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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Transcrição:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO Meio Ambiente e Patrimônio Cultural PARECER TÉCNICO Nº 204/2010-4ªCCR REFERÊNCIA P.A. n.º 1.00.000.006800/2010-69 UNIDADE SOLICITANTE EMENTA 4a CCR Meio Ambiente. Espaço territorial especialmente protegido. Área de Preservação Permanente e Reserva Legal. Proposta de alteração do Código Florestal que tramita na Câmara dos Deputados. 1 INTRODUÇÃO O presente Parecer Técnico foi solicitado pela Coordenação da 4a CCR, em virtude do Substitutivo ao Projeto de Lei nº 1.876/1999, apresentado pelo Deputado Aldo Rebelo à Comissão Especial destinada à proferir parecer sobre o referido PL, que altera o atual Código Florestal, Lei n.º 4.771/65. 2 ANÁLISE O Substitutivo ao Projeto de Lei 1.876/99 foi analisado pelos signatários do presente Parecer Técnico e os comentários, quando pertinentes, foram incluídos após o item da proposta gerando o Substitutivo Comentado apresentado em anexo. A partir dessa análise, as principais alterações propostas foram extraídas do Substitutivo Comentado e agrupadas nos temas Área Urbana, Área de Preservação Permanente, Reserva Legal, Programa de Regularização Ambiental e Cota de Reserva Ambiental, apresentados a seguir: 2.1 Área Urbana 1. O conceito de área urbana consolidada (art. 2º) tornará mais liberal a ocupação e o uso alternativo de APP, reduzindo a proteção. Os critérios de reconhecimento da área urbana consolidada, que não incluirão a exigência de que a área já seja habitada, permitem a criação de áreas urbanas consolidadas a qualquer tempo, independentemente da existência prévia da ocupação, possibilitando a abertura de novos assentamentos urbanos em APP. 2. As APP em área urbana serão interpretadas como diferentes das APP em área rural, o que é um grave equívoco. Deve-se ter em mente que são as funções ambientais que justificam a existência das APP, quer em área urbana, quer rural. O Substitutivo considera que as APP em área urbana não são, necessariamente, tão relevantes quanto em área rural e, portanto, poderiam ser dispensadas de proteção, podendo ser efetivamente ocupadas, independentemente de serem ocupações realmente já consolidadas ou novas.

3. As APP em áreas urbanas consolidadas passarão a ser definidas nos Planos Diretores e leis de uso do solo do município. Se o município desejar suprimi-las não haverá impedimento, uma vez que não há previsão de um padrão mínimo de proteção. 4. O Substitutivo, se aprovado, permitirá a implantação de infraestrutura de esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre, nas APP situadas em áreas urbanas consolidadas, o que significará a supressão de APP para dar lugar, por exemplo, a estádios; clubes esportivos ou recreativos; escolas; fundações culturais; etc. Não há sequer a previsão da obrigatoriedade de inexistência de alternativa locacional para tais atividades. Note-se que não se trata da regularização de equipamentos já implantados, mas da permissão para novos se instalarem. 2.2 Área de Preservação Permanente 1. O referencial para demarcação da faixa de APP será alterado para o leito menor (art. 3º, inciso I),e não mais do leito maior, como é atualmente. Essa alteração reduzirá consideravelmente a extensão da área protegida, podendo-se, em função de características topográficas, chegar a uma redução maior que a própria faixa. A redefinição da APP como faixa demarcada a partir do leito menor acarretará a possibilidade de ocupação do leito maior de cursos d'água, sujeito a inundações no período de cheias, por atividades antrópicas e até mesmo assentamentos humanos. Com isso, é de se esperar o aumento de casos de danos materiais à lavouras, criações, benfeitorias e edificações, além do risco à vida humana. 2. As faixas de APP às margens de rios, cuja largura será 15m (art. 3º, inciso I, Alínea a), ao invés dos 30m atualmente previstos como faixa mínima, poderão ser reduzidos em até 50% pelos Estados (art. 3º, 1º). Com isso, na prática, a faixa mínima de proteção às margens de rios poderá ser de 7,5m. Esse valor não tem uma justificativa técnica que forneça garantias de que a proteção das margens será obtida com essa faixa de proteção. A redução da largura da APP será ainda mais significativa por causa da proposta de alteração do referencial para a demarcação da faixa APP, conforme item abaixo. 3. Será feita a distinção entre nascente e olho d'água (art. 2º, incisos XI e XII), considerados sinônimos pelo Código Florestal vigente. A partir dessa distinção, será permitida, em alguns casos, a interferência em APP ao redor de nascentes intermitentes. Enquadram-se nesses casos as diversas restrições impostas à intervenção ou supressão em APP de nascentes previstas na Resolução Conama 369/2006, tais como a vedação de intervenção em nascente por atividades de interesse social, a vedação de intervenção para a extração de rochas para uso direto na construção civil, o condicionamento da intervenção à outorga do uso da água. 4. A definição de vereda adotado no Substitutivo (art. 2º, inciso XVII) reduzirá a proteção atualmente vigente. Ao invés de caracterizar o espaço protegido, o Substitutivo descreve a fitofisionomia, o que, para efeito da descrição de Áreas de Preservação PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 2/60

Permanente, não é o mais adequado, uma vez que tratam-se de espaços territoriais especialmente protegidos. O conceito utilizado no Substitutivo parece ter sido adaptado de Ribeiro e Walter (1998), no entanto, o Substitutivo deixou de observar que esses autores fazem a distinção da fitofisionomia vereda de Palmeiral, no qual incluem o subtipo buritizal, o que, se é pertinente em termos de fitofisionomia, não o é em termos de definição de espaços protegidos, uma vez que a fisionomia buritizal, tal como fisionomia vereda, também ocorrem associados a solos brejosos ou encharcados, em fundos de vale, porém apresentando dossel. proteção a ser conferida aos buritizais e a esses espaços brejosos deve ser idêntica a das veredas, uma vez que devem ser protegidos em toda a sua extensão, e não em faixas marginais, dada a fragilidade e importância ecológica desses ecossistemas como um todo. O conceito da Resolução Conama, descrevendo o espaço, e inclusive vinculando à ocorrência de nascentes e cabeceiras de cursos d'água, é mais apropriado 1. 5. As restingas, em uma faixa de 300 metros a partir da linha do preamar máximo, deixarão de ser protegidas sob a forma de APP. Isso facilitará a ocupação, por empreendimentos de turismo e demais equipamentos urbanos, dessa importante região para a preservação da zona costeira. As restingas assumem importante papel na fixação do substrato arenoso, sujeito à ação erosiva do vento evitando problemas de bloqueio de estradas e invasão de habitações, além de atenuar o assoreamento de brejos, lagunas e canais. A cobertura vegetal contribui ainda para manter o substrato permeável, permitindo que a água das chuvas alimente o lençol freático, cujo nível, por sua vez, garante o fornecimento de água potável na região e a manutenção do nível dos corpos d água. A retirada da vegetação acarreta a lavagem acelerada dos nutrientes, que são carreados para as profundezas do solo, fora do alcance das raízes, num processo de empobrecimento gradual do sistema. Em estágios mais avançados de degradação, o solo sofrerá intensa erosão pelos ventos, o que pode ocasionar a formação de dunas móveis um grave risco para o ambiente costeiro e, particularmente, para a população da faixa litorânea. Hoje, no entanto, estão ameaçados de descaracterização definitiva: a intensificação da atividade humana ao longo da zona costeira tem acarretado a progressiva degradação e mesmo destruição de seus componentes biológicos e paisagísticos. Em meio dessa devastação, espécies animais e vegetais são eliminadas, o que restringe a diversidade biótica e põe em risco valioso patrimônio genético 2. 6. Os topos de morros, montes, montanhas e serras deixarão de serem considerados APP e perderão a proteção legal. Essas áreas são especialmente relevantes para garantir, por exemplo, a estabilidade das encostas, o que torna-se de extrema importância para o bem-estar da população tendo em vista os desastres envolvendo deslizamento de encostas em época de chuvas. 1 Vereda - espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d'água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica. 2 Ciência Hoje. Vol. 06 N.º 33 PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 3/60

7. Também perderão a proteção, as áreas com altitudes superiores a 1.800m. Nessas áreas, é comum a ocorrência de espécies raras e endêmicas, fazendo com que sejam de importância para a conservação biológica. Esses ambientes, quase sempre de grande beleza cênica, são pouco comuns no Brasil. Em estimativa feita, com o uso do software ArcView, a partir de dados da Base Cartográfica Digital do IBGE, escala 1:1.000.000, de 2003, chegou-se a apenas 1.015 km² (101.548 hectares) de áreas com altitudes superiores a 1.800 metros, a maior parte da área situada na serra da Mantiqueira, divisa dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Considerando que o Brasil continental possui área de 8.514.876,59 km² (851.487.659 hectares), as áreas com altitudes superiores a 1.800 metros representam 0,01% desse território. Não por acaso, mas sim em função da relevância ambiental e cênica, a maior parte das áreas com altitudes superior a 1.800 metros do Brasil encontram-se também protegidas por unidades de conservação federais. Nessa situação encontram-se áreas do Parque Nacional de Itatiaia, do Parque Nacional Serra da Bocaina, do Parque Nacional Serra dos Órgãos, do Parque Nacional do Caparaó, do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, do Parque Nacional Pico da Neblina, do Parque Nacional Monte Roraima, da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira e da APA de Petrópolis. A eliminação da proteção das áreas com altitudes superiores a 1.800m, sob a forma de APP, possibilitará o uso alternativo daquelas localizadas fora das UC de proteção integral. 8. A largura da faixa de APP no entorno de reservatórios de água artificiais passará a ser definida pelo órgão ambiental no âmbito do licenciamento de cada empreendimento (art. 3º, inciso III; art. 4º). As faixa mínimas propostas, de 30m em área rural e de 15m em área urbana, são inferiores às faixas atualmente definidas na Resolução Conama 302/2002. 9. As acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 ha serão dispensadas de possuírem faixa de APP no entorno (art.3º, 4º). Diversas lagoas marginais aos rios, de importância como berçário para diversas espécies, encontram-se nessa situação. O Substitutivo, se aprovado, permitirá, por exemplo, o avanço de atividades antrópicas, aí incluída a agricultura, todos os insumos que a acompanham, e a construção de edificações, seus sistemas de disposição de resíduos, até o limite dessas acumulações, o que certamente trará prejuízo a esses ambientes. 10. Será permitida a implantação de polos turísticos e de lazer no entorno de reservatórios artificiais, de acordo com o que for definido no processo de licenciamento ambiental (art. 4º, 2º), eliminando o limite máximo dessa ocupação em dez por cento da área do entorno, conforme atualmente fixados na Resolução Conama 302/2002. 2.3 Reserva Legal 1. Será eliminada a exigência da Reserva Legal (RL) para imóveis rurais com área de até quatro módulos fiscais (art. 14). Na Amazônia Legal, onde significativa área tem o módulo fiscal definido em 100 hectares, propriedades com até 400 ha ficarão dispensadas da averbação da Reserva Legal. Considerando a área como floresta, com Reserva Legal de 80% PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 4/60

da área, seria possível o desmatamento de até 320 ha por propriedade com área igual ou superior a 4 módulos fiscais. Nessas condições, como, propriedades rurais com área de até 400 hectares poderão ser totalmente desmatadas na Amazônia, um conjunto de pequenas propriedades rurais, ocorrentes na mesma região, poderá levar a existência de extensas áreas desmatadas, portanto, sem os benefícios propiciados pela Reserva Legal. 2. Será exigida Reserva Legal apenas para a porção do imóvel que exceder a quatro módulos fiscais (art. 14, 1º). Assim, haveria a redução de Reserva Legal em área correspondente a, no mínimo, 0,8 módulos fiscais (20% de 4 módulos fiscais) por propriedade rural, podendo-se chegar a 3,2 módulos fiscais (80% de 4 módulos fiscais), para cada propriedade rural localizada em área de floresta da Amazônia Legal. Multiplique-se a área de redução da Reserva Legal, considerando os o percentuais de Reserva Legal e os módulos fiscais para cada localidade, pelo número de propriedades ou posses existentes em todo o Brasil e é possível obter uma estimativa área em que a proteção será reduzida e será passível de ser convertida a partir da introdução desse dispositivo. Apenas para os estados situados na região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima) a introdução desse dispositivo será responsável pela redução de cerca de 71.000.000 ha (setenta e um milhões de hectares) de área protegida 3, área que é superior ao somatório de todas as unidades de conservação federais situadas na Amazônia Legal, de proteção Integral e Uso Sustentável (61.598.042 ha) 4. Se considerada a possibilidade de existência de uma infinidade de posses, não cadastradas pelo Incra, a redução da área protegida poderá ser ainda maior. O fato de a dimensão do módulo fiscal variar apenas no espaço, mas também no tempo, uma vez que a área do módulo de cada município pode ser alterada pelo INCRA em função do tipo de exploração predominante no município, da renda obtida com a exploração predominante, de outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada, do conceito de agricultura familiar, levará a alterações constantes na área da Reserva Legal das propriedades. Se ampliada a dimensão do módulo fiscal, novas áreas de Reserva Legal poderão ser convertidas; se reduzida a dimensão do módulo, haverá a necessidade de reposição da Reserva Legal. A título de informação, existem hoje 28 categorias distintas de módulos fiscais, com área variando de 5 a 110 hectares. O módulo fiscal de maior frequência é o de 20 ha, atualmente 3 Para essa estimativa foi considerado que os imóveis estão localizados em área com formações florestais, com Reserva Legal de 80% da área, exceto para o estado de Roraima em que foi considerada a formação savânica e Reserva Legal de 35%. O número de propriedades por área de módulo fiscal em cada estado foi obtido a partir de dados disponibilizados pelo Incra (http://www.incra.gov.br/portal/index.php? option=com_content&view=category&layout=blog&id=153&itemid=182, acessado em 18 junho de 2010). Acre: 14.265 propriedades com módulo fiscal de 100 há e 7450 com módulo fiscal de 70 ha; Amazonas: 17.899 propriedades com módulo fiscal de 100 há, 41.512 com módulo fiscal de 80 há e 2.899 com módulo fiscal de 10 há; Amapá: 3.948 propriedades com módulo fiscal de 70 ha e 5.947 com módulo fiscal de 50 ha; Pará: 49.599 propriedades com módulo fiscal de 75 ha, 42.426 com módulo fiscal de 70 ha, 7.084 com módulo fiscal de 65 ha, 27.627 com módulo fiscal de 55 ha, 2.196 com módulo fiscal de 50 ha, 731 com módulo fiscal de 7 ha e 148 com módulo fiscal de 5 ha; Rondônia: 77.396 propriedades com módulo fiscal de 60 há; Roraima: 16.522 propriedades com módulo fiscal de 100 ha e 10.270 com módulo fiscal de 80 ha.. 4 http://www.socioambiental.org/uc/quadro_geral, acessado em 18 de junho de 2010. PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 5/60

estabelecido para 815 municípios brasileiros, com destaque para a região Sul, com 447 municípios. O de menor frequência é o de 110 ha, que vigora para apenas 2 municípios situados no estado do Mato Grosso do Sul. 3. A localização da Reserva Legal no interior do imóvel será de livre escolha do proprietário ou possuidor, salvo quando houver prévia determinação de sua localização pelo órgão competente do Sisnama (art. 15), o que será muito difícil de acontecer na prática dada a capacidade operacional dos órgãos de meio ambiente no país. O Código Florestal vigente prevê que a localização da RL deve ser aprovada pelo órgão estadual competente, municipal ou outra instituição habilitada devendo ser considerados no processo de aprovação a função social da propriedade e os seguintes critérios e instrumentos, quando houver: plano de bacia hidrográfica; plano diretor municipal; ZEE, outras categorias de zoneamento ambiental e a proximidade com outra RL, APP UC ou outra área legalmente protegida. 4. Será permitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no percentual de Reserva Legal (art. 16), podendo haver situação em que as áreas de APP existentes na propriedade sejam suficientes ou próximas do percentual previsto para a região, não havendo outra forma de proteção. O código atual admite esse benefício apenas para casos em que as APP correspondiam a porção significativa da propriedade, quais sejam, quando a soma da vegetação nativa em APP e da Reserva Legal excedesse a oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; cinquenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do País; vinte e cinco por cento da pequena propriedade assim considerada aquela com 50 ha, se localizada no polígono das secas ou a leste do Meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão, ou 30 ha, se localizada em qualquer outra região do País. 5. Será permitida a compensação de Reserva Legal mediante a doação ao Poder Público de área localizada no interior de Unidade de Conservação (art.25, III), promovendo uma redução substancial da proteção de vegetação nativa. Cabe mencionar que o Ministério Público Federal já impetrou a ADI 4367 contra dispositivo, previsto no 6º do art. 44 da Lei 4.771/65, com a redação que lhe foi conferida pela Lei 11.428/2006, que permite aos proprietários rurais a desoneração do dever de manter em sua propriedade reservas florestais legais, mediante doação de área de terra localizada no interior de unidade de conservação, pendente de regularização fundiária. A esse propósito, é importante notar que as APP não são, no Código Florestal vigente, computadas para o cálculo do percentual da Reserva Legal, de modo tão amplo. O Código atual admitia esse benefício apenas para casos em que as APP correspondiam à porção significativa da propriedade, quais sejam, quando a soma da vegetação nativa em APP e da Reserva Legal excedesse a oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; cinquenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do País; vinte e cinco por cento da pequena propriedade assim considerada aquela com 50 ha, se localizada no polígono das secas ou a leste do Meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão, PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 6/60

ou 30 ha, se localizada em qualquer outra região do País. O procedimento é tecnicamente justificado porque os objetivos de APP e RL, embora complementares, não se confundem 5. De acordo com Campos (2006b), as APP, as RL, e outras áreas legalmente protegidas, além de contribuírem para a preservação de ecossistemas, são importantes para aumentar a expressividade das Unidades de Conservação, sendo que o conjunto dessas áreas configura uma estratégia expandida de valorização da biodiversidade. Como é amplamente sabido (PRIMACK & RODRIGUES, 2001; PAGLIA et al, 2006; PINTO et al, 2006 ROCHA et al, 2006; BENSUSAN, 2006), a conservação da biodiversidade não se faz somente nos locais restritos das áreas protegidas pelas Unidades de Conservação. Por essa razão, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) previu dois outros conceitos relevantes para a gestão de UC. São eles: a zona de amortecimento e o corredor ecológico, que representam um esforço para levar a conservação da biodiversidade para além dos limites da UC. A zona de amortecimento, prevista no SNUC, tem como ideia central o fato de que o uso de recursos naturais no entorno da Unidade pode vir a comprometer os processos ecológicos que geram e mantêm a biodiversidade que se quer conservar. Já os corredores ecológicos procuram mitigar o efeito da fragmentação dos ambientes naturais a qual prejudica ou mesmo inviabiliza a manutenção da biodiversidade em função da redução e isolamento dos ecossistemas. Os corredores propiciam a conectividade 6 entre as áreas conservadas e garantem a variabilidade genética das populações silvestres, que permite a evolução e sobrevivência das espécies (em última análise). Portanto, a busca de conectividade entre fragmentos de vegetação traz os benefícios necessários a uma proteção efetiva da biodiversidade. Deve ser levado em consideração que os processos de isolamento dos remanescentes de ecossistemas, conhecidos como fragmentação e insularização, produzem várias mudanças qualitativas fáceis de predizer, conforme destacado por Bierregaard, et al. (1992), Campos & Agostinho (1997) e Primack & Rodrigues (2001) apud Campos (2006a), entre as quais podem ser citadas: i. acarreta a redução de populações silvestres, com consequências genéticas deletérias, aumentando a probabilidade de extinção de espécies, devido à menor capacidade de adaptação a mudanças naturais ou antropogênicas do ambiente; 5 O trecho a seguir foi retirado da IT n.º 76/09 4a CCR. 6 Conectividade pode ser definida como a capacidade da paisagem (ou das unidades da paisagem) de facilitar os fluxos biológicos. A conectividade depende da proximidade dos elementos de habitat, da densidade de corredores e stepping stones (pontos de ligação ou trampolins ecológicos que facilitam o fluxo gênico entre fragmentos de vegetação) e da permeabilidade da matriz ambiental (METZGER, 2001). PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 7/60

ii. considerando que a distribuição das populações não é homogênea; certas espécies podem não estar presentes em determinados fragmentos ambientais simplesmente porque não acharam o caminho (dispersão) antes dos ecossistemas serem isolados; iii. a fragmentação de habitat aumenta a vulnerabilidade dos fragmentos de vegetação à invasão de espécies exóticas e espécies nativas invasoras; iv. espécies que requerem grandes habitats podem não sobreviver em pequenos fragmentos. Em resumo, a fragmentação e insularização de habitats diminuem a possibilidade de áreas naturais se manterem como ecossistemas auto-regulados em sua complexidade natural, podendo levar a um processo de extinção em cadeia (Campos, 2006a). Um exemplo concreto do efeito da fragmentação é o da Estação Ecológica Aracuri, no Estado do Rio Grande do Sul, a qual encontra-se praticamente isolada de outros fragmentos florestais maiores, e que, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/MMA (ICMBio, 2008), já sofreu perda de biodiversidade exatamente pelo desmatamento de matas de araucária no entorno da unidade. No respectivo Plano de Manejo (ICMBio, 2008) foi indicada claramente a necessidade de manter e criar corredores biológicos 7 mediante a averbação e recuperação das RL de propriedades lindeiras. Da mesma forma, o Parque Nacional das Emas, em Goiás, sofre com o processo de insularização decorrente da ocupação desordenada e ilegal das propriedades lindeiras, e uma das estratégias encontradas por atores locais (empresa Bunge, ONGs e agricultores) é regularizar a situação das RL (CI et al, s.d.; CAVALCANTI, 2006). Essa análise permite concluir que os três instrumentos citados de proteção legal, as UC, as RL e as APP, embora possuam objetivos ligeiramente diferenciados, são complementares e fundamentais para a proteção da biodiversidade e geram inúmeros benefícios para a população, para a manutenção da qualidade ambiental, assim como para a representatividade dos ecossistemas nacionais 8. 6. Aqueles que descumpriram o atual Código Florestal serão premiados com a redução da Reserva Legal para fins de regularização ambiental, para até 50% da propriedade em área de formação florestal na Amazônia Legal; para até 20% da propriedade em área de formação savânica na Amazônia Legal (art. 18, inciso I e II). Com isso, haverá redução de significativa área protegida. 7. A recomposição/regeneração natural da RL ou a sua compensação passam a ser facultativas (art. 25) e não obrigatórias. No Código Florestal vigente as medidas indicadas constituem dever e não possibilidade. 7 Há vários termos correlatos, conceitualmente distintos, mas que partem da mesma premissa básica (p. ex.: corredores ecológicos, corredores de fauna, corredores de hábitat, corredores de biodiversidade). 8 Mais sobre o assunto ver METZGER (2010), em anexo. PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 8/60

8. Ficará assegurada a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreas rurais consolidadas, localizadas em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, como também nas áreas de várzeas e de inclinação entre 25º e 45º, até a elaboração de Programas de Recuperação Ambiental pela União ou pelos Estados (art. 27). O parágrafo 5º desse artigo estabelece um prazo de 5 anos para a elaboração dos PRA. Por sua vez, o art. 47, 1º e 3º, permite que os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estenderem o prazo de elaboração do PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10 anos para o início do processo de recuperação da Reserva Legal, seguidos de outros 30 anos para a sua recuperação, a uma razão de 1/30 por ano. Com isso haverá o retardo no início do processo de recuperação da área de Reserva Legal, chegando-se a um limite de 40 anos. A proposta analisada deixa de apresentar quaisquer mecanismos de monitoramento da execução da recomposição e a penalização daqueles que deixarem de executar a sua reparação. Assim, não há garantias de que a recomposição será executada. 9. Será permitido o plantio de espécies exóticas na recomposição da reserva legal de acordo com critérios técnicos gerais estabelecidos em lei estadual ou do Distrito Federal (art. 25, 2º). Tal medida promoverá a descaracterização da vegetação nativa das Reserva Legais assim recompostas. É preciso que uma Lei Federal estabeleça e unifique um padrão mínimo de proteção, o que não está ocorrendo em diversos momentos do Substitutivo ora examinado. No Código atual, a recomposição da RL deve ser apenas com espécies nativas, possibilitando o plantio de exóticas somente de modo temporário como pioneiras, visando a restauração do ecossistema original. 2.4 Programa de Regularização Ambiental (PRA) 1. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais ficarão desobrigados de adotarem qualquer medida de recomposição de vegetação suprimida sem autorização até que um Programa de Regularização Ambiental, a ser elaborado pela União ou pelos Estados, assim o determine (art. 24). Em síntese, a iniciativa da reparação do dano será retirada de quem efetivamente degradou e transferida para o Estado. Nenhuma medida deverá ser adotada até que os Estados elaborem e implementem os Programas de Regularização Ambiental. 2. Ao que parece, a proposta de regularização ambiental incumbirá o Poder Público da recuperação das Áreas de Preservação Permanente (art. 24), enquanto os proprietários e possuidores se responsabilizarão (?) pela recomposição da Reserva Legal (art. 25). 3.. Áreas de Preservação Permanente poderão não ser recuperadas, se assim definir o PRA (art. 24, 3º) 4. Até que os PRA sejam elaborados implementado, ficará assegurada a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreas rurais consolidadas, localizadas em APP e RL e áreas com declividade entre 25º e 45º (art. 27). Entretanto, considerando que o PRA deverá ser elaborado pelo poder público (a União, estados ou pelo Distrito Federal), e que essa obrigação depende de previsão orçamentária, e, ainda, depende da elaboração prévia de Zoneamento Ecológico-Econômico, de Planos de Recursos Hídricos, de inventários florestais PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 9/60

e de estudos técnicos de órgãos de pesquisa e sabendo-se que a União e os Estados não dispõem dos recursos e a estrutura necessários a elaboração de todos os estudos prévios e nem o próprio PRA. Portanto, é factível prever que em determinadas situações os PRA nunca serão elaborados e com isso a ocupação nas APP e RL será legalizada, independentemente da sua relevância ecológica e dos serviços ambientais fundamentais para a manutenção da qualidade de vida e do bem-estar da população brasileira. Em resumo, o Substitutivo criará uma forma de desobrigar os proprietários e possuidores rurais da tarefa de recompor as APP e RL. 5. O Substitutivo não apresenta formas para garantir a adesão dos proprietários e possuidores ao PRA, prevendo apenas que eles participarão e contribuirão na implementação dos programas, sem estabelecer uma obrigação mínima. Não há previsão de penalidades para a não-adesão ao PRA, o que poderá levar ao seu descumprimento, especialmente considerando-se que implicará custos aos proprietários, bem como a exclusão de atividades produtivas em APP. Não haverá incentivo, nem positivo, nem negativo para a adesão ao PRA. 6. Os TAC já firmados poderão ser suspensos, unilateralmente, pelos proprietários e possuidores rurais, até a elaboração do PRA (art. 27 1º). A suspensão de termos de compromisso já firmados, a critério exclusivo dos proprietários rurais, retardará a recuperação de áreas de APP e Reserva Legal. Haverá casos em que a suspensão do acordo e da execução das medidas, poderá levar a novos desmatamentos, com a conversão de áreas em processo de recuperação outra vez em áreas de uso agropecuário, para uso por mais 5 ou 10 anos, até a elaboração do PRA. Em outros, a possibilidade é possível que PRA nunca sejam elaborados para determinadas bacias, uma vez que o Substitutivo não garante os recursos necessários para tanto, levando a conversão de uso definitiva de áreas atualmente em processo de recuperação. Além disso, tal medida é contraditória, uma vez que o Substitutivo por outro lado, prevê a assinatura de TAC caso o estado não implemente o PRA (art. 27, 5º). Melhor seria manter os termos de compromisso assinados em vigor. 7. Os estados e o Distrito Federal poderão estender o prazo de elaboração do PRA em até 5 anos (art. 47, 3º). Essa medida retardará a recuperação ambiental da áreas protegidas. A elaboração do PRA deve ser antecedida da elaboração de Zoneamentos Ecológicas Econômicos, Planos de Recursos Hídricos, inventários florestais e estudos técnicos de órgãos de pesquisa. É possível casos em que os PRA nunca serão elaborados. O art. 47, 1º e 3º, estabelece que os estados e o Distrito Federal poderão, por ato próprio, estender o prazo de elaboração do PRA em até 5 anos. Com isso, pode-se chegar a um prazo de até 10 anos para o início do processo de recuperação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, seguidos de outros 30 anos para a recuperação da Reserva Legal, a uma razão de 1/30 por ano. Com isso haverá o retardo no início do processo de recuperação da área de Reserva Legal, chegando-se a um limite de 40 anos para a recuperação da área integral de Reserva Legal. 2.5 Cadastro Ambiental 1. Os termos de compromisso já assinados, no que tange às APP e Reserva Legal, PT 204-10 Substitutivo Código Florestal 10/60