação de APPs, tendo como base os requisitos legais e características ambientais da área. Foram verificados os critérios constantes do Quadro 1 a seguir. Os critérios de situação do sub-bosque da APP, estado de conservação da caixa de areia, retorno de água da caixa de areia para o rio e acesso à caixa de areia foram quantificados de 1 a 5, sendo 5 a pior condição e 1, a melhor. Quadro 1 - Critérios e parâmetros de condições para as caixas de areia. Item Critério Parâmetros localização da caixa de A areia na APP B área da caixa de areia (m 2 ) distância da caixa de areia para o barranco do rio área da caixa A = (b x h) x 0,85 onde largura = b, comprimento = h e 0,85 = fator de forma da caixa C situação do sub-bosque da APP 5 - totalmente desmatado 4 - totalmente desmatado, com espécies ruderais ou dominado por lianas 3 - desmatado, com lianas, espécies ruderais e árvores nativas de distribuição rarefeita, pouca regeneração natural 2 - desmatado parcialmente, com trilhas e sinais de retirada de árvores, pouca regeneração natural ou menos de 30 m de largura 1 - bosque nativo pouco alterado, 30 m de largura D estado da caixa de areia 5 - taludes inadequados, promovendo acúmulo de areia na APP, erosões, próxima do barranco do rio, em ponto de difícil acesso 4 - taludes largos, com erosões, em parte da APP 3 - bom estado, mas ocupando parte da APP 2 - bom estado, mas com taludes largos 1 - tamanho ideal, sem erosão e fora da APP 7

Item Critério Parâmetros E retorno de água da caixa de areia para o rio 5 - sem canalização, com erosões avançadas 4 - sem canalização, com início de erosões 3 - sem canalização 2 - com canalização indevidamente instalada 1 - com canalização adequada F largura do leito do rio medida em metros G acesso à caixa de areia 5 - mais de um leito de tráfego e poeira na APP 4 - invasão da APP 3 - erosões na borda da APP 2 - um leito de tráfego fora da APP, sem conservação 1 - um leito de tráfego fora da APP H local de dragagem Leito barranco I presença de erosões Sim não J presença de resíduos sólidos Sim não 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados do check list aplicado às 30 áreas de extração se encontram no Quadro 2 a seguir. QUADRO 2 - Resultados das medições de campo. F G H I J Área de extração A (m) B (m 2 ) C D E < 10 m >10 m Dentro da APP Fora da APP Leito Barranco Sim Não Sim Não 1 15 119 2 3 3 X 3 X X X X 2 6,2 155 4 4 3 X 5 X X X X 3 2 162 4 5 2 X 5 X X X X 4 15 255 4 4 2 X 5 X X X X 5 8 140 4 4 2 X 3 X X X X 6 12 131 4 4 2 X 2 X X X X 7 4 133 3 4 2 X 3 X X X X 8 3 204 3 4 2 X 5 X X X X 9 15 119 3 4 2 X 4 X X X X 10 10 136 3 4 2 X 4 X X X X 11 10 82 3 2 2 X 5 X X X 12 10 85 3 3 2 X 3 X X X X 13 6 230 3 2 2 X 3 X X X X 14 9 493 3 4 2 X 3 X X X X 15 2 68 4 4 4 X 5 X X X X 16 2 64 5 3 2 X 4 X X X 17 2 51 5 3 2 X 4 X X X 8

F G H I J Área de extração A (m) B (m 2 ) C D E < 10 m >10 m Dentro da APP Fora da APP Leito Barranco Sim Não Sim Não 18 2 60 5 3 2 X 4 X X X 19 2 68 5 3 2 X 5 X X X 20 2 65 5 3 2 X 5 X X X 21 2 59 5 3 2 X 4 X X X 22 2 64 5 3 2 X 4 X X X 23 2 70 5 3 2 X 5 X X X 24 2 68 5 3 2 X 5 X X X 25 2 65 5 3 2 X 4 X X X 26 2 70 5 3 2 X 5 X X X 27 2 64 5 3 2 X 4 X X X 28 2 66 5 3 2 X 5 X X X 29 2 71 5 3 2 X 4 X X X 30 2 60 5 3 2 X 5 X X X LEGENDA: (A): Distância da margem do rio até o início da caixa de areia na APP; (B): área da caixa de areia, em m²; (C): situação do sub-bosque da APP; (D): estado da caixa de areia; (E): retorno de água da caixa de areia para o rio; (F): largura do leito do rio; (G): acesso à caixa de areia; (H): local de dragagem; (I): presença de erosões; (J): presença de resíduos sólidos. Parâmetros quantificados segundo Quadro 1. Todas as caixas de areia estão localizadas dentro da APP da margem direita do rio Turvo, em desconformidade com a legislação e também com o respectivo PCA daquelas que dispõem de licenciamento ambiental. A distância média das caixas de areia ao barranco do rio é 5,24 m. As maiores distâncias não excedem 15 m e 60% das caixas se encontram a até 2 m de distância. Conforme a legislação florestal, as caixas deveriam estar a mais de 30 m do barranco, fora dos limites da APP. Das áreas de extração, 47% se encontram com dragagem no próprio barranco do rio (vide Foto 01), numa desconformidade com as exigências da AGMA. Em apenas 10% das caixas de areia foram constatadas erosões no entorno. 9

Foto 01: Dragagem no barranco Fonte: Gisele Out/2004 A situação do sub-bosque da APP teve média de 4,2 representando ambientes totalmente desmatados, eventualmente com espécies ruderais ou dominado por lianas (vide Foto 02). Das áreas, 50% se encontram com APP em condição 5 e apenas uma área se encontra com APP em condição 2. Não há áreas com APP em condição 1. Foto 02: Situação do sub-bosque Fonte: Gisele Out/2004 10

No que tange ao estado da caixa de areia, as áreas tiveram média de 3,33 indicando bom estado mas com taludes largos, focos de erosões, ocupando parte da APP (vide Foto 03). Dentre as áreas, 57% das caixas se encontram em bom estado, mas ocupando parte da APP. O tamanho médio das caixas de areia é de 116 m 2 e 40% das caixas se encontram superdimensionadas, ocupando área desnecessária em relação à capacidade de exploração do rio e à estrutura de dragagem disponível. Nestas caixas os barrancos também são altos, promovendo o acúmulo de areia dentro do sub-bosque da APP. Foto 03: Caixa de areia ocupando parte da APP Fonte: Gisele Out/2004 A média das áreas para o critério de retorno de água da caixa de areia para o rio é 2,1, indicando presença de canalização indevidamente instalada, condição em que se encontram 93% das áreas. Acessos em áreas desmatadas com mais de um leito de tráfego e com invasão de APP (vide Foto 04), são as condições de 43% das áreas e, em outros 30% delas, ocorre também invasão de APP. Em apenas uma área não há tráfego dentro da APP, mas ele se encontra sem conservação. 11

Foto 04: Acesso invadindo a APP Fonte: Gisele Out/2004 Em 57% das áreas de extração de areia foram constatados resíduos sólidos dispersos em torno das caixas de areia e dentro da APP (vide Foto 05), em desconformidade com as exigências da AGMA e com o respectivo PCA daquelas que dispõem de licenciamento ambiental. Das três propriedades visitadas apenas uma possui PCA e licenciamento ambiental junto à AGMA, sendo que nesta encontram-se 15 das áreas em estudo. Este PCA propõe que as medidas para recuperação de áreas degradadas são: a execução de curvas de nível, estabilização de taludes, reflorestamento e combate a espécies invasoras. Estas medidas não se encontravam aplicadas em nenhuma das áreas de extração verificadas. 12

Foto 05: Resíduos sólidos na APP Fonte: Gisele Out/2004 5 CONCLUSÕES Desconformidades com a legislação e exigências da AGMA ocorreram em todas as áreas de extração de areia, avaliadas na APP no alto curso do rio Turvo para este trabalho. A APP encontra-se como objeto de invasão para acessos e/ou implantação de caixas de areia. Acúmulos de resíduos e efluentes, bem como focos de erosões, foram também constatados na atividade. Observa-se que medidas adequadas à preservação da APP, gestão de efluentes e resíduos sólidos e prevenção de erosões se encontram nos PCAs pertinentes a este tipo de atividade, registrados junto à AGMA. Isto sugere que uma maior rigidez na fiscalização das atividades em sua fase operacional é necessária e suficiente para atenuar os danos constatados na região. Para a adequação ambiental da atividade, é necessário o licenciamento ambiental das áreas de extração, como também o cumprimento dos PCAs que lhes são pertinentes. 13

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGMA AGENCIA GOIANA DE MEIO AMBIENTE. Estado Ambiental de Goiás 2002 Geogoiás. Goiânia, 2003. AREIA. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/sicom/pesquisa.asp> Acesso em 15 de abril de 2004. BRASIL. Lei N 4.771 de 15 de setembro de 1965. Código Florestal Brasileiro. Disponível em <http://www.controleambiental.com.br/codigo_florestal.htm> Acesso em 15 de abril de 2004. BRASIL. Decreto Lei N 227 de 27 de fevereiro de 1967. Código de Mineração. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/dnpm_legis/d227-67.html> Acesso em 15 de abril de 2004. BRASIL. Ministério das Minas e Energia, Secretaria Geral: Projeto RADAMBRASIL, Folha SE 22 Goiânia. Rio de Janeiro, 1983 (Lev. de Rec. Naturais, 31). BRASIL. Resolução CONAMA 010/90 de 06 de dezembro de 1990. Dispõe sobre normas específicas para o licenciamento ambiental da extração mineral classe II. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm> Acesso em 16 de abril de 2004. BRASIL. Resolução CONAMA 237/97 de 19 de dezembro de 1997. Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/ conama/index.cfm> Acesso em 16 de abril de 2004. BRASIL. Resolução CONAMA 303/02 de 20 março de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm> Acesso em 16 de abril de 2004. FERREIRA, A. B. H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 1980. Ed. Nova Fronteira. 1781p. INMET INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Disponível em < http://www.inmet.gov.br/climatologia/combo_ climatologia_c.html > Acesso em 20 de novembro de 2004. LACERDA FILHO, J. V. et al. Geologia e Recursos Minerais do Estado de Goiás e Distrito Federal. Goiânia, 1999. 176p. LEINZ, V. e AMARAL, S. E. Geologia Geral. São Paulo, 1980. 8ª ed. 397p. MATTOS, S. C. e LOBO, R. L. M. Areia para Construção Civil em Goiás: da Produção, Danos Ambientais e Propostas de Mitigação. In: V Simpósio de 14

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