AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E ATRIBUTOS RELACIONADOS A CAPACIDADE FUNCIONAL EM PNEUMOPATAS CRÔNICOS.

Documentos relacionados
EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA TRANSCUTÂNEA DIAFRAGMÁTICA EM PACIENTES PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

INTERFERÊNCIA DOS MARCADORES LOCAIS E SISTÊMICOS DA DPOC NA QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES

RECH, A. 1 ; ANDOLFATO, K. R. 2 RESUMO

Evento: XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Evento: XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES LOCAIS E SISTÊMICAS EM PACIENTES COM DPOC

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES MASTECTOMIZADAS QUALITY OF LIFE ASSESSMENT IN WOMEN MASTECTOMIZED RESUMO

José R. Jardim Escola Paulista de Medcina

Camila Ap. Marques Faria de Melo Kíssila Brito Fiszer

CLASSIFICAÇÃO GOLD E SINTOMAS RESPIRATÓRIOS EM IDOSOS ESTUDO GERIA

Joyce Camilla Saltorato Prof. Me. Antonio Henrique Semençato Júnior RESUMO

EFEITOS DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO MUSCULAR PARA QUADRÍCEPS EM UM PACIENTE PORTADOR DE DPOC E REPERCUSSÕES NA QUALIDADE DE VIDA

ESTUDO COMPARATIVO QUANTO A QUALIDADE DE VIDA E FUNÇÃO PULMONAR EM PACIENTES ASMÁTICOS APÓS CONDICIONAMENTO FÍSICO

Avaliação do grau de dispneia no portador de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica pela Escala de Dispneia - Medical Research Council.

RESUMO. Palavras-chave: Dispneia. Reabilitação pulmonar. DPOC. Marcadores prognósticos. ABSTRACT

Programa de Cuidado Clinico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica: resultados e evolução dos indicadores clínicos

DOENÇAS PULMONARES PULMONARE OBSTRUTIVAS ASMA

A FUNÇÃO PULMONAR INFLUÊNCIA NA DISTÂNCIA PERCORRIDA NO SHUTTLE WALKING TEST: ESTUDO COMPARATIVO EM INDIVIDUOS COM DPOC

Metas do Manejo da Asma

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM A SAÚDE NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÓNICA

Efeito de um programa de exercícios direcionados à mobilidade torácica na DPOC [I]

EFETIVIDADE DE UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO PULMONAR SOBRE A CAPACIDADE FUNCIONAL E FUNÇÃO VENTILATÓRIA DE ASMÁTICOS DE MARINGÁ PR

ASMA. FACIMED Curso de Medicina. Disciplina Medicina de Família e Comunidade. Prof. Ms. Alex Miranda Rodrigues

Reabilitação Pulmonar Domiciliar

PALAVRAS-CHAVE: Capacidade Funcional; Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); Fisioterapia; Reabilitação Pulmonar (RP).

A ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA DE UM PACIENTE COM FIBROSE PULMONAR IDIOPÁTICA: ESTUDO DE CASO

Eficácia da terapêutica e reabilitação em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ATIVIDAE FÍSICA EM PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

RESUMO OBESIDADE E ASMA: CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DE UMA ASSOCIAÇÃO FREQUENTE. INTRODUÇÃO: A asma e a obesidade são doenças crônicas com

Estudo comparativo da qualidade de vida entre pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e pacientes asmáticos

EFEITOS DE UM PROGRAMA DE VIBRAÇÃO DE CORPO INTEIRO SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)

DPOC UMA REVISÃO DR VINÍCIUS RODRIGUES SOBRAMFA FEVEREIRO DE 2019

RESUMO. Palavras-chave: Oximetria de pulso. Frequência respiratória. Fisioterapia respiratória. Fisioterapia motora. Enfermaria.

RINITE ALÉRGICA E CONTROLE DA ASMA GRAVE: UM ESTUDO. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar o papel da rinite alérgica em

Avaliação do destreinamento de pacientes com DPOC após dois anos de um programa de reabilitação pulmonar

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

APLICABILIDADE DO TESTE DE CAMINHADA DE SEIS MINUTOS NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO RESPIRATÓRIO: revisão integrativa

Como ler Espirometrias

Programação. Sistema Respiratório e Exercício. Unidade Funcional. Sistema Respiratório: Fisiologia. Anatomia e Fisiologia do Sistema Respiratório

COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM INDIVÍDUOS PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEDENTÁRIOS ATRAVÉS DO QUESTIONÁRIO SF-36 RESUMO

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

RESUMO. Palavras-chave: Oximetria de Pulso. Frequência Respiratória. Fisioterapia Respiratória. Fisioterapia Motora. Enfermaria INTRODUÇÃO

COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM INDIVÍDUOS PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO E SEDENTÁRIOS ATRAVÉS DO QUESTIONÁRIO SF-36

PREVALÊNCIA DOS SINTOMAS DA ASMA EM ADOLESCENTES DE 13 E 14 ANOS

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) EM TRATAMENTO PARA REABILITAÇÃO PULMONAR

O IMPACTO DE CONDIÇÕES CRÔNICAS NA QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À SAÚDE (SF-36) DE IDOSOS EM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL ISA-SP.

ASMA BRÔNQUICA CONDUTA NA EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA

CORRELAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR PERIFÉRICA COM A FORÇA RESPIRATÓRIA NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

Capacidade Funcional e Bomba Muscular Venosa na Doença Venosa Crónica

EXERCÍCIOS FÍSICOS SUPERVISIONADOS EM INDIVÍDUOS PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC).

ANÁLISE DA FUNÇÃO PULMONAR E DA DEPENDÊNCIA NICOTÍNICA EM INDIVÍDUOS TABAGISTAS E SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

OS BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUO COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

Sessão Televoter Pneumologia Como eu trato a DPOC

ALTERAÇÕES DE EQUILÍBRIO EM PACIENTES PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

RESUMO. Palavras-chave: Força Muscular Respiratória. Threshold IMT. PI Máx. Pneumopatias Crônicas. ABSTRACT

FERNANDA RODRIGUES FONSECA

Teste de caminhada de seis minutos: estudo do efeito do aprendizado em portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica*

INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL E TOLERÂNCIA AO EXERCÍCIO FÍSICO EM PORTADORES DE DPOC

PALAVRAS-CHAVE DPOC. Reabilitação pulmonar. Força muscular respiratória.

Estr t a r té t gia i S IR I (P ( A P L A ) P og o r g ama m Respi p r i a Bahi h a

SAOS. Fisiopatologia da SAOS 23/04/2013. Investigação e tratamento de SAOS nos pacientes com pneumopatias crônicas

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E RESISTÊNCIA MUSCULAR E SUA RELAÇÃO COM O ÍNDICE TORNOZELO BRAÇO (ITB) EM PORTADORES DE DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA

FATORES AMBIENTAIS INALÁVEIS EM PORTADORES DE DPOC NUM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO PULMONAR

AVERIGUAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL NO REPOUSO E APÓS ATIVIDADE FÍSICA EM ACADÊMICOS DO CURSO DE FISIOTERAPIA

Qualidade de vida de pacientes idosos com artrite reumatóide: revisão de literatura

IDENTIFICAR AS PATOLOGIAS OSTEOMUSCULARES DE MAIORES PREVALÊNCIAS NO GRUPO DE ATIVIDADE FÍSICA DO NASF DE APUCARANA-PR

Síndrome Overlap: diagnóstico e tratamento. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)

O QUE É UMA EXACERBAÇÃO?

Prof. Claudia Witzel DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

Quais as mudanças na revisão do GOLD Fernando Lundgren GOLD HOF SBPT

VARIANTES DO TERMO ( apenas listar/ver + dados adiante) V1) asma brônquica integra este Glossário? ( ) SIM ( x ) NÃO V2)

TRATAMENTO AMBULATORIAL DA ASMA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Andréa da Silva Munhoz

ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E SAÚDE HUMANA LUCIMEIRE CARDOSO DUARTE

Prevalência da Asma em Portugal:

CASO CLÍNICO ASMA. Identificação: MSB, 46 anos, fem, do lar, Porto Alegre

IMPACTO DA RINITE SOBRE CONTROLE CLÍNICO E GRAVIDADE DA ASMA EM UM PROGRAMA DE REFERÊNCIA DO ESTADO DO MARANHÃO

Efeito do Treino de Endurance Intervalado na tolerância ao esforço medido pela Prova de Marcha de 6 minutos

Autores/Editores Adília da Silva Fernandes; Carlos Pires Magalhães; Maria Augusta Pereira da Mata; Maria Helena Pimentel; Maria Gorete Baptista

PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS NA FASE INICIAL E INTERMEDIÁRIA DA DOENÇA DE PARKINSON ATRAVÉS DO PDQ-39

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL RESPIRATÓRIA DOS PACIENTES COM DPOC ATRAVÉS DA ESCALA LONDON CHEST ACTIVITY OF DAILY LIVING (LCADL)

UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Fisioterapia

Função Pulmonar. Função Pulmonar OBJETIVOS. Fisiologia do Esforço Fisiopatologia Treinamento Físico AVALIAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA

NILTON MACIEL MANGUEIRA

USO DA ESCALAS MIF E SF-36 NO PROCESSO DE AUDITORIA,CONTROLE E AVALIAÇÃO DO SUS EM UM CENTRO DE REABILITAÇÃO FÍSICA DA CIDADE DE LONDRINA.

Avaliação Funcional na Asma Pediátrica. Dr. Diego Brandenburg Pneumologista Pediátrico Hospital de Clínicas de Porto Alegre

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE FISIOTERAPIA ANA CLAUDIA MEDEIROS DA SILVA

SPIRARE +METRUM = MEDIDA DA RESPIRAÇÃO

PERFIL DE PNEUMOPATAS INTERNADOS E ATENDIDOS POR SERVIÇO DE FISIOTERAPIA EM HOSPITAL DE ENSINO

APRESENTAÇÃO DE POSTERS DIA 16/10/2015 (10:15-10:30h)

12º RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS RESUMO DOS DADOS

IV Seminário do Grupo de Pesquisa Deficiências Físicas e Sensoriais Faculdade de Filosofia e Ciências 26 e 27 de fevereiro de 2018 ISSN

Um Projeto de Educação Clínica para Pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

Um Caso Comum de Nossa Prática!

Sessão Televoter Pneumologia Como eu trato a DPOC

A EFICÁCIA DOS TESTES CLÍNICOS DE CAMPO NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DOS PACIENTES COM DPOC: UMA REVISÃO DE LITERATURA

PROJETO DE EXTENSÃO DE REABILITAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA

DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica Resumo de diretriz NHG M26 (segunda revisão, julho 2007)

conhecer e prevenir ASMA

Sílvia Silvestre 08/11/2017. Asma : abordagem e como garantir a qualidade de vida a estes pacientes

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Transcrição:

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E ATRIBUTOS RELACIONADOS A CAPACIDADE FUNCIONAL EM PNEUMOPATAS CRÔNICOS. Everton Henrique Rocha Ferreira Karla Miguel Green Tathiane Ribeiro Rosa Márcia Maria Faganello Mitsuya Lins SP 2009 1

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E ATRIBUTOS RELACIONADOS À CAPACIDADE FUNCIONAL EM PNEUMOPATAS CRÔNICOS. Resumo A avaliação da qualidade de vida está sendo reconhecida como uma área importante no campo científico da saúde. Nas pneumopatias crônicas: DPOC e asma diversos fatores como a dispnéia e o descondicionamento físico podem interferir nas atividades de vida diária (AVDs) e na qualidade de vida do indivíduo. O presente estudo tem como objetivo avaliar a qualidade de vida e aspectos relacionados à capacidade funcional de pneumopatas crônicos. Para tanto foi utilizado o questionário Short Form 36 (SF-36), que avalia a qualidade de vida, o teste de caminhada de seis minutos (TC6) e a dinamometria de membros superiores (MMSS) para avaliar capacidade funcional. Através de análise dos resultados, podese constatar que a qualidade de vida dos portadores de DPOC é mais prejudicada em relação aos indivíduos saudáveis e que a capacidade funcional é um fator relevante na qualidade de vida de indivíduos asmáticos. Palavras-chave: Qualidade de vida. Capacidade funcional. Pneumopatias crônicas. 2

INTRODUÇÃO As pneumopatias crônicas correspondem a um grupo de patologias que acometem o sistema respiratório, sendo parcialmente reversíveis. As mais comuns são a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a asma (SCANLAN; STOLLER; WILKINS, 2000). A DPOC é uma doença de grande incidência mundial, caracterizada por obstrução do fluxo aéreo parcialmente reversível, acompanhada por hiperreatividade de vias aéreas e tem como principal fator desencadeante o tabagismo. (GOLD, 2006). Compreende-se por DPOC a bronquite crônica e o enfisema pulmonar, que coexistem com freqüência no mesmo paciente, com predomínio de uma delas (BETHLEM, 2002). A Asma é caracterizada principalmente por hiper-responsividade de vias aéreas, desencadeada por uma variedade de estímulos (DWEIK; STOLLER apud SCALAN; STOLLER; WILKINS, 2000). São indicativos de asma um ou mais destes sintomas: dispnéia, tosse crônica, sibilância, aperto no peito ou desconforto torácico. As crises costumam ocorrer à noite, em que a perturbação do sono é a queixa mais freqüente (TARANTINO, 2002). O presente estudo tem por objetivo avaliar a qualidade de vida e aspectos relacionados à capacidade funcional em pneumopatas crônicos. Na DPOC o indivíduo diminui sua atividade física em decorrência da piora progressiva da dispnéia. O progressivo descondicionamento físico associado à inatividade dá inicio a um ciclo vicioso, em que piora progressiva da dispnéia se associa a esforços físicos cada vez menores. (RODRIGUES, 2003, p. 55) Na asma, as repercussões negativas na qualidade de vida estão relacionadas aos sintomas da doença, os efeitos colaterais das medicações ou por limitações no trabalho ou na prática de exercícios (SCALAN; STOLLER; WILKINS, 2000). A qualidade de vida está sendo reconhecida como uma área importante no campo científico da saúde. Os questionários de qualidade de vida refletem o impacto da doença sobre a vida do paciente (RODRIGUES, 2003). 3

O Short Form 36 (SF-36) é um questionário genérico que avalia a qualidade de vida, é utilizado frequentemente na prática clínica. Sua abrangência permite a detecção de co-morbidades comuns em pneumopatas (RODRIGUES, 2003). O teste de caminhada de seis minutos (TC6) analisa respostas gerais sobre os sistemas envolvidos no exercício, especialmente o sistema cardiovascular e o neuromuscular (RODRIGUES, 2003). A dinamometria é utilizada para analisar a força muscular de membros superiores, especialmente em pneumopatas crônicos que usualmente apresentam redução na força muscular periférica (BERNARD et al., 1998). A questão que direcionará todo o trabalho é: até que ponto a qualidade de vida e a capacidade funcional podem ser afetados pela doença respiratória crônica? O SF-36 é um questionário frequentemente utilizado na prática clínica para avaliar a qualidade de vida de pacientes pneumopatas crônicos. Estudos relatam que o SF-36 é o mais sensível à melhora clínica e tem validade, aceitabilidade e confiabilidades comprovadas. O TC6 e a dinamometria são instrumentos bastante úteis na avaliação da capacidade funcional. Nas pneumopatias crônicas, diversos fatores como a dispnéia, o descondicionamento físico (RODRIGUES, 2003), alterações no estado nutricional e os efeitos adversos dos medicamentos utilizados na terapêutica da doença (SCALAN; STOLLER; WILKINS, 2000) podem influenciar na qualidade de vida e na capacidade funcional do indivíduo. DESENVOLVIMENTO CASUÍSTICA E MÉTODOS Participaram do estudo 27 indivíduos de ambos os gêneros, portadores de pneumopatia crônica. Dentre estes 16 são portadores de DPOC e 11 portadores de asma. Para grupo controle, foram incluídos 15 indivíduos da mesma faixa etária sem doenças respiratória crônica e nem cardiopatias graves. O presente estudo foi realizado na quadra poliesportiva do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins (Unisalesiano), no período 4

matutino, das 8:00 às 9:00 durante o Programa de Reabilitação Pulmonar, onde foi avaliado a qualidade de vida e aspectos relacionados a capacidade funcional. Foram utilizados 2 cones para demarcar um trajeto de 30 metros para realização do TC6, dinamômetro da marca Jamar Bolenglrook IL 60440 para mensuração de força muscular periférica, oxímetro digital portátil (Onyx) para a monitoração da saturação periférica de oxigênio (SpO2), esfigmomanômetro da marca Bic tamanho adulto (23-28 cm), estetoscópio (Bic) e cronômetro digital (Spalding). Foi utilizado o questionário genérico Short Form 36 (SF-36) para avaliação da qualidade de vida. A capacidade funcional foi mensurada através de TC6 e a dinamometria. Os participantes do estudo foram convidados a responder o questionário SF- 36, realizar o TC6 e a dinamometria. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados obtidos estão expressos em tabelas e gráficos. A análise comparativa dos três grupos foi realizada pela ANOVA, complementadas pelo teste de Tukey, para variáveis com distribuição normal e Dunn's para variáveis com distribuição não normal. Foi utilizado também o teste t Student e o coeficiente de correlação de Pearson. Em ambas as análises foi considerado como significativo p < 0,05. RESULTADOS Foram estudados 27 indivíduos de ambos os gêneros, portadores de pneumopatia crônica. Dentre estes 16 são portadores de DPOC e 11 portadores de asma. A média de idade dos grupos e os valores evidenciados pelo TC6 e dinamometria podem ser observados na Tabela 1. 5

Tabela 1. Características gerais do grupo DPOC e asma. Características Grupo DPOC n = 16 Grupo asma n = 11 Gênero, M / F 13/3* 3/8 Idade, anos 70,9 ± 11,1 65,5 ± 9,5 VEF 1, % 53,5 ± 21,8* 79,4 ± 26,6 CVF, % 83,4 ± 19,7 91,0 ± 26,6 VEF 1 /CVF, % 48,5 ± 11,6* 71,3 ± 15,7 TC6, m 437,1 ± 76,9 459,6 ± 112,8 Dinamometria, KF 31,5 ± 8,6 27,8 ± 12,3 p p < 0,05 0,20 p < 0,05 0,47 p < 0,05 0,56 0,37 Fonte: Elaborado pelos autores (2007). Observou-se a prevalência do gênero feminino no grupo de pacientes asmáticos em relação aos pacientes com DPOC, com valores estatisticamente significativos (p<0,05), quando comparado os dois grupos. Os valores do VEF 1 e da relação VEF 1 /CVF dos indivíduos portadores de DPOC foram significativamente menores quando comparados aos indivíduos asmáticos. Não houve diferenças significativas entre os valores da capacidade vital forçada (CVF) dos indivíduos com DPOC e os indivíduos asmáticos. Em relação ao questionário de qualidade de vida (QQV) SF-36, foi observado que o QQV SF-36 nos domínios capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade foi menor nos indivíduos com DPOC quando comparado aos indivíduos do grupo controle, com valores estatisticamente significativos. Entretanto, os domínios aspectos físicos, dor, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos DPOC e controle. Não foram constatadas diferenças significativas quando se comparou os valores do QQV SF-36 dos pacientes asmáticos com os pacientes com DPOC e o grupo controle. Houve correlação positiva significativa entre TC6 com o domínio capacidade funcional do grupo asma (r= 0,89; p= 0,006). Isto comprova que quanto maior for à distância percorrida, melhor será sua qualidade de vida no domínio capacidade funcional. 6

O TC6 apresentou correlação positiva significativa com o domínio aspectos físicos do grupo asma (r=0,76; p= 0,01). Constatou-se que quanto maior for a distancia percorrida, melhor será sua qualidade de vida nos aspectos físicos. A dinamometria apresentou correlação positiva significativa com o domínio capacidade funcional do grupo asma (r=0,62; p= 0,04). Portanto, comprovou-se que quanto maior for à força muscular de membros superiores, melhor será sua qualidade de vida, referente à sua capacidade funcional. Estas variáveis citadas acima não apresentaram correlações significativas no grupo DPOC. Portanto, não foi analisado. DISCUSSÃO De acordo com Stål et al. (2005) a qualidade de vida em indivíduos portadores de DPOC diminui como conseqüência da gravidade da doença podendo ser evidenciada na espirometria pela redução do percentual do VEF1. O indivíduo portador de doença respiratória crônica diminui sua atividade física global em decorrência da piora progressiva da função pulmonar traduzida pela dispnéia e sensação de cansaço ao realizar qualquer esforço físico. O progressivo descondicionamento físico associado com a inatividade gera um ciclo vicioso, com piora progressiva da dispnéia levando o individuo a inatividade crônica, tornando desagradável qualquer nível de atividade (RODRIGUES, 2003). Em nosso estudo, os indivíduos portadores de DPOC apresentaram valores do VEF 1 e da relação VEF 1 /CVF significativamente menores em relação aos indivíduos asmáticos. Portanto pode-se constatar que indivíduos portadores de DPOC apresentaram maior obstrução do fluxo aéreo comparando com indivíduos asmáticos. Apesar de ser semelhante o mecanismo da obstrução do fluxo aéreo na DPOC e na asma, é distinto as características patológicas e funcionais das doenças. Essas diferenças podem explicar o melhor prognóstico em pacientes asmáticos em comparação com os portadores de DPOC (FABBRI et al., 2003). Indivíduos portadores de DPOC podem apresentar uma ou mais comorbidades, sendo um fator relevante na qualidade de vida desses indivíduos podendo se destacar a disfunção músculo-esqueléticas (KAWAKAMI et al., 2005). 7

Osman et al. (2000) realizaram um estudo associando a qualidade de vida com sintomas respiratórios freqüentes em 396 indivíduos asmáticos. Foi utilizado os questionários SF-36, Short Form-12 (SF-12) e o Saint George s Respiratory Questionnaires (SGRQ). Apesar dos escores do SF-36 e SF-12 estarem perto dos valores normais, a presença de sintomas respiratórios no mês anterior, apresentou decréscimo da qualidade de vida nos domínios capacidade funcional, vitalidade, saúde mental e percepção de saúde durante o mês anterior. Em nossa pesquisa, houve correlação positiva significativa (r= 0,89; p= 0,006) entre TC6 e o domínio capacidade funcional do SF-36 do grupo asma. Matheson et al. (2002) realizaram um estudo epidemiológico com 426 adultos asmáticos participantes do European Community Respiratory Health Survey (ECRHS) em Melbourne, onde foi aplicado o SF-36 e os participantes foram submetidos às provas de função pulmonar. Os pacientes com sintomas de dispnéia apresentaram qualidade de vida mais prejudicada nos domínios relacionados ao componente físico e mental que os indivíduos assintomáticos. Neste estudo, obteve-se correlção positiva significativa (r= 0,62; p = 0,04) entre dinamometria e o domínio capacidade funcional do SF-36 no grupo asma. Entretanto, torna-se importante à realização de estudos epidemiológicos mais direcionados, investigando os aspectos sociais, psicológicos e os custos investidos no tratamento da doença a fim de definir com clareza os sujeitos envolvidos e a freqüência dos sintomas (MATHESON et al., 2002). Nessa pesquisa, os resultados obtidos dos valores da dinamometria nos grupos, tanto dos indivíduos do gênero masculino quanto do feminino, foram abaixo da média comparados aos valores normais para dinamometria proposto por WOOD (2005). Juniper et al. (2001) compararam os modelos e as escalas de freqüência de sintomas específicos da doença com o instrumento específico Asthma Quality of Life Questionnaire (AQLQ) e o SF-36 em 40 pacientes. Conclui que o AQLQ e as escalas de freqüência são os mais indicados para avaliar a qualidade de vida em indivíduos asmáticos e que o SF-36 não detecta determinados aspectos específicos relacionados à qualidade de vida destes indivíduos. O presente estudo apresentou algumas limitações que devem se consideradas. Apesar desta pesquisa não ter encontrado evidências estatisticamente significativas em relação entre SF-36 do grupo asma comparados 8

ao grupo controle, pode-se constatar que no grupo asma e os valores médios dos domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos emocionais foram ligeiramente maiores no grupo controle. CONCLUSÃO Através da análise dos resultados obtidos neste presente estudo, pode-se concluir que a qualidade de vida nos indivíduos portadores de DPOC é mais prejudicada em relação aos indivíduos saudáveis. Através das correlações, constatou-se também que a capacidade funcional é um fator relevante que pode interferir na qualidade de vida de pacientes asmáticos participantes do programa de reabilitação pulmonar. A atuação da fisioterapia em programas de reabilitação pulmonar deve ter como objetivos principais a melhora da capacidade física, do estado funcional e, por conseguinte, da qualidade de vida de pneumopatas crônicos. Este assunto não se encerra aqui. Torna-se necessário a realização de estudos com uma amostra mais homogênea e numerosa, podendo-se utilizar instrumentos específicos para mensurar a qualidade de vida desses indivíduos. 9

EVALUATION OF HEALTH-RELATED QUALITY OF LIFE AND RELATED ATRIBUTES THE FUNCTIONAL CAPACITY IN PATIENTS WITH CHRONIC LUNG DISEASE ABSTRACT The evaluation of the health-related quality of life is being recognized as an important area in the scientific field of the health. In the chronic lung diseases as COPD and asthma, diverse factors as the dyspnea and the physical inactivity can intervene with the activities of daily life and with the quality of life of the individual. The present study has as objective to evaluate the quality of life and aspects related to the functional capacity of patients with chronic lung diseases. For in such a way, the questionnaire was used Short Form 36 (SF-36), that it evaluates the quality of life, the six minute walk test (6MWT) and the superior member s dynamometer (MMSS) to evaluate the functional capacity.through the analysis of the results, can be constate that the quality of life of bearers of COPD is most damaged in relation the health individuals and that the functional capacity is an relevant factor in the quality of life of asthmatic individuals. Keywords: Quality of life. Functional capacity. Chronic lund diseases. 10

REFERÊNCIAS BERNARD, S. et al. Peripheral muscle weakness in patints with chronic obstructive pulmonary disease. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine. V. 158, p.629-634, 1998. BETHLEM, N. Pneumologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2002. FABBRI, L. M. et al. Differences in airway inflammation in patient with fixed airflow obstruction due to asthma or chronic obstructive pulmonary disease. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine. V. 167, p. 418-424, 2003. GOLD Global Initiative for Cronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstrutive Pulmonary Disease. NHLBI / WHO workshop report. Bathesda. National Heart Lung and Blood Institute, 2006. JUNIPER, E. F. et al. Comparison of the standard gamble, rating scale, AQLQ and SF-36 for measuring quality of life en asthma. European Respiratory Journal. V. 18, p. 38-44. 2001. KAWAKAMI, L. et al. Avaliação dos fatores de comorbidade e sua relação com a qualidade de vida em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. Revista Brasileira de Fisioterapia. São Carlos, v. 9,n. 2, p. 145-150. mai / ago. 2005. MATHESON, M. et al. Wheeze not current asthma affects quality of life in young adults with asthma. Thorax. V. 57, p. 165-167, 2002. OSMAN, L. M. et al. Symptoms, quality of life, and health service contact among young adults with mild asthma. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine. V. 161, p. 498-503, 2000. RODRIGUES, S.L. Reabilitação pulmonar: Conceitos básicos. São Paulo: Manole, 2003. SCANLAN, C. L.; STOLLER, J. K.; WILKINS, R. L. Fundamentos de terapia respiratória de Egan. São Paulo: Manole, 2000. 11

STÅHL, E. et al. Health-related quality of life is related to COPD disease severity. Health and Quality of Life Outcomes. 3:56, 2005. Dísponivel em <http://www.hglo.com/content/3/1/56> Acesso em: abr. 2007. TARANTINO, A. B. Doenças pulmonares. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. WOOD, R. J. Poder da força: Testes do sistema anaeróbio de energia, 29 de ago. 2005. Disponível em < http://www.topendsports.com/tests/handgrip.htm>. Acesso em 19 de ago.2007. Autores: 12

Everton Henrique Rocha Ferreira. Graduado em Fisioterapia everton_henrique86@yahoo.com.br (14) 9728-9519. Karla Miguel Green- Graduanda em Fisioterapia karlinhanh@hotmail.com (17) 3542-2970 Tathiane Ribeiro Rosa Graduanda em Fisioterapia tathi_rosa@hotmail.com (18) 3361-3242. Orientadora: Márcia Maria Faganello Mitsuya Doutora em Fisiopatologia em Clínica Médica da Universidade Estadual Paulista (UNESP) em Botucatu. marciafaganello@terra.com.br (14) 8118-2223. 13