PRODUÇÃO FAMILIAR NO IRANDUBA: ESCOAMENTO DO RURAL AO URBANO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL



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Transcrição:

PRODUÇÃO FAMILIAR NO IRANDUBA: ESCOAMENTO DO RURAL AO URBANO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL Heitor Paulo Pinheiro - Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira NEPECAB/UFAM pinheiro.heitor@gmail.com Aline Damaceno Leite - Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira NEPECAB/UFAM alinedmle@gmail.com RESUMO: O município do Iranduba faz parte da região metropolitana de Manaus, sendo conhecido por seu potencial agrícola fornecendo produtos hortifrutigranjeiros para o mercado Manauara. Entretanto, existe certa dificuldade no escoamento da produção devido à falta de meios para transportar os produtos, necessitando de um transporte rápido e de qualidade para a chegada no local de venda em condições de consumo. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é identificar o processo de escoamento dependente dos transportes da Prefeitura Municipal do Iranduba para chegar à Manaus, caracterizando-o e mostrando sua importância para a produção familiar no município. Para tanto, foi realizado trabalho de campo visando à coleta dados por meio de entrevistas abertas com os sujeitos envolvidos na cadeia produtiva e com os encarregados da secretária de produção do município, órgão encarregado pelo programa de auxilio ao transporte dos produtores familiares do Iranduba. Por meio de mídias digitais foram adquiridos materiais para compor um banco de dados sobre o conteúdo. O destino da produção Irandubense em sua maioria é o mercado de Manaus tendo como sede para a distribuição destes produtos, as Feiras Manaus, PANAIR entre outros centros de vendas hortifrutigranjeiro da cidade. No campo foi observado que a principal forma de escoamento da produção do município se da de forma intermodal em parte rodoviária e em parte fluvial, contando com a rodovia AM-070 que corta o município até o porto do Cacau Pireira, onde esses produtos são levados à Manaus pelas balsas. Como resultado de reuniões com os agricultores familiares foram identificados alguns pontos de distribuição em Manaus, levando em consideração distância, dia e local de venda dos produtores. Consequentemente foi realizado um cadastro dos produtores com suas respectivas quantias a serem transportadas até Manaus, havendo uma diferenciação dos pontos de entregas espacializados em diferentes locais: Manaus, PANAIR, Coroado, Alvorada, Zumbi, Feira Coberta do Jorge Teixeira e Dom Pedro. Assim, a importância do poder público é evidente nesse processo que se caracteriza como um dos maiores gargalos da agricultura familiar no Amazonas. PALAVRAS CHAVE: escoamento; transporte; produção familiar; Iranduba. ABSTRACT: The city of Iranduba is part of the metropolitan region of Manaus, is known for its agricultural potential by providing products to the Manauara market. However, there is some difficulty in disposing of production due to lack of means to transport products, requiring a fast and quality transport to arrival at the place of sale in terms of consumption. Accordingly, the objective of this study is to identify the process flow dependent transport of the Municipal Iranduba to get to Manaus, characterizing it and showing its importance for household production in the municipality. Thus, the fieldwork was conducted to collect the data by means of open interviews with the subjects involved in the production chain and the secretary responsible for the production of the municipality, the body charged by the program of aid to transport the family farmers of Iranduba. Through digital media materials were purchased to form a database on the content. The fate of production in the most Irandubense is the market of Manaus with a seat for the distribution of these

products, the Fair Manaus Modern, among others PANA sales centers in the city. In the field it was observed that the main way of disposing of the production of the municipality is in the intermodal road and partly in the river, with the AM-070 highway that bisects the city to the port of Cacau Pireira, where such products are taken Manaus by the ferries. As a result of meetings with farmers were identified some points of distribution in Manaus, taking into account distance, date and place of sale of the producers. Thus was a register of producers with their respective amounts to be transported to Manaus, there is a difference of points of delivery spatializing in different places: Manaus Modern, PANAIR, Coroado, Alvorada, Zumbi, Fair cover of Jorge Teixeira. Thus, the importance of public power is obvious that this process is characterized as one of the biggest bottlenecks of family farming in the Amazon.. KEY WORDS: flow, transport, household production; Iranduba. 1- INTRODUÇÃO O transporte pode ser definido como o conjunto de atividades econômicas que permite a locomoção de bens e pessoas de um lugar para o outro, o transporte de cargas volta-se para o translado de bens desde o local de produção ou de armazenagem até onde se transformam ou onde são consumidos. (RUS et. Alli, 2003) O município do Iranduba está localizado à aproximadamente 22 km da cidade de Manaus distância em si pequena, mas que demanda muito tempo na realização deste trajeto devido a obstáculos geográficos e a ineficiência do transporte na região. O município está posicionado em um local estratégico facilitando fluxo de transporte de mercadorias e pessoas originárias de outros municípios que compõe a Microrregião de Manaus. O Iranduba é cortado pelo AM-070, estrada que serve como uma das principais vias de escoamento da produção de trabalhadores tanto do Iranduba quanto das comunidades que ficam em torno do município, bem conservada a estrada é um dos agentes que menos influenciam no aumento do tempo da escoação. Com uma população de aproximadamente 33.000 hab. (IBGE 2007) o município do Iranduba tem sua economia baseada na agricultura, se diferenciando em agricultura de várzea e terra firme. Em sua maior parte, a produção Irandubense é absorvida pelo mercado de Manaus sendo à base de distribuição de grandes mercados na capital, como a feira Manaus (Centro), a Feira do Jorge Teixeira (Zona Leste) e PANAIR. A logística que compõe o processo de transporte entre o produtor e o centro de consumo cria um dos principais gargalos para a distribuição da produção familiar oriunda do município. Ocasionando assim, a entrada de atravessadores que adquirem os produtos nas propriedades diminuindo as margens de lucro dos produtores familiares, que não possuem alternativa para escoar sua produção. O transporte no estado do Amazonas ocorre mediante a falta de estradas que liguem as áreas rurais ao local de consumo dos produtos, percursos pequenos que deveriam ser vencidos em pouco tempo se transformam em verdadeiros desafios.

Apesar de estar localizado na região metropolitana da cidade de Manaus o acesso ao município só pode ser feito através de sistema de ferry-boat (balsas), aumentando o tempo de viagem, diferentemente de outras regiões metropolitanas onde ocorre a conurbação dos limites urbanos. Os diferentes modos de transporte deverão funcionar como peças de um puzzle, que se encaixam harmoniosamente. (Rodrigues, 2004) O fator distância influencia tanto o preço como a qualidade dos produtos transportados, isso porque, devido à baixa durabilidade de alguns produtos, por vezes ocorrendo grandes perdas no trajeto, visto que este tem em média duração de duas horas entre o campo e a cidade sendo feito de maneira intermodal. Se o produtor utilizar-se de mais de uma modalidade de transporte para escoar sua produção, sem dúvida, os custos elevam-se, de modo que se não puder transferi-los para os preços dos bens finais certamente será subtraídos de sua renda (McGUIGAN, 2007 apud PEREIRA, 2008, p.46). O transporte classificado como intermodal nesse processo de escoamento é realizado de forma precária, em parte rodoviária através da Manoel Urbano (AM 070) que liga a sede do município ao porto do Cacau Pireira e em parte fluvial ligando Cacau Pireira à capital manauara. Este trabalho objetivou identificar o processo de escoamento da produção do Iranduba dependente dos transportes da Prefeitura Municipal do município para chegar à Manaus. Seguindo o entendimento de que os meios de transporte utilizados pelos produtores não seria suficientes para suprir a demanda de hortifrutigranjeiros produzido na região. Sendo possível inferir que a participação da prefeitura neste processo constitui uma multiplicação de oportunidades de condições de vida para os produtores. Para tanto, foi realizado trabalho de campo visando à coleta de dados por meio de entrevistas abertas com os sujeitos envolvidos na cadeia produtiva e com os encarregados da secretária de produção do município, órgão encarregado pelo programa de auxilio ao transporte dos produtores familiares do Iranduba. Através de mídias digitais foram adquiridos materiais para compor um banco de dados sobre o conteúdo. Utilizou-se a coleta de dados secundários na Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento de Iranduba (SEMPA), na Prefeitura Municipal de Iranduba, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) e no acervo do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB/UFAM), além de registro fotográfico. A economia não deve ser a única a moldar as estruturas de um local, porém nota-se que o setor econômico Irandubense é uma das bases de sustentação do local, onde além da produção de hortifrutigranjeiros, estão instaladas no município agroindústrias como de polpa de frutas, uma de palmito e outra de lacticínios cujos principais mercados consumidores são a capital Manaus.

CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTOR RURAL DE IRANDUBA Segundo a Secretaria de Produção e Abastecimento do Município de Iranduba existem dois tipos de produtores: os produtores de várzea e os produtores de terra firme, diferenciando-se pelo fato de seu local e modo de produção, os quais são beneficiados pelo transporte oferecido pela prefeitura. A produção de várzea é caracterizada por sua sazonalidade se obtendo apenas na vazante num curto período de quatro meses, segundo a secretaria de produção município a maioria dos produtores beneficiados pelo transporte possuem terras tanto na área da várzea quanto em terra firme, gerando uma migração por parte dos produtores da várzea à terra firme nas épocas de enchente. As populações produtores de várzea geralmente se caracterizam por uma produção em regime tradicional, trabalhando com varias culturas ao mesmo tempo, o que garante a subsistência da família. A produção de várzea não necessita de muitos gastos para a obtenção de bons resultados devido às ótimas condições do solo desta região, diferentemente da produção de terra firme onde se localizam os solos menos produtivos necessitando de muitos aditivos que geram custos adicionais para a produção. Entretanto, há uma compensação nos valores dos produtos das duas origens causada pela acessibilidade, onde a dificuldade ao acesso a várzea encarece a sua produção igualando-a praticamente aos valores da terra firme, local de mais fácil acesso onde existem muitos custos para o escoamento da produção. Os produtores tanto da várzea como da terra firme assemelham-se não somente pelo fato de retirarem seu sustento daquele meio, mas também por ali estabelecerem suas famílias, que em sua maioria, também continuam a trabalhar neste setor. Alguns produtores de várzea, devido a sua sazonalidade, possuem em terras nas áreas de Terra Firme para que assim estes possam assegurar sua sustentabilidade familiar o ano inteiro, ou seja, possam continuar trabalhando na agricultura. O PAPEL DO ESTADO NO ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO Os produtores da várzea apesar de possuírem uma terra mais fértil, não possuem condições, na grande maioria, para transportar seus produtos até o mercado consumidor, já nas propriedades da terra firme percebe-se que os produtores agrícolas, que trabalham de forma empresarial, possuem um veiculo próprio para escoamento da produção, mas que este não é suficiente para atender a demanda de pedidos, o que, por conseguinte dificulta a concretização do transporte.

Diante da necessidade de escoamento da produção do município a Prefeitura de Iranduba realizou um mapeamento das propriedades produtivas de cada comunidade. Em seguida, foram feitas reuniões nos locais para ser definida a logística de transporte de produção agrícola, levando em consideração a quilometragem, o dia, e o local de cada produtor; e consequentemente foi realizado um cadastro de cada produtor com as suas respectivas produções a serem transportadas até Manaus, pois cada um deles possuem seus pontos de entregas em distintos locais: Manaus, PANAIR, Coroado, Alvorada, Zumbi, Feira Coberta do Jorge Teixeira, Feira Coberta do Santo Antônio e Dom Pedro, diferenciando-se de um para outro. No ano de 2009 a prefeitura do município do Iranduba conta com quatro caminhões sendo dois de carroceria fechada e dois abertos para fazer o transporte de 25 produtores familiares espacializados em vários locais do município, essa quantidade de produtores pode variar de acordo com a época do ano podendo chegar a 100 beneficiados pelo transporte. Como pode ser observado na tabela abaixo, o alto custo do transporte é subsidiado pelo Estado diminuindo os gastos dos produtores no processo de escoamento campo/cidade, onde os produtores têm seus produtos recolhidos em sua propriedade ou em locais de mais fácil acesso, quando a propriedade se localiza em áreas mais isoladas, contribuindo apenas com os gastos de combustível e alimentação dos motoristas, que ainda sim são custos menores que um frete tradicional até o centro de consumo. ESCALA DE ESCOAMENTO (SECRETARIA DE PRODUÇÃO IRANDUBA) Produtor/ dias Diesel R$ Percurso Comunidade Horário Viagem Refeição Segunda-Feira - - - - - - - Branco 30 litros R$ Jandira/ Manaus Jandira 16:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Edson / Sandro 30 litros R$ Paulo 40 litros R$ Pedrinho 30litros R$ Açutuba / Manaus Jandira / Jorge Teixeira Serra Baixa 9:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Jandira 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 Terça-Feira - - - - - Adalberto 30 litros R$ Bahai / Manaus Bahai 10:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Quarta-Feira - - - - - - - Izac 40 litros R$ Sabazão 40 litros R$ Várzea / Jorge Teixeira Várzea / Jorge Teixeira Várzea 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 São Frc km 04 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 Quinta-Feira - - - - - - -

Branco 30 litros R$ Edson / Sandro 30 litros R$ Eduardo 40 litros R$ Jandira / Manaus Açutuba / Manaus Lago do Limão / Manaus Jandira 9:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Açutuba 16:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Lago do Limão 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 Sexta-Feira - - - - - - - Feirantes 30 litros R$ Adalberto 30 litros R$ Bindá 30 litros R$ Iranduba / Manaus Bahai / Manaus Várzea / Manaus Iranduba 8:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Bahai 10:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Divino Esp. Sto. 16:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Sábado - - - - - - - Sabazão 40 litros R$ Izac 40 litros R$ Assis 40 litros R$ Adalberto 30 litros R$ Várzea / Jorge Teixeira Várzea / Jorge Teixeira Obs: ás vezes tem viagem Bahai / Manaus São Frc km 04 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 Fonte: Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento de Iranduba, 2009. Várzea 9:00 R$ 120,00 R$ 10,00 Várzea - R$ 120,00 R$ 10,00 Bahai 10:00 R$ 80,00 R$ 10,00 Ao saírem do município os caminhões vão super carregados com produtos hortifrutigranjeiros (mamão, maracujá, limão, berinjela, pimentão, hortaliças em geral, entre outros) cujos dias que maior atividade São os que precedem os finais de semana, onde há uma maior movimentação por parte dos produtores gerando um aumento no numero de viagens podendo variar de uma a três diariamente. No retorno, segundo o técnico agrícola, Irinelson Matos (SEMPA Iranduba), geralmente retornam com as embalagens que servem de armazenamento dos produtos que são transportados até a capital, e esporadicamente, algumas mercadorias que são compradas pelos próprios produtores, como por exemplo, insumos, produtos alimentícios e outros gêneros. Realizadas de segunda a sexta as viagens até Manaus são feita uma vez ao dia, em épocas de baixa atividade, pelos caminhões da prefeitura aumentando conforme a demanda no período da cheia, pois há muita mais necessidade da realização destas. REDES DE TRANSPORTE A Região Metropolitana de Manaus dispõe de todos os sistemas de transporte, exceto ferroviário, interligando-se doméstica internacionalmente. O transporte rodoviário, entretanto, é o

principal meio utilizado para o acesso às demais regiões, porém dependem da travessia de grandes rios como o Negro e Solimões - Amazonas. O setor industrial, excetuando o sistema ferry-boat (balsa), utiliza-se somente para abastecimento de municípios mais distantes que não dispõem de interligação por rodovias. O município de Iranduba tem seu crescimento populacional e econômico inibido pela ausência de transporte eficiente com a capital, todavia é a que mais se apresenta com potencial para expansão populacional. (D Antona; Reis; Maia; Rosa; Nava, 2007). Os diferentes sistemas de transporte devem promover ao máximo, a coordenação dos seus modos e respectivas redes. Para que tal seja melhorado, é necessário interligar todos os seus nós. As deficiências nos sistemas de transporte rural são frequentemente mencionadas como um dos principais obstáculos para o desenvolvimento da agricultura no Amazonas. Em muitos lugares o burro é o meio de transporte mais comum, em outras localidades a produção rural é levada até as feiras a pé ou por meio de bicicletas e até mesmo por meio de animais tracionando carroças, quando não por meio de canoas motorizadas, barcos recreio, etc. Contudo, a distancia é a principal variável a ser considerada para se escolher o tipo de transporte a ser empregado no escoamento da produção (SCOTT, apud PEREIRA, 2008). O transporte intermodal representa o movimento de mercadorias que utiliza dois ou mais modos de transporte, sem manipular a mercadoria nos intercâmbios de modo. O termo intermodalidade corresponde a um sistema em que dois ou mais modos de transporte intervêm no movimento de mercadorias de uma forma integrada (RODRIGUES, 2004). Em Iranduba, o transporte intermodal configura-se na combinação de dois modos de produção: o rodoviário, através dos caminhões e o fluvial através das balsas, voltando ao modo rodoviário na chegada à Manaus, pois os caminhões atracam no porto do São Raimundo e necessitam deslocar-se mais alguns quilômetros até as feiras de abastecimento. Seja qual for o tipo de transporte, ele é um dos fatores determinantes no desenvolvimento da vida de qualquer sociedade politicamente organizada, visto que pode influenciar nos preços dos produtos de varias formas: pelo modal utilizado, pela duração e pela disponibilidade de rotas (GORDINHO, 2003). Foto 01: Balsa no Iranduba Fonte: Acervo NEPECAB/UFAM Foto 02: Transporte Terrestre. Caminhões Fonte: Acervo NEPECAB/UFAM

MELHORIAS NO FLUXO Segundo Pereira (2008) só o transporte carrega suas ineficiências, e a solução está fora do alcance dos agentes privados, naturalmente, a solução pode surgir do Estado, seja na construção de estradas ou no investimento em programas que contemple o transporte para atender exclusivamente os produtores rurais. É função do poder público à dotação de infraestrutura adequada de transportes para o escoamento dos produtos, tanto para o mercado interno, quanto para o mercado externo. Esta função perpassa não apenas por investimentos, mas, sobretudo na distribuição dos recursos nos diferentes modais e regiões, a fim de majorar a eficiência do transporte com redução de tempo e custos tanto para o produtor quanto para o consumidor. (PEREIRA, 2008) Em média, dependendo do local de moradia do produtor rural, o tempo de duração da viagem até a balsa no porto do Cacau Pireira gasta 20 min. O tempo de espera para que se possa atravessar o Rio Negro pelo sistema de balsas, é de cerca de 1 hora incluindo o tempo de travessia. Os locais para onde se destinam a produção distribuem-se pelas diferentes zonas da cidade, estimase que em média o tempo total de duração da viagem contemplando do produtor a Feira Manaus, por exemplo, é de 2 horas, visto que desconsidera-se variáveis como o transito da capital ou ainda qualquer tipo de acidente com o caminhão. Visando a melhoria do transporte nesta localidade em 2003 o governo do estado do Amazonas estudou a criação da ponte que liga o município do Iranduba a Capital Amazonense, e em 2008 deu-se inicio a construção da ponte visando facilitar e aumentar o fluxo do transporte limitado anteriormente pela precariedade das balsas. O tempo de viagem e a qualidade dele formam um dos principais entraves para o transporte dos municípios localizados a margem oposta do Rio Negro referente à Manaus. Manaus será ligada a Iranduba entre a Ponta do Ouvidor localizado no bairro da Compensa/Manaus, à Ponta do Pepeta no município do Iranduba aumentando o fluxo de transporte na região. O final da obra esta programado para o ano de 2010, fazendo parte do Programa de Aceleração do Crescimento PAC, a obra recebeu o investimento de 575 milhões sendo 400 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) segundo a Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

Foto 03. Construção da Ponte Manaus-Iranduba. Fonte: www.omelhordobairro.com.br Foto 04: Visão aérea da ponte pronta. Fonte: SEMPA/ Iranduba CONSIDERAÇÕES FINAIS O transporte de mercadorias no estado do Amazonas pode ser considerado como ineficiente, necessitando de uma grande melhoria para que possa atender melhor a população, a falta de interesse dos órgãos públicos e as dificuldades na aprovação dos projetos bem caracterizam o estado atual das diversas modalidades de transportes no estado. Eventualmente algumas obras são realizadas visando melhorar esta condição de transporte, que não beneficia apenas algumas partes da sociedade amazonense, mas sim os grandes necessitados que formam a maioria. Interesses políticos de empresários que usufruem do monopólio do transporte, atravancam a criação de novos projetos que possam viabilizar melhorias no sistema de escoamento. Segundo NODA a produção do setor agrícola dos municípios situados na microrregião de Manaus, não se mostra com grande capacidade para atender a grande demanda da capital, a julgar pelos altos preços de hortaliças, legumes e frutas, praticados por supermercados e feirantes o que é característica proveniente do transporte de baixa qualidade que influencia nos preços dos produtos. Entretanto a secretaria de produção e abastecimento do município de Iranduba alega a diminuição constante do nível de consumos dos produtos agrícolas na capital manauara, visto que este alega o retorno de algumas mercadorias que não tiveram aceitação no mercado consumidor. Claramente os preços sofrem influência dos meios de transporte de baixa qualidade, dos atravessadores, dos preços e da falta dos insumos necessários para o aumento da produção, que formam as principais questões dos produtores do estado. Espera-se que com o termino da construção da ponte que liga a capital Amazonense ao município do Iranduba, as condições de transporte possam receber melhorias diminuindo o tempo de viagem e dando fim ao monopólio de empresários que tomam conta do transporte fluvial

Manaus/Iranduba. E que aconteça uma grande queda nos preços das mercadorias oriundas da produção dos municípios que serão ligados a capital do Estado. Esta melhoria de interligação das diferentes redes seria uma maneira de permitir a ligação mais direta dos nossos centros de produção aos grandes centros consumo, podendo os produtos que eram apenas consumidos regionalmente terem sua exportação para diversos países o que poderia criar condições para induzir ao investimento e criação de postos de trabalho na produção agrícola do estado do Amazonas. O setor de transportes não é homogêneo, pelo contrario, por possuir vários modais com estruturas diferentes, seu estudo torna-se um desafio econômico e na medida em que for se estruturando conexões entre si, poderá ter uma real integração regional e nacional. (PEREIRA, 2008). Quando em comparação com outros estados da região norte o Amazonas, é caracterizado pela grande quantidade de fluxo de transporte fluvial. Por fim o transporte no estado do Amazonas pode ser considerado muito precário quanto a todas as modalidades principalmente no que diz respeito as modais rodoviárias e fluviais, necessitando de um maior incentivo por parte do estado na criação de novas vias e na melhora das já existentes. Mudanças significativas criam esperanças para os produtores com o intuito de acabar com este gargalo que caracteriza o escoamento das produções em todo o estado do Amazonas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS D ANTONA. Raimundo de Jesus Gato; REIS. Nelson Joaquim; MAIA. Maria Adelaide Mancini; ROSA. Sebastião Ferreira; NAVA. Daniel Borges. Projeto Materiais de Construção na área Manacapuru Iranduba Manaus Careiro (Domínio Baixo Solimões). Superintendência Regional de Manaus, 2007. GORDINHO. Margarida Cintra. Transporte no Brasil: a opção rodoviária. São Paulo: Marca D Água, 2003. IBGE. Censo Demográfico. Amazonas: 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadoat/perfil.php?sigla=am. Acesso em 19 de Agosto de 2009. NODA. Eliana A. et all. Alternativas para fortalecimento da agricultura familiar nas comunidades do Tarumã-Mirim. In: Artigo. Manaus: Petrobrás Ambiental, 2006. NODA, Sandra do nascimento, NODA, Hiroshi. MARTINS, Ayrton l. Urizzi. Papel do processo produtivo tradicional na conservação dos recursos genéticos vegetais. In Amazônia uma perspectiva interdisciplinar. EDUA. AM-Manaus, 2002 PEREIRA. Marcelo Souza. O Escoamento da pequena produção agrícola na microrregião de Manaus e as modalidades de transporte. Manaus: 2008.