EIXO TEMÁTICO: Tecnologias CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO RESIDENCIAL PARQUE OZIEL/ JARDIM MONTE CRISTO, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS, QUANTO AOS SERVIÇOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO Maria Paula Cardoso Yoshii 1 Aline Doria de Santi 2 Tadeu Fabrício Malheiros 3 RESUMO: Diante da crescente concentração populacional em áreas urbanas e principalmente pela falta de condições sociais e financeiras, nota-se o aumento de moradias precárias em locais inadequados e sem qualquer infraestrutura. A dificuldade de acesso dificulta a instalação de redes de serviços e a infraestrutura básica para uma vida digna. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar o aglomerado subnormal Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo, localizado no município de Campinas SP, quanto aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. As análises evidenciaram a ineficiência dos serviços de esgotamento sanitário, porém apresentou cobertura total no abastecimento de água. Investimentos em infraestrutura e gestão apresentam-se como medidas essenciais na melhora da qualidade desses serviços. Palavras-chave: Saneamento. Aglomerados subnormais. Campinas. 1. INTRODUÇÃO O saneamento básico é um dos importantes fatores para definir o índice de desenvolvimento de um país sendo um direito fundamental e condição básica, garantidos pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pela Lei nº 11.445 (BRASIL, 2007) para uma vida saudável e um meio ambiente sadio. No Brasil, dados do SNIS do ano de referência 2014, mostram que, de toda população brasileira, 17% não tem acesso ao abastecimento de água, 29,1% não tem acesso ao esgotamento sanitário e 59,1% não tem tratamento de esgoto. O elevado déficit no setor de saneamento básico no Brasil apresenta-se, sobretudo no que se refere aos serviços de esgotamento sanitário, com maior carência nas áreas periféricas dos centros urbanos e nas zonas rurais, onde se concentra a população mais pobre (GALVÃO JUNIOR; PAGANINI, 2009). O município de Campinas destaca-se neste contexto por 13,94% da população habitar aglomerados subnormais (NADALIN et. al., 2014), classificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE- como: 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental EESC/USP. <mpyoshii@usp.br>. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental EESC/USP. 3 Professor da Escola de Engenharia de São Carlos. <tmalheiros@usp.br>.
Conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas, etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa (IBGE, 2010). O município de Campinas apresenta mais de duas centenas de assentamentos precários (favelas e ocupações e loteamentos ilegais) destacando-se o aglomerado subnormal Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo pela sua extensão geográfica e em população, proximidade com a área central do município e por ser alvo de investimentos públicos municipais e federais na sua urbanização (GHILARDI, 2012). No contexto do acesso aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário SAA&ES, o presente trabalho objetivou caracterizar o aglomerado subnormal Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo, localizado no município de Campinas SP, quanto aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa caracterizou-se como uma pesquisa quantitativa, visando fornecer um panorama sobre o acesso aos SAA&ES em um dos maiores aglomerados subnormais do município de Campinas, o Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo. A área de estudo encontra-se localizada em uma importante região do município de Campinas, no entroncamento das rodovias Santos Dumont e Anhanguera e à aproximadamente 15 km do aeroporto de Vira Copos, tendo sua ocupação iniciada em 1997. Para caracterizar o aglomerado em questão, quanto aos SAA&ES, foram coletadas as seguintes informações do Censo 2010 de aglomerados subnormais do IBGE, expostas no quadro 1. Após a coleta de dados, os mesmos foram compilados, organizados e analisados. Quadro 1. Dados coletados para análise Dados coletados População residente do aglomerado Número de permanentes Número de particulares permanentes com rede geral de abastecimento de água Número de particulares permanentes com rede geral de esgotamento sanitário Número de particulares permanentes com fossa séptica Número de particulares permanentes com fossa rudimentar
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O aglomerado subnormal Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo é subdividido em 23 (vinte e três) setores censitários 4 conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1. Localização do Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo. Fonte: IBGE A partir dos dados coletados caracterizou-se os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário presentes na área de estudo, e os resultados estão expostos na tabela 1. Tabela 1.Paranorama dos serviços de água e esgoto do Núcleo Residencial Parque Oziel - Jardim Monte Cristo. População residente Núcleo Residencial Parque Oziel/Jardim Monte Cristo permanentes com rede de abastecimento de água com rede geral de esgoto com fossa Séptica com fossa Rudimentar com Valas 12.058 3.149 3.149 218 680 1.921 75 Fonte: Elaborada pelas autoras. No que concerne aos dados coletados, é importante salientar que em relação à população residente na área de estudo há estimativas, não oficiais, dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), de que a área abrigue uma população de mais de 30 mil 4 O setor censitário é a unidade territorial estabelecida para fins de controle cadastral, formado por área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural, com dimensão e número de que permitam o levantamento por um recenseador (IBGE, 2010).
habitantes, representando uma das maiores ocupações urbanas da América Latina (SOUZA, 2009). As análises percentuais indicam que do número total de, 100% estão conectados à rede de abastecimento de água, enquanto somente 6,9% estão conectados à rede geral de esgoto. Buscando analisar os meios utilizados para despejos dos dejetos pela população residente, verificou-se que a fossa rudimentar 5 é utilizada em 1.921, correspondendo a 61% seguida pela adoção de fossa séptica 6 em 680 representando 21,6% e uso de valas para despejo de dejetos em 75, equivalendo à 2,4 % do total de da área. As presentes análises atestam que embora o serviço de abastecimento de água seja universalizado na área em questão, no que tange aos serviços de esgotamento sanitário é perceptível a ineficiência dos mesmos, sendo necessários investimentos em infraestrutura para o alcance total da universalização desses serviços. Os resultados reforçam o apresentado por Scheinder et al (2010) de que os esforços para ampliação do acesso aos SAA&ES são voltados primeiramente para a cobertura de água, seguido pela coleta de resíduos sólidos e posteriormente os serviços de esgotamento sanitário. Informações presentes no Plano Municipal de Habitação de Campinas (2011), demonstram que foram direcionados para intervenções de esgotamento sanitário na região do Parque Oziel o total de R$ 10.994.470,27 dos quais cerca de 95% são provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento no ano 2007. Não obstante, os resultados obtidos nesta pesquisa apontam que apesar dos investimentos para melhorar o esgotamento sanitário na área, o acesso a este serviço é ainda incipiente. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5. Os resultados da presente pesquisa confirmam o fato de que os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário em aglomerados subnormais são ineficientes e muitas vezes escassos, afetando diretamente a população residente destas áreas. Neste sentindo, investimentos em infraestrutura e gestão desses serviços são de suma importância para o melhorar o acesso aos SAA&ES, consequentemente a qualidade de vida da população e o desenvolvimento do município. 5 Os dejetos são depositados em fossa rudimentar (fossa negra, poço, buraco etc) (IBGE, 2010). 6 Os dejetos passam por um processo de tratamento ou decantação, sendo a parte líquida absorvida no próprio terreno ou canalizada para um desaguadouro geral da área, região ou município (IBGE, 2010).
REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa o Brasil de 1988. Brasília, 1988. BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Brasília. Diário Oficial da União. 8.1.2007. BRASIL. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos 2014. Brasília: SNSA/MCIDADES, 212 p. 2016. GALVÃO JUNIOR, A.C.; PAGANINI, W. S. Aspectos conceituais da regulação dos serviços de água e esgoto no Brasil. Eng. Sanit. Ambient. vol.14. nº.1. Rio de Janeiro. 2009. GHILARDI, F.H. O lugar dos pobres na cidade de Campinas SP: questões a partir da urbanização da ocupação do Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B. Dissertação. Escola de Engenharia de São Carlos. 135 p. 2012. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010: Aglomerados Subnormais Primeiros Resultados. Rio de Janeiro. 2010. NADALIN, V. G.; KRAUSE, C.; NETO, V. C. L. Distribuição de aglomerados subnormais na rede urbana e nas grandes regiões brasileiras. Texto para discussão nº 2012. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA. Brasília. 2014. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Municipal de Habitação de Campinas. 487 p. 2011. SCHEINER, D.D.; SANTOS, R.; MARTINEZ, R.C.; COUTINHO, S.M.V.; MALHEIROS, T.F.; TEMÓTEO, T.G. Indicadores para serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário voltados às populações vulneráveis. Revista Brasileira de Ciências Ambientais. n.17, p.65-76, 2010. SOUZA, J.F.V. Parque Oziel, 10 anos de luta: uma análise dos conflitos de desigualdade social e meio ambiente. Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI. São Paulo, p. 2804 2839, 2009.