Sono e estabilidade postural dinâmica e estática em adultos jovens nas diferentes categorias de índice de massa corporal Isabela Lopes Laguardia Abranches, Ana Flávia Abrantes, Fabianne Magalhães Girardin Pimentel Furtado Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais campus Barbacena INTRODUÇÃO A população está se tornando obesa apesar de todos os esforços governamentais empregados na prevenção dessa condição (HARMON, 2012). Pessoas acima do peso correm mais riscos de desenvolver doenças crônicas como câncer, diabetes e hipertensão, responsáveis por 72% dos óbitos no Brasil (BRASIL, 2012). O aumento do índice de massa corporal (IMC) também está associado à diminuição das horas de sono. Um desequilíbrio hormonal, com elevação da grelina e redução da leptina, pode explicar essa relação (TAHERI et al., 2004). O aumento da massa gorda e a redução do sono, além de implicações no aumento da mortalidade, afetam a constituição e função das estruturas do sistema músculoesquelético como músculo, tendão, fáscia e cartilagem (WEARING et al. 2006). Esse desarranjo biomecânico leva a um comprometimento na execução de tarefas motoras básicas como equilíbrio e locomoção. Alguns estudos já indicaram uma correlação inversa entre estabilidade postural (EP), definida como a capacidade de manter o centro de massa projetado dentro dos limites da base de apoio quando o corpo está em repouso (EP estática) ou em movimento (EP dinâmica) e o IMC. A piora na EP acompanhada do aumento do IMC tem sido encontrada em estudos com pré-adolescentes, adolescentes, adultos, idosos e em múltiplas idades (HUE et al., 2007; CRUZ- GÓMEZ et al., SCHMID et al. 2013). Entretanto, não há a comparação entre todas as categorias de IMC em testes dinâmico e estático. Elevados IMCs e porcentagens da gordura estão associados com a baixa eficiência e duração do sono e aumento da fragmentação e da latência (WIRTH et al., 2015). Por conseguinte, como parte de um ciclo, o padrão alterado do sono pode levar ao aumento do IMC. Sono e IMC são fatores que interferem diretamente na EP. Palavras-chave: Índice de Massa Corporal; sono; equilíbrio postural. Categoria: Nível Superior (BIC), Área: (b) Ciências Biológicas e Ciências da Saúde.
OBJETIVO O objetivo do presente estudo é comparar o sono e a estabilidade postural estática e dinâmica entre adultos jovens com diferentes IMCs. MATERIAL E MÉTODOS Participaram 37 voluntários de ambos os gêneros, com idade entre 18 e 30 anos (média: 22,13; desvio padrão: 3,48). Após avaliação antropométrica dos voluntários (massa corporal e altura), o IMC foi calculado dividindo a massa (kg) pela altura ao quadrado (em metros). Os voluntários foram incluídos em uma das categorias, de acordo com o seu IMC: Grupo 1 (n=6) - abaixo do peso (IMC < 18,5 Kg/m 2 ); Grupo 2 (n=22) - eutrófico (18,5 a < 24,9 Kg/m 2 ); Grupo 3 (n=7) - sobrepeso (25 a < 29,9 Kg/m 2 ); e Grupo 4 (n=2) - obesidade (IMC 30 Kg/m 2 ). Os dados referentes à avaliação do sono (tempo total de sono em minutos, tempo de despertar após o início do sono, em minutos (Wake After Sleep Onset - WASO) e eficiência do sono em %) foram obtidos a partir do actímetro Acttrust da Condor Instrument colocado no punho do participante, assemelhando-se a um relógio. O tempo mínimo de uso do actímetro foi de 9 dias para todos os grupos. Para a avaliação da EP utilizou-se o Biodex Balance System (BBS). Neste aparelho os voluntários foram submetidos a 2 tipos de testes distintos, na ordem: (i) com a plataforma ajustada do nível mais estável (nível 12) para o nível menos estável (nível 1) em que os voluntários realizaram 5 repetições de 30 segundos em cada uma das situações: olhos abertos, com cursor e com olhos fechados; e (ii) estático, denominado de teste de organização sensorial em 4 situações, repetidas por 2 vezes/cada: olhos abertos na superfície firme (OASF), olhos fechados na superfície firme (OFSF), olhos abertos sobre a almofada (OASA), e olhos fechados sobre a almofada (OFSA). As variáveis fornecidas pelo aparelho BBS no teste dinâmico são chamadas de índice de estabilidade (geral, ântero-posterior e mediolateral). No teste estático é dado um índice chamado de sway index. Quanto mais parada a plataforma ficar, melhor. Os índices de estabilidade geral (IEG), anteroposterior (IEAP) e mediolateral (IEML) foram obtidos pela média das 5 repetições. O nível de atividade física, possível variável de confusão, foi avaliado com o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) que estima o tempo semanal gasto em atividades físicas. A comparação entre os quatro grupos de IMCs para os dados quantitativos contínuos
(variáveis do sono e da estabilidade postural foi feita por meio do teste ANOVA (dados assumiram distribuição normal), teste post hoc de Bonferroni; a comparação entre os grupos para o gênero foi feita por meio do teste qui-quadrado ou exato de Fisher. Para todas as análises foi considerado nível de significância de 5% (p<0,05). RESULTADOS A idade não diferiu entre os participantes dos grupos (p= 0,92, média de 22 anos), bem como o gênero (p= 0,13). O IMC, critério de divisão dos grupos, foi diferente para todos os quatro (p<0,0001). Não houve qualquer diferença entre os grupos para as variáveis do sono (tempo total, p=0,89; WASO, p=0,61, eficiência, p=0,28). Quanto ao nível de atividade física, o grupo 3 foi mais ativo em relação ao grupo 1 (p=0,04).no teste dinâmico, nas situações de olhos abertos, com cursor, e com olhos fechados, o desempenho do grupo 1 foi melhor do que os grupos 3 e 4. Os participantes do grupo 2 tiveram melhores resultados na maior parte dos testes, do que os participantes do grupo 4. O grupo 1 em relação ao grupo 2 teve melhor desempenho em poucas situações assim como o grupo 2 em relação ao grupo 3 (tabela 1). Tabela 1- Índices de estabilidade postural dinâmica Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 p-valor Post-Hoc Abaixo do peso Eutrófico Sobrepeso Obesidade (ANOVA) (Bonferroni) Média DP Média DP Média DP Média DP Olhos abertos IEG 0,93 0,17 1,53 0,46 1,81 0,48 2,38 0,48 0,001* 1 e 2; 1 e 3; 1 e 4 IEAP 0,59 0,25 1,08 0,36 1,23 0,52 1,93 0,29 0,001* 1 e 3; 1 e 4; IEML 0,59 0,12 0,85 0,40 1,06 0,37 1,06 0,31 0,13 Cursor IEG 0,49 0,12 0,74 0,18 0,97 0,29 1,28 0,28 <0,0001* 1 e 3; 1 e 4; 2 e 3; IEAP 0,34 0,11 0,50 0,14 0,70 0,26 0,87 0,12 <0,0001* 1 e 3; 1 e 4; 2 e 3; IEML 0,27 0,03 0,43 0,13 0,54 0,10 0,73 0,26 <0,0001* 1 e 2; 1 e 3; 1 e 4; Olhos fechados IEG 2,68 0,99 3,94 1,23 4,86 1,01 6,84 4,66 0,003* 1 e 3; 1 e 4;. IEAP 1,90 0,98 2,68 0,99 3,38 0,67 4,55 2,78 0,01* 1 e 4 IEML 1,47 0,41 2,31 0,72 2,77 0,69 4,23 3,35 0,002* 1 e 4; IEG: Índice de Estabilidade Geral; IEAP: Índice de Estabilidade Anteroposterior; IEML:Índice de Estabilidade Médiolateral; DP: desvio-padrão. No teste estático de organização sensorial, não houve diferença entre os grupos (tabela 2).
Tabela 2 Índices de estabilidade postural estática Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 p-value Abaixo do peso Eutrófico Sobrepeso Obesidade (ANOVA) Média DP Média DP Média DP Média DP OASF 0,70 0,15 0,70 0,24 0,74 0,22 0,57 0,17 0,82 OFSF 0,75 0,21 0,90 0,29 0,96 0,21 0,90 0,10 0,53 OASA 1,21 0,33 0,97 0,32 0,96 0,19 1,01 0,18 0,35 OASA 2,63 0,53 2,47 0,71 3,22 0,78 2,38 0,73 0,08 DP: desvio-padrão; OASF: olhos abertos, superfície firme; OFSF: olhos fechados, superfície firme; OASA: olhos abertos, superfície com almofada; OFSA: olhos fechados, superfície com almofada. DISCUSSÃO Apesar de já haver estudos anteriores relacionando IMC e EP, algumas lacunas permanecem abertas. Destacam-se duas: a classificação em categorias do IMC e a realização de testes dinâmico e estático de EP. O aumento do IMC pode estar relacionado a um aumento de massa gorda na região abdominal, determinando o deslocamento anterior do centro de gravidade podendo levar ao prejuízo do controle motor (YI et al., 2014) e predisposição a quedas (HUE et al., 2007). A performance em testes de EP, além da questão do gênero e idade, também parece estar associada ao nível de atividade física. No teste dinâmico, os indivíduos do grupo 1 e 2 foram os que apresentaram melhor desempenho em relação aos demais. Tal fato pode ser explicado pela necessidade de maiores ajustes neuromusculares para manutenção do seu centro de gravidade. Por outro lado, indivíduos com menor massa tendem a ser menos deslocados pela plataforma e aí, um menor esforço para manutenção da EP é requerido. Um fato interessante foi que no teste com cursor, no qual o nível de atenção demandada é maior, os grupos com maior eficiência no sono (1 e 2, apesar de diferença não significante) tiveram melhor desempenho. O sono é um agente reparador das funções orgânicas, incluindo as nervosas e musculoesqueléticas, essenciais para a EP. No teste estático foi exigido menor esforço físico e mental, não houve diferença entre os grupos. Assim, a facilidade demasiada caracterizada pela estaticidade criou outra espécie de nivelamento entre os grupos. O IMC, além de repercutir diretamente na EP pode, indiretamente, prejudicá-la, via sono, e perpetuar um ciclo: maior IMC, pior o sono, maior o IMC. E, assim, potencialização na perda de EP. Mudanças nos mecanismos endócrinos reguladores da fome induz ao aumento do apetite e perda de sono de 2-3 h/noite (TAHERI,
2004). A privação de sono pode ter efeito também nas escolhas alimentares estimulando um consumo maior de alimentos de alta densidade energética. Paradoxalmente, no presente estudo não houve alterações significativas na quantidade e na qualidade do sono entre os grupos de IMC. Isso provavelmente pode ser explicado pelo fato de que os indivíduos participantes do estudo, de um modo geral, não tinham queixa de sono o que de fato é comprovado pelos parâmetros coletados pela actigrafia, e, mais determinantemente, pelo tamanho pequeno da amostra dos grupos 1, 3 e 4. No presente estudo, não se utilizou avaliações mais pormenorizadas de gordura o que impossibilitou uma análise mais acurada do perfil antropométrico dos participantes. CONCLUSÃO Indivíduos com sobrepeso ou obesidade apresentaram pior desempenho nos testes de avaliação da estabilidade postural dinâmica. Não houve diferença entre os grupos em relação às variáveis do sono. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Pesquisa Nacional de Saúde. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf. Acesso em: 4 jan. 2016. CRUZ-GÓMEZ, N.S.; PLASCENCIA, G.; VILLANUEVA-PADRÓN, L.A.; JÁUREGUI- RENAUD, K. Influence of obesity and gender on the postural stability during upright stance. Obesity Facts, Munich, v.4, n. 3, p.212-217, 2011. HARMON, K. Esforços constantes não tem diminuído taxas de obesidade. Scientific American Brasil, São Paulo, 20 jan. 2012. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/apesar_dos_esforcos_constantes_para_cont er_a_epidemia_taxa_de_obesidade_nao_diminui_imprimir.html>. Acesso em: 1 ago. 2016. HUE, O.; SIMONEAU, M.; MARCOTTE, J.; BERRIGAN, F.; DORÉ, J.; MARCEAU, P. et al. Body weight is a strong predictor of postural stability. Gait & Posture, Oxford, v. 26, n. 1, p.32-38, 2007. SCHMID, S.; ARMAND, S.; PATAKY, Z.; GOLAY, A.; ALLET, L. The relationship between different body mass index categories and chair rise performance in adult women. Journal of Applied Biomechanics, Champaign, v. 29, n. 6, p. 705-711, 2013. TAHERI, S.; LIN, L.; AUSTIN, D.; YOUNG, T.; MIGNOT, E. Short sleep duration is associated with reduced leptin, elevated ghrelin, and increased body mass index. PLoS Medicine, San Francisco, v. 1, n. 3, p. e62, 2004. WEARING, S.C.; HENNIG, E.M.; BYRNE, N.M.; STEELE, J.R.; HILLS, A.P. Musculoskeletal disorders associated with obesity: a biomechanical perspective. Obesity Reviews, Oxford, v.7, n. 3, p. 239-250, 2006. APOIO FINANCEIRO: Fapemig