ASSOREAMENTO DA REPRESA DO SILVESTRE, ANAPOLIS (GO) Patrícia Martins de Oliveira 1 ; Homero Lacerda 2 1 Voluntaria de Iniciação Cientifica (PVIC/UEG) Licenciatura em Geografia - UNUCSEH 2 Orientador, Professor do Curso de Licenciatura em Geografia - UNUCSEH RESUMO O trabalho trata do assoreamento da Represa do Silvestre, localizada na zona urbana de Anápolis (GO). O assoreamento do reservatório foi abordado por intermédio de análise multitemporal, utilizando imagens do período 1989-2005. A determinação das fontes dos sedimentos, ainda em andamento, está sendo feita a partir do mapeamento do uso do solo. Os resultados mostram que a represa foi totalmente assoreada no período considerado, trazendo perdas significativas para o ambiente urbano. As fontes dos sedimentos estão relacionadas ao uso do solo destacando-se presença de erosões lineares em ravinas e voçorocas, erosão linear e laminar em áreas agrícolas, áreas de mineração e bairros sem pavimentação. Palavras-chaves: Assoreamento; erosão acelerada; impactos ambientais. INTRODUÇÃO O objetivo do estudo é analisar o assoreamento da Represa do Silvestre, localizada na parte leste da zona urbana de Anápolis (Figura 1). O assoreamento no sítio urbano de Anápolis já foi abordado por Lacerda (2006), com ênfase na morfogênese antrópica. No estudo ora apresentado o assoreamento é abordado sob a ótica da degradação ambiental e, portanto, sob um enfoque diferente do trabalho de Lacerda (2006). Assoreamento é a deposição de sedimentos detríticos em cursos d água e reservatórios (Augusto Filho, 1999). Segundo este autor o processo pode ocorrer naturalmente e em equilíbrio com a erosão normal ou geológica e pode acontecer também em velocidades maiores, como conseqüência da erosão acelerada ou antrópica. O assoreamento, quando resultante da erosão acelerada, provoca uma importante degradação ambiental, conforme assinalado por Oliveira (1995), Infanti Júnior & Fornasari Filho (1998) Augusto Filho (1999), e Almeida Filho & Ridente Júnior (2001). Este processo provoca a redução no armazenamento de água nos reservatórios podendo, nos casos extremos, chegar à colmatação completa de pequenos lagos e açudes. O assoreamento provoca a deterioração da qualidade da água pelo aumento de sua turbidez e veiculação de cargas 1
poluidoras como pesticidas, herbicidas, fertilizantes, bactérias e vírus. Estes aspectos resultam em prejuízos ao lazer, e alteração e morte da vida aquática. Outro aspecto importante relacionado ao assoreamento é a redução da seção dos canais, com produção de inundações. Figura 1: Localização da Represa do Silvestre. Ao tratar do assoreamento é importante procurar as fontes dos sedimentos, ou seja, as áreas com erosão acelerada. Essas áreas se estabelecem juntamente com o processo de ocupação do território, que pode ser analisada por meio da cartografia do uso do solo (Almeida & Freitas, 1996). Estes autores enumeram as varias classes de uso do solo e os processos do meio físico associados, destacando-se como áreas de erosão acelerada: mineração; áreas urbanas parceladas sem pavimentação; e áreas agrícolas. MATERIAL E MÉTODOS As bases cartográficas utilizadas foram: carta topográfica com eqüidistância de 20 metros e escala 1/50.000 (ME/SGE, 1974); fotos aéreas de 1989; e imagens orbitais de alta resolução de 2001 e 2005. O assoreamento da represa foi abordado por intermédio de análise multitemporal, utilizando imagens e foto aérea do período 1989-2005. A definição das fontes dos sedimentos está em execução, a partir da interpretação de imagens orbitais de alta resolução. 2
RESULTADOS E DISCUSSÃO A apresentação dos resultados inicia com algumas considerações sobre o significado das represas no meio ambiente urbano, prossegue com a análise do assoreamento da Represa do Silvestre e termina com uma abordagem, ainda preliminar, das fontes de sedimentos. Represas no Ambiente Urbano As represas estão relacionadas a vários aspectos das áreas urbanas, destacando-se a recreação/lazer, esportes e controle de inundações. Com efeito, é comum a construção de parques no entorno das represas urbanas, que funcionam como atrativo para a população local, quando são instalados parques para recreação infantil, calçadas para caminhadas, espaços para práticas de exercícios físicos, quadras poli-esportivas, bancos e jardins. As pessoas apreciam a beleza do local, encontrando um lugar para descanso e relaxamento, que contrasta com o restante do meio urbano onde a poluição sonora e visual é intensa. Represas em sítios urbanos também podem servir à prática de esportes aquáticos como natação e remo, além de atividades recreativas como passeios de barco e pescarias. Os reservatórios urbanos também favorecem a manutenção de espécies da fauna silvestre incluindo aves, peixes, répteis e mamíferos. Outro aspecto relativo às represas urbanas é sua utilização no controle de inundações, conforme descrito por Tucci & Collischonn (1999). Estes autores admitem a existência de reservatórios de retenção, onde a lâmina d água é sempre mantida, e reservatórios de detenção, que permanecem secos e são preenchidos apenas por ocasião das chuvas. Todos os benefícios enumerados acima podem ser perdidos se houver o assoreamento da represa, como é o caso da área deste estudo, conforme os resultados apresentados a seguir. Análise Multitemporal do Assoreamento da Represa do Silvestre A represa abordada aqui é denominada Represa do Silvestre com base na carta topográfica do Serviço Geográfico do Exército (ME/SGE, 1974). A análise multitemporal do assoreamento do reservatório foi feita por intermédio da interpretação das imagens e fotos aéreas do período 1989-2005 (Figura 2). Em 1989 a represa do Silvestre não tinha sofrido assoreamento e mantinha completo seu espelho d água (Figura 2). A área do entorno era composta principalmente pela categoria não parcelada (campo antrópico) com uma pequena área parcelada na parte norte. Nesta época 3
existia uma erosão de grande porte próximo a represa, embora se acredite que o material erodido não tenha sedimentado no reservatório, pois a incisão está à jusante. Em 2001 grande parte da represa estava assoreada e existiam duas lagoas separadas por uma faixa de sedimentos sem cobertura vegetal, indicando que o assoreamento era recente. A montante do reservatório observa-se a presença de canais múltipos no córrego São Silvestre, característicos das áreas de assoreamento conforme Lacerda (2006). No entorno da represa houve um aumento da área urbana parcelada, nas partes nordeste e sudoeste da área analisada (Figura 2) e a erosão já estava estabilizada. Figura 2: Análise multitemporal do assoreamento da Represa do Silvestre: À esquerda, situação em 1989, no centro o assoreamento em 2001 e à direita o resultado final do processo, em 2005. Elaborado por Patrícia Martins de Oliveira a partir de interpretação de imagem Ikonos II de 2001. Na imagem de 2005 a represa aparece totalmente assoreada (Figura 2) e, desta forma, houve perda de funções reais e potencias do reservatório incluindo possibilidade de servir como área de lazer e habitat para fauna silvestre. As fontes dos sedimentos que resultaram no assoreamento devem ser procuradas a montante, na bacia hidrográfica do Córrego São Silvestre e estão relacionadas ao uso da terra, aspecto abordado no tópico seguinte. Uso da terra e erosão acelerada na bacia do Córrego São Silvestre A avaliação das fontes de sedimentos para o assoreamento está em execução e iniciou com a cartografia do uso da terra feita por intermédio da interpretação de imagem Ikonos II de 2001. A partir do mapa de uso da terra foi elaborado o mapa das áreas de erosão acelerada apresentado na Figura 3. 4
De início, ressalta a existência de incisões erosivas de médio a grande porte nas cabeceiras do Córrego Silvestre, incluindo incisões conectadas à rede de drenagem. Segundo Oliveira (1995), ravinas e voçorocas estão entre as maiores fontes de materiais para o assoreamento, principalmente quando conectadas as drenagens, como acontece no caso estudado. Outras áreas com erosão intensa compreendem: locais de mineração (caixas de empréstimo); áreas parceladas não pavimentadas e com diferentes densidades de ocupação; e solos expostos em áreas de agricultura. Elas se caracterizam pelo solo exposto, resultando na erosão laminar e erosão linear em sulcos e ravinas. Ressalta-se também que nas áreas urbanas existe o lançamento de lixo nas ruas e fundos de vales, contribuindo para o assoreamento. Figura 3: Mapa das áreas de erosão acelerada na bacia do Córrego São Silvestre. Fonte: Elaborado por Patrícia Martins de Oliveira a partir de interpretação de imagem Ikonos II de 2001. As áreas com erosão moderada compreendem condomínios de chácaras e áreas agrícolas, onde a exposição do solo é temporária e ocorre em áreas restritas, e o arruamento é pouco denso, embora não pavimentado. Nas áreas com erosão em pequena escala foram englobadas as áreas urbanas pavimentadas e os campos antrópicos. O mapa da Figura 3 representa uma primeira abordagem das fontes dos sedimentos e pode ser refinado, pois nem todo o material erodido chega à drenagem (Oliveira, 1995). 5
Segundo este autor, a quantidade de sedimentos que efetivamente participa do assoreamento depende da proximidade da área-fonte com o curso ou corpo d água, a textura dos solos, densidade de drenagem e declividades das encostas. CONCLUSÕES A ocupação na bacia do Córrego do Silvestre aconteceu sem implantação de medidas preventivas quanto à erosão acelerada, resultando no assoreamento da Represa do Silvestre. O assoreamento aconteceu no período de 1989-2005 e as fontes de sedimentos são erosões lineares conectadas e erosão laminar e linear generalizadas, relacionadas ao uso da terra inadequado com áreas de mineração, grandes áreas parceladas sem pavimentação e áreas de agricultura com exposição sazonal do solo. O assoreamento da represa representa uma degradação das condições ambientais, com perda de funções reais e potencias do corpo d água, relacionadas ao lazer, praticas esportivas e habitat para a fauna silvestre. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, M.C.J. de; FREITAS, C.G.L. de. Uso do Solo Urbano: suas relações com o meio físico e problemas decorrentes. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA 2, 1996, São Carlos. Anais... São Paulo: ABGE, 1996. p. 195-200. ALMEIDA FILHO, G. S. de; RIDENTE JÚNIOR, J.L. Erosão: Diagnóstico, Prognóstico e Formas de Controle. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE CONTROLE DE EROSÃO, 7, 2001, Goiânia. Minicurso... Goiânia, ABGE, 2001. 70p. AUGUSTO FILHO, O. Geologia aplicada a problemas ambientais. In: CAMPOS H. e CHASSOT A. (Org.) Ciências da Terra e Meio Ambiente. São Leopoldo: UNISINOS, 1999. p. 79-107. INFANTI JÚNIOR, N.; FORNASARI FILHO, N. Processos da Dinâmica Superficial. In: OLIVEIRA, A. M. dos S. e BRITO, S. N. A. de (Org.). Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE, 1998. p. 101-152. LACERDA, H. Assoreamento, mineração de argila e relevo antrópico em Anápolis (GO). CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43, Aracajú, 2006. Anais...Aracaju: SBG, 2006. p. 580-585. OLIVEIRA, A. M. Assoreamento em cursos e corpos d água. In: BITAR, O. Y. (Org.) Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. São Paulo: ABGE/IPT, 1995. p.59-75. MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, DIRETORIA DO SERVIÇO GEOGRÁFICO ME/SGE Mapa topográfico 1/50.000, Folha Anápolis. Brasília: ME/SGE, 1974. TUCCI, C. E. M; COLLISCHONN, W. Drenagem urbana e controle de erosão. In: CAMPOS, Heraldo; CHASSOT, A. (Org.) Ciências da Terra e Meio Ambiente. São Leopoldo: UNISINOS, 1999. p.151-174. 6