Apresentação oral Um Estudo da Concepção de Self em William James: Uma Reavaliação de seus Escritos Psicológicos Camila Soares Carbogim 1 ; Jaqueline Ferreira Condé de Melo 2 & Saulo de Freitas Araujo 3 1. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Discente do Curso de Psicologia da UFJF, Integrante do Núcleo de História e Filosofia da Psicologia Wilhelm Wundt (NUHFIP); 2. Bolsista de Iniciação Científica BIC/UFJF, Discente do Curso de Psicologia da UFJF, Integrante do Núcleo de História e Filosofia da Psicologia Wilhelm Wundt (NUHFIP); 3. Docente do Programa de Pós Graduação do curso de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de fora (UFJF); Diretor do Núcleo de História e Filosofia da Psicologia Wilhelm Wundt (NUHFIP). Palavras-chave: William James; Self; História da Psicologia William James (1842-1910) é considerado uma figura central no contexto do surgimento e do desenvolvimento da Psicologia Científica Norte-Americana, que pretendia, no final do século XIX, se constituir como disciplina com caráter fortemente experimental (Earle, 1967, Herrnstein & Boring, 1971; Kinouchi, 2006; Taylor, 1996). De fato, os Principles of Psychology (1890a/1891), primeiro livro do gênero publicado nos EUA, contêm uma discussão detalhada e abrangente do estado da arte da Psicologia Experimental naquela época, o que o tornou um marco no desenvolvimento da Ciência Psicológica Norte- Americana. O espírito da Psicologia de James marcou fortemente o desenvolvimento posterior da Psicologia nos EUA (Kinouchi, 2009; Robinson, 1993). No entanto, apesar da difusão do seu pensamento, a maioria dos psicólogos costuma citar James com uma maior frequência do que o lê (Leary, 2003). Há que se destacar que alguns autores, quando discutem seu pensamento, tendem a enfatizar algumas ideias isoladas, desvinculadas do contexto geral de sua obra, o que produz uma distorção das mesmas (Earle, 1967). Além disso, alguns aspectos de sua Psicologia têm sido sistematicamente marginalizados ou ignorados, impedindo uma concepção mais sistemática do seu pensamento (Sech, Araujo & Moreira-Almeida, 2013). Com relação aos temas abordados por James, um dos que permanecem até hoje mal compreendidos é o Self que, por esse motivo, merece uma investigação mais acurada. James realiza uma investigação detalhada do tema, estabelecendo uma forte base conceitual para o estudo do constructo, além de apontar a sua relevância para o entendimento do comportamento humano e sua legitimidade enquanto tema de investigação acadêmica (Leary
& Tangney, 2003). Nesse sentido, de modo a compreender melhor a noção de Self adotada
por James, foi realizada uma pesquisa historiográfica tendo por base a leitura e a análise minuciosa das principais obras de James que tratam do assunto, bem como alguns artigos relacionados ao tema e parte de sua correspondência publicada. O objetivo do presente trabalho é fazer uma análise da noção de Self em James, mostrando a ampliação que o mesmo assume nos escritos posteriores a 1890. A análise dos textos aponta para uma ampliação do conceito de self em sua Psicologia, que já se inicia em 1890, e se estende aos seus escritos subsequentes The Hidden Self (James, 1890b), William James on Exceptional Mental States - The 1896 Lowell Lectures (Taylor, 1982) e The Varieties of Religious Experience (James, 1902) de modo a incluir o estudo dos fenômenos psíquicos, do subconsciente e da experiência religiosa (Taylor, 1984). Dessa forma, debruçando-se sobre as questões relativas ao Self, lhe é permitido abarcar fenômenos como o automatismo, a histeria, as múltiplas personalidades e os fenômenos de conversão e misticismo. Vê-se que, na medida em que William James define a Psicologia enquanto ciência dos fenômenos mentais (James, 1890a/1891), o Self, nos Principles of Psychology, passa a ser delimitado dentro de seus esforços no que tange ao reconhecimento da Psicologia enquanto uma disciplina empírica distinta, com orientações tanto cognitivas quanto positivistas, e não um simples subconjunto da Filosofia (Taylor, 1984). Os textos posteriores a 1890, por outro lado, demostram seu interesse por uma área em que os cientistas normalmente se recusam a explorar, apesar de as questões do seu entorno o levarem, segundo ele, além de um ponto de vista puramente psicológico ou naturalístico (James, 1890a/1891). Como se pode perceber, além de se tratar de um conceito central na Psicologia, o Self assume relevo fundamental dentro do pensamento de James. Sua discussão continua a ser feita nos dias atuais, discussões essas que nos permitem entrever a influência de James no cenário contemporâneo (Leary, 1990; Strube, Yost & Bailey, 1992). Referências: Earle, W. J. (1967). William James. In P. Edwards (Ed.), The Encyclopedia of Philosophy, vol. 4 (pp. 240-249). New York: Macmillan & The Free Press. Herrnstein, R. J. & Boring, E. G. (1971). Textos básicos de história da psicologia. São Paulo: Herder.
James, W. (1981).The principles of psychology. In F. Burkhardt, F. Bowers & I. Skrupskelis (Eds.), The works of William James, vol. 8. Cambridge, Mass.: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1890)
James, W. (1983) The hidden self. In F. Burkhardt, F. Bowers & I. Skrupskelis (Eds.), The works of William James, vol. 11. Essays in psychology (pp. 247-268). Cambridge, Mass.: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1890) James, W. (1985) The varieties of religious experience. In F. Burkhardt, F. Bowers & I. Skrupskelis (Eds.), The works of William James, vol. 13. Cambridge, Mass.: Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1902) Kinouchi, R. R. (2006). Darwinismo em James: a função da consciência na evolução. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 22 (3), 355-362. Kinouchi, R. R. (2009). Tão perto, tão distante: William James e a psicologia contemporânea. ScientiæStudia, 7 (2), 309-315. Leary, M. R. (2003). A profound and radical change: How William James inspired the reshaping of American psychology. In R. J. Sternberg (Ed.), The anatomy of impact: What makes the great works of psychology great (pp. 19-42). Washington, D.C.: American Psychological Association. Leary, M. R. & Tangney, J. P. (2003). The self as an organizing construct in behavioral and social sciences. In M. R. Leary and J. P. Tangney (Eds.), Handbook of self and identity (pp. 3-14). New York: The Guilford Press. Robinson, D. (1993) Is there a Jamesian tradition in psychology? American Psychologist, 48 (6), 638-643. Sech, A.; Araujo, S.F.; Moreira-Almeida, A. (2013). William James and psychical research: Toward a radical science of mind. History of Psychiatry, 24 (1), 62-78. Strube, M.; Yost, J. & Bailey, J. (1992). William James and contemporary research on the self: The influence of pragmatism, reality and truth. In M. E. Donnelly (Ed.), Reinterpreting the legacy of William James (pp. 189-207). Washington, D.C.: American Psychological Association.
Taylor, E. (1984). William James on Consciousness beyond the Margin. United Kingdom: Princeton University Press.