HISTÓRIA DA ARTE ROMANTISMO E REA- LISMO 1. ROMANTISMO Historicismo: 1793 Morre Marat, jornalista republicano francês 1795 Revolução Industrial 1806 Ocupação da França pelo exército de Napoleão I 1808 Goya pinta Os Fuzilamentos de 3 de maio 1830 Delacroix pinta sua obra prima A Liberdade Guiando o Povo 1844 W. Turner publica o estudo Chuva, Vapor, Velocidade O que se destaca no romantismo é o trabalho de luz, a individualidade de cada personagem. Mostrou a revolta popular contra a opressão. O Século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais, políticas e culturais causadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa. Do mesmo modo, a atividade artística tornou-se mais complexa. Pode-se identificar nesse período movimentos artísticos de diferentes concepções e tendências, como o Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e pósimpressionismo. De todos, o Romantismo foi o que se caracterizou como a primeira e mais forte reação ao Neoclassicismo, embora tenha durado apenas 30 anos (1820-1850). O artista romântico procurou se libertar de convenções acadêmicas em favor da livre expressão, da valorização dos sentimentos e da imaginação como princípios da criação artística. A estética romântica se compôs ainda de sentimentos como o nacionalismo e a valorização da natureza. A Pintura Romântica Ao negar a estética neoclássica, a pintura romântica aproxima-se das formas barrocas. Pintores românticos como Goya, Delacroix, Turner e Constable, recuperam o dinamismo e o realismo que os neoclássicos haviam negado, introduzindo elementos como a composição em diagonal, a valorização da cor e o reaparecimento dos contrastes claro-escuro, produzindo efeitos de dramaticidade. A pintura romântica se engrandeceu e tornouse repleta de emoções. Como disse o grande pintor romântico John Constable: "O mundo é grande, não existem dois dias iguais, nem mesmo duas horas, nem duas folhas são iguais entre sí, esta é a finalidade da criação do mundo. Quanto a nós, pintores românticos, cabe captar essa exclusiva sensação e pôr nas telas o sentimento ímpar do viver. Os Fuzilamentos de 3 de maio de 1808, de Goya Goya (1746-1828): A Luta Pela Liberdade Francisco José Goya y Lucientes trabalhou temas diversos: retratos de personalidades da corte espanhola e de pessoas do povo, os horrores da guerra, a mitologia grega e cenas históricas. Esta última, no século XIX, era considerada um gênero definitivo. Entretanto, Goya soube alterar fundamentalmente o modo de reproduzir o conteúdo histórico, dando-lhe um caráter mais geral. Exemplo disso é o quadro Os Fuzilamentos de 3 de Maio, onde soldados franceses levam à morte por fuzilamento, cidadãos espanhóis contrários à ocupação de seu país por Napoleão I. Trata-se de uma composição diagonal, em que a luz concentrada sobre o homem de camisa branca com braços abertos nos dá a certeza da morte iminente e já vivida pelos companheiros tombados no chão. O artista universaliza o tema da repressão política, acima do fato particular de sua Espanha. Consegue isso a- centuando o contraste entre o aspecto pessoal dos que vão morrer (rostos visíveis) e o aspecto anônimo dos soldados que matam (rostos ocultos). Goya, como ninguém, simbolizava a eterna revolta popular contra a opressão. Editora Exato 27
Existe uma preocupação com as cores brilhantes no centro da tela. Parece que o artista toma consciência de que a máquina invadiu o espaço natural e passa a fazer parte do universo da pintura. A Liberdade Guia o Povo, de Delacroix. Delacroix ( 1799-1863): A multidão nas ruas Aos 29 anos, Eugène Delacroix viveu uma experiência que mudou sua vida: visitou o Marrocos numa comitiva francesa, para documentar os hábitos e costumes locais. A visão que trouxe em seus quadros é de um realismo místico. Em A Agitação de Tânger (1828) mostra importantes elementos pictóricos que prenunciam o impressionismo: um céu transparente e uma luz intensa refletida nas casas, em oposição às sombras. O quadro mostra um artista entusiasmado com o movimento da multidão na rua. Tão entusiasmado que repetiu o tema no seu quadro mais conhecido: A liberdade Guiando o Povo (1832), realizado para exaltar a Revolução de 1830. Apesar do forte comprometimento político da obra, o valor estético é assegurado pelo uso das cores e do contraste de luz e sombra. Turner (1775-1851): A máquina ganha espaço na paisagem romântica A pintura paisagística ganhou nova força no período romântico, caracterizando-se pelo seu realismo e pela recriação contínua de cores modificadas pela luz solar. Os paisagistas românticos se anteciparam décadas aos impressionistas franceses. Joseph William Turner representou os grandes movimentos da natureza, procurando, através de estudos da luz refletida pela natureza, reproduzir a atmosfera da paisagem, como em O Grande Canal (1835), em que tons como o amarelo e o laranja são mantidos puros, não neutralizados pelo branco. O e- feito geral é uma paisagem com tal brilho que suas telas desse período são chamadas de visões douradas. Mas foi justamente Turner quem primeiro registrou a presença da máquina na paisagem. Em Chuva, Vapor e Velocidade (1844) ele substitui os detalhes pelas formas essenciais de uma locomotiva e dos trilhos. Editora Exato 28 Chuva, Vapor e Velocidade, de Turner. John Constable (1776-1837): a força da paisagem cotidiana Ao contrário de Turner, a natureza retratada por Constable é serena e profundamente ligada aos lugares da infância. Muitos elementos de suas paisagens os moinhos de ventos, as barcaças de cereais faziam parte do cotidiano da juventude do artista. Um exemplo dessa arte é A carroça de Feno (1821), na qual, através de uma grande quantidade de cores conseguidas por meio de observação, o artista obtém um efeito de admirável vivacidade. O rio, refletindo a luz solar, dá enorme luminosidade e serenidade à paisagem. A carroça de Feno. John Constable Arquitetura e escultura romântica A escultura romântica foi basicamente de ornamentação e estatuária, decorando mausoléus e fachadas de prédios. Rigorosamente, não se destacou em nenhum aspecto da escultura neoclássica. Já a arquitetura romântica abandonou os ideais clássicos ressurgidos no Neoclassicismo e se inspirou em estilos anteriors como o gótico e o barroco, que exaltavam a emoção e a espiritualidade. Nessa área
ARTES destacam-se o prédio do Parlamento Inglês, projeto de Sir Charles Barry e a Ópera de Paris, de Charles Garnier, que usa pela primeira vez a iluminação como forma de valorização de uma fachada de prédio público. cativas, pela criatividade e modernidade, as paisagens esmaecidas e os nus femininos, como Dolorida (1902) e Flor Brasileira (1911), de temas e iluminação ousados. Arrufos, de Belmiro de Almeida. Parlamento de Londres, de Charles Barry Ópera de Paris, de Jean-Louis C. Garnier 2. INFLUÊNCIA DO ROMANTISMO EUROPEU NO BRASIL A pintura realizada pelos artistas que freqüentaram a Academia de Belas-Artes seguiu os padrões estéticos neoclássicos aqui introduzidos pela Missão Francesa. Os nossos artistas acadêmicos passaram a seguir rígidos princípios para o desenho, para o uso das cores e para a escolha dos temas que, de preferência, deveriam ser os assuntos mitológicos, religiosos e históricos. A partir da segunda metade do século XIX, no entanto, essas idéias neoclássicas se tornam menos rígidas. Pintores nacionais que vão à Europa e entram em contato com os movimentos Românticos, Realistas e Impressionistas começam a seguir novas direções. Essa mudança virá de uma forma mais clara com Eliseu Visconti, mas já no final do século, sinais dessa pintura aparecem em obras de Belmiro de Almeida (1858-1935) e Antônio Parreiras (1869-1937). Alunos formados na Academia de Belas-Artes fizeram aprimoramento na Europa, onde se especializaram em temas históricos e paisagens. Belmiro, grande colorista, superou o academicismo com recursos de luz e sombra, como em Arrufos (1887) e Dame à La Rose (1906), onde se vê até traços de Futurismo. Já Parreiras tem como obras mais signifieditora Exato Flor Brasileira, de Antônio Parreiras. Liberalismo e aspirações nacionalistas no Brasil Nesse período, a estrutura sócio-econômica brasileira torna-se complexa. A prosperidade no campo cria uma Aristocracia esclarecida e as primeiras indústrias fazem surgir, nas cidades, uma classe operária. Ganham força as idéias abolicionistas e republicanas que acabam por determinar o fim da Escravidão em 1888 e da Monarquia em 1889. Mas a pintura do período expressa a riqueza e a vida tranqüila, buscando interpretar um liberalismo de idéias e um nacionalismo ufanista baseado nos novos tempos políticos sociais, sem inquietações temáticas mais profundas. Essa preocupação só viria a ocorrer mais tarde, no século XX, com a explosão do Movimento Modernista. 29
ARTES No entanto, as forças capitalistas urbanas, como comerciantes, banqueiros e industriais, unem forças ao lado dos grandes proprietários rurais contra o recém-nascido proletariado urbano, sedento de liberdade e melhorias sociais. Forma-se o terreno no qual vai brotar toda a agitação política e cultural brasileira da primeira metade do século XX. 3. O REALISMO Historicismo 1866 Tocador de Pífaro, de Manet 1870 Unificação da Itália 1876 Invenção do telefone, por Graham Bell 1886 Bartholdi esculpe a Estátua da Liberdade 1888 Abolição da Escravatura (Brasil) Entre 1850 e 1900 surge nas artes européias, sobretudo na pintura francesa, uma nova tendência estética chamada Realismo, que se desenvolveu ao lado da crescente industrialização das sociedades. O Realismo repudia a artificialidade romântica, sentindo necessidade de retratar a vida, os costumes e problemas das classes média e baixa, vindo a ser conhecido na pintura como arte socialista. O movimento teve, ainda, grande expressividade na escultura e na arquitetura, abandonando as visões subjetivas da realidade. Arquitetura realista Com a industrialização, grandes mudanças ocorrem na paisagem urbana da Europa. As igrejas e palácios construídos nos séculos anteriores com requinte e luxo, são substituídos por fábricas, armazéns, escolas, estações ferroviárias e outras construções civis que atendam às necessidades da classe operária e da burguesia desse período. Os arquitetos e engenheiros procuram responder adequadamente às novas necessidades urbanas, utilizando materiais novos surgidos a partir da Revolução Industrial, como o ferro fundido e o concreto armado. As estruturas de ferro passam a ficar mais aparentes, criando formas imponentes como a Torre Eiffel, de 300 metros de altura, ou delicadas, como o Palácio de Cristal. Torre Eiffel, em Paris obra de Gustave Eiffel (1889). A escultura realista A escultura realista não idealizou a realidade, buscando recriar os seres tais como eles são. Os temas contemporâneos, muitas vezes com assumida intenção política, tinham a preferência dos artistas. Os materiais também tinham um tratamento agressivo, principalmente o ferro e o bronze, que não eram polidos devidamente, deixando transparecer propositadamente as falhas das ligas de metal. Dentre os escultores do período realista, o que mais se destaca é Auguste Rodin (1840 1917), cuja produção desperta severas polêmicas. Já o seu primeiro trabalho importante A Idade do Bronze, de 1877, causou grande discussão motivada pelo intenso realismo. Críticos chegaram a acusar o artista de ter feito a escultura a partir de moldes tirados diretamente de modelos vivos. Mas é com Os Burgueses de Calais (1895) que Rodin revela sua característica fundamental: a fixação do momento exato de um gesto humano. Toda a angústia e desesperança do gesto de sacrifício parecem estar estampadas nas figuras da escultura. Outra obra muito conhecida de Rodin é O Pensador (1902), com o qual ele torna a surpreender o homem em suas ações dramaticamente comuns. A obra de Rodin tem classificação controvertida. Alguns a consideram romântica, pela forte emoção que traz. Outros a caracterizam como Palácio de Cristal, em Londres obra de Joseph Paxton (185l). Editora Exato 30
naturalista. E há aqueles que vêm nas obras um puro Impressionismo, movimento do qual ele foi contemporâneo. A pintura realista A pintura realista caracteriza-se sobretudo pelo princípio de que o artista deve representar a realidade com a mesma objetividade com que um cientista estuda um fenômeno da natureza. Ao artista não cabe melhorar a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é. Sua função é apenas revelar os aspectos mais expressivos desta realidade. Assim, o realismo abandona os temas mitológicos, bíblicos, hidtóricos e literários, pois o que importa é retratar uma realidade imediata e não imaginada. Isso levou o artista realista para a politização: a industrialização trouxe progresso tecnológico, mas fez surgir uma grande massa de trabalhadores, vivendo nas cidades em condições precárias e traabalhando em situações desumanas. Surge então a pintura social, denunciando injustiças e desigualdades sociais. Coubert (1819-1877): Os trabalhadores como tema Gustave Coubert foi o criador do realismo social, procurando retratar nas suas telas, temas da vida cotidiana e das classes populares. Seus quadros denunciavam as diferenças sociais que a burguesia do século XIX preferia ocultar. Orgulhoso de sua origem camponesa e com convicções socialistas, Coubert pregava que todo artista devia se inspirar nas próprias experiências ( eu não posso pintar um anjo porque nunca vi nenhum, disse). Coubert manifesta na pintura simpatia pelos trabalhadores e pelos pobres, em quadros como Os Britadores e Moças Peneirando Trigo. Aqui, a representação é quase fotográfica. Entretanto, o artista busca, na figura da moça de costas, fugir um pouco dessa descrição objetiva e se permite uma representação romântica da exploração do trabalho juvenil. Manet (1832-1883): O precursor do impressionismo Édouard Manet pertencia a uma família rica da burguesia parisiense e, ao contrário de Coubert, seu realismo não tem intenções sociais, refletindo mais um ar aristocrático. Sua carreira foi marcada por o- bras convencionais dentro das normas clássicas da pintura e obras desafiadoras que rompiam com o academicismo. Entre essas, a que provocou maior escândalo foi Almoço na Relva, que chegou a ser recusada pelo júri da Exposição Francesa de 1863. Trata-se da representação de uma mulher nua em companhia de dois homens elegantemente vestidos. No entanto descobriu-se depois que tratava-se de uma transposição realista de um quadro renascentista, O Concerto Campestre, de Ticiano. O quadro é i- novador pelo clima de realidade que apresenta, já que os personagens são pessoas conhecidas da sociedade parisiense, e não seres lendários como na obra renascentista: Victorine Meurend (modelo muito famosa à época), Eugene Manet (irmão do pintor) e Ferdinand Leenhoff (escultor parisiense). Além disso, o quadro apresenta uma composição elaborada: ao fundo, saindo da água, está uma figura identificada como Vênus, e mais à frente, uma natureza morta. Almoço na Relva, de Manet (1863). Moças Peneirando Trigo, de Coubert Editora Exato 31
O Concerto Campestre, de Ticiano (1510). Neste quadro, o centro de interesse está na luminosidade que a cena ganha com a figura nua da modelo. A obra de Manet foi importante na medida em que inovou a pintura, dando-lhe uma luminosidade mais intensa, tornando-o um precursor do impressionismo. Editora Exato 32