GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO Eduardo Henrique de Accioly Campos VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO João Soares Lyra Neto SECRETÁRIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE Luciana Barbosa de Oliveira Santos SECRETÁRIO EXECUTIVO DE MEIO AMBIENTE Hélvio Polito Lopes Filho
APRESENTAÇÃO Durante os eventos na área de Meio Ambiente realizados este ano pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco (Sectma), foram construídas as Propostas Pernambucanas para o Enfrentamento às Mudanças Climáticas. As contribuições irão integrar o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, documento que será apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), a ser realizado em Copenhague, Dinamarca, no mês de dezembro. Para a elaboração dessas propostas, foram considerados três problemas urgentes para o Estado: Desertificação, Gestão Costeira e Urbanismo. Durante a I Reunião do Fórum Pernambucano de Mudanças Climáticas, em junho, a temática foi abordada publicamente, por meio de palestras e debates com renomados pesquisadores. Contamos com a presença de 42 participantes de 27 instituições da sociedade civil, ONGs, entidades públicas e privadas. No final de setembro, foi realizada a I Reunião Setorial do Fórum Pernambucano de Mudanças Climáticas, visando traçar as premissas das propostas pernambucanas sobre o tema. Durante o encontro, além de palestras com as problemáticas regionais, foram debatidas e centralizadas as temáticas de maior prioridade para o Estado. Contamos com a participação de 65 pesquisadores, acadêmicos e autoridades, representando 36 instituições públicas, particulares, ONGs e casa civil. As propostas formuladas na ocasião foram submetidas a modificações e lapidações num segundo momento. O momento em questão foi a II Reunião do Fórum Pernambucano de Mudanças Climáticas, realizada no dia 5 de outubro, quando participaram 64 pesquisadores, acadêmicos, autoridades, e representantes de ONGs e instituições públicas e privadas. Foram realizadas palestras e debates com pesquisadores de repercussão internacional, que abordaram a problemática gerada pelas mudanças climáticas no Estado. As contribuições traçadas inicialmente foram debatidas, analisadas e definidas, para a finalização de um documento que elenca as principais propostas de enfrentamento às mudanças climáticas em Pernambuco, tendo em vista as características e consequências regionais. Sendo assim, é com sentimento de otimismo que apresentamos à sociedade em geral as Propostas Pernambucanas para Enfrentamento às Mudanças Climáticas, esperando contribuir significativamente para a consolidação de uma política pública global eficaz de enfrentamento e minimização da problemática. Luciana Santos Secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco
PROPOSTAS PERNAMBUCANAS PARA O ENFRENTRAMENTO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Recife, 06 de outubro 2009 Propostas Gerais 1. Criar uma Base de Dados sobre mudanças climáticas, proporcionando uma integração de informações de fácil acesso, uma rede de informação; 2. Criar um órgão como uma agência ou instituto especialmente para a temática de clima e oceano, com o intuito de controle e integração permanente; 3. Incentivar a criação de Unidades de Conservação pelos poderes locais, estimulando principalmente as do tipo Reserva Particular do Patrimônio Natural; 4. Desenvolver e implantar instrumentos legais que permitam o Pagamento de Serviços Ambientais que possam contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e propiciar condições favoráveis de adaptação às mesmas, assim como de prevenção contra processos danosos; 5. Ordenar e penalizar a emissão do dióxido de carbono na atmosfera; 6. Apoiar a realização de pesquisas científicas e tecnológicas voltadas ao desenvolvimento sustentável, sua acessibilidade à população e usufruto; 7. Implantar um plano de educação ambiental contextualizada, no âmbito formal e não formal, valorizando o conhecimento das causas das mudanças climáticas e as possibilidades de minimização de suas consequências, de maneira sistêmica, como medida fundamental para estimular a atuação cidadã diante do cenário de crise socioambiental; 8. Buscar parcerias entre os níveis de governo, retomando as Agendas Ambientais onde as mesmas foram construídas e se valendo de instâncias ligadas à temática ambiental já instituídas; 9. Fortalecer as instituições de pesquisa metereorológica e climatológica, com definição de mecanismos para produção de conhecimento com base regionalizada referente a fenômenos e mudanças climáticas, com criação de sistema de alerta precoce; 10. Disseminar informações sobre eventos climáticos extremos.
Propostas Temáticas Semi-Árido e desertificação 1. Fortalecer as ações da Assistência Técnica e Extensão Rural e Pesquisa, com preparação dos profissionais para incorporar a temática das mudanças climáticas (ressaltando medidas mitigadoras e de adaptação) e da desertificação (ressaltando medidas de prevenção e de recuperação de áreas degradadas); 2. Fortalecer a gestão compartilhada dos recursos hídricos numa abordagem integrada à gestão dos ecossistemas e agroecossistemas, considerando os cenários produzidos pelas mudanças climáticas, buscando diminuir o estresse gerado que por sua vez pode exacerbar o processo da desertificação; 3. Divulgar junto ao poder local e proprietários rurais, os instrumentos financeiros que incentivam iniciativas de conservação; 4. Discutir e revisar a matriz energética no tocante ao uso da lenha e carvão, incorporando aspectos ligados ao manejo florestal sustentável (sem o corte raso) como alternativa ao desmatamento autorizado; 5. Estímular os sistemas produtivos que considerem o uso sustentável dos ecossistemas, a exemplo da agroecologia; 6. Identificar e apoiar ações de prevenção à degradação na prática das atividades econômicas e de recuperação das áreas já degradadas. 7. Sistematizar, socializar e apoiar às tecnologias alternativas e apropriadas para o uso sustentável dos ecossistemas e agroecossistemas; 8. Monitorar (nos aspectos biofísico e socioeconômico) a desertificação como elemento de suporte à decisão no âmbito de políticas públicas.
Gestão Costeira 1. Implantar ações de monitoramento contínuo e integrado para manutenção e prevenção de riscos em áreas costeiras; 2. Desenvolver e implantar o plano de gestão integrado de riscos costeiros; 3. Institucionalizar e estruturar a Defesa Civil para as mudanças climáticas nos poderes locais; 4. Inserir a temática de Defesa Civil no currículo escolar; 5. Capacitar a população para enfrentar as situações de riscos costeiros; 6. Capacitar e habilitar os agentes públicos, nos diversos níveis de governo, para ações integradas; 7. Fortalecer as universidades e instituições de pesquisa para realização de estudos integrados sobre mudanças climáticas e suas consequências para a gestão costeira; 8. Definir legalmente e delimitar a linha de preamar máxima atual para o estabelecimento de áreas não edificantes; 9. Integrar pesquisas em desenvolvimento para definir áreas de vulnerabilidades costeiras; 10. Contemplar no planejamento urbano medidas preventivas e corretivas para adaptação das cidades costeiras à elevação do nível do mar; 11. Fomentar a proteção e recuperação de manguezais e recifes costeiros; 12. Recuperar áreas de praias degradadas; 13. Realizar ações periódicas de desassoreamento e ou alargamento de calhas dos rios costeiros; 14. Planejar ações emergenciais, como a construção de bacias de estocagem em áreas de baixa altimetria, entre outras, para minimizar os problemas de drenagem nas regiões litorâneas e de cursos d água.
Urbanismo As recomendações possuem duas vertentes básicas. Na primeira as ações de mitigação dos efeitos urbanos sobre o meio ambiente e na segunda as ações para o convívio com as mudanças climáticas por vir. Na primeira, devido aos diversos problemas consequentes no meio urbano, os eixos principais trabalhados são: energia, transportes, resíduos e consumo, uso e ocupação do solo/ construção e infraestrutura, arborização e cobertura vegetal urbana, drenagem e impermeabilização do solo, educação ambiental crítica e tecnologia. Recomendações de mitigação 1. Estimular a pesquisa e aplicação de tecnologias para minimizar os efeitos dos problemas urbanos: Tecnologias a) Fomentar e divulgar atividades, projetos e tecnologias inovadoras direcionadas à construção de indicadores bioclimáticos que possibilitem estabelecer estratégias de monitoramento da mudança do clima e da implementação de medidas mitigadoras e de adaptação; b) Capacitação de profissionais para aplicação das tecnologias desenvolvidas. Energia Estabelecer políticas e normas de incentivo, público e privado, à adoção de energia limpa. a) Criar linhas de crédito para o financiamento da mudança da matriz energética; b) Desenvolver novas tecnologias sustentáveis e divulgar as já existentes; c) Capacitar profissionais para a implementação das tecnologias sustentáveis; Transportes Utilizar tecnologias veiculares que promovam melhores condições de conforto e segurança dos usuários com sistemas eficientes de redução das emissões de gases do efeito estufa
2. Estimular a mudança de valores sociais, possibilitando novos comportamentos que gerem uma cidade com menos degradação socioambiental. Resíduos e Consumo a) Promover um padrão de produção e de consumo sustentáveis. b) Promover um aproveitamento e a redução dos resíduos. d) Promoção da redução de gases de efeito estufa e) Otimização dos recursos naturais Educação Ambiental Promoção de educação ambiental, visando o desenvolvimento de uma consciência e atitudes ecológicas voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas. 3. Estimulo ao controle e planejamento das cidades de forma democrática e coletiva, criando possibilidades reais para um uso e ocupação do solo urbano com qualidade de vida socioambiental. Drenagem e impermeabilização do solo. a) Renaturalizar corpos hídricos e adotar medidas estruturadoras para redução de enchentes. b) Revisar e adequar os índices urbanísticos de permeabilização do solo urbano que garanta a absorção das águas superficiais e recarga dos aqüíferos, assim como à permeabilização urbana aos ventos e à luz, no sentido de se valorizar o conforto natural e eficiência energética. c) Criar um plano de gerenciamento da água no meio urbano, objetivando o reaproveitamento e diminuindo as chances de inundações.
Transportes a) Priorizar no uso do sistema viário, a circulação dos transportes coletivos e não motorizados, com medidas que garantam a circulação segura e confortável de bicicletas, e assim como a freqüência, roteiro e qualidade do serviço em relação ao transporte coletivo motorizado. b) Definir políticas públicas com incentivos financeiros para implantação infra-estrutural e aquisição de equipamentos que proporcionem a implantação de sistemas de transportes públicos racionais (integrados), que reduzam a emissão de poluentes com um bom nível de serviço para a população. 4. Revisar e adequar os instrumentos de planejamento e gestão urbana, estabelecendo normas e incentivos à ocupação do solo, construção civil e infra-estrutura urbana sustentáveis, considerando os aspectos bioclimáticos e de eficiência energética. 5. Readequar as áreas ocupadas sem a devida qualidade socioambiental e padronizar os serviços urbanos. 6. Requalificar áreas urbanas degradadas ou em desuso que proporcionem adições de valores ambientais e sociais, evitando novas interferências no território e valorizando áreas já interferidas. Arborização e cobertura vegetal urbana a) Estabelecer um sistema de áreas verdes urbanas hierarquizadas, interligando e ampliando as áreas de solo natural e cobertura vegetal, públicas e privadas, objetivando a ampliação dos espaços vegetados e o reflorestamento e enriquecimento de Áreas de Preservação Permanentes, utilizando espécies nativas. b) Ampliar a arborização urbana, com o aumento do plantio nas vias públicas. c) Elaborar um Plano Diretor de Arborização Urbana. d) Implementar e dinamizar programas de produção e distribuição de sementes e mudas. e) Incentivar a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, no âmbito local. Recomendações de convívio 1. Monitorar as mudanças climáticas e simular os seus efeitos em nível local. 2. Preparar a defesa civil dos governos locais. 3. Planejar e Equipar preventivamente as cidades para as mudanças climáticas que virão. 4. Desenvolver planos, projetos e programas, considerando os estudos que indicam as mudanças climáticas, no sentido de se adaptar e minimizar as suas consequências.