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Transcrição:

GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS MUNICÍPIOS Seminário Nacional Porto Alegre Março de 2008 SISNAMA A REGULAMENTAÇÃO DO ART. 23 DA CF E O NOVO PAPEL DO MUNICÍPIO NO SISNAMA Sílvia Cappelli, Procuradora de Justiça-RS Presidente do Instituto o Direito por um Planeta Verde 1

ASPECTOS GERAIS DO PL 12/2003 LC prevista no único do art. 23 da CF Objeto ações administrativas no exercício da competência comum prevista no art. 23, III, VI e VII da CF Define atuação supletiva substitutiva (art. 15) Define atuação subsidiária auxiliar (art. 16) Utiliza a predominância dos impactos diretos como critério para repartir as competências Exige, na delegação, que o ente delegado tenha orgão ambiental capacitado (habilitado e com estrutura compatível à demanda) e conselho com caráter deliberativo e participação social O órgão que licencia ou autoriza é quem tem competência para a fiscalização (art. 6, XIII; 8, XIII e 17) Prevê tipologia definida pelo CONAMA para enquandramento da atividade inserida em zona costeira e para impacto local (7, un. e 9, XIV, letra a Substitui para justificar a supletividade, a inépcia por inércia 2

CERNE DA DISCÓRDIA! PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE versus DOMÍNIO DO BEM COMPONENTE DO RECURSO AMBIENTAL 3

A CF define a competência ratione materiae e não ratione dominium (arts. 23, incisos III, IV, VI, VII, e 24, incisos VI, VII, VIII) Os recursos naturais podem ser bens públicos dominicais ou de uso comum do povo Meio Ambiente é bem jurídico autônomo (macrobem) de titularidade difusa 4

Dominialidade dos recursos naturais O art. 99, do CC, classifica os bens públicos em : de uso comum do povo (rios, mares, ruas,praças) de uso especial (edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração) dominicais constituem jurídicas de direito público patrimônio das pessoas 5

OS BENS DA UNIÃO Os bens ambientais arrolados no art. 20, da CF, podem ser de uso comum do povo ou dominicais Esses bens são recursos naturais que compõem o macrobem meio ambiente, bem jurídico autônomo, de uso comum do povo e de titularidade difusa 6

TITULARIDADE DO DIREITO A autonomia jurídica do meio ambiente e sua titularidade difusa é incompatível com definição da competência pelo domínio do recurso natural que compõe o meio ambiente 7

COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE Competência administrativa é comum Cada ato normativo vige em seu território - art. 23 Competência para legislar é concorrente art. 24 e 30,II. Cabe à União legislar sobre normas gerais Ausência do federalismo cooperativo superposição de ações ou completa omissão No conflito vige a mais restritiva? Art. 76, da Lei 9605/98 - ação cautelar de seqüestro disputa entre o IBAMA e IAP/PR pela multa aplicada à Petrobrás 8

O art. 225 estabelece que incumbe ao Poder Público P e a coletividade o dever de proteger o meio ambiente; O Art. 23 CF. estabelece o dever/poder comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de proteger o meio ambiente; A Constituição de 1988, recepcionando a Lei nº 6.938/81, deixou claro entes da Federação devem partilhar as responsabilidades sobre a condução das questões ambientais, tanto na competência legislativa na competência implementadora/ de execução A CF é descentralizadora da atividade administrativa, admitindo os municípios como gestores ambientais em igualdade de condições com os Estados e a União; 9

PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE define a competência comum e concorrente na Constituição O critério para definição da predominância do interesse não deve estar fundado na titularidade do bem afetado (rios, minério, unidade de conservação) pois: o meio ambiente é bem de uso comum do povo; licenciamento ambiental não tem como objetivo a defesa dos bens de domínio dos entes federados; O domínio do bem é questão antecedente ao licenciamento (quiosques, mineração) Os órgãos ambientais utilizam a abrangência e magnitude dos impactos como caracterizador da predominância do interesse O princípio da proteção integral determina a cooperação entre os entes prevalecendo sobre a titularidade que não confere, necessariamente, maior proteção 10

Princípio da Subsidiariedade Surgiu no Tratado da União Européia para frear o processo de agigantamento do poder comunitário pelo alargamento de competências implícitas O princípio pio prega que as decisões serão tomadas pelo nível n político mais baixo, por aqueles que estão mais próximos da situação potencialmente lesiva. Trata-se de um processo de descentralização política e administrativa associado ao fortalecimento do poder local A Agenda 21 prega a descentralização e a legislação brasileira a adota 11

ATUALMENTE A regra é o licenciamento pelos Estados-Membros O IBAMA tem competência originária para o licenciamento de atividades e empreendimentos de significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional Impacto ambiental regional é aquele que afeta mais de um Estado A competência supletiva do IBAMA é para os casos de inexistência (de outro ente da federação) ou inépcia do licenciamento (erro grosseiro, vício formal ou inércia) Há tendência jurisprudencial em reconhecer a competência do IBAMA para o licenciamento de atividades que afetem os bens de domínio da União (art. 20, CF) Há muitos conflitos de competência em ACPS, questionando a competência para o licenciamento, o que gera insegurança para o empreendedor Superposição de licenciamentos fere os princípios da eficiência e economicidade 12