UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO GERAL DE PESQUISA INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIA - ICV RESUMO EXPANDIDO (2014-2015) NIETZSCHE E AS ORIGENS PSICOLÓGICAS DA DIVISÃO ENTRE MUNDO REAL E MUNDO APARENTE: O PAPEL DA VONTADE NA CONSTITUIÇÃO DE SI MESMO LUIZIR DE OLIVEIRA (Orientador) MARCOS ANTÔNIO SILVA DE SOUSA (Orientando Iniciação Científica Voluntária ICV UFPI) TERESINA PI 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO GERAL DE PESQUISA INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIA - ICV RESUMO EXPANDIDO (2014-2015) NIETZSCHE E AS ORIGENS PSICOLÓGICAS DA DIVISÃO ENTRE MUNDO REAL E MUNDO APARENTE: O PAPEL DA VONTADE NA CONSTITUIÇÃO DE SI MESMO Prof. Dr. Luizir de Oliveira Orientador Dpto de Filosofia - UFPI Marcos Antônio Silva de Sousa Orientando ICV - UFPI TERESINA PI 2015
1. Introdução: O fio condutor que traçamos para o desenvolvimento do trabalho foi buscar a possível influência de A. Schopenhauer (1788-1860) sobre F. W. Nietzsche (1844-1900) para chegar ao conceito basilar da sua Filosofia, Vontade de Poder, tornando possível cumprirmos com o nosso objetivo nesta discussão que é a análise precisa do conceito de Vontade de Poder. Para isso, dedicamo-nos a explicar os conceitos de realidade e aparência na filosofia nietzschiana; descrever os mecanismos de controle psicológico autoimpostos a partir da compreensão da redução do sujeito a um conjunto de ações que acabam por negar a distinção entre aparência e realidade subjacente. Além disso, propõe-se compreender as consequências sobre a vida devidas a tal divisão entre mundo real e mundo aparente. 2. Material e Métodos: Por se tratar de uma investigação eminentemente teórica, o trabalho foi desenvolvido por meio da leitura de textos específicos, com ênfase na análise crítico-reflexiva dos mesmos, baseada numa abordagem hermenêutica inspirada pela proposta gadameriana. A partir dessa primeira aproximação dos textos-bases, acreditamos ter-se tornado mais acessível o desenvolvimento do diálogo entre o autor estudado e seus intérpretes mais importantes. Nesse sentido, a pesquisa foi realizada centrando-se nos textos que fazem parte dos fragmentos finais, uma coletânea de escritos esparsos deixados por Nietzsche e que só foram publicados depois de sua morte, por sua irmã. Nele encontramos o material de que ela, bem como outros autores posteriores, se utilizaram a fim de construir uma obra que o próprio Nietzsche nunca terminou, mas que planejava escrever, intitulada, A Vontade de Poder, além da análise de textos de comentadores acerca da temática. Embora A Vontade de Poder, do modo como nos chega, não seja integralmente da autoria de Nietzsche, podemos depreender, daquilo que ele deixou esboçado, o conceito que nos interessa especificamente e que serviu como fio condutor para nossa investigação: Vontade de Poder. Foi sobre ele que nos demoremos de modo mais aprofundado, visando à maior clareza do conceito e todos seus desdobramentos. 3. Resultados e Discussão: Em Schopenhauer, o corpo é como um microcosmo que luta pela própria sobrevivência e, ao mesmo tempo, está condicionado pelo ciclo vital da Vontade Universal. Tal percepção do mundo como Vontade nos permite compartilhar o juízo de seus comentadores (e Nietzsche foi um deles), que reconheceram o caráter pessimista da filosofia de Schopenhauer, pois é possível afirmar, segundo ele, que há sempre um vácuo que jamais é preenchido, uma vez que nunca se consegue satisfazer integralmente as necessidades geradas pela vontade de vida. Isto leva Schopenhauer a propor o ideal de uma vida ascética, ou seja, sem maiores preocupações com os prazeres em geral. Como ele mesmo reforça no 57 de O mundo como
vontade e representação, a vida oscila como um pêndulo, para aqui e para acolá, entre a dor e o tédio, os quais em realidade são seus componentes básicos (SCHOPENHAUER, 2005, p. 403). Isto o levará a afirmar que o único modo de nos livrarmos desse infinito desconforto existencial é por meio da negação da própria vontade, algo que somente o asceta é capaz de alcançar. Se, por um lado, o conceito de Vontade constituirá um operador conceitual fundamental no pensamento nietzschiano da maturidade, por outro temos a recusa de Nietzsche por essa solução schopenhaueriana. Ele classifica o ideal ascético pregado por Schopenhauer como mais uma forma de niilismo, isto é, mais uma tentativa de desqualificar a vida como ela se apresenta, com o devir, com o sofrimento, com sua impermanência, etc. Em suma, Schopenhauer é mais um que diz não à vida como ela é. Mas, para Nietzsche, essa postura perante a vida corresponde à fraqueza e à debilidade de não suportar o instável, o mutável da vida, de não compreender a Vontade como terreiro de dominação, de monopólio de uns sobre os outros, dos fortes sobre os fracos. Consequentemente, negando e propondo a anulação da vida, como propôs Schopenhauer com sua concepção de Vontade, Nietzsche reformulará o conceito de Vontade, reforçando seu papel na potencialização da própria vida. De acordo com Nietzsche, o mundo da vida é constituído por energia, que está em corpos viventes, ou seja, possui Vontade de Poder ou Vontade de Potência. Espinosa chamou isso de Potência de Agir, Schopenhauer de Vontade, e nós poderíamos entender, grosso modo, ainda de vontade de viver. A vontade de poder é o que caracteriza nossa existência no mundo, ou seja, somos energia que busca mais energia. Se tenho poder e busco mais poder, busco mais vontade de poder. Em outras palavras, eu passo a minha vida toda buscando domínio, mais conquista, mais energia. Para ficar mais claro, analisemos o seguinte exemplo no âmbito dos animais. O leão, chamado de rei da selva, passa a sua vida tentando expandir seu poder, tentando aumentar seu domínio. Para isso, ele tenta capturar gazelas, zebras, gnus etc; ele não está fazendo nada mais do que tentando aumentar seu poder sobre a selva, ele quer dominar tudo, conquistar tudo. Mas porque ele não consegue dominar tudo, conquistar tudo? Porque sua vontade de poder esbarra em outras vontades de poder, pois o elefante quer também aumentar seu poder, a zebra, a girafa, etc. Nesse sentido aquele que for mais forte, mais eficaz é que vai aumentar sua potência, seu poder. Nietzsche critica a divisão entre mundo real e mundo aparente feita pela filosofia ocidental, defendendo que essa divisão tem origens eminentemente psicológicas, isto é, o homem inventa um mundo ideal, que é totalmente ilusório posto idealizado, para conseguir suportar a sua contraparte, o mundo aparente, o mundo da vida como se nos mostra aqui e agora. De outra forma, o homem, para conseguir viver neste mundo, busca refúgio num outro mundo, sendo esse, uma construção inteiramente psicológica, ou seja, uma invenção humana para não encarar a vida como ela é. 4. Considerações Finais:
A partir disso, tem-se que essa dualidade de mundos acarreta as consequências piores possíveis, para Nietzsche, pois como o mundo verdadeiro é tido como valor absoluto, como valor supremo ou ainda como modelo, obviamente, que a vida terrena será orientada ou conduzida segundo esses valores transcendentes. Em outras palavras, esse mundo verdadeiro corrige o mundo sensível, ou seja, o homem não vive mais da mesma forma que viveria sem esse ideal de mundo verdadeiro, pois esse ideal interfere diretamente nos acontecimentos do real, no aqui e agora. Com isso, as consequências imediatas e desastrosas dessa divisão são, em resumo, a negação da vida, castrando-se todo e qualquer tipo de desejo, instinto, pulsão, paixão e afeto por essa vida, em nome de valores ideais, supremos e absolutos, anulando-se, dessa forma, a única vida possível e existente que é a vida sensível. 5. Referências Bibliográficas: MEDEIROS, Humberto Duarte de. A visão do homem em Nietzsche/ Humberto Duarte de Medeiros, Álvaro Luiz Montenegro (Orient.). São Leopoldo (RS): Unisinos, 2008. 101 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS. São Leopoldo, 2008. Disponível no endereço eletrônico http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/unisinos/2035/visao%20de%20homem %20em%20nietzsche.pdf?sequence=1&isAllowed=y. NICOLAY, Deniz Alcione. Schopenhauer e Nietzsche. Conjectura: filosofia da Educação. Caxias do Sul (RS): v. 19, n. 2, p. 162-177, maio/ago. 2014. Disponível no endereço eletrônico http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/2434/pdf_249. Acesso em: 20 de Julho de 2015. NIETZSCHE, Friedrich. W. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.. A vontade de poder. Tradução do original alemão e notas de Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Apresentação de Gilvan Fogel Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.. Crepúsculo dos Ídolos. Trad. Jacqueline Valpassos. São Paulo: Golden Books/DPL, 2009.. Escritos sobre educação. Rio de Janeiro: Ed. da PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003.. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo com vontade e representação. Tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. São Paulo: Ed. UNESP, 2005. Palavras-Chave: Vontade de Poder, Mundo Real, Mundo Aparente.