Seminário sobre o Instrumento de Apoio às Políticas, dia 11 de Março 2013. Crescimento inclusivo Comentário de Niels Richter por parte de G19. O PARP aposta no crescimento económico inclusivo para a redução da pobreza. Crescimento inclusivo não e um modelo económico em si. E mais parecido a um conjunto de ideias sobre a participação e aproveitamento directo dos cidadãos no processo de produção da riqueza numa sociedade. Assim responde às inquietações com alguns aspectos geralmente considerados menos desejáveis dos últimos 15 anos de desenvolvimento da economia mundial. Aqui destaca-se a preocupação com a desigualdade crescente e a falta de progresso significativo nas condições da vida das classes menos favorecidas e médias em muitos países a todos os níveis de rendimento económico. E isto num período geralmente caracterizado pela saída do número mais elevado de pessoas da pobreza de sempre e em que houve exemplos espectaculares de inversão da desigualdade em países como o Brasil e outros países na América do Sul. A China e frequentemente mencionada como o exemplo mais impressionante no que diz respeito ao melhoramento das condições de vida das camadas menos favorecidas. Mas, Mozambique em conjunto com um grande grupo de países com baixo rendimento também conseguiram um progresso significativo no combate a pobreza sobretudo na primeira parte do período. Contudo há indicações fortes que o ritmo com que o rendimento dos menos favorecidos estava a crescer abrandou no início dos anos 2000, em Mocambique assim como em alguns outros países. E isso preocupa devidamente o Governo e os parceiros. Sobre tudo considerando os desafios pendentes e o facto que grande parte da tarefa consiste na criação
de postos de trabalho para uma força de mão-de-obra a crescer com 300.000 por ano. Com fundamentação na discussão internacional a decorrer podemos definir o crescimento inclusivo como um padrão de crescimento económico que esteja sustentado por muitos anos, que abranja todos os sectores de vantagens comparativas dum pais e que crie postos de trabalho produtivos e oportunidades de empreendimento para a maioria da população. Nesta visão o enfoque e tanto nas oportunidades que cada um tem para melhorar a sua vida através de participação na economia quanto na redistribuição do rendimento gerado. Olhando para Mozambique e apesar do ritmo de crescimento forte já durante muitos anos, fica contudo preocupando que o crescimento económico não tenha estado abrangente. Ao contrário mostra uma elasticidade a redução a pobreza a cair, uma concentração de exportação a crescer e uma fraca contribuição à transformação da economia e à criação de postos de trabalho. Ao nosso ver, a escolha no PARP do crescimento inclusivo e redução da pobreza, é a escolha certa. Tem três dimensões: 1. Aumento da produção e produtividade na agricultura e na pesca; 2. Promoção de emprego; 3. Desenvolvimento humano e social, apoiado por um desempenho forte nas áreas de governação em geral e na macroeconomia e gestão de finanças públicas. O que ainda falta no PARP são as interligações entre as várias dimensões e uma visão coerente de como atingir estes objectivos. A monitoria do PARP está também dificultada pela falta de dados estatísticos fiáveis no que diz respeito à força de trabalho, ao emprego, à produtividade na agricultura e ao PIB.
As ligações entre as dimensões chave do PARP podiam ser melhor exploradas através de estratégias ancorando as políticas e acções em termos de: 1. A criação duma base económica competitiva e diversificada. 2. Aumento da produção e produtividade nos sectores que usam mais mão-de-obra. Em relação a estas estratégias colocam-se vários aspectos: O desempenho de Mocambique nos índices internacionais de ambiente de negócio está a piorar com custos elevados sobretudo para as PMEs. Os prejuízos indirectos às empresas relacionados com burocracia, corrupção e exclusão financeira são altos comparados com outros países de baixo rendimento. O Licenciamento Simplificado já aprovado e um iniciativo importante neste sentido e há outros em processo para tratar dos constrangimentos no sector financeiro. Contudo, há sinais fortes que a corrupção está a ser vista com um constrangimento principal por cada vez mais empreendedores. Ao investimento público na área de infra-estrutura e capital humano coloca-se a questão da qualidade e escolha de projectos com maior impacto de estimulação a economia nas áreas onde os camponeses e PMEs se encontram. Como aumentar a mais-valia e assegurar um impacto económico e social positivo que atinja o máximo número de pessoas através de melhor eficiência e eficacidade na escolha e na execução dos projectos? Para aumentar a produção e a produtividade particularmente na agricultura a pequena escala os constrangimentos parecem bem claros. O que fica menos claro e a ideia do Governo em termos do papel do sector público. Vai ser um de facilitador ou participante activo? Também não está ainda provado que as políticas e as acções do governo e o apoio dos doadores nesta área sejam as mais relevantes e eficientes.
Na área de transformação estrutural da economia, postos de trabalho e oportunidades de empreendimento terão de ser criados fora da agricultura. Isto para absorver a mão-de-obra que torna-se redundante com o aumento da produtividade na agricultura. Para evitar uma explosão incontrolável do sector informal nas grandes cidades como resultado de migração é importante fazer um diagnóstico no sentido de identificar áreas com potencial na indústria e nos serviços para contribuir com emprego e oportunidades de empreendimento. Um padrão de crescimento económico inclusivo vai contribuir em si significativamente à coesão social da comunidade Moçambicana. Não obstante, tem que ser acompanhado para investimentos na protecção social e um reforço dos programas no sentido de melhorar a cobertura e a selecção e evitar a fragmentação dos mesmos. A gestão prudente dos recursos naturais no sentido de assegurar o maior rendimento social e um investimento eficiente e eficaz, é um elemento chave na construção duma economia abrangente e inclusivo. Doutro lado um padrão económico inclusivo também tornará o uso eficaz destes rendimentos mais fácil no sentido de absorção e discurso sobre o uso dos rendimentos. Esta razão reforça a justificação, já forte, para a escolha dum padrão de crescimento inclusivo. Fica quase redundante aqui mencionar que a estabilidade macroeconómica com políticas fiscais, monetárias e da divida prudentes são fundamentais a estimulação duma forte resposta transversal na economia real. Finalmente há-de mencionar que nem todos os constrangimentos a um crescimento inclusivo estão bem pesquisados e conhecidos. Existe muito conhecimento. Mas ainda e preciso desempacotar algumas ideias para saber melhor quais as configurações de constrangimentos concretos com que os diferentes actores económicos têm que lidar.
Nos, do lado dos G19 estamos comprometidos a trabalhar com o governo, o sector privado e a sociedade civil na realização da visão do PARP dum crescimento inclusivo. O FMI tem um papel chave nesta colaboração. Felizmente o chefe do Fundo aqui tem uma visão clara nesta direcção e ideias muito construtivas.