SOBRE O PRIMEIRO OFERECIMENTO DA DISCIPLINA ENCONTRO DE SABERES Sábios indígenas e afrodescendentes são convidados a ministrar a disciplina Encontro de Saberes em parceria com professores da Universidade. São organizados quatro módulos de 16 horas/aula cada. A metodologia envolve exercícios de observação e análise, trabalhos de campo, registros, práticas, improvisações, intervenções e pesquisa teórica. O repertório consiste de matrizes ameríndias e africanas de uma configuração popular brasileira conforme os seguintes módulos: Módulo Alimento e Rito, Módulo Plantas e Espírito, Módulo Artes Aplicadas e Módulo Sociedades e Cosmovisões. Nessa primeira ocorrência da disciplina os mestres e mestras são Jorge Domingos, cantor de samba, morador do bairro Restinga; Maria Elaine Rodrigues Espíndola, ativista ligada às culturas afrobrasileira e quilombola e coordenadora do Ponto de Cultura Mocambo, no bairro Cidade Baixa; Iracema Rã- Nga Nascimento, liderança espiritual Kaingang; Maurício Messa de Oliveira, Guarani- Mbyá conhecedor das sementes sagradas e dos modos de vida próprios dos Guarani. O grupo de professores reflete o diálogo interdisciplinar na sua composição: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (Instituto de Letras), Luciana Prass e Marília Stein
(Instituto de Artes), José Otávio Catafesto de Souza (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), Eráclito Pereira (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), Carla Meinerz (Faculdade de Educação), Rumi Regina Kubo (Faculdade de Ciências Econômicas) e Ingrid de Barros (Faculdade de Agronomia). A primeira versão da disciplina Encontro de Saberes foi sugerida a partir de debates iniciados em 1999 na Universidade de Brasília. A proposta evoluiu na parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), Ministérios e Agências do Poder Público Federal. O primeiro oferecimento ocorreu em 2010. Atualmente Universidades Públicas no Brasil (UnB, UFMG, UFJF, UECE, UFPA e UFSB) e no exterior (Pontifícia Universidad Javeriana, na Colômbia) desenvolvem propostas semelhantes. Sem negar as conquistas que a especialização do conhecimento propiciou, a proposta, pensada como interepistêmica, considera várias formas de conhecimento a racional, a poética, a sensorial, a mítica.
SOBRE OS QUATRO MESTRES PARTICIPANTES EM 2016/2 S e u J o r g e e m s u a c a s a n a R e s t i n g a. F o t o F l á v i o D u t r a, 2 0 1 5. Seu Jorge é um cantor de 84 anos de vida e 67 anos de exercício musical em plena atividade. Uma carreira iniciada nos tradicionais bailes das décadas de 50 e 60, onde as orquestras com naipes de sopros precisavam de cantores de voz forte com poderosos vibratos para competirem com o alto volume dos instrumentos de metal. Jorge Domingues, o Seu Jorge, descende artisticamente desta linhagem de vozes como a de Jamelão e de Nelson Gonçalves. Além de um excelente cantor, utiliza a música para ser sua aliada num mundo infi nito de histórias vividas. Vivenciou parte do tempo áureo das rádios Farroupilha e Guaíba. Participou de programas como a Música Brasileira em Traje de Gala e dividiu os microfones com a cantora negra Branca de Neve, com o grupo Jazz Grená de músicos da ferroviária e com Telmo do Acordeon, entre outros. Atualmente, canta para crianças nos SASE, em grupos na Cruz Vermelha, em eventos da Assistência Social, gratuitamente. Tem participado de atividades artísticas e culturais junto a universidades e escolas com sua banda atual, formada, como ele, por músicos autodidatas. Uma palavra, uma história, uma canção: é assim que Seu Jorge se inscreve na vida pública como contador-cantor, ou, dito de modo mais poético, como um griot, essa espécie de voz e
ouvido da cidade de Porto Alegre e também da Restinga, bairro que o acolheu há mais de 30 anos. A trajetória pessoal se aprofunda na ancestralidade africana e transforma o samba numa narração coletiva, por vezes quase numa prece. Tais são os elementos que permitem uma atuação pública e comunitária em que uma palavra chama uma música, a música conta uma história e a história guia o público num percurso pela memória da cidade e da música brasileira, mas também pela ancestralidade africana e pela experiência de ser negro e morador da periferia no Brasil, tudo isso inspirado nas promessas de um futuro mais justo, mais alegre. Salve, Jorge! I r a c e m a R ã - N g a N a s c i m e n t o. F o t o R a m o n M o s e r, 2 0 1 5. Iracema Rã-Nga Nascimento é líder Kaingang com longa experiência xamânica e cosmopolítica. Natural da Terra Indígena Nonoai, na bacia do Alto Uruguai, viveu na Terra Indígena Borboleta, na região do Salto do Jacuí, entre os municípios de Salto do Jacuí, Jacuizinho e Espumoso, e atualmente mora com seu grupo familiar na Vila Ja ri, nas fraldas do Morro Santana, em Porto Alegre. Possui um extenso conhecimento dos elementos botânicos florestais, especialmente no âmbito do
manejo de cipós, ervas, sementes e outros vẽnh-kagta (remédios do mato). Conhecedora do cultivo de hortas, da produção de artesanato e alimentos tradicionais, dos cuidados relativos ao parto e à maternidade, da interpretação de sonhos e do canto de pássaros, propõe -se nesta disciplina a orientar vivências da eco-lógica Kaingang a partir da articulação de saberes do universo da floresta, no sentido da saúde plena, entre pessoa e terra. Desde 2014, como pesquisadora e liderança Saberes Indígenas na Escola - UFRGS. Colaborou nas pesquisas de Freitas (2005) e Marechal (2015), entre outras, e participará do ciclo Mostra Tela Indígena, na Sala Redenção/UFRGS, Porto Alegre, em 31 de agosto de 2016, debatendo os filmes A mata é que mostra nossa comida e Sentindo o outro lado: perseguição e resistência Kaingang em Kandoia (https://www.ufrgs.br/prorext/a genda/mostra-telaindigena/http://www.ufrgs.br/di fusaocultural/projeto.php?id=33 0). tradicional, atua na formação continuada de professores indígenas no Rio Grande do Sul no projeto de e xtensão
Elaine Rodrigues. Maria Elaine Rodrigues Espíndola possui reconhecimento como Griô pelo Projeto Museu Percurso do Negro/Centro de Referência Afro-brasileira/Programa MONUMENTA (2009) e pela Câmara Municipal de Porto Alegre (2010). Professora aposentada, atua na Mocambo - Associação Comunitária Amigos e Moradores do Bairro Cidade Baixa e Arredores, organização voltada à preservação das memórias e culturas afro-gaúchas. O processo histórico da Mocambo remonta ao carnaval das décadas de 1970 e 1980, tendo relação com a Escola de Samba Praiana. Dona Elaine é filha de Mariazinha, fundadora da Ala Verde que te quero Rosa da Escola. Milita em diferentes espaços políticos e culturais porto-alegrenses, tais como: Orçamento Participativo, Associação de Remanescentes de Quilombos, Programa Quilombolas em Rede, Conselho local de saúde, Piquete O Mocambo dentro do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre.
Caci qu e Maurici o em palestra numa plenária da OPAC RAMA. Foto Ingrid de Barros, 2012. O mestre Mauricio Messa de Oliveira é cacique na Tekoá Kaaguy Mirim (Aldeia Pequena Floresta), localizada no bairro Lami, em Porto Alegre, pertencente à Terra Indígena do Cantagalo. Ele é um guardião das sementes sagradas do milho Guarani, recebidas de Nhanderu e fundamentais no Nhemongaraí, tradicional ritual do B atismo do Milho. Preocupado com a saúde e a alimentação das pessoas, também se ocupa no Sobre a matrícula resgate e na preservação de diversos recursos vegetais, como frutas nativas e plantas medicinais. Participa ativamente nos eventos de intercâmbio de sementes tradicionais e crioulas, como nos dias da troca na Arca das Sementes Berenice Antonini, da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana - RAMA. Por outro lado, sabedor da importância do artesanato como elemento para a compreensão da natureza e da agroecologia, principalmente junto às crianças, se empenha na divulgação do artesanato Guarani por onde anda. Também sob sua responsabilidade está o Grupo Kaaguy Mirim Cultural de Arte Musical Mbyá Guarani, divulgando em diferentes espaços os cantos e danças de seu povo.
A disciplina Encontro de Saberes (ART03946) está ligada ao Curso de Música e permite que qualquer aluno de Graduação nela se inscreva como extracu rricular. No semestre 2016/2 ocorrerá nas segundas-feiras, das 13h30 até às 17h, na sala 301 do Anexo I da Reitoria. Para solicitar a matrícula basta entrar no Portal do Aluno e na aba <Aluno>, em <Matrícula> clicar e m <Solicitação Extracurricular>. Então em <Digite o nome do currículo a ser consultado> devem buscar "LICENCIATURA EM MÚSICA ".
A seguir aparecerá a opção <Encontro de Saberes>. Então basta clicar em <Solicitar como Extracurricular>. Porto Alegre, 13 de julho de 2016. Coletivo de professores Encontro de Saberes