Especificar a Área do trabalho EDUCAÇÃO AMBIENTAL O MEIO AMBIENTE NA CONCEPÇÃO DE ALUNOS DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE MACAÉ-RJ Amanda Ribeiro Magnani Diogo 1, Jeanete Fendeler 2, Juliana Milanez 3 1,2,3 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus Macaé Prof. Aloísio Teixeira, 1 amandadiogo@gmail.com, 2 jeanete.fendeler@gmail.com, 3 jumilanez@ufrj.br, Linha de trabalho: Educação Ambiental. Resumo O presente trabalho traz um recorte constitutivo de uma pesquisa acerca das concepções e das práticas educacionais para promoção de uma educação ambiental crítica e inclusiva. Este recorte investiga a concepção que os alunos, de uma Escola Pública da cidade de Macaé-RJ, têm sobre meio ambiente e sobre a pertença do homem a esse meio. De acordo com as respostas apresentadas nesse recorte, parece-nos razoável a hipótese de que a educação ambiental vem seguindo a mesma lógica de estrutura conceitual disciplinar de currículo paradoxalmente a abordagens que promovam uma educação ambiental inter e multi disciplinar que una e/ou religue o homem ao seu cotidiano socioambiental numa visão complexa, na tentativa de ruptura de um paradigma vigente. A análise deste recorte sugere que há necessidade de investigação mais aprofundada do contexto educacional, incluindo a vertente curricular e da formação inicial e continuada. Palavras-chave: Meio Ambiente, Complexidade, Educação Ambiental Crítica, Contexto Escolar. Introdução e Contexto A análise das concepções de meio ambiente no contexto escolar podem constituir-se em importante ferramenta para o desenvolvimento das ações pedagógicas, nas quais a Educação Ambiental seja entendida como um processo permanente e contínuo, uma Educação Política, em que o cidadão esteja engajado nas questões relacionadas à reivindicação de justiça social e da ética nas relações humanas com a natureza (Reigota, 1994, p.10). Segundo Loureiro (2004, p.77-89), a Educação ao mesmo tempo em que permite mudanças, pode ser meio de reprodução de formas excludentes. Para que a educação possa ser transformadora, não poderá estar desarticulada da compreensão das condições que dão forma ao processo educativo nas sociedades contemporâneas. Segundo o autor:
Não é possível revolucionar a sociedade apenas com uma nova educação coerente com a perspectiva ambiental, mas igualmente não é viável fazer isso sem a mesma. (Loureiro, 2004, p.82). A sociedade Moderna, diante da crise ambiental, sente-se desafiada a buscar novos rumos, para tratar as questões ambientais (Layrargues, 2011, p.15). Segundo Reigota (1994, p.12), a Educação Ambiental não resolverá todos os complexos problemas planetários, mas poderá influenciar decisivamente para isso, principalmente quando se torna espaço de formação consciente dos direitos e deveres dos cidadãos. Uma Educação Ambiental Crítica e Transformadora tem como princípios a participação e o exercício da cidadania; baseia-se na ação política mediadora da emancipação e transformação social, buscando redefinir as relações do homem com o próprio homem e com o planeta (Loureiro, 2004 p.81-82). A escola torna-se um ambiente favorável para contribuir no desenvolvimento dessas atitudes, quando promove espaço e ações mais participativas e reflexivas. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o tema Meio Ambiente integra-se ao currículo escolar através da transversalidade, abrangendo todas as disciplinas, como também deve estar relacionado ao contexto histórico e social no qual a escola encontrase inserida (Brasil. 1997, p.49). É proposto ainda, que o trabalho com este tema contribua para que os alunos identifiquem-se como parte integrante da natureza (Brasil, 1997, p.197). Para contrapor com um pensamento reducionista, simplista e ingênuo de Educação Ambiental, a perspectiva Crítica tem contribuído neste debate a partir da associação das questões sociais e ambientais. Segundo Loureiro (2004, p.71), as metodologias participativas são as mais propícias ao fazer educativo e participar para o autor é promover a cidadania, entendida como realização do sujeito histórico. Reigota (1994, 62p.), afirma que o educador ambiental 'é uma identidade', que além de seus conhecimentos técnicos, não negligencia seu compromisso político e que a Educação Ambiental, a partir dos conhecimentos disponíveis, possibilite e amplie a participação política dos sujeitos envolvidos. Para tal, o autor enfatiza sobre a necessidade de diálogo entre a Educação Ambiental e as diversas concepções de Meio Ambiente na escola, para que se possam construir possibilidades de discussão da temática e ressignificação dos conceitos. O presente trabalho insere-se na linha temática Educação Ambiental e investiga a concepção que os alunos, de uma Escola Pública da cidade de Macaé-RJ, têm sobre Meio
Ambiente e sobre a pertença do homem a esse meio. Trata-se de um recorte constitutivo de uma pesquisa acerca das concepções apresentadas por discentes sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental. O estudo das concepções de Meio Ambiente dos discentes poderá explicitar se estabelecem ligações entre o aspecto natural e as dimensões políticas, econômicas e sociais do ambiente; permite compreender como as pessoas entendem o ser humano, nas suas relações sociais e sua identidade (REIGOTA, 2007, p.20) e neste trabalho especificamente, se os discentes a princípio, reconhecem o homem como parte deste Meio. Detalhamento da Atividade e Método de Análise O presente trabalho traz à luz um recorte de um trabalho em fase inicial pertencente ao desenvolvimento de uma pesquisa ampla que culminará com a apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso de uma das autoras. O objeto de análise do presente trabalho constitui-se de questionários diagnósticos aplicados a vários alunos de ensino médio do 1º ao 3º ano, bem como a alunos de graduação (em sua maioria de um curso de engenharia ambiental de uma universidade estadual de São Paulo) em ocasiões de apresentação de palestras e minicursos acerca de Educação Ambiental em eventos e encontros. Para a submissão do presente resumo, apresentamos apenas os resultados referentes a análise de respostas coletadas com 19 alunos do ensino médio (do 1º ao 3º ano) de uma escola pública da rede de ensino da cidade de Macaé RJ. A princípio somente a questão número 1 O que você entende por meio ambiente? foi analisada. Para este recorte, estes 19 questionários foram avaliados através do método de análise do conteúdo, baseada na proposta de Bardin (1977), através da técnica de análise temática-categorial, onde o roteiro foi segmentado em turnos (constituídos pelas respostas dos alunos), nos quais as unidades de significado foram termos ou frases que remetiam diretamente a uma das categorias teóricas elencadas. A Tabela 1 apresenta as duas categorias utilizadas nesse trabalho, que possibilitam uma análise da concepção dos alunos entrevistados acerca da pertença ou não ao meio ambiente, tal qual descrito anteriormente. Cat. 1 Cat. 2 Tabela 1: Elenco das Categorias Reconhecimento do ser humano como parte integrante e constitutiva da natureza e do meio ambiente. Identificação do Meio Ambiente como um espaço segregado de seu cotidiano, de suas inter-relações e vivências.
Análise e Discussão dos Dados A Categoria 1, Reconhecimento do ser humano como parte integrante e constitutiva da natureza e do Meio ambiente enquadra os turnos nos quais o aluno se identifica como parte integrante do Meio Ambiente. Essa categoria pode ser exemplificada pelo Turno 2, onde se lê: Entendo que é como se fosse nossa casa, temos que cuidar e preservá-la. (Turno 2) Neste turno podemos observar unidade de significado que faz alusão ao pertencimento e a integração homem-meio Ambiente através da unidade de significado nossa casa. Ao identificar o meio como a própria casa, o aluno se considera inserido nesse local designado a sua morada e suas inter-relações. Automaticamente o aluno identifica a necessidade de cuidar daquilo que o insere ( temos que cuidar e preservá-la ) Na Categoria 2 Identificação do Meio Ambiente como um espaço segregado de seu cotidiano, de suas inter-relações e vivências enquadram-se os turnos onde os alunos identificam o meio Ambiente como algo isolado de sua existência; algo que o cerca mas não o inclui, e também uma visão utilitarista. Exemplo dessa categoria é mostrado abaixo com a citação do Turno 1: Eu entendo como meio ambiente, árvores, rios e produtos derivados disto. (Turno 1). A análise de todo material revela 13 turnos com 14 unidades de significados (Tabela 2) que retratam as duas categorias elencadas. Cinco respostas foram invalidadas por não trazerem respostas condizentes com a pergunta, podendo os alunos ter confundido as questões, e, um aluno não respondeu a questão, deixando-a em branco. Tabela 2: Quantificação dos turnos por categoria. Categoria Turnos Frequência Reconhecimento do ser humano como parte integrante e constitutiva da natureza e do Meio ambiente. Identificação do Meio Ambiente como um espaço segregado de seu cotidiano, de suas inter-relações e vivências. 2, 10 2 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13 11 Os dados apresentados sugerem que é preciso debruçar e repensar as ações pedagógicas no que preconiza os PCNs em relação à Educação Ambiental. Um olhar crítico deve ser voltado aos currículos de entidades formadoras e das entidades contratantes que deveriam trabalhar a questão de forma totalizadora através da transversalidade de temas como meio ambiente e sustentabilidade, sem desconsiderar seu contexto social e cotidiano, além de promoverem o movimento que articule a formação inicial e a continuada.
Considerações O trabalho cumpre com seu objeto quando revela que a análise dos questionários evidencia que não há uma identificação do aluno como parte integrante do Meio Ambiente o que pode ser inferido como falta de compreensão de si mesmo e do papel que desempenha no meio, ou ainda como dissociação do sentido do que é ser humano e do sentido da própria vida. Sugere-se diante dos números que há necessidade de uma investigação mais aprofundada sob a óptica de duas vertentes: a curricular e a da formação inicial e continuada. De acordo com as respostas apresentadas, parece-nos razoável a hipótese de que a educação ambiental vem seguindo a mesma lógica de estruturas conceituais disciplinares de currículos paradoxalmente a abordagens que promovam uma educação ambiental inter e multi disciplinar, na tentativa de unir e/ou religar o homem ao seu cotidiano socioambiental. Referências BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 223p. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e saúde. Brasília, DF, 1997. 58p. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente. Brasília, DF, 242p. REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. Brasiliense. São Paulo, Brasiliense, 1994. 62p. REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo; Cortês, 2007, 93p. CAVALHEIRO, Jeferson Souza. Consciência Ambiental entre professores e alunos da Escola Estadual Básica Dr. Paulo Devanier Lauda, 62p. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS), grau de Especialista em Educação Ambiental, Santa Maria, RS, Brasil, 2008. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação Ambiental Transformadora. In Layrargues, Philippe Pomier (org.). Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004. p.81-82. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo (org). LEROY, Jean Pierre. JUNIOR, Luiz Antonio Ferraro. GUIMARÃES, Mauro. LAYRARGUES, Philippe Pomier (org). OLIVEIRA, Renato José de. CASTRO, Ronaldo Souza de. PACHECO, Tânia. Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental. Cortez Editora, 2011. 213p.