A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E O USO DA BIBLIOTECA COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DO ENCANTO PELO ATO DE LER



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E O USO DA BIBLIOTECA COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DO ENCANTO PELO ATO DE LER Luciana Moreira dos Anjos lucianamoreiranjos@gmail.com Aline Barbosa Francine Veloso Ferreira Universidade Estadual de Montes Claros Resumo Este artigo versa sobre a importância da leitura na vida social e escolar da criança, uma vez que a leitura é abordada como uma forma de situar o indivíduo no corpo social, despertando neste a consciência de seu papel na sociedade enquanto ser participativo e crítico diante da realidade que o cerca. Nesse contexto, a leitura poderá facilitar o processo de alfabetização, utilizando para isso, variados espaços e recursos, facilitando a expansão de atividades e promovendo o engajamento dos educandos nesse processo. O presente artigo tem como objetivo discutir como a leitura pode contribuir para o processo de alfabetização, explorando a biblioteca como espaço de leitura e de construção do encanto pelo ato de ler, levando se em consideração a participação do professor na execução dessa tarefa, situando o na posição de intelectual transformador e de mediador do processo de aprendizagem. Atenta também para as necessidades físicas e intelectuais da biblioteca, como acervo atualizado e suficiente para atendimento da demanda, presença constante do bibliotecário, espaço amplo, boa iluminação e horários planejados. A metodologia utilizada baseia se em uma pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir dos seguintes autores: Silva (1987), Geraldi (1996), Martins (1994), Solé (1998), Kleiman (2002), Soares (1985), Barbosa (1992) e Cagliari (2002). Diante dos estudos realizados, percebemos que pouca ênfase é dada à leitura no processo de alfabetização, em detrimento da escrita. A leitura na escola é concebida de forma mecânica, não sendo atrativa para os educandos, como também não lhes proporcionam uma reflexão sobre sua real importância e valor no âmbito escolar e social. Investir mais na leitura durante o processo da alfabetização é imprescindível, pois é a base que está sendo construída. Uma vez deficitária, pode acarretar consequências ao longo da vida da criança, impossibilitando a mesma de exercer sua autonomia e mesmo sua cidadania de forma plena. Palavras chave: Alfabetização. Leitura. Biblioteca. Escrita. Introdução Atualmente, a educação é uma das maiores preocupações da nação. O impacto que ela exerce na vida das pessoas redimensiona sua maneira de pensar e agir. É também a partir dela que podemos inferir a existência de uma diferenciada produção de conhecimento, bem como da melhora na qualidade de vida e renda. Enfim, o indivíduo, de posse desse direito comum a todos (mas que, infelizmente, não é de qualidade para todos), tem a chance de repensar a posição que ocupa na sociedade e, de forma reflexiva, investir na mudança desse quadro. Podemos perceber que o Brasil tem alcançado um avanço na educação nos últimos anos, mas ainda é preciso melhorar muito. 2598

A educação brasileira, segundo os indicadores do SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico), apresentou baixos índices de aprendizagem da leitura e escrita. Os dados de 2003 divulgados em 2004 apontam que 55,4% dos alunos que participaram desse processo de avaliação teriam apresentado sérios problemas de leitura. Destes, 18,7% estariam em nível muito crítico, pois não desenvolveram habilidades de leitura mínimas condizentes com os quatro anos de escolarização; não foram alfabetizados adequadamente; não conseguem ler e interpretar e responder os itens da prova. Baseado nesses dados, suscita se a importância da leitura no processo de alfabetização, uma vez que é nas séries iniciais do Ensino Fundamental que se introduz o educando no mundo da leitura. É durante a alfabetização que os educandos aprendem a ler e a escrever, tendo essas habilidades trabalhadas e consolidadas ao longo da vida escolar. A leitura engloba não só metodologias no âmbito escolar, mas faz parte do universo social na vida da criança de hoje e do cidadão de amanhã, que irá ocupar seu espaço na sociedade, de forma autônoma e crítica diante da realidade. O professor deve se posicionar no seu papel de intelectual transformador e elaborar meios de despertar o interesse dos educandos pela leitura, só assim poderá contribuir para a construção de uma sociedade leitora. A biblioteca pode contribuir nesse processo, uma vez que é um espaço de leitura onde se encontram diversos gêneros textuais e proporciona a seus usuários a realização de pesquisas e experiências que só enriquecem o conhecimento. Há um ditado popular que diz: a leitura é o alimento da alma. É pensando sobre sua relevância na vida escolar ou mesmo na extensão dela que se levanta a seguinte questão: Como a leitura pode contribuir para o processo de alfabetização, explorando a biblioteca como espaço de construção do encanto pelo ato de ler? Leitura: Fonte de prazer e conhecimento A leitura é imprescindível no processo de emancipação do homem. É ela que fornece subsídios para que ele seja inserido na realidade de forma consciente e crítica e assim exerça seu 2599

papel de cidadão participativo na sociedade. Vários são os autores que discorrem sobre esta atividade dentre eles: Para Silva (1987) Já Geraldi (1996) afirma que: Ler é, em última instância, não só uma tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender se no mundo. (SILVA, 1987, p. 45) Aprender a ler é, assim, as possibilidades de interlocuções com pessoas que jamais encontraremos frente a frente e, interagirmos com elas, sermos capazes de compreender, criticar e avaliar seus modos de compreender o mundo, as coisas, as gentes e suas relações, isto é ler.(geraldi, 1996, p.70). De acordo com Martins (1994) Que ler deve ser considerado um processo de apreensão de símbolos expressos através de qualquer linguagem, portanto, o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão do fazer humano, caracteriza se também como acontecimento histórico e estabelecimento de uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido. (MARTINS, 1994, p. 30) Diante dos diferentes modelos a partir dos quais a leitura tem sido explicada, faremos uma breve referência ao modelo interativo baseado nas considerações de SOLÉ (1998). Posto que o processo de leitura restringia se a codificação e decodificação de palavras, ou seja, a um processo mecânico e que atualmente concentra se em expressões bem mais amplas. De acordo com Solé (1998) Este modelo sintetiza e integra enfoques elaborados ao longo da história para agrupá los em torno de modelos hierárquicos: ascendente buttom up e discentetop down. Em uma análise bem sintética, no primeiro se considera que o leitor, perante o texto, processo seus elementos componentes, começando pelas letras, continuando com palavras, frases... Aqui a ênfase está centrada nas habilidades de decodificação. O modelo discente top down, afirma o contrário: o leitor não procede à letra por letra, mas usa seu conhecimento prévio e seus recursos cognitivos para estabelecer antecipações sobre o conteúdo do texto, fixando se neste para verificá las. (SOLÉ, 1998, p. 23 e 24 ) É perceptível o movimento e a expansão que o ato de leitura acolheu no decorrer dos tempos. A sociedade mudou, as pessoas mudaram, o mundo mudou e, é claro, também a educação. 2600

Da Escola Tradicional à Escola Nova, a educação escolar passou por profundas mudanças, sendo a mais característica a posição central do educando, acompanhada por uma preocupação com a natureza psicológica do mesmo. O educando passou de mero receptor do saber a sujeito ativo no processo de aprendizagem. A atividade educativa passou a preocupar se com uma formação voltada para a compreensão de mundo, e a posição ocupada pelo sujeito enquanto inserido nesse complexo sistema. Com a inserção da criança no mundo da leitura não podia ser diferente. Ela esta participando de uma sociedade cada vez mais dinâmica e informada, não se contenta em aprender com os velhos métodos escolares, pouco atrativos e tampouco em se situar passivamente no processo de aquisição da leitura. KLEIMAN (2002) resume bem a posição do educando no processo de leitura. Segundo a autora, o aluno poderá tornar se ciente da necessidade de fazer da leitura uma atividade caracterizada pelo engajamento e uso do conhecimento, em vez de uma mera recepção passiva. Ler é sempre a busca por um saber, ao passo que nessa busca o leitor tem que encontrar um significado. Essa significação por sua vez depende do que o mesmo já conhece sobre o assunto. No processo do ato da leitura o leitor dialoga com o autor, e isso só é possível porque ele já possui um conhecimento anterior, ou seja, o leitor é ativo no processo da leitura, porque utiliza seu conhecimento prévio, sua noção sobre o que lhe foi exposto. KLEIMAN (2002) ressalta a importância desse conhecimento prévio na compreensão do texto. O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimentos, como o linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. O autor, por sua vez, escreve no intuito de afetar alguém, em qualquer instância de sua vida, de proporcionar uma discussão. É nessa interação que se ampliam os conhecimentos e que são construídas novas opiniões, novos conceitos, rompem se velhos preconceitos, atualizam se os fatos ocorridos no mundo. Enfim, a leitura é capaz de diversificar uma gama de assuntos e de proporcionar diversas sensações. Toda leitura deve ser provida por um sentido e, no transcorrer da mesma, o leitor deve lhe atribuir significados, criar expectativas e expressar suas opiniões, concordando, outras vezes 2601

discordando, mas há de se salientar que, ao final da leitura, o leitor já não é mais o mesmo, e é nessa transfiguração que está o cerne da leitura. Alegria, tristeza, curiosidade, ansiedade, medo... Várias sensações são experimentadas. Mas o prazer, a atração pelo texto tem que acontecer. Para o leitor, este tem que ser interessante para que possa compreendê lo. Com a compreensão, o leitor é capaz de fazer inferências, expressar seu ponto de vista, e isso é que faz o diferencial e ao mesmo tempo uma experiência única para cada leitor. KLEIMAN (2002) enfatiza que aquilo que há de individual na leitura, os aspectos únicos são, em grande medida, determinados pelos objetivos e propósitos específicos de cada leitor. Os objetivos são levantados pelo leitor e isso faz com que priorize certos aspectos em detrimento de outros. Essa projeção única permite uma variedade de interpretações e de leituras, cada qual adaptada à intencionalidade individual. É também o traçado dos seus objetivos que o levará ao final da leitura. Segundo a autora KLEIMAN (2002), os objetivos são também importantes para outro aspecto da atividade do leitor que contribui para a compreensão: a formulação de hipóteses. No papel ativo que ocupa no processo de leitura, o educando deve ser capaz de elaborar hipóteses na medida em que lê o texto. Esse fato está diretamente relacionado ao interesse do mesmo pela leitura que está fazendo, daí a importância do envolvimento, do prestígio que dá ao texto para que essa etapa ocorra com coerência. Durante todo o processo da leitura, segundo YUNES (2003), verifica se que o sentido da mesma é construído na interação do leitor com o texto. Essa interação deve ser, no entanto, uma relação positiva, tanto para fins científicos, quanto para uma simples atividade de prazer. As escolas tornam com frequência o processo de leitura mecânico, submetido a regras gramaticais e ortográficas e, por isso, uma atividade cerceada. Os livros, os textos, muitas vezes não condizem com os interesses das crianças, mas da escola. Esta, por sua vez, apenas segue o livro didático cumprindo com seu dever. KLEIMAN (2002) ressalta que o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difuso e confuso, muitas 2602

vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos, análise sintática e outras tarefas do ensino da língua. Alfabetização e seu legado para o estímulo a leitura e o incentivo ao uso da Biblioteca da Escola. A alfabetização como processo político social e histórico vem acompanhando as transformações ocorridas nessas esferas, sofrendo dessa forma modificações relacionadas não só ao seu conceito, mas também a seus conteúdos e métodos. É possível vislumbrar essa situação quando comparamos conceitos de alfabetização sob perspectivas diferentes. De acordo com Lemle (1987): Ler e escrever significa o domínio da mecânica da língua escrita; nessa perspectiva, alfabetizar significa a habilidade de codificar a língua oral em língua escrita ( escrever e decodificar a língua escrita em língua oral (ler). (LEMLE,1987, p. 41) Na concepção de Paulo Freire, a alfabetização é um meio para a conscientização do homem como criador de cultura, para a abertura de horizontes e para o abandono de uma posição passiva diante da sociedade, a partir do momento em que se apodera da escrita e a utiliza como um meio de expressão e libertação. a questão: Segundo Soares (1985), essas concepções possuem principalmente duas formas de encarar A primeira define a alfabetização como um processo mecânico: a codificação da linguagem oral na linguagem escrita e a decodificação da linguagem escrita em linguagem oral (leitura). Uma segunda visão do processo de alfabetização o entende como apreensão e compreensão do mundo. (SOARES, 1985, p. 53). BARBOSA (1992) analisa essa transformação a partir de uma base psicológica, na qual o leitor passa da condição de condicionado a interativo. Explicando essa mudança, ainda segundo o autor, o ensino da leitura e escrita tem como referencial histórico as contribuições da psicologia associacionista, que concebe o processo de alfabetização como a mecânica de associações entre estímulos visuais e respostas sonoras, culminando no jogo combinatório grafia som e som grafia. 2603

Evoluindo do enfoque mecanicista, a alfabetização passou para o enfoque cognitivista, fundado nas contribuições da psicologia genética de Piaget que coloca o alfabetizando num papel ativo no processo ensino/aprendizagem. Essa breve contextualização sobre a alfabetização nos remete a repensar qual postura e qual prática tem sido de fato adotada pelos professores. E porque, mediante tantas transformações, a alfabetização continua sendo um impasse para a educação. Enfatizando o âmbito da leitura, que é nosso objeto de estudo, verifica se de acordo com dados emitidos no início do texto que esta se encontra em níveis deficitários em nosso país. A leitura é decisiva para a ascensão escolar e social da criança. KLEIMAN (2002) enfoca que aprendizagem da criança na escola está fundamentada na leitura. Interpretar, compreender são aspectos que condizem com o ato de leitura e sem essas bases não tem como a criança obter sucesso em nenhuma atividade que lhe for apresentada. Como entender um enunciado de um problema matemático? De uma questão de ciências? De física no Ensino Médio? Do vestibular? Da pós graduação? Como compreender uma notícia do jornal e fazer com que ela tenha utilidade na vida prática? Porque a leitura só é capaz de proporcionar retorno em sentido amplo, e não mecânico, quando esta for além da simples decifração de letras o que não proporciona a visão de um todo, a compreensão do fato, a visão crítica a respeito do mesmo. As hipóteses levantadas e inferências feitas no decorrer de um texto só são possíveis para quem tem boa leitura, ou seja, quem lê e interpreta. (2002): O sucesso na vida e na escola depende desse processo. Assim, de acordo com Cagliari A leitura não pode ser uma atividade secundária na sala de aula ou na vida, uma atividade para qual a professora e a escola não dediquem mais que uns míseros minutos, na ânsia de retornar aos problemas de escrita, julgados mais importantes. Há um descaso enorme pela leitura, pelos textos, pela programação dessa atividade na escola, no entanto, a leitura deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois ela, e não a escrita, será a fonte perene de educação, com ou sem escola. (CAGLIARI, 2002, p.173). É extremamente importante que já nos primeiros contatos com as letras, ou seja, durante a alfabetização, a criança seja inserida no mundo da leitura e desperte interesse e prazer pela 2604

mesma, podendo assim construir uma base sólida de seu conhecimento e que mantenha esse valoroso hábito por toda a vida. Durante esse processo de construção do conhecimento, o professor tem um papel decisivo, por isso a necessidade de ser criativo e usar de sua experiência para elaborar estratégias que instiguem nas crianças a busca pela leitura. Esse profissional que também acompanhou as transformações da educação teve seu papel modificado, desempenhando uma postura não mais vertical. Na nova configuração de mediador, o professor deve desempenhar um papel motivador, ser capaz de provocar nos educandos questionamentos através de sua interação com os mesmos e estar apto a aberturas e proposições de novas metodologias de trabalho. como: No que tange a aprendizagem e a leitura, Barbosa (1992) define o papel do professor O professor deixa de ser um mero transmissor de conteúdos e técnicas e assume o papel de orientador, de facilitador da aprendizagem. Para isto, ele necessita, de um lado, aprofundar se no conteúdo referente às questões de leitura e, de outro, ter um bom conhecimento das crianças que lhe são confiadas, uma atitude positiva e atenta frente aos alunos, uma sensibilidade pelos interesses e possibilidades de cada um. Tem também de conhecer a realidade social do país e as questões do acesso aos bens culturais produzidos no passado e no presente. Somente o professor pode intuir o que convém fazer num determinado momento para ajudar o aluno aprender a ler. (BARBOSA, 1992, p. 137) As idas a bibliotecas e a participação efetiva das crianças no processo de interação com livros, revistas, jornais, almanaques, gibis, entre outros, é um aspecto que pode ser adotado pelo professor no intuito de induzir o educando a aprender explorar este espaço, colaborando com a consequente autonomia do mesmo nesta atividade que, pelo auxílio do professor, tornar se á rotineira para a criança. Cagliari (2002) atenta para o fato de que Alguns diretores transformam as bibliotecas em museus que os alunos vão visitar uma vez por ano, quando ao contrário, a biblioteca de escola tem que ser mais dinâmica possível, pois, é de fato um complemento necessário, indispensável à formação dos alunos, tanto quanto as aulas e os professores. (CAGLIARI, 2002, p.177) 2605

A biblioteca vai muito além de local onde se armazenam livros. É um espaço de aprendizagem que propicia e estimula conexões entre saberes e ideias. As crianças, por sua vez, devem gozar desse espaço, desfrutando do que lhes pode ser oferecido e, com isso, empreender seu papel não só de leitor, mas também de cidadão. Alguns requisitos são importantes para que se tenha uma biblioteca de qualidade e com espaço físico adequado. CAMPELLO (2000) utiliza se de parâmetros para falar um pouco sobre a biblioteca, considerando dois níveis de excelência: o básico e o exemplar, sendo considerado o primeiro. Com relação ao espaço físico, este deve ter de 50m² até 100m² e possuir assentos para acomodar, no caso específico da escola, usuários de uma classe inteira, além de usuários avulsos; deve também ser arejada e bem iluminada. O planejamento do espaço deve ser feito em função do acervo e do uso que se pretende fazer dele. O acervo deve ser diversificado, conter diversos gêneros textuais, periódicos, documentos, obras de referência, livros de imagem. Segundo Campello (2000) O acervo reflete a proposta de aprendizagem baseada nos textos autênticos: precisa abrigar a variedade de discursos e seus portadores, mantendo se atualizado e dinâmico, acompanhando a produção acelerada de recursos informacionais na atualidade. (CAMPELLO, 2000, p.29 ). É importante ressaltar que essa experiência oferecida às crianças, proporcionando lhes variadas situações de uso da escrita, tem um valor social precioso para a vida de muitas delas, especialmente aquelas oriundas das classes baixas, para as quais a escola é seu contato efetivo com a leitura, uma vez que essas experiências não ocorrem em seu meio social e familiar. Poder contar com tecnologias, como computadores com acesso a internet, entre outras, é algo essencial no mundo atual. O acervo da biblioteca deve ser organizado de acordo com os gêneros textuais para facilitar a consulta, além disso, deve haver pelo menos um título por aluno. Serviços como consulta no local, empréstimo domiciliar, atividades de incentivo à leitura e orientação à pesquisa devem ser prestados ao público que a frequenta. Faz se necessária a presença constante de um bibliotecário responsável para cada turno. Portando esses atributos, a biblioteca será um local acolhedor, tanto para os livros quanto para os leitores. 2606

Considerações finais Diante do que foi discutido, percebemos que pouca ênfase é dada à leitura no processo de alfabetização, em detrimento da escrita. A alfabetização, no conceito abrangente que ocupa na sociedade atual, possibilita a conscientização do homem e a abertura de novos horizontes. A leitura na escola é concebida de forma mecânica, não sendo atrativa para os educandos. Também não lhe proporciona uma reflexão sobre sua real importância e valor no âmbito escolar e social. Cabe aos professores rever seus conceitos relacionados a este processo e se inteirarem da relevância de seu papel social na formação de leitores. Investir mais na leitura durante o processo da alfabetização é imprescindível, pois é a base que está sendo construída. A biblioteca pode colaborar para o ensino da leitura e agregar outros valores a essa atividade, como instigar o prazer pela mesma, permitir a exploração desse espaço e possibilitar a formação de um leitor autônomo. Referências BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. São Paulo: Cortez, 1992 2ed. Rev. (coleção magistério. 2 grau. Série formação do professor, v.16). CAGLIARI, Luiz Carlos, Alfabetização e Linguística: Scipione, 10ª Ed.2002. CAMPELLO, Bernadete; SILVA, Mônica do Amparo. A biblioteca nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte, v. 6, n. 33, p. 59 67, 2000. GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras, ALB, 1996. GOELLNER, Maria Haydée, artigo disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/alfabetizacaosegundo magda soares 4836/artigo/ Acesso no dia 29 de fevereiro. KLEIMEN,Angêla. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da leitura. 8ª Ed Campinas, SP: Pontes. 2002. LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1987. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. SAMPAIO, Mariza Narcizo; LEITE, Lígia Silva. Alfabetização Tecnológica do professor. 3ed. Petrópolis: Voz, 2002. SILVA, Ezequiel Teodoro. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia de leitura, 7 Ed, São Paulo, Cortez, 1996. SOLÉ, Isabel, Estratégias de leitura. 6 Ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. YUNES, Eliana, OSWALD, Maria Luiza (orgs). A experiência da leitura. São Paulo, Brasil, 2003. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=t4sg5dtwf6kc&printsec=frontcover&dq=a+experiencia+da+leitura&hl=ptbr& sa=x&ei=ynjht43ra8fcgaed2ej5dq&redir_esc=y#v=onepage&q=a%20experiencia%20da%20leitura&f=false. Acesso no dia 24 de fevereiro. 2607