NEUROCISTICERCOSE NO SUDESTE DA BAHIA

Documentos relacionados
FORMA TUMORAL DA CISTICERCOSE CEREBRAL

DISTÚRBIOS PSÍQUICOS NA NEUROCISTICERCOSE EM CRIANÇAS

PROTEINOGRAMA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO NA LEPRA

Identifique-se na parte inferior desta capa. Caso se identifique em qualquer outro local deste Caderno, você será excluído do Processo Seletivo.

A EPILEPSIA NA NEUROCISTICERCOSE

Anamnese. Qual sua hipótese diagnóstica? O que você perguntaria na HPP?

VALORES DO ENXOFRE, COBRE E MAGNÉSIO NO SORO SANGUÍNEO E NO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NOS TRAUMATISMOS CRÂNIO-ENCEFÁLICOS RECENTES

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

SÍNDROME LIQUÓRICA DA NEUROCISTICERCOSE

PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA LEPRA LEPROMATOSA

Identifique-se na parte inferior desta capa. Caso se identifique em qualquer outro local deste Caderno, você será excluído do Processo Seletivo.

Residente de Neurologia: Rafael de Souza Andrade

HIDROCÉFALO COM PRESSÃO NORMAL E NEUROCISTICERCOSE.

NEUROCISTICIRCOSE: A DIFERENÇA DO SISTEMA PRIVADO PARA O SITEMA PUBLICO.¹

PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO EM AFECÇÕES DEGENERATIVAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Fluxo de atendimento e dados de alerta para qualquer tipo de cefaléia no atendimento do Primeiro Atendimento

O complexo teníase-cisticercose engloba, na realidade, duas doenças distintas,

Exames Complementares Morte Encefálica. Pedro Antonio P. de Jesus

Médico Neurocirurgia Geral

TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO. Prof.ª Leticia Pedroso

CASO CLÍNICO. Medicina-UFC. Everton Rodrigues

HBS-Ag - Antígeno Austrália Material: Soro VALOR DE REFERÊNCIA RESULTADO: SORO NÃO REAGENTE Soro Não Reagente TRANSAMINASE OXALACETICA (TGO)

PROVA OBJETIVA. b) Liste os outros exames que devem ser solicitado para o esclarecimento do quadro e descreva qual seria a abordagem terapêutica.

GRANULOMA BLASTOMICOTICO NA MEDULA CERVICAL

O exame do líquor mostrou:

FORMA EDEMATOSA DA NEUROCIST1CERCOSE

c) cite o tratamento mais adequado para esse caso. (7,0 pontos) Respostas:

ELISA (IgG e IgM) NO LCR E SORO NA NEUROCISTICERCOSE EM TRATAMENTO COM PRAZIQUANTEL

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

LINEU CORRÊA FONSECA*, GLÓRIA M.A.S. TEDRUS**

A maioria das crianças com traumatismo craniano são jovens, do sexo masculino e têm trauma leve.

DESCARGAS EPILEPTIFORMES PERIÓDICAS LATERALIZADAS EM NEUROCISTICERCOSE

ESTUDO CLÍNICO DE 68 CASOS DE EPILEPSIA OCCIPITAL

Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM)

NEUROCISTICERCOSE ESTUDO NEUROPATOLÓGICO DE CASO FATAL. TRATADO COM PRAZIQUANTEL

Infecções do Sistema Nervoso Central. Osvaldo M. Takayanagui. Professor Titular de Neurologia. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE MEDICINA E CIRURGIA

ENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NA CISTICERCOSE

EDEMA CEREBRAL LOCALIZADO COMO COMPLICAÇÃO TARDIA DE TRAUMATISMO CRÂNIO-ENCEFÁLICO

Sessões Clínicas Cefaléia

VALORES NORMAIS DA CONCENTRAÇÃO PROTÉICA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO: VARIAÇÕES LIGADAS AO LOCAL DE COLHEITA DA AMOSTRA

IMUNOGLOBULINAS G DO LIQUIDO CEFALORRAQUEANO EM AFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO

PAPILEDEMA UNILATERAL NA SÍNDROME DO PSEUDOTUMOR CEREBRAL

ETIOLOGIA DAS CRISES EPILÉPTICAS NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIENCIAS MÉDICAS E FARMACÊUTICAS LIGA ACADÊMICA DE PEDIATRIA EPILEPSIA

VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTERNA MAGNA

HEMOGRAMA COMPLETO Material: Sangue Total Método : Automação: ABX MICROS 60 REFERÊNCIAS

VALOR DA GAMAENCEFALOMETRIA NO DIAGNÓSTICO DAS EPILEPSIAS. Luís MARQUES DE ASSIS * JOÃO TEIXEIRA PINTO **

Inquérito epidemiológico *

Caso do mês. Viviane Hellmeister Camolese Martins 1º ano de Residência em Patologia

ÓBITOS DE IDOSOS POR DEMÊNCIAS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL: PANORAMA DE UMA DÉCADA

Manejo de casos suspeitos de Febre Maculosa. Outubro de 2018

CONTRIBUIÇÃO DA REAÇÃO DE MICRO-HEMAGLUTINAÇÃO PASSIVA PARA O TREPONEMA PALLIDUM (MHA-TP) NO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO AO DIAGNÓSTICO DE NEUROSSÍFILIS

Radiologia do crânio e face

ASPECTO TUMORAL DA CISTICERCOSE INTRACRANIANA

Módulo: Nível Superior Dezembro/2014 GVDATA

XIV Curso Básico de Doenças Hereditárias do Metabolismo

Inquérito epidemiológico *

NEUROCIRURGIA o que é neurocirurgia?

Síndrome de Charles Bonnet

REAÇÃO DE FIXAÇÃO DO COMPLEMENTO PARA CISTICERCOSE NO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDJANO. EMPREGO DE NOVO ANTÍGENO POR MÉTODO QUANTITATIVO

Processo Seletivo para Residência Médica 2010

ORGANIZADOR. Página 1 de 7

Complicações da pancreatite crônica cursando com dor abdominal manejo endoscópico - agosto 2016

III - CASUÍSTICA E MÉTODOS

Lactente de 15 meses de idade com meningite Modulo de urgência

CEFALEIAS PRIMÁRIAS NA EMERGÊNCIA PAULO SÉRGIO DE FARIA COORDENADOR DO AMBULATÓRIO DE CEFALEIAS-HGG

NEUROCISTICERCOSE DIAGNÓSTICO TOMOGRÁFICO EM PACIENTES NEUROLÓGICOS

Imagem 1 Corpos de Lafora em biópsia axilar corados com Hematoxilina e Eosina (esquerda) e PAS (direita). Fonte: Gökdemir et al, 2012.

Internato de Neurologia Quinto Ano Médico. Ano 2015

VERIFICAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE DERIVAÇÕES VENTRÍCULO-PERITONEAIS COM VÁLVULA MEDIANTE EMPREGO DE RADIOISÓTOPOS

Tratamento Com freqüência, é possível se prevenir ou controlar as cefaléias tensionais evitando, compreendendo e ajustando o estresse que as ocasiona.

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

VENTRICULO-AURICULOSTOMIA NOS BLOQUEIOS AO TRÂNSITO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTICERCOSE ENCEFÁLICA

EPILEPSIA PÓS- TRAUMÁTICA

FORMA MIOPÁTICA DA CISTICERCOSE

NEURORRADIOLOGIA. Cristina Moura Neurorradiologia, HUC CHUC

LIQUOR LíQUIDO CEFALORRAQUEANO

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. OUTRAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Aula 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

A distribuição etária dos pacientes é muito semelhante à distribuição etária das vítimas de Acidentes de Trânsito no Brasil, publicada pelo

REGISTRO DA PRESSÃO INTRACRANIANA

Profa. Carolina G. P. Beyrodt

Remissão prolongada da atividade metabólica da Doença de Paget. tratamento com Risendronato oral e Pamidronato endovenoso.

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

Teníase e Cisticercose. Disciplina: Parasitologia Curso: Análises Clínicas 3º. Módulo Docente: Profa. Dra. Marilanda Ferreira Bellini

QUEM SÃO OS INDIVÍDUOS QUE PROCURARAM A AURICULOTERAPIA PARA TRATAMENTO PÓS-CHIKUNGUNYA? ESTUDO TRANSVERSAL

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

As internações por Causas Externas

Uso de óleo de cannabis rico em canabidiol para controle de epilepsia refratária: estudo observacional

Acidentes de Trânsito

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA NEUROCISTICERCOSE NA REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO

A RESOLUÇÃO CFM Nº 2.113/2014 Salomão Rodrigues Filho Conselheiro

. Intervalo livre de sintomatologia até 12h (perda de consciência seguindo-se período de lucidez);

MENINGEOMA DE FOSSA POSTERIOR COM EXPANSÃO EXTRACRANIANA EM CRIANÇA

4. Que outros dados epidemiológicos seriam importantes para o caso?

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

GRADIENTE VENTRÍCULO-LOMBAR DE CONCENTRAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIANO

MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS INTRACRANIANAS.

Transcrição:

NEUROCISTICERCOSE NO SUDESTE DA BAHIA A PROPÓSITO DE QUATRO CASOS ALBERTO JORGE P. PEREGRINO * SILVIO DE OLIVEIRA PORTO ** O presente registro justifica-se por ser de maneira geral rara a incidência da neurocisticercose no nordeste brasileiro. Servem de exemplo o fato de em Pernambuco terem sido registrados até 1982 apenas 6 casos da doença 1,8,11,12 e de, na Bahia, revisão de 4.000 necrópsias de hospital geral ter mostrado incidência de 0,3% de neurocisticercose. A incidência da doença é tributo pago 7 ao subdesenvolvimento, diretamente relacionado a deficiências na área da 3 medicina pública e sanitária. Apesar das dificuldades locais quanto ao diagnóstico laboratorial e neurorradiológico, conseguimos registrar 4 casos de neurocisticercose no período de janeiro de 1977 a dezembro de 1982. Os pacientes foram atendidos no eixo Ilhéus-Itabuna, duas cidades do sudeste da Bahia, região conhecida como região cacaueira. Estes dois municípios são responsáveis por 70% da produção do cacau brasileiro. Nessa região predomina a monocultura do cacau (98% da área cultivada) e sua população está sujeita aos mesmos males sócio-econòmicos que o restante da população nordestina. Os locais de atendimento foram o Hospital Estadual Luiz Viana Filho de Ilhéus, o Ambulatório do INAMPS de Ilhéus, o Hospital Santa Cruz da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna e clínica privada. OBSERVAÇÕES Caso 1 J.N.N.O., 9 anos de idade, sexo masculino, natural de Ilhéus, residente nesse município. Em 24-07-80 começou apresentar cefaléia difusa de média intensidade, contínua, às vezes acompanhada de vômitos, de freqüência semanal e que cedia com analgésicos comuns. Examinado pela primeira vez em 20-08-80, por apresentar forte cefaléia e vômitos. O exame físico geral nada revelou. Ao exame neurológico foi encontrado apenas edema de papila bilateral. Medicado na ocasião com dexametasona (4mg/dia, via oral). Dez dias após apresentou crise convulsiva que se iniciou no membro superior esquerdo, com posterior generalização. Examinado nesse dia, persistia o Trabalho apresentado na VI Jornada de Neurologia e Neurocirurgia do Norte e Nordeste do Brasil (Maceió, 1983): * Neurologista da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna e do Hospital Estadual de Ilhéus. ** Neurocirurgião do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna.

papiledema bilateral. A pedido da família foi encaminhado para a cidade de São Paulo onde realizou: angiografia cerebral carotidiana bilateral» ccnsiderada normal; líquido céfalo-raquidiano (LCR) sub-occipital (SOD). Este era límpido e incolor e apresentava: 0,7 células por mm3; cloretos 711mg/100ml; glicose 80mg/100ml; proteínas totais 43mg/100ml; reações de Pandy e Nonne levemente positivas; reação de Takata-Ara positiva, tipo floculante; reações de Wassermann e do VDRL não reagentes; reação de Weinberg reagente, 4 unidades (Laboratório de Neurodiagnóstico Spina França). O paciente voltou para Ilhéus medicado com corticóides e anticonvulsivantes. Após 20 dias de tratamento o edema de papila regrediu totalmente e, até a presente data, o paciente encontra-se assintomático. No exame parasitológico de fezes havia ovos de Ascaris lumbricoides; o hemograma apresentava 3% de eosinófilos; o RX de crânio foi normal. O paciente não mora perto de rebanhos de porcos e come esporadicamente carne de porco. Caso 2 E.E.P., 25 anos de idade, sexo feminino, natural de Porto Seguro, residente em Eunápolis, distrito de Porto Seguro. Em 25-10-80 começou apresentar dor de cabeça e vômitos. No dia seguinte apresentava temperatura de 37,5oC e a cefaléia persistia. Procurou assistência médica em Ilhéus, sendo internada em 04-11-80. Ao exame físico, nada foi encontrado além de temperatura de 37,3<>C. O exame neurológico foi normal. No dia seguinte, a temperatura era 37,5<>C e havia discreta rigidez de nuca, que se tornou mais evidente no decorrer do dia. Foi colhido LCR que era normotenso e apresentava: 200 células por mm3 (linfócitos 56%; monócitos 36%; neutrófilos 3%; eosinófilos 5%); proteínas totais 83,9mg/100ml; cloretos 715mg/100ml; glicose 67mg/100ml; reação do VDRL não reagente; não foi realizada a reação de Weinberg. Foi medicada com dexametasona (16mg/dia). Após 5 dias encontrava-se sem cefaléia, febre ou rigidez de nuca. Foi realizada nova colheita de LCR via SOD que era normotenso e apresentava: 100 células por mm3 (linfócitos 68%; monócitos 28%; eosinófilos 4%); proteínas totais 22,lmg/100ml; glicose 63mg/100ml; reação do VDRL não reagente. Parte desta amostra de LCR foi encaminhada para o Laboratório de Neurodiagnóstico Spina França para estudo imunológico que revelou: reação de Wassermann não reagente; reação de Weinberg reagente; reações de imunofluorescência para toxoplasmcse não reagente, para sífilis (FTA-Abs) não reagente e para cisticercose reagente. Dez dias após & paciente recebeu alta hospitalar, estando assintomática e, até a presente data, não apresentou repetição do quadro. Esta paciente apresentava 3% de ecsinófilos no sangue, exame parasitológico de fezes negativo e RX de crânio normal. Come carne de porco esporadicamente e não mantém contacto com suínos. Caso 3 R.S., 12 anos de idade, sexo feminino, natural de Itabuna, residente nesse município. Em janeiro de 1982 foi atendida por apresentar cefaléia e ter tido crise convulsiva há 5 dias. A cefaléia era de média intensidade, difusa, contínua e se iniciou após a convulsão. A convulsão foi generalizada, durou cerca de trás minutos e ocorreu sem pródromos. Segundo a genitora, não houve ocorrências anormais durante a gravidez nem durante o parto. O exame neurológico foi normal. Foi pedido RX de crânio e eletrencefalograma (EEG), sendo medicada com fenobarbital (100mg/dia). A paciente não realizou os exames e somente retornou 6 meses após, desta vez atendida em pronto socorro, com intensa cefaléia, vômitos, diminuição da acuidade visual, desorientação têmporo-espacial e agitação psicomotora. Ao exame neurológico foi encontrado edema de papila bilateral, além da desorientação e agitação já citadas; não havia sinais de

irritação meníngea. digitiformes. O R X de crânio revelou disjunção de sutura sagital e impressões O E E G mostrou lentificação difusa do ritmo de base. Foi submetida a estudo angiográfico do sistema carotídeo e vértebro basilar e a uma ventriculografia, todos normais; foram retirados 10ml de L C R ventricular, cujo exame mostrou 76 células por mm3 (linfócitos 77%; neutrófilos 20%; eosinófilos 3%); glicose 46mg/100ml; proteínas totais 324mg/100ml; cloretos 751mg/100ml; reações de. Pandy e Nonne positivas; reação do V D R L não reagente; reação de imunofluorescência para cisticercose reagente. Foi medicada com dexametasona (16mg/dia) e anticonvulsivantes. total regressão do papiledema, consciência. assim como remissão Atualmente faz uso de anticonvulsivantes. Após 30 dias havia das alterações A do estado paciente come de raramente carne de porco e nunca teve contato com locais de criação de suínos. Caso 4 A.A.S., 60 anos de idade, sexo feminino, natural de Itabuna, residente nessa mesma cidade. Há dois anos apresentou crise, convulsiva generalizada sobre a qual não sabe referir maiores detalhes. N a época, segundo a paciente, o exame neurológico, realizado por especialista, foi normal, assim como R X de crânio e estudo angiografico do sistema carotídeo, bilateralmente. Foi então medicada com anticonvulsivantes. Não foi realizado estudo do L C R na época. Evoluiu bem até novembro de 1982, quando começou a apresentar cefaléia de forte intensidade, difusa, contínua, predominantemente matinal, às vezes com vômitos. -encefálica (TAC) Foi então realizada tomografia computadorizada crânio- que mostrou múltiplas lesões, arredondadas, parietal esquerdos bem como occipital direito, as quais após nos lobos frontal e injeção intravenoso apresentavam discreta captação periférica, sugerindo aspecto de contraste inflamatório (Fig. 1). Foi realizado então estudo do L C R que mostrou o seguinte resultado: normotenso; 68 células por mm3 (linfomonócitos 94%; eosinófilos 6%); proteínas totais

60mg/100ml; reação de imunofluorescência para cisticercose reagente. A paciente come esporadicamente carne de porco e nunca teve contacto com locais de criação de suínos. COMENTÁRIOS Os 4 casos de neurocisticercose registrados apresentaram formas clínicas já bem conhecidas e presentes nas classificações de vários autores 2.3,4,6,9,12. Assim, a forma hipertensiva ocorreu em todos os casos, sendo moderada nos casos 2 e 4 e intensa nos casos 1 e 3, nos quais foi encontrado edema de papila bilateral. A forma convulsiva ocorreu nos casos 1, 3 e 4, sendo predominante no último. Apenas no caso 2 ocorreram sinais de irritação meníngea. Para o diagnóstico da doença foram obedecidos os critérios clássicos: achado do cisticerco em estrutura do sistema nervoso mediante ato cirúrgico ou necrópsia; demonstração de anticorpos específicos a cisticercos no LCR mediante a positividade da reação de fixação de complemento para neurocisticercose (reação de Weinberg) ou da reação de imunofluorescência para cisticercose, com ou sem eosinof ilorraquia ; 5 positividade da reação de fixação do complemento ou de imunofluorescência para cisticercose no soro, associada à presença de calcificações parvinodulares no RX de crânio e/ou nódulos inflamatórios típicos na TAC». Na presente 3 9 casuística, a reação de Weinberg no LCR foi realizada nos casos 1 e 2, com resultados positivos. Nos casos 3 e 4 o diagnóstico foi baseado na positividade de reação de imunofluorescência para cisticercose no LCR, realizado em laboratório da cidade de Itabuna (Drs. Eric Ettinger e Ari Paranhos) e, no caso 2, também em laboratório de São Paulo. A eosinofilorraquia foi encontrada nos casos 2, 3 e 4. Em nenhum dos casos foram verificadas calcificações em RX de crânio. Apenas no caso 4 foi realizada TAC, a qual foi útil para o diagnóstico. No soro, a reação de fixação do complemento para cisticercose (reação de Weinberg) não foi realizada em qualquer dos casos por não ser praticada em nosso meio. Em relação ao tratamento, todos os pacientes responderam satisfatoriamente a corticoidoterapia, tornando-se assintomáticos. O caso 3, o mais grave de todos, o único a apresentar alteração do nível de consciência, foi o que necessitou de mais tempo com a corticoidoterapia: cerca de 90 dias para a total remissão do quadro da cefaléia. Por dificuldades locais e de ordem econômica não foram traçados planos para o uso do praziquantel, que estaria indicado 10 para o caso 4. Quanto à maneira que estes pacientes contraíram a doença, nossas observações não trouxeram dados esclarecedores. Em relação às possibilidades de manutenção do ciclo dos tenídeos, é de notar que todos os pacientes comiam carne de porco esporadicamente e não mantinham contacto com suínos. Nenhum deles teve residência em outros Estados do País. Com exceção do paciente 3, todos possuem bons hábitos de higiene. Segundo inquérito realizado por ocasião do III Congresso Panamericano de Neurologia (1971), a ocorrência de cisticercose nos matadouros da cidade do Recife, foi verificada em 65 de 29.621 porcos abatidos; resultados semelhantes foram verificados em pesquisa em matadouros do Estado de Sergipe (34 porcos com cisticercose entre 922 animais

abatidos). Esses resultados levam a crer que, nos matadouros do sudeste da Bahia, pesquisas semelhantes possam vir a mostrar índices de contaminação bem mais elevados visto que, proporcionalmente em relação ao tempo de observação e população, registramos número de casos considerável em relação a outras regiões e Estados nordestinos. Por outro lado, quanto à ingestão de ovos de tênia, até que ponto a ingestão de legumes e verduras provenientes de outros Estados (80% destes alimentos aqui ingeridos são originários de outras regiões e Estados, principalmente do Estado de S. Paulo) estaria tendo importância, sendo responsável pelo aparecimento da doença no homem, quando contaminados por ovos viáveis. Os dados registrados permitiram sugerir às autoridades públicas competentes, uma investigação junto aos matadouros de porcos da região para concluirmos se o índice de contaminação de suínos apresenta importância epidemiológica. Além disso, é importante frisar que pacientes atendidos nesta região com queixas de cefaléia e crises convulsivas, parciais ou não, devem ser submetidos a investigações no LCR e neurorradiológicas, sobretudo TAC, direcionadas ao diagnóstico da cisticercose do sistema nervoso central, mesmo sabendo que esta patologia é rara no nordeste brasileiro. RESUMO Os autores registram 4 casos de neurocisticercose no eixo Ilhéus-Itabuna, dois municípios da região sudeste da Bahia e justificam o relato pela baixa incidência da doença na região e no nordeste brasileiro. Os 4 casos registrados foram enquadrados nas formas clínicas: hipertensiva, meningítica, convulsiva e psíquica. O diagnóstico foi baseado na positividade das reações de fixação de complemento e imunofluorescência para cisticercose no LCR, associada ou não a eosinofilorraquia. Em apenas um caso foi realizada a TAC. Reafirmando ser a neurocisticercose doença que é fruto do subdesenvolvimento sócio-econô mico, os autores sugeriram às autoridades públicas competentes levantamento adequado do problema e maior fiscalização junto aos locais onde porcos são criados e abatidos na região. Foi frisada ainda a importância regional de se investigar a neurocisticercose mediante estudo do LCR e, sempre que possível, associado a estudo da TAC, naqueles pacientes com queixas de cefaléia e de crises convulsivas, mesmo sabendo que a incidência dessa patologia é baixa no nordeste brasileiro. SUMMARY Neurocysticercosis in Southeast of Bahia: report of four cases. Report of four cases of neurocysticercosis observed in the Southeast of Bahia. This region is situated in the Northeast of Brazil. The report is justified by the low incidence of the disease in this region of the country according to previous studies. Considerations are made on clinical forms observed, diagnosis and regional characteristics of human infestation. Public health rules considering

the disease to be adopted in the region are discussed. The importance to consider neurocysticercosis among possible causes of headache and epilepsy in this region is emphasized. REFERÊNCIAS 1. BENICIO, G. & TRAVASSOS, F. Considerações sobre neurocisticercose e epilepsia no nordeste do Brasil. Neurobiol. (Recife) 35:116, 1972. 2. BRAGA, F.M. & FERRAZ, F.A.P. Forma edematosa da neurocisticercose: registro de 4 casos. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 39:434, 1981. 3. CANELAS, H.M. Neurocisticercose: incidência, diagnóstico e formas clinicas. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 20:1, 1962. 4. FACURE, N.O. & FACURE, J.J. & NUCCI, A. Aspecto tumoral da cisticercose intracraniana: abordagem cirúrgica. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 36:200, 1978. 6. LIVRAMENTO, J.A. Contribuição de reações de imunofluorescência no líquido cefalorraqueano ao estudo da neurocisticercose. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 39:261, 1981. 6. MORAIS-REGO, S.F. & LATUF, N.L. Cisticercose do quarto ventrículo simulando neoplasia da fossa posterior à cintilografia cerebral: registro de um caso. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 36:371, 1978. 7. QUEIROZ, A.C. & MARTINEZ, A.M.B. Envolvimento do sistema nervoso central na cisticercose. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 37:34, 1979. 8. SILVA, W.F.; ATAIDE, L. & CHIAPPETTA, J. Neurocisticercose: a propósito de três casos. Neurobiol. (Recife) 28:61, 1966. 9. SPINA-FRANÇA, A. Cisticercose do sistema nervoso central. Considerações sobre 50 casos. Rev. paul. Med. 48:58, 1966. 10. SPINA-FRANÇA, A. & NOBREGA, J.P.S. Neurocisticercose e praziquantel. II. Avaliação de resultados em 20 pacientes. Arq. Neuro-Psiquiat: (São Paulo) 39: 279, 1981. 11. TRAVASSOS, F.M.M.; GONÇALVES E SILVA, G.E.; CRUZ, D.L. & CAMBOIN Jr., N. Neurocisticercose: relato de um caso. Neurobiol. (Recife) 43:329, 1980. 12. VAN DER LINDEN, A.M. & VAN DER LINDEN, H. Tumores cisticercóticos múltiplos intracerebrais: relato de um caso. Neurobiol. (Recife) 44:261, 1981. Hospital Santa Cruz da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna Rua Antonio Muniz 45.650, Itabuna, Bahia Brasil.