A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA PÚBLICA A PARTIR DO RELATO DOS ALUNOS

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A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA PÚBLICA A PARTIR DO RELATO DOS ALUNOS Resumo Adriana de Fátima Nibichiniack Carvalho 1 - UFPR Eixo Educação Ambiental Agência Financiadora: não contou com financiamento A Educação ambiental deve ser um processo pedagógico participativo e permanente que leve tanto educador quanto educandos a refletir criticamente e conscientemente sobre a problemática ambiental. A Lei nº 9795/99 foi promulgada para instituir a Política Nacional de Educação Ambiental, determinando que ela seja um componente essencial e permanente da educação, devendo estar presente e ser desenvolvida de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), lançados pelo MEC entre 1997 e 1999, vem corroborar com a Lei nº 9795/99 sendo referência curricular nacional para desenvolver trabalhos sobre temas sociais urgentes, os chamados temas transversais. Segundo vários autores (DIAS, 1993; CARVALHO, 1998; REIGOTTA, 2001; LEFF, 2001) a Educação ambiental deve ser desenvolvida de forma interdisciplinar. O presente estudo de cunho qualitativo teve como objetivo analisar como a Educação Ambiental está sendo desenvolvida em uma escola pública durante o ensino fundamental II a partir do relato dos alunos. Os participantes desta pesquisa foram 60 alunos, com idades entre 13 e 16 anos que frequentam o nono ano do Ensino Fundamental de um colégio da rede estadual na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Como coleta de dados foi aplicado um questionário contendo três questões sobre o desenvolvimento da Educação Ambiental no Ensino Fundamental II. De acordo com as respostas verificou-se que a Educação Ambiental foi mais desenvolvida durante o sexto e sétimo ano e as disciplinas que mais trabalharam ou trabalham com a temática são Ciências e Geografia. Com relação a vontade de estudar mais a temática ambiental, a maioria dos alunos responderam que sim e que gostariam que fossem utilizadas metodologias diferenciadas, como por exemplo aulas de campo, práticas, projetos e feiras científicas. Palavras-chave: Educação Ambiental. Ensino Fundamental. PCN. Interdisciplinaridade. 1 Aluna de Mestrado do Programa de Mestrado Profissional em Educação: Teoria e prática de ensino, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná. Professora de Ciências da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba e da Secretaria de Educação do Estado do Paraná SEED, Brasil. E-mail: adriana.nibichiniack@gmail.com ISSN 2176-1396

20077 Introdução Vivemos atualmente num modelo de desenvolvimento baseado no lucro e no consumismo em larga escala o que tem desencadeado um crescimento desordenado, desigualdades sociais, prejuízos na qualidade de vida e devastação do meio ambiente. Este atual modelo de desenvolvimento que tem se mostrado injusto e ecologicamente devastador, tornam urgente a compreensão e a prática de uma Educação Ambiental. A Educação Ambiental tem como objetivo atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente levando o educador e educandos a ter uma postura crítica e consciente sobre a problemática ambiental (PHILIPPI JR e PELICIONI, 2002). O ponto de partida para o desenvolvimento de um programa internacional de Educação Ambiental foi a Conferência de Tbilisi realizada no ano de 1977, nesta conferência foi determinada a natureza, características e objetivos da Educação Ambiental bem como as estratégias desenvolvidas nos planos nacionais e internacionais (DIAS, 1993). Segundo Leff (2001) apartir da Educação Ambiental podemos incorporar critérios sócio ambientais e estéticos dentro dos objetivos didáticos da educação, fazendo com que os alunos passem a pensar e compreender a complexidade dos problemas ambientais e suas emergências interrelacionando-as com os diversos subsistemas que compõem a realidade, entendendo que esses problemas atingem a todos igualmente. A Educação Ambiental busca proporcionar aos indivíduos meios pelos quais através da coletividade construam valores sociais, habilidades, conhecimentos para a conservação do meio ambiente, por isso a Lei 9795/99 institui a Política Nacional de Educação Ambiental onde determina que ela seja um componente essencial e permanente da educação, devendo estar presente e ser desenvolvida de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), lançados pelo MEC entre 1997 e 1999, são uma referência curricular nacional, seu principal objetivo é ser um referencial aos professores para desenvolver trabalhos sobre temas sociais urgentes, os chamados temas transversais, sendo flexíveis e podendo ser adaptados à realidade de cada região. Segundo os PCNs a escola deverá desenvolver ao longo dos anos do Ensino Fundamental a temática ambiental, como se vê:

20078 Considerando a importância da temática ambiental, a escola deverá, ao longo das oito séries do ensino fundamental, oferecer meios efetivos para cada aluno compreender os fatos naturais e humanos referentes a essa temática, desenvolver suas potencialidades e adotar posturas pessoais e comportamentos sociais que lhe permitam viver numa relação construtiva consigo mesmo e com seu meio, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa; protegendo, preservando todas as manifestações de vida no planeta; e garantindo as condições para que ela prospere em toda a sua força, abundância e diversidade (BRASIL, 1997, p.39). A Educação Ambiental segundo vários autores tem como natureza ser interdisciplinar (DIAS, 1993; CARVALHO, 1998; REIGOTTA, 2001; LEFF, 2001). Hoje em dia é difícil imaginar desenvolver a Educação Ambiental sem ser a partir da interdisciplinaridade. Os PCN reforçam a necessidade do tema meio ambiente deve ser desenvolvido de forma transdisciplinar na escola. Segundo esses parâmetros apesar de as áreas de Ciências naturais, História e Geografia serem as tradicionais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos de Meio Ambiente, a demais área ganham uma importância fundamental, pois podem contribuir para que o aluno tenha uma visão mais integrada do ambiente, em Língua Portuguesa deve-se trabalhar as diversas leituras, levando os alunos a interpretarem e serem mais críticos em relação ao tema; na Educação Física deve-se desenvolver a compreensão da expressão e o autoconhecimento corporal, relacionando o corpo ao ambiente; em Arte trabalhar a partir das diversas formas de expressão e releituras do ambiente, dando-lhe novos significados, desenvolvendo nos alunos a sensibilidade e possibilitando assim novos vínculos com o espaço e em Matemática que se trabalha uma forma específica de leitura e expressão. Portanto, todas as áreas são fundamentais no processo de construção do conhecimento sobre o meio ambiente, ajudando os alunos a trabalhar seus vínculos subjetivos com o ambiente e expressando-os, despertando a criticidade e buscando uma melhor qualidade de vida, resgatando atitudes, valores e comportamentos. Segundo Leff (2001) a partir da Educação Ambiental podemos incorporar critérios sócio ambientais e estéticos dentro dos objetivos didáticos da educação, fazendo com que os alunos passem a pensar e compreender a complexidade dos problemas ambientais e suas emergências inter-relacionando-as com os diversos subsistemas que compõem a realidade, entendendo que esses problemas atingem a todos igualmente. Este estudo teve como objetivo analisar como a Educação Ambiental está sendo desenvolvida em uma escola pública durante o ensino fundamental II a partir do relato dos alunos.

20079 Metodologia A metodologia empregada na presente pesquisa empírica foi de cunho qualitativo, se fundamentando em dados descritivos privilegiando a compreensão da situação investigada e as concepções dos sujeitos participantes (LÜDKE e ANDRÉ, 2103). Participaram desta pesquisa 60 alunos, com idades entre 13 e 16 anos que frequentam o nono ano do Ensino Fundamental de um colégio da rede estadual na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. A escolha pelos alunos do nono ano se refere ao fato de que eles já estão no final deste ciclo da educação brasileira. Foi aplicado um questionário contendo as seguintes questões sobre Educação Ambiental desenvolvida na escola desde o sexto ano do Ensino Fundamental: 1. Em quais anos da escola você estudou mais sobre o assunto meio ambiente? Pode marcar mais de uma alternativa. ( ) 6º ano ( ) 7º ano ( ) 8º ano ( ) 9º ano. 2. Em quais disciplinas você estuda ou estudou sobre o meio ambiente? 3. Você gostaria de estudar mais sobre o meio ambiente na escola? De que maneira você acha que o tema meio ambiente poderia ser desenvolvido na escola? Resultados e discussões As respostas da primeira questão que indagava aos alunos em quais anos do ensino fundamental II estudaram mais sobre o Meio Ambiente revela uma realidade preocupante e contraditória tanto da Legislação que cuida da Educação Ambiental como dos pesquisadores da área. Segundo as respostas, a EA foi mais desenvolvida enquanto eles cursaram o sexto e sétimo ano. Tabela 1 Respostas dadas a primeira questão Anos do E. fundamental II Quantidade de alunos 6º ano 26 7º ano 18 6º e 7º ano 8 8º ano 7 9º ano 0 TOTAL 60 Fonte: Dados organizados pela autora Segundo a Lei nº 9795/99 a EA deveria ser desenvolvida como prática educativa, integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, sendo

20080 que para isto não deve ser implantada como disciplina escolar específica. Também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) reconhecem que a Educação Ambiental deve ser inserida no currículo de modo diferenciado, não se configurando como uma disciplina escolar, mas sim como um tema transversal. Como pode ser observado, os instrumentos legais e os programas governamentais fortalecem a importância do desenvolvimento da Educação Ambiental, que deve perpassar os conteúdos de todas as demais disciplinas. De acordo com os PCN's:...deve-se considerar que, como a realidade funciona de um modo sistêmico em que todos os fatores interagem, o ambiente humano deve ser compreendido com todos os seus inúmeros problemas. Tratar a questão ambiental, portanto, abrange toda a complexidade da ação humana: se quanto às disciplinas do conhecimento ela é um tema transversal, interdisciplinar, nos setores de atuação da esfera pública ela só se consolida numa atuação do sistema como um todo, sendo afetada e afetando todos os setores: educação, saúde, saneamento, transportes, obras, alimentação, agricultura, etc (MEC, 1998, p. 23). Foi criado pelo Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação, fruto da Lei n] 9795/99, o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que também vem reforçar nas suas primeiras diretrizes, a transversalidade e a interdisciplinaridade da Educação Ambiental. O ProNEA (2004) indica um novo nível de compreensão do processo educativo, valorizando os princípios pedagógicos da dimensão crítica e democrática da educação ambiental, a partir de uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar. Ao analisar as respostas dos alunos à segunda questão que perguntava em que disciplinas estudam ou estudaram mais sobre o meio ambiente, aparecem na maioria das respostas as disciplinas de Ciências e Geografia. Tabela 2 Respostas dadas a segunda questão Disciplinas Quantidade de alunos Ciências 28 Geografia 2 Ciências e Geografia juntas 26 Português 1 Educação Física 1 Não respondeu 2 TOTAL 60 Fonte: Dados organizados pela autora Este é outro dado preocupante e que não vai de encontro com os documentos legais que tratam da importância do enfoque interdisciplinar para o desenvolvimento da EA no Brasil, sugerindo a utilização da contribuição de várias disciplinas, envolvimento das populações

20081 valorizando seus conhecimentos para se trabalhar com o tema tratado superando assim a compartimentalização e especialização do conhecimento. É necessário ressaltar que as disciplinas de ciências e Geografia não dão conta isoladamente, de desenvolver todas as questões ambientais, precisa haver uma discussão na escola a fim de inserira temática ambiental no projeto político pedagógico e definir os projetos e ações que se pretende realizar e alcançar todas as disciplinas. Vários autores ressaltam a natureza interdisciplinar da Educação Ambiental. Dias (1993) conceitua a Educação Ambiental como um conjunto de conteúdos e práticas ambientais por meio do enfoque interdisciplinar, devendo haver uma participação ativa e responsável de todos os indivíduos da comunidade. Leff (2001) destaca que a Educação Ambiental estimula o desenvolvimento de conhecimentos em diversas disciplinas escolares, exigindo a integração de conhecimentos interdisciplinares. Ao questionar os alunos se gostariam de estudar mais sobre o meio ambiente na escola e de que maneira gostaria que o tema meio ambiente fosse desenvolvido na escola, os dados foram surpreendentes pois, a maioria dos alunos, cerca de 87% gostariam de estudar mais sobre meio ambiente e que para isto fossem utilizadas metodologias diferenciadas, como aulas práticas, aulas de campo, projetos, feiras científicas, entre outras. Somente 13% dos alunos responderam que não gostariam de estudar mais sobre o meio ambiente. Isto demonstra que os alunos estão preocupados com as questões ambientais, que gostariam de realizar mais estudos sobre o tema, desenvolver e participar de projetos que levem a reflexão e preservação do meio ambiente. Tabela 3 Respostas positivas dadas a terceira questão Metodologia citada Quantidade de alunos Aulas práticas e de campo 32 Projetos de preservação do meio ambiente 7 Feiras de Ciências 2 Não citou a metodologia 11 TOTAL 52 Fonte: Dados organizados pela autora Considerações finais A partir da análise das respostas dadas pelos alunos com relação ao desenvolvimento do tema meio ambiente na escola durante o Ensino Fundamental II, conclui-se que apesar de os

20082 documentos legais destacarem a importância da interdisciplinaridade e a transversalidade do tema, onde deveria haver um tratamento integrado das disciplinas em todo o processo de formação na escola, o que se verifica neste estudo que isto não ocorre, segundo as respostas, o tema meio ambiente é mais desenvolvido durante o sexto e sétimo ano sendo que as disciplinas de Ciências e Geografia são as que mais desenvolvem o tema. O que pode dificultar esta interrelação entre as disciplinas para se trabalhar a Educação Ambiental desta forma seja a maneira como estão distribuídos os conteúdos curriculares ao longo dos anos do Ensino Fundamental II, que se mostram fragmentados e especializados em cada área. Entretanto, os temas transversais, que se apresentam como um conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar, desvinculados de qualquer disciplina, sendo comum a todas, podem ser apoio para o diálogo permanente em sala de aula e fora dela, onde participariam professores, estudantes e comunidade em geral a fim de criar um espaço de Educação Ambiental discutindo a necessidade de preservação e respeito às diferentes formas de vida. Neste estudo é evidente que os alunos gostariam de aprender mais sobre o tema meio ambiente e que para eles é muito importante que sejam utilizadas práticas pedagógicas diferenciadas como aulas de campo, aulas práticas, desenvolvimento de projetos e feiras de Ciências. Portanto, é necessário propor práticas que instiguem a curiosidade dos alunos, tornando-os mais participativos e críticos quanto ao conhecimento, aprender requer prazer e afetividade, sentido e motivação, que direcionam o sujeito para a ação consciente. Em vista da análise dos resultados do estudo junto aos alunos de uma escola pública, manifesta-se a preocupação em se discutir, no contexto escolar, a relevância do desenvolvimento da Educação Ambiental de forma inter e transdisciplinar e mais presente no cotidiano escolar. REFERÊNCIAS BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente e saúde. Brasília, MEC, 1997. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, n. 79, 28 abr. 1999.

20083 CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Em direção ao mundo da vida: interdisciplinaridade e educação ambiental / Conceitos para se fazer educação ambiental. Brasília: IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1998. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 2. ed. São Paulo: Editora Gaia, 1993. LEFF, Enrique. Saber Ambiental. Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001. LÜDKE, M., ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2013. PELICIONI, Maria Cecília Focesi; PHILIPPI JR, Arlindo. Meio Ambiente, Direito e Cidadania: uma interação necessária. Meio Ambiente, Direito e Cidadania. São Paulo: USP, Signus, 2002. PRONEA, MEC. Programa Nacional de Educação Ambiental. 2004. REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001 (Coleção: Primeiros Passos).