Estresse Ocupacional: um estudo com docentes da rede pública de Belém Pará Alvaísa Queiroz Calcagno¹, Nancy Julieta Inocente². ¹Mestranda em Gestão e Desenvolvimento Regional - Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional - PPGDR - Universidade de Taubaté Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 Taubaté/SP Brasil alvaisacalcagno@gmail.com ²Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional - PPGDR - Universidade de Taubaté Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 Taubaté/SP nancyinocente@yahoo.com.br Resumo- Atualmente a vida das pessoas perpassa por situações de transformações e adaptações no sentido de satisfazer suas necessidades e consequentemente o equilíbrio emocional. O desgaste pelo qual as pessoas são submetidas no meio em que vivem e nas relações de trabalho poderá acarretar uma provável reação negativa decorrente de um fator estressante. Este estudo tem como objetivo identificar o estresse ocupacional em docentes da rede pública de ensino da cidade de Belém do Pará. A amostra foi constituída de 30 docentes. Os resultados foram tratados com base em uma pesquisa do tipo descritiva e por meio do delineamento de levantamento de dados, adotando-se o método quantitativo. Os dados foram coletados por meio do Questionário de Identificação da Amostra e o Questionário de Estresse Ocupacional, denominado Esforço e Recompensa no Trabalho. Para análise dos dados utilizou-se o programa Sphinx. Os resultados indicaram quanto aos dados mais freqüentes que a idade foi de 36 a 40 anos, sexo feminino (93,3%), estado civil de casado, tempo de escolaridade de 14 a 16 anos, com outro emprego remunerado (26%), do turno noturno 33,3%. Espera-se com o resultado obtido entender as condições de trabalho desses profissionais. Palavras-chave: Estresse Ocupacional. Saúde Ocupacional. Docentes. Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução O estresse está presente na vida e nas relações humanas desde o início de inserção social do homem na terra. O termo estresse passou a ser discutido com maior intensidade a partir das condições materiais que o homem se submeteu no período contemporâneo (LIPP, 2003). Segundo Lipp (2002), as pessoas têm a maior parte de seu tempo ocupado com o trabalho, devido à extensa carga horária que lhe é exigida com algumas pausas para o descanso e refeições rápidas e muitas vezes em lugares que não tem o mínimo de conforto. Isso leva a uma insatisfação quando não ocorre o reconhecimento, causando ameaças à integridade física e/ou psíquica e interferindo no desempenho do trabalhador do docente. Para Inocente (2007, p.147), o estresse no trabalho é defendido como reações físicas e emocionais que ocorrem quando as exigências excedem às capacidades, os recursos ou as necessidades do trabalhador. Diante do exposto este estudo tem como objetivo identificar o estresse ocupacional em docentes da rede pública de ensino da região de Belém. Metodologia O presente estudo foi realizado por meio de pesquisa do tipo descritiva com o delineamento de levantamento de dados e adotou-se o método quantitativo. Por meio de uma pesquisa descritiva, o pesquisador precisa ser capaz de definir claramente, o que 1
deseja medir e de encontrar métodos adequados para essa mensuração. Precisa também ser capaz de quem deve ser incluído na definição de determinada comunidade ou determinada população. Esse tipo de pesquisa não há tanta necessidade de flexibilidade, mas de uma clara formulação de que ou quem deve ser medido, bem como de técnicas para medidas válidas e precisas (SELLTZ,1974). Vale ressaltar que trabalhar com a abordagem quantitativa é garantir o resultado dos dados obtidos, evitando assim as distorções de análises e de interpretações. Logo esse método de pesquisa oferece uma margem de segurança com relação às inferências feitas (RICHARDSON,2008).Tratase de uma pesquisa com delineamento do tipo levantamento permitindo quantificar os dados investigados, possibilitando análises estatísticas. O projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética da Universidade de Taubaté, no qual foi aprovado conforme resolução CNS/MS 196/96 com o protocolo CEP/UNITAU nº183/09. Quanto à amostra foi composta de 30 docentes da rede pública de ensino. Para a coleta dos dados foi utilizado de questionários, que segundo Richardson (2008) pode ser definido como um instrumento que descreve as características e mede determinadas variáveis de um grupo social, são eles: Questionário de Identificação da Amostra em que demonstra os resultados sóciodemográficos da amostra (INOCENTE, 2005) e o Questionário de Estresse Ocupacional que avalia: a) Esforço e Recompensa no Trabalho (SIEGRIST, 1990, apud INOCENTE, 2005); b) Supercomprometimento no Trabalho. Resultado Os resultados do perfil sociodemográfico dos 30 docentes referentes a idade, sexo, estado civil, tempo de escolaridade, outro emprego remunerado e turnos, carga de trabalho, horas trabalhadas, esforço, recompensa e supercomprometimento no trabalho estão indicados nas tabelas, a seguir: Tabela 1. Dados Sóciodemográficos Docentes da Rede Pública SEXO FREQ. % Feminino 28 93,3% Masculino 2 6,7% IDADE 36 a 40 8 26,7% 41 a 45 7 23,3% 46 a 50 5 16,7% 26 a 30 3 10% 51 a 55 3 10% 31 a 35 2 6,7 Mais de 55 2 6,7% Até 25 anos 0 0,0% EST- CIVIL Casado 18 60,0% Solteiro 10 33,3% Divorciado 2 6,7% Desquitado 0 0,0% Separada 0 0,0% Viúvo 0 0,0% Na Tabela 1, observa-se que 93% dos 30 docentes pesquisados são do sexo feminino, 50% desses apresentam-se nas faixas etárias de 36 a 45 anos e 60% são casadas. Tabela 2. Dados Sociodemográficos - Tempo de Escolaridade TOTAL DE FREQ. % ANOS 14 a 16 8 26% 18 a 20 6 20% 16 a 18 4 13,3% 22 e mais 4 13,3% 12 a 14 3 10% 20 a 22 2 6,7 Não resposta 2 6,7 Menos de 12 1 3,3 Na Tabela 2. percebe-se que 26% dos sujeitos pesquisados tiveram seu tempo de escolaridade variando de 14 a 16 anos, apenas 6,7% freqüentaram a escola por 20 a 22 anos. Tabela 3.Outro Emprego Remunerado e Turnos. OUTRO FREQ. % EMPREGO Sim 25 83,3% Não 5 16,7% TURNOS Não 11 36% Sim e com 10 33,3% turnos noturnos Sim, mas não 7 23,3% em turnos noturnos Sem resposta 2 6,7% 2
Na Tabela 3, percebe-se que dos 100% dos sujeitos pesquisados 83,3% possui outro emprego remunerado, sendo 33,3% trabalhando em turnos noturnos e 23,3% em outros turnos. Tabela 4. Carga de Trabalho CARGA FREQ. % TRAB. Não concordo 16 53,3% Não concordo 7 23,3 e incomodame um pouco Concordo, mas não me incomoda nada 4 13,3 Concordo e 2 6,7 incomoda-me bastante Não resposta 1 3,3 Concordo e 0 0,0 incomoda-me muito Na Tabela 4 demonstra que, 53% dos sujeitos pesquisados não se consideram pressionados devido a pesada carga de trabalho. Tabela 5. Horas Trabalhadas Remunerada VALORES FRQ. % 8h 7 25,0% 40 5 17,9% 16 3 10,7% 20 3 10,7 10 2 7,1 10h 30min 2 7,1 12 2 7,1 30h 1 3,6% 47h 1 3,6% 4h 1 3,6% 60 1 3,6% Não resposta 2 7,1 Total 30 100% Na Tabela 5. observa-se que 25% dos sujeitos pesquisados trabalham 8 horas por dia. Em relação ao Questionário Esforço e Recompensa no Trabalho, os principais resultados obtidos quanto a situação de Trabalho foram: Tabela 6. Esforço e Recompensa no Trabalho Esforço e Recompensa Freq. % Sim Não Pressão pela falta de tempo no trabalho 46,7 53,3 Muita interrupção e perturbação no trabalho 53,3 46,7 Muita responsabilidade no trabalho 36,7 63,3 Solicitado para fazer hora extras 16,7 83,3 Trabalho fisicamente exigente 56.7 43.3 Aumento da exigência no trabalho nos últimos anos. 60 40 Recebo dos superiores o apoio que mereço 53,3 46,7 Recebo dos meus colegas o apoio que mereço 40 60 Recebe apoio nas situações difíceis 56,7 43,3 Tratado de forma injusta 63,3 36 Possibilidade de promoção 50 50 Espera mudanças na situação atual 50 50 Segurança em manter o emprego 30 70 Posição atual reflete adequadamente o nível de educação e formação 46,7 53,3 Recebe respeito e prestígio no trabalho 6 40 Perspectivas de promoção adequadas 53,3 46,7 Consid/Salário/Adeq 20 80 Percebe-se na tabela 6 que 63,3% consideram serem tratados injustamente e 36% não. Em relação ao Supercomprometimento no Trabalho, os principais resultados obtidos, conforme a Tabela 7 foram: Tabela 7. Supercomprometimento no Trabalho Supercomprometimento no Trabalho Freq. % Sim Não Sente-se sobrecarregado pelas pressões de tempo no trabalho 53,3 46,6 Pensa no problema do trabalho pela manhã. 50 50 Relaxa facilmente quando chega em casa do trabalho 53,3 46,7 Dizem que sacrifica pelo demasiadamente pelo trab. 53,3 46,7 Pensar no trabalho.ao deitar 53,3 46,7 Dificuldade de adormecer a noite 50 50 3
A tabela 7 demonstra o supercomprometimento com uma freqüência de 53,3% em todos os ítens citados. Discussão O estresse ocupacional indica o quanto à estrutura organizacional desempenha um papel relevante em sua produção. A reflexão sobre o trabalho docente contempla a descrição das condições destacando a presença de normas e regras, que muitas vezes interferem nas limitações da autonomia, da criatividade, conduzindo a formação de um quadro estressante ao trabalhador. Além disso, a liderança organizacional, ao gerar tensão, insegurança, ansiedade, opressão, controle, contribuem direta e indiretamente para a produção de níveis de estresse no trabalhador que submetido a tais condições, não consegue gerenciar a situação ou condição imposta (WALCZAK, 2005).Os efeitos do estresse ocupacional vêm trazer reflexões no sentido de encontrar alternativas favoráveis a mudanças na gestão das relações de trabalho que sejam destinadas à minimização de uma realidade, considerando que é possível a interação dos fatores físicos, psicossociais e organizacionais para oferecer melhores condições de trabalho ao trabalhador. Inocente e Reimão (2005) pesquisaram o estresse ocupacional em 510 professores universitários da região do Vale do Paraíba. Constataram que 41 (8%) apresentaram desequilíbrio entre esforço e recompensa e 54(11%) demonstraram Ssupercomprometimento no trabalho. Por fim os professores apresentaram risco de doenças decorrentes do estresse ocupacional. Santos (2008) realizou sua pesquisa sobre estresse ocupacional com 239 enfermeiros que atuam na região do Vale do Paraíba Paulista. Os resultados apontaram que 2,93% dos enfermeiros apresentavam risco leve em estresse ocupacional. No entanto, quanto ao risco de Supercomprometimento, identificou 69,87% com risco leve, 7,53% com risco moderado e 0,84% com risco grave em estresse ocupacional. Leite (2009) pesquisou o estresse ocupacional com 240 pesquisadores e tecnologistas, os resultados obtidos em relação ao desequilíbrio esforço e recompensa no trabalho apontaram o risco de 89,59% na amostra pesquisada. Objetivou-se com esta pesquisa caracterizar os dados sóciodemográficos e o esforço, recompensa e o supercomprometimento no trabalho ressaltando responsabilidades e, a forma de como são tratados. Percebe- se que o estresse se manifesta de fatores externos e internos que se apresentam nas atividades do trabalho docente as quais se fazem por de pressões e tensões que em diversos momentos não conseguem ser gerenciadas. Os resultados apresentados nesta pesquisa, podem corroborar com o estudo da identificação do estresse e desta forma gestores e órgãos competentes poderão criar projetos que possibilitem medidas de prevenção e diminuir o estresse ocupacional no ambiente de trabalho. Referências INOCENTE, N. J.; REIMÃO, R. Distúrbios do sono em trabalhadores em turnos e noturnos. In: REIMÃO, R. Tópicos selecionados de medicina do sono. São Paulo: Associação Paulista de Medicina, 2002. p. 99-105. INOCENTE, N. J. Síndrome de Burnourt em professores universitários do Vale do Paraíba. Doutorado em Ciências Médicas. Faculdade de Medicina. Universidade de Campinas, 2005.. Estresse ocupacional: origem, conceitos, relações e aplicações organizações e no trabalho. In: CHAMON, E.M.Q. O. (Org.). Gestão e comportamento humano nas organizações. Rio de Janeiro: Brasport, 2007. p.146-179. LEITE, P. M. Cultura Organizacional e Queixas do Sono: um estudo com funcionários de instituto de pesquisas do Vale do Paraíba Paulista,2009.Dissertação de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional Departamento de Economia, Contabilidade e Administração na Universidade de Taubaté. Taubaté/SP, 2009. LIPP, M. O stress do professor. São Paulo: Papirus, 2002..Neuropsicofisiológicos do stresse, teoria e aplicações clínicas. São Paulo Casa do psicólogo, 2003. Conclusão 4
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa Social: métodos e Técnicas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2008. SANTOS, T. C. M. M. dos. Estresse Ocupacional em Enfermeiras da Região do Vale do Paraíba Paulista. 2008. Dissertação de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional do Departamento de Economia, Contabilidade e Administração na Universidade de Taubaté. Taubaté/SP, 2008. SELLTIZ et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda e Editora da Universidade de São Paulo, 1975 WALCZAK,V.S.Estresse ocupacional e as formas de coping. Um estudo de caso em profissionais de tecnologia da informação. Universidade de Taubaté: Taubaté/SP, 2005. 5