Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil

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02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil SIMPÓSIO - Construções gramaticais: Estratégias cognitivas e pontos de vista

INDÍCE DE TRABALHOS (em ordem alfabética) A atribuição dos papéis temáticos na distinção entre complementos e adjuntos Bruno de Assis Freire de Lima A retomada de personagens em uma narrativa sinalizada Thais Bolgueroni Barbosa Aspectos genéricos da dêixis: o caso dos pronomes you e we em inglês Helen de Andrade Abreu Construções concessivas com mesmo que e se bem que: diferentes níveis de concessividade André Vinícius Lopes Coneglian Vacilou, Dançou : A perspectiva da Linguística Cognitiva sobre as coordenadas condicionais/temporais Patrícia Noro de Oliveira Página 03 Página 05 Página 06 Página 07 Construções gramaticais e ponto de vista Lilian Ferrari e Viviane Fontes Página 08 Inversão do sujeito no português brasileiro: uma questão de ponto de vista Diogo Pinheiro Página 09 Subjetividade e intersubjetividade em condicionais do português brasileiro Paloma Bruna Silva de Almeida Página 10 Uma abordagem construcionista da Morfologia: um estudo de caso sobre as Construções Quantificadoras Mórficas Igor de Oliveira Costa e Neusa Salim Miranda Página 11 Página 12 Verbos predicativos e auxiliares: uma visão cognitivista Mauro José Rocha do Nascimento Página 13

A atribuição dos papéis temáticos na distinção entre complementos e adjuntos Bruno de Assis Freire de Lima Um dos maiores problemas da linguística está na diferenciação entre complementos e adjuntos. Encontramos, usualmente, definições que se aplicam a esta ou àquela teoria, mas nenhuma oferece embasamento necessário para verificação empírica. Pensando nessa questão, este trabalho fundamentase na atribuição de papel temático como fator de diferenciação entre complementos e adjuntos. A diferenciação se faz necessária porque, em se tratando de gramática das construções, (em especial às diáteses e valências verbais) é necessário definir o que é relevante e o que é dispensável às diáteses. Antes, porém, de tratarmos da atribuição temática propriamente dita, discutimos as Relações Conceptuais Temáticas (doravante RCT), que são definidas por Perini (ms) como ingredientes dos esquemas evocados pelos verbos. A discussão das RCTs se pauta no princípio de que seriam relevantes à descrição das diáteses todos os sintagmas que codificam uma RCT-nuclear, ou seja, uma RCT capaz de definir o esquema do verbo. Em outras palavras, o esquema evocado por comer inclui, em sua definição, uma pessoa que come e a coisa comida (mas não um tempo, uma causa, etc.). Dessa forma, na frase João já comeu, temos a realização da pessoa que come, portanto João é um sintagma que precisa figurar na diátese de comer. Há, porém, algumas questões que não nos permitem reduzir a oposição complemento e adjunto à questão das RCTs. Por exemplo, nem todas as RCTs-nucleares figuram nas diáteses (na mesma frase João já comeu, a coisa comida não é realizada na construção). Assim, as RCTs se configuram em um dos instrumentos de análise, mas, dada a sua fragilidade, não pode ser considerada a única maneira de diferenciação. Isso posto, discutimos previsibilidade temática, que consiste, sumariamente, em desconsiderar das diáteses todos os sintagmas cujo papel temático seja previsível fora do contexto sintático, ou seja, um SPrep como por causa da chuva (que, invariavelmente, indica Causa), será dispensável das diáteses. O mesmo ocorre com o SAdj bonita (que, sempre, será Qualidade). Há, no entanto, algumas exceções, explicadas por outros mecanismos, como a obrigatoriedade de ocorrência na diátese (Ex. Esse frio todo é por causa da chuva.) e a ocorrência de papel temático emparelhado (Ex. Renata é bonita). Este último caso se sustenta no fato de, uma vez em que ocorre uma Qualidade, ocorre, também, um Qualificando. Assim, propomos uma discussão baseada na natureza do sintagma: SNs, SPreps, SAdv e SAdj. Por conclusão, entendemos que: a) Um sintagma pode ser complemento com um verbo e adjunto com outro. Isso varia de verbo para verbo, de esquema para esquema. 3

b) Os fatores que diferenciam complementos e adjuntos são vários. Um verbo pode ter um complemento de ocorrência obrigatória, ao passo que outro verbo pode ter um complemento cuja ocorrência não seja obrigatória. c) Alguns SNs, apesar de (pelo menos a maioria) terem o papel temático atribuído pelo verbo, são adjuntos e precisam ser desconsiderados das diáteses (como ocorre com SNs que indicam Tempo e Qualidade). Trata-se, enfim, de um trabalho relacionado ao Simpósio Construções gramaticais: estratégias cognitivas e pontos de vista.para este trabalho, valemo-nos de Pinker (1991); Goldberg (1995);Herbest (1998); Perini (2008) e Perini (ms). 4

A retomada de personagens em uma narrativa sinalizada Thais Bolgueroni Barbosa O objetivo deste trabalho é apresentar as ferramentas utilizadas para a retomada de personagens em uma narrativa contada em língua de sinais brasileira (libras), buscando delimitar alguns fatores que estão por trás do uso de determinadas formas de referência em diferentes pontos do discurso. Para o estudo, foi utilizada uma narrativa sinalizada por um adulto surdo, fluente em libras, e transcrita de acordo com o modelo proposto em McClearyViotti& Leite (2010). A descrição foi feita com base em trabalhos realizados no âmbito da linguística cognitiva, principalmente na proposta de van Hoek (1997) e Liddell (2003). As línguas sinalizadas são línguas de modalidade gesto-visual. Isso significa que os discursos são organizados no espaço. Alguns autores apontam que é essa espacialidade, estabelecida, fundamentalmente, por elementos gestuais, que está na base de relações gramaticais e discursivas (Liddell 2003; McCleary&Viotti 2010, 2011; entre outros). No caso da referência a personagens em narrativas, a organização espacial desempenha um papel fundamental para a introdução e retomada de personagens ao longo da narrativa. Depois de integradas ao espaço real (Liddell 2003), as personagens podem ser retomadas através de gestos de apontamento, pantomimas e marcas gestuais, como mudanças na posição do tronco, da cabeça, etc. A escolha da forma de codificação utilizada para retomar referentes não é aleatória, mas está ligada ao status desses referentes na consciência dos participantes do evento de fala (Givón 1983; Lambrecht 1994). De acordo com van Hoek (1997), as formas usadas para a retomada de referentes está ligada à criação de pontos de referência ao longo do discurso, determinada, fundamentalmente, por dois fatores cognitivos: i) a proeminência conceitual; e ii) a conectividade conceitual. Todas as personagens de uma narrativa funcionam como pontos de referência conceituais, que criam domínios em que outras menções às personagens estarão inseridas. De acordo com o construal criado pelo falante/ sinalizador, algumas personagens são construídas como mais proeminentes, funcionando como pontos de referência principais. Dentro dos domínios criados por essas personagens mais proeminentes, outras personagens serão introduzidas, podendo tornar-se localmente proeminentes e criar domínios que entram em competição com o domínio criado pelo ponto de referência principal. Na narrativa analisada, de modo geral, a retomada das personagens é feita com formas gestuais dentro do domínio criado por elas. O uso de nominais formados de sinais está ligado à diminuição da proeminência da personagem, quando são existem domínios em competição ; ou à baixa conectividade entre as partes do discurso em que a personagem é mencionada, relacionada, sobretudo, a disjunções conceituais entre os episódios da narrativa. 5

Aspectos genéricos da dêixis: o caso dos pronomes you e we em inglês Helen de Andrade Abreu Este trabalho, sob a perspectiva da Linguística Cognitiva, tem como objeto de estudo os pronomes you e we da língua inglesa. Em especial, enfocam-se usos dêiticos não-prototípicos desses dois pronomes, em que o pronome we nem sempre inclui falante e interlocutor(es), como seria de se esperar, assim como o pronome you não se refere necessariamente ao(s) interlocutor(es), como seria o uso tradicional do pronome. A pesquisa adota a perspectiva da Linguística Cognitiva, e mais especificamente utiliza a noção dos Modelos Cognitivos Idealizados, de George Lakoff (1987); a Teoria dos Espaços Mentais, desenvolvida por Gilles Fauconnier (1994, 1997); e o conceito de mesclagem conceptual (blending), desenvolvido por Fauconniere Turner (2002). A investigação, ainda, parte da proposta cognitivista de Sofia Marmaridou (2000) sobre a dêixis, na qual a autora analisa a utilização dos pronomes we e you, caracterizando a ocorrência desses dêiticos como mais ou menos prototípica, a partir de exemplos usuais do inglês. O corpus utilizado reflete o uso real da língua, reunindo dados da revista americana Time, acessível no endereço eletrônico http://corpus.byu.edu/time/. A inovação deste trabalho está na busca de refinamento da proposta de Marmaridou (2000). Além de se incluírem usos não descritos pela autora, tais como o uso do dêitico we excluindo o(s) interlocutor(es); e uso do dêitico you para referência ao próprio falante, busca-se explicar o fenômeno a partir do processo de mesclagem conceptual. 6

Construções concessivas com mesmo que e se bem que: diferentes níveis de concessividade André Vinícius Lopes Coneglian A (con)junção de orações é um processo em que se ligam semântico-pragmaticamente duas orações. Dentre os fatores linguísticos que cooperam nesse processo, a língua dispõe de itens juntivos, responsáveis por explicitar tais relações semântico-pragmáticas, por exemplo, a relação de concessão. Alguns desses itens, no entanto, apresentam uma ambiguidade pragmática (SWEETSER, 1990), em que a mesma relação semântica, neste caso a concessividade, é aplicada pragmaticamente nos diferentes domínios cognitivos. Valendo-se dos pressupostos teóricos do Funcionalismo (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; GIVON, 2001; NEVES, 2012) e da teoria dos Espaços mentais (FAUCONNIER, 1994, 1997; FAUCONNIER; TURNER, 2002), este trabalho estuda os itens juntivos concessivos mesmo que e se bem que, com a finalidade de verificar suas diferentes funções pragmáticas e o arranjo cognitivo dessas construções. A hipótese inicial é que construções com mesmo que reforçam o caráter de objeção do falante face a determinado evento, ao passo que construções com se bem que estão ligadas ao caráter de ressalva estabelecido pelo contraste presente na concessividade (NEVES, no prelo). A partir da consideração de que a estrutura linguística fornece pistas para a construção do sentido, a correlação modo-temporal dos verbos e a ordem das orações (q, p; p, q) são de especial relevância para o estudo, pois influenciam a maneira como estão estruturados os espaços mentais estabelecidos por esses itens juntivos. Para esta análise, que parte de ocorrências reais de um córpus selecionado, também são considerados os domínios cognitivos em que esses itens juntivos ocorrem (domínio de conteúdo, epistêmico, de atos de fala), uma vez que sua ocorrência nos diferentes domínios reforça a ambiguidade pragmática, em relação às características factual, eventual e contrafactual dessas construções concessivas (NEVES, 2012). O Funcionalismo provê os subsídios necessários para a análise da forma em relação à semântica e à pragmática, e a teoria dos Espaços mentais fornece mecanismos para o estabelecimento de princípios gerais do funcionamento da categoria concessiva em termos cognitivos. 7

Construções gramaticais e ponto de vista Lilian Ferrari e Viviane Fontes Este trabalho adota o referencial teórico da Linguística Cognitiva para a investigação de construções gramaticais, sob a ótica da Gramática de Construções (Fillmore, Kay e O Connor 1988; Goldberg 1995), da Gramática Cognitiva (Langacker, 1987) e/ou da Teoria dos Espaços Mentais, em seus desenvolvimentos mais recentes (Fauconnier 1994, 1997; Fauconnier e Turner 2002; Sanders, Sanders e Sweetser 2007; Ferrari e Sweeter 2012). Os modelos acima assumem que construções gramaticais são pareamentos de forma e significado. Mais especificamente, as estruturas gramaticais são concebidas como pistas para a construção do sentido. Em primeiro lugar, operam a sinalização ( construal ) de perspectivas específicas, que podem incluir, por exemplo: (i) o ponto de vista do falante, do ouvinte e/ou de um participante da cena descrita; (ii) a construção do evento descrito com maior ou menor grau de especificidade; (iii) estratégias de sinalização de figura e fundo. No que se refere às construções sintáticas, por exemplo, esses fatores podem explicar a existência de construções sintaticamente distintas e semanticamente sinônimas. Como aponta Goldberg (1995), essas construções constroem frames alternativos em relação a uma mesma cena, apresentando distinções pragmáticas relevantes. Sendo assim, as construções gramaticais podem ativar domínios estáveis (frames e modelos cognitivos idealizados), atualizados no discurso por meio de espaços mentais, que servem de base para processos de projeção de informação, correspondência analógica e mesclagem conceptual, entre outros. Dentro da perspectiva delineada acima, o presente trabalho pretende discutir as relações entre estruturas gramaticais e estratégias cognitivas de construção do significado. De um modo geral, a proposta é ilustrar o pareamento forma-significado a partir de estruturas que apresentem diferentes graus de complexidade, desde itens lexicais até sentenças complexas. Mais especificamente, buscamse discutir as relações entre estruturas gramaticais e mecanismos cognitivos, tais como sinalização de ponto de vista, mesclagem conceptual, processos de categorização, processos figurativos, frames alternativos e simulação mental. 8

Inversão do sujeito no português brasileiro: uma questão de ponto de vista Diogo Pinheiro Com sua admirável recalcitrância, o problema da inversão do sujeito tem intrigado um sem-número de pesquisadores que se ocupam da gramática do português brasileiro. Com efeito, o assunto tem motivado estudos alinhados à linguística funcional (PONTES, 1986; FERRARI, 1990; NARO; VOTRE, 1999), à sociolinguística variacionista (LIRA, 1986; COELHO, 2000; SPANO, 2008) e à teoria gerativa (NASCIMENTO, 1984; FIGUEIREDO SILVA, 1996; PILATI, 2006; NEGASE, 2007). Neste trabalho, nossa expectativa é a de enriquecer a compreensão do fenômeno por meio da adoção de uma perspectiva cognitivista.a hipótese fundamental deste trabalho é a de que a alternância SV/VS reflete duas possibilidades de conceptualização de um mesmo fenômeno. Propomos que essa dupla possibilidade decorre da disponibilidade de dois pontos de vista a partir dos quais o evento designado (no sentido langackeriano) pode ser construído. Na trilha da semântica cognitiva de Talmy (2000a; 2000b), argumentarei que a posição do sujeito está associadaà chamada Distância Perspectival, vale dizer, à distância entre o sujeito conceptualizador e o objeto conceptualizado. Da seguinte maneira: a ordem SV envolve maior distanciamento entre o sujeito conceptualizador e o objeto conceptualizado; inversamente, a ordem VS associa-se a uma distância menor: tudo se passa como se o conceptualizador estivesse presenciando o evento diante dos seus olhos.proporei ainda que a diferença de Distância Perspectival entre as sentenças SV e VS reflete o fato de que esses padrões associam-se a Sujeitos de Consciência distintos. Diretamente ligado à noção de perspectiva, o conceito de Sujeito de Consciência ( SubjectofConciousness ) tem lugar de destaque em versão recente da Teoria dos Espaços Mentais desenvolvida por Sanders, Sanders e Sweetser (2009; 2012) e por Ferrari e Sweetser (2012) e é usado aqui para fazer referência ao sujeito responsável pela conceptualização ou construção de um evento. Procurarei mostrar que eventos designados por sentenças SV são interpretados a partir do ponto de vista de um Sujeito de Consciência que desempenha o papel de Falante (vale dizer, um indivíduo inserido em uma situação de troca verbal que executa um ato de fala); por seu turno, eventos designados pela construção VS são construídos sob o ponto de vista de um Sujeito de Consciência que desempenha o papel de Observador (vale dizer, alguém que testemunha diretamente o evento). Do ponto de vista metodológico, o trabalho analisa usos reais do português brasileiro falado extraídos de dois corpora: corpus BBB, com aproximadamente 70 horas de transcrições de falas do programa Big Brother Brasil 10, veiculado no ano de 2010 pela Rede Globo de Televisão; e corpus Discurso e Gramática, que inclui uma variedade de gêneros textuais. 9

Subjetividade e intersubjetividade em condicionais do português brasileiro Paloma Bruna Silva de Almeida Este trabalho investiga construções condicionais do português brasileiro, sob a perspectiva teórica da Linguística Cognitiva. Mais especificamente, a pesquisa enfoca condicionais que apresentam, morfologicamente, o presente do indicativo na prótase e/ou na apódose, para indicar cronologicamente um evento posterior ao Ground. A investigação tem como base teórica a Teoria dos Espaços Mentais (Fauconnier (1994, 1997) e; Fauconnier e Sweetser (1996)), a partir de estudos sobre relação causal estabelecida entre a prótase e a apódose em condicionais (Sweetser 1990; Dancygier 1992, 1993; Dancygier e Sweetser, 2005 e Gomes, 2008) e de contribuições recentes sobre subjetividade e intersubjetividade (Langacker 1990; Traugott e Dasher, 2005) e seus desdobramentos em termos da noção de Base Comunicativa (Sanders, Sanders e Sweetser, 2009; Ferrari e Sweetser, 2012). A pesquisa foi desenvolvida a partir de corpora escritos formado por construções condicionais provenientes de textos jornalísticos do jornal O Globo e da Revista Época durante o período de 2010 2012, além de construções condicionais presentes em textos literários, retirado de corpus eletrônico do português (http://www.corpusdoportugues.org). Os resultados obtidos demonstram que as escolhas entre futuro do subjuntivo e presente do indicativo na prótase, e/ou entre futuro e presente do indicativo na apódose das condicionais indicam diferentes graus de subjetividade e intersubjetividade em relação aos eventos descritos. 10

Uma abordagem construcionista da Morfologia: um estudo de caso sobre as Construções Quantificadoras Mórficas Igor de Oliveira Costa e Neusa Salim Miranda Um axioma básico das diferentes Gramáticas de Construções é que a gramática está estruturada, em todos os seus níveis, por blocos fundamentais nomeados construções, unidades que associam determinado sentido a uma forma específica (cf. GOLDBERG, 1995; BOAS, no prelo). No entanto, o intenso interesse em construções no nível da sintaxe desde os primórdios da proposição de uma Gramática de Construções (haja vista os clássicos trabalhos de LAKOFF, 1987; FILLMORE, KAY E O CONNOR, 1988; GOLDBERG, 1995; FILLMORE E KAY, 1999) eclipsou, e continua a eclipsar, a investigação a respeito de construções de outros âmbitos da Gramática. Assim, visando ampliar, em termos práticos, o escopo da perspectiva construcionista sobre a linguagem, este trabalho objetiva discutir algumas das implicações da pesquisa com objetos morfológicos para um dos modelos de Gramática das Construções mais salientes no interior do programa cognitivista de investigação da linguagem, a Gramática das Construções Cognitiva, estabelecida principalmente por Goldberg (1995, 2006). Para tanto, recorta-se, como estudo de caso, uma rede de Construções Quantificadoras Mórficas do Português do Brasil, integrada pelos possíveis subpadrões: X-ADA ( arroizada, biscoitada, garotada ), X-AIADA ( coisaiada, crentaiada, escadaiada ), X-ARADA ( gatarada, filharada, homarada,), X-AL ( cervejal, churrascal, milharal ), X-ARIA ( mosquitaria, rouparia, porradaria ), X-EIRA ( cabeleira, desgraceira, fumaceira,), X-EIRO ( berreiro, fumaceiro, roupeiro ), X-ANÇA ( festança, matança ). Dado o relevo do uso no modelo teóricoanalítico eleito, acolhe-se, em termos metodológicos, uma Linguística Cognitiva baseada em corpus, que implica no uso de corpora eletrônicos e ferramentas computacionais na investigação. Buscarse-á mostrar que o desvelamento de objetos morfológicos possui relevância teórico-metodológica para o programa construcionista, por o estudo de objetos dessa natureza demandar, em certos aspectos, um tratamento analítico distinto daquele que recebem as construções sintáticas. Ainda, o trabalho fortalece a afirmação de que construções estruturam todos os níveis da linguagem, além de discutir a configuração de uma rede construcional ainda obscura nos estudos da gramática do Português. 11

Vacilou, Dançou : A perspectiva da Linguística Cognitiva sobre as coordenadas condicionais/temporais Patrícia Noro de Oliveira O presente trabalho tem como foco construções coordenadas estruturadas de forma a conferir interpretação condicional ou temporal. Mais especificamente, pretende-se observar construções coordenadas do tipo P[pret. perf.], Q[pret. perf.], como Achou o vale brinde, ganhou e Vacilou, dançou, as quais, conforme verificado nos dados, são bastante produtivas na fala espontânea. Para a investigação, adota-se a perspectiva da Linguística Cognitiva e, mais especificamente, da Teoria dos Espaços Mentais, desenvolvida por Fauconnier (1994, 1997) e Fauconnier & Turner (2002) A pesquisa toma como base, ainda, os estudos desenvolvidos por Eve Sweetser (1990), Barbara Dancygier (1992) e Dancygier & Sweetser(2005), a respeito das construções condicionais e suas relações em diferentes domínios cognitivos. Os dados utilizados nesta pesquisa são provenientes do Corpus LINC de fala espontânea, que reúne dados observados e recolhidos em situações de fala do cotidiano e transcrições de conversações espontâneas. A análise dos dados possibilitou o estabelecimento das seguintes generalizações: a. as inferências de condicionalidade ou temporalidade se dão a partir do caráter experiencial destas construções; b. a escolha modo-temporal não é compatível com o tempo cronológico das proposições; c. a escolha pelo tempo pretérito perfeito do indicativo relaciona-se ao grau de assertividade das proposições; d. ao se utilizar de tais construções, o falante leva em conta ouvinte, projetando-se na perspectiva deste último, em um momento em que já se passou a ação que, no entanto, é futura. O objetivo principal da pesquisa é descrever os mecanismos cognitivos que desencadeiam inferências de condicionalidade nesse tipo de construção e explicar as consequências semântico-pragmáticas das escolhas modo-temporais feitas pelo falante ao optar por tais estruturas. Em relação a estudos anteriores, este trabalho visa a contribuir para a descrição do português brasileiro, não apenas identificando estruturas coordenadas capazes de ativar inferências de condicionalidade ou temporalidade, mas também buscando uma análise inovadora para o fenômeno a partir do referencial teórico da Linguística Cognitiva. 12

Verbos predicativos e auxiliares: uma visão cognitivista Mauro José Rocha do Nascimento Este trabalho parte dos pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva, mais especificamente do modelo da Gramática das Construções (Goldberg, 1995). São utilizados, ainda, o conceito de categorização (Langacker, 1987) e esquemas imagéticos (Lakoff, 1987). Seu objetivo principal é comprovar que existe no português uma Construção Predicativa, relacionada, até certo ponto, com os verbos tradicionalmente categorizados como predicativos. A primeira proposta apresentada é de que os verbos considerados como predicativos não formam uma categoria à parte; eles só são plenamente predicativos quando figuram em uma construção gramatical (Goldberg, 1995) do tipo predicativa, ou seja, a construção gramatical é que é predicativa, e não o verbo. Uma evidência disso é que todos os verbos considerados tradicionalmente como predicativos também podem figurar em outras construções, não-predicativas. Além disso, outros verbos, considerados tradicionalmente como nocionais também podem figurar nessa construção, o que explica a irregularidade do elenco de verbos considerados como predicativos de um autor para outro. A segunda proposta apresentada é de que os verbos predicativos e os verbos auxiliares aspectuais não são duas categorias estanques; é o mesmo verbo que figura em diferentes construções gramaticais. As construções de gerúndio, com verbos ditos auxiliares, são construções decorrentes - ou, nas palavras de Goldberg (1995), derivadas - das construções predicativas; nesse caso herdam da construção base a característica de manter um traço descritivo do sujeito - na construção-base, esse traço descritivo se apresenta na forma de um SAdj; na construção derivada, na forma gerundial do verbo. As relações de significado entre os verbos que instanciam a construção predicativa envolvem diferentes valores aspectuais e pressuposicionais. Esses valores correspondem à evocação de diferentes esquemas imagéticos (Lakoff, 1987). A possibilidade de determinados verbos poderem ou não figurar nesse tipo de construção tem relação com o esquema imagético evocado por esses verbos. Propomos, ainda, que as Construções Predicativas formem uma rede construcional, em que a construção do tipo SN V SAdj (Maria é feliz) seria a construção mais básica. Outras construções predicativas, como, por exemplo, a que é instanciada em Maria é professora (SN V SN), seriam decorrentes da primeira por relações de polissemia. 13