058 - Hortas escolares e práticas em educação ambiental como mediadores da construção do conhecimento agroecológico

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Transcrição:

058 - Hortas escolares e práticas em educação ambiental como mediadores da construção do conhecimento agroecológico School vegetable gardens and practices in environmental education as knowledge agroeconomic ecology construction mediators FERNANDES, Diogo Linhares. UFRRJ, dlinhares.fernandes@gmail.com; PINTO, Diogo de Souza. PPGEduc/UFRRJ, diogomococa@yahoo.com.br; OLIVEIRA, Lia Maria Teixeira de. DTPE-IE/UFRRJ, liamar@ufrrj.br. Resumo Este artigo é um ensaio sobre o desenvolvimento de oficinas em escolas do ensino fundamental com temas da Educação ambiental, mediado pelas práticas e concepções do saberes da Agroecologia. Não somente a perspectiva dos recursos naturais ou as práticas agrícolas orgânicas são temas da agroecologia, quando se têm como princípio a transição de uma agricultura com bases sustentáveis visando a formação por meio de valores humanos e sociais. Estes saberes, mediados pelas práticas da Educação Ambiental nas escolas podem articular além de uma abordagem técnica uma reflexão sobre a formação dos sujeitos capazes de gerir um sistema agrícola. Palavras-chave: Agroecologia, valores humanos e sociais, soberania alimentar. Abstract This article is an essay on the development of workshops in elementary schools with themes of environmental education, mediated by the practices and conceptions of knowledge of Agroecology. Not only the perspective of natural resources or the organic farming practices are subjects of agroecology, when you have as a principle the transition of agriculture with sustainable basis for the training through human and social values. This knowledge mediated by the practices of environmental education in schools can articulate beyond a technical approach to reflect on the training of individuals capable of managing an agricultural system. Keywords: Agroecology, human and social values, food sovereignty. Introdução A questão ambiental nas escolas tem sido mediada por diferentes práticas que buscam consolidar por meio dos parâmetros da Educação Ambiental crítica (EA). É crescente nos últimos anos projetos de extensão de Instituições de Ensino Superior com implantação de hortas escolares, em outras instituições escolares e espaços educativos de movimentos sociais. Estas ações buscam consolidar projetos educativos de caráter dinâmico, complexo e transdisciplinar, onde interagem saberes ambientais e práticas agrícolas, tanto populares como científicas. As hortas em ambiente escolar apresentam um papel pedagógico e interdisciplinar, possibilitando a integração de diferentes áreas do conhecimento, abrindo um campo de possibilidades nos locais, tal como um laboratório vivo unindo teoria e prática de forma contextualizada (MORGADO, 2008). Esta alternativa de ação é ainda mais frequente nas escolas rurais ou em espaços onde o urbano Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 7, No. 2, Dez 2012 1

interage com o rural em aspectos tanto naturais quanto culturais, como por exemplo, as atividades de horta escolar focando na questão da cultura alimentar. Neste sentido não somente a consolidação da EA nas escolas, mas também as práticas agroecológicas são importantes em sendo articuladas na formação dos estudantes, pois muitos destes, mesmo no centro urbano, são oriundos de famílias agricultoras. Não somente a perspectiva dos recursos naturais, ou as práticas agrícolas orgânicas são temas da agroecologia, quando se têm como princípio a transição de uma agricultura com bases sustentáveis. A Agroecologia tem como um de seus princípios a questão da ética, tanto no sentido estrito, de uma nova relação com o outro humano e no sentido mais amplo da intervenção humana no meio natural (CAPORAL, 2006). Sendo assim os temas que envolvem a formação cidadã e os princípios de ética e valores dos alunos são também temas da EA que podem ser mediados pelas práticas da agroecologia. Acredita-se que na construção do conhecimento agroecológico mediado pelas práticas em EA, a interação entre as vertentes apresentadas acima é de fundamental importância. Pretende-se com este trabalho apresentar uma proposta que vem dialogando com os saberes da técnica, da cultura, e os valores humanos e sociais. Metodologia O projeto tem se desenvolvido por meio de oficinas em escolas do ensino fundamental abordando os diversos temas da Educação Ambiental crítica, mediado pelas práticas e concepções do saberes da Agroecologia e da discussão mais recente sobre soberania alimentar. De um lado dialogamos com projetos de implantação de hortas escolares nas Escolas Municipais Abeilard Goulard e Paulo Freire, ambas localizadas em Seropédica RJ. De outro, são trazidas as contribuições do projeto EcoArt Agroecologia através das Artes, realizado na Escola de Agroecologia do Vale do Tinguá em Nova Iguaçu RJ. Pretende-se com esse trabalho discutir as questões que permeiam a formação dos sujeitos desse processo, bem como as contribuições que o diálogo entre essas experiências podem trazer para a construção do conhecimento agroecológico. Resultados e Discussão As hortas e práticas agroecológicas nas escolas As experiências com a implantação de hortas escolares para atender a perspectiva da Educação Ambiental nas escolas tem sido frequente nos projetos de extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Como exemplo, o Projeto Espaço com Cheiro de Verde que construiu uma horta escolar no CAIC de Seropédica, vinculado à UFRRJ (PEREIRA et al., 2010). Hoje este espaço é de grande importância para os projetos de EA do GEPEADS (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade) e também para a escola, que faz uso da horta não somente como um espaço produtivo, utilizando os alimentos na merenda da escola, mas principalmente como um espaço lúdico e pedagógico. Outra experiência neste sentido é o projeto PIBID/LICA da UFRRJ, que em 2010 através de 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

oficinas de EA na temática homem-natureza e integrando a agroecologia paralelamente implantou hortas em duas escolas, Escola Municipal Panaro Figueira e o Colégio Estadual Alice de Souza Bruno em Seropédica (PIBID, 2011, p. 25). Estas iniciativas estimularam outras escolas do município, assim foi o caso da implantação da horta na E.M. Abeilard Goulard, realizada por iniciativa da instituição que buscou apoio no Colégio Técnico da Universidade Rural (CTUR). No ano de 2011 foi realizada uma série de oficinas com os parâmetros da EA consolidados no projeto de implantação da horta na escola, esta iniciativa gerou uma troca mútua, num espaço de interação entre os saberes tradicionais e técnicos. A construção da horta possibilitou uma aproximação dos familiares desses alunos que são agricultores e na ocasião se mostraram solidários e envolvidos nesse processo que gerou uma troca de saberes e práticas pela construção do conhecimento agroecológico. Neste ano como parte do Projeto de Extensão (PROEXT) A construção do conhecimento agroecológico e fortalecimento da agricultura familiar no Médio Paraíba e na Baixada Fluminense/RJ: intervenção participativa entre grupos sociais do campo e universidade houve a proposta de implantação de um horta na E.M. Paulo Freire, localizada em área de assentamento rural no município de Seropédica. Sabemos da importância de se trabalhar as questões ambientais nesta escola, além disto, pretendemos com esse projeto aprofundar a questão socioambiental por meio de valores culturais, visto que a escola faz parte de um processo de ocupação e muitos desses estudantes por serem filhos de agricultores familiares camponeses carregam suas territorialidades rurais. Com essa experiência podemos trazer as discussões que envolvem os temas da formação humana e social desses alunos, abordando a agroecologia não somente no seu processo produtivo, mas também nas relações interpessoais que envolvem as redes de subjetividades que une as ações e os saberes dos sujeitos. A formação de valores humanos na agroecologia A reflexão sobre os hábitos, atitudes e valores mediados pelas relações interpessoais são indispensáveis na formação dos atores do processo de transição agroecológica. Inspirado no sujeito ecológico de Carvalho (2005) essa abordagem traz uma idealização do sujeito agroecológico e sua possível materialidade. Tal reflexão trata-se de uma reforma de pensamento compreendendo as inter-relações que respeitem e assimilem a unidade e a diversidade, baseadas em princípios éticos e no reconhecimento das diferenças (MORIN, 2003). Com essa perspectiva foi realizado também por intermédio do PROEXT, em 2011, o Projeto EcoArte Agroecologia através das artes na Escola Municipal de Agroecologia do Vale do Tinguá. Este Projeto tinha como objetivo refletir e depois construir um espaço onde os estudantes pudessem além de trabalhar suas expressões artísticas e culturais, desenvolver uma consciência crítica sobre a coletividade, as relações ecológicas, modelo de sociedade e modo de vida do ser humano. Baseado nos princípios da agroecologia o projeto trabalhou também com temas sobre o desenvolvimento da identidade da criança e do jovem, visando a afirmação de valores desse grupo social neste sentido pertinentes ao sujeito agroecológico que interage com os outros sujeitos e o ambiente natural. O diálogo entre as experiências: ensaio sobre o ensino agroecológico Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 7, No. 2, Dez 2012 3

Na escola do Vale do Tinguá uma ONG era responsável pelo espaço da horta escolar, muitas das oficinas do projeto EcoArt eram vinculadas as práticas da horta, colocando em discussão sobre as questões que envolviam a implementação desse espaço de pedagógico e de produção, ressaltando as questões que permeavam as relações humanas e culturais. Trazendo uma reflexão das práticas agroecológicas com a contextualização das vivências desses sujeitos. Foram abordados os temas sobre identidade, relações de gênero e trabalho, agricultura familiar, recursos naturais e relação homem-natureza, sempre partindo da perspectiva da horta escolar. Nos espaços de interação das experiências pudemos observar que as atividades de um projeto estavam contribuindo com o outro, de um lado a formação técnica com as práticas agroecológicas e de outro demonstrando que por meio da agroecologia há uma perspectiva social. Podemos fazer uma análise relacionada às atividades da escola Abeilard Goulard, onde a ausência desse espaço de formação restringiu o ambiente da horta escolar nos processos da prática agrícola, não podemos negar que a formação interpessoal também aconteceu priorizando os valores e as perspectivas da comunidade escolar. Porém uma reflexão mais profunda aconteceu na medida em que o trabalho se configurou pedagogicamente mobilizando os sujeitos, para questionarem seus hábitos, atitudes e práticas sociais, como sugere Jacobi (2006), trazendo as reflexões sobre o ambiente escolar, localidade territorial e relações humanas, sociais, culturais e ecológicas. No momento em que se discute a absorção dos conceitos e práticas agroecológicas no ambiente escolar, não podemos desprezar que este processo requer uma sensibilização do ser humano na sua compreensão mais profunda e subjetiva do caráter ecológico. Acreditamos que isto só é possível se esses sujeitos forem formados atentos a essa questão ambiental que vai desde a pessoalidade do indivíduo até o seu compromisso ético e coletivo com o planeta. Considerações finais Baseou-se nesses princípios para entender que, ao dialogar com essas duas experiências sobre a construção do conhecimento agroecológico, torna-se essencial a interação entre a formação técnica e cultural com a formação humanística, centrada na dimensão holística entre os processos da agricultura e suas relações socioculturais e ecológica. Estes saberes mediados pelas práticas da Educação Ambiental nas escolas devem articular além de uma abordagem técnica uma reflexão na formação dos sujeitos capazes de gerir um sistema agrícola de base sustentável nas suas dimensões natural, econômica e social. Referências CAPORAL, F. R. et al. Agroecologia, matriz disciplinar ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. 2006. 26 p. Disponível em: <agroecologia.pbworks.com>. Acesso em: 13 jun. 2012. CARVALHO, I. C. M. A invenção do sujeito ecológico: identidade e subjetividade na formação dos educadores ambientais. In: SATO, M.; CARVALHO, I. C. M. (Orgs.). Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 51-63. JACOBI, P. R. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 233-250, 2005. MORGADO, F. S; SANTOS, M. A. A. S. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. Revista Eletrônica de Extensão, n. 6, UFSC, 2008. MORIN, E. Educar na era planetária: O pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2003, 111 p. PEREIRA, M. G. R. et al. Influência da Prática da Educação Ambiental na Formação do Sujeito Ecológico. Revista de Educação Agrícola Superior ABEAS v. 5, n. 2, p. 62-64, 2010. PIBID, Revista. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. UFRRJ, n. 1, EDUR, Abril de 2011. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 7, No. 2, Dez 2012 5