Psicologia, 1º ano (2007/08) Aula nº 01
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- Derek Paixão Marinho
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1 História e Sistemas da Psicologia Psicologia, 1º ano (2009/2010) Aula T01 Porquê estudar a História da Psicologia? A Psicologia tem um longo passado mas uma história breve. Hermann Ebbinghaus ( ) (frase inicial de Psicologia: Um manual elementar, publicado em 1908) 1 2 História da Psicologia 1. Porquê o interesse da Psicologia pela sua própria história? Porquê a História da Psicologia? Porquê agora? Como estudá-la? Que história? De que Psicologia? Desde muito cedo houve interesse pela História da Psicologia. Porquê? Porquê uma disciplina de História da Psicologia ao nível da licenciatura e não ao nível da formação pós-graduada (mais especializada)? 3 4 Sendo uma disciplina recém-formada, havia interesse em definir a Psicologia como ciência. A História da Psicologia representava o esforço das primeiras gerações de psicólogos para se comprometerem com o método científico. Algumas datas importantes na historiografia da Psicologia moderna 1929 Edwin G. Boring, discípulo de Titchner, escreve o livro History of Psychology: An area of study within psychology (50 anos após o nascimento oficial da Psicologia moderna) 1960 Robert I. Watson ( ) escreve o artigo The History of Psychology: A Neglected Area 5 6 1
2 1965 Funda-se a Divisão 26 da APA e cria-se a primeira revista científica dedicada ao assunto (Journal of the History of the Behavioral Sciences); R. I. Watson foi o primeiro presidente da Divisão 26 e o primeiro editor da revista Início da publicação da revista especializada History of Psychology. Desejo de integrar a Psicologia na corrente do pensamento filosófico ocidental. Apesar da descontinuidade metodológica (abandonou-se o método filosófico especulativo e passou-se ao método científico, experimental), havia uma continuidade temática entre a filosofia europeia e os problemas que a Psicologia moderna pretendia estudar. 7 8 Não existe ainda forma consensual de fazer Psicologia há uma ou várias Psicologias? A Psicologia é uma ciência préparadigmática (no sentido Kuhniano). A abordagem histórica, ao descrever a genealogia das perspectivas teóricas que se têm desenvolvido na Psicologia moderna desde o seu nascimento, permite um olhar integrador sobre este campo disciplinar heterogéneo. 9 Como ciência humana, as teorias da Psicologia não são imunes às crenças socialmente partilhadas sobre o Homem e as suas condições. Por isso, é importante conhecer o contexto sóciohistórico em que surgem as teorias. 10 Exemplo: Em 1866, John Langdon Down ( ) descreveu o quadro clínico actualmente conhecido como trissomia 21 (ou síndrome de Down ) e que ele designou por mongolismo. Este nome deriva não apenas do facto de alguns traços fisionómicos dos doentes poderem ser considerados orientais mas porque John Down acreditava existir uma hierarquia das raças humanas e que estes doentes teriam parado o seu desenvolvimento mental num ponto equivalente ao dos povos mongóis. A Psicologia influencia os próprios fenómenos que estuda. Qual o impacto de determinada teoria nos fenómenos? Os estudos históricos permitem perceber como os conceitos teóricos desenvolvidos na Psicologia afectam os fenómenos que pretendem descrever. Para mais informação, consultar Gould, S. J. (s.d.) O polegar do panda. Lisboa: Gradiva (pp )
3 Exemplo: Já havia pessoas a sofrer de complexo de Édipo antes de Freud propor este conceito teórico? Terá esta forma de conceber a relação pai-mãefilho influenciado o modo como se processou a educação na sociedade contemporânea? Terá essa concepção re-criado o próprio fenómeno? 2. Porquê o estudo da História da Psicologia na formação de psicólogos? Será necessário um estudo sistemático da História da Psicologia? Sendo o desenvolvimento da Psicologia tão rápido, exigindo-nos uma constante actualização, porquê a necessidade de estarmos actualizados para trás? A incompreensão do presente nasce da ignorância do passado (Max Bloch, historiador) O estudo da história da Psicologia é fundamental para compreender a sua situação actual a perspectiva histórica constitui um enquadramento integrador para a diversidade da disciplina. Reinventar a roda? Conhecer as falhas e os becos sem saída do passado permite-nos evitar cometer os mesmos erros Prever o futuro a partir do passado? Humildade intelectual Conhecer a evolução da disciplina permite vislumbrar quais as linhas do seu desenvolvimento futuro. O estudo da história mostra-nos que mesmo a ideia mais brilhante não resiste à passagem de gerações
4 Interesse histórico específico Importância da investigação histórica, de forma a avaliar de forma científica o contributo real de autor e do seu cada sistema teórico. Há um interesse genuíno pelo estudo da História da Psicologia, independentemente dos ganhos que esse conhecimento possa trazer para o psicólogo profissional. 19 Exemplo: Sigmund Freud morreu em 1939 e, desde a sua morte, diferentes documentos por ele redigidos têm sido publicados, enriquecendo a nossa compreensão sobre a Psicanálise. A Biblioteca do Congresso de Washington possui uma vasta colecção destes documentos e alguns deles só poderão ser divulgados em meados do século XXI, por ordem expressa de Freud e dos seus herdeiros (por razões de privacidade dos clientes de Freud e também da sua família). As datas de libertação destes documentos são muito variadas. Por exemplo, uma carta ao filho mais velho só poderá ser aberta em 2013 e outra em Uma carta de um dos mentores de Freud só poderá ser aberta em 2102 (177 anos depois da sua morte). O que poderá estar lá escrito para exigir tal secretismo? Que consequências poderá ter isso para a teoria freudiana? Só a investigação histórica (através da análise documental) poderá responder a estas questões. 20 Outros exemplos: O caso de Anna O. terá havido realmente cura? Será Wundt o pai da Psicologia Moderna? What happened to little Albert? Porquê agora? Porquê estudar História da Psicologia no início da licenciatura e não a um nível de pós-graduação? Será prudente revelar a alunos, em início de formação, as histórias por detrás das teorias que vão aprender (Escalão XXXX)? Formação básica na disciplina. Enquadramento geral da heterogeneidade da disciplina e dos seus campos de aplicação Como estudar a História da Psicologia? Como se aborda o estudo da história de uma disciplina científica? Admitimos que existem três factores subjacentes ao desenvolvimento histórico de uma disciplina: a) as ideias b) o cientista c) o contexto socio-cultural. O ênfase num destes factores em detrimento de outro conduz a perspectivas alternativas sobre a história de uma disciplina científica
5 Internalismo versus Externalismo Abordagem personalística versus Zeitgeist Internalismo: concentra-se nas ideias, no desenvolvimento da própria disciplina (investigação, teoria, métodos); a disciplina evolui em função da refutação de teorias anteriores, pelo uso do método científico, sem que seja afectada pelas mudanças sociais (visão idealista). Externalismo: a ciência é um empreendimento social e não apenas racional (Kuhn). É uma actividade social, que se enquadra na sociedade alargada a que pertencem os cientistas; estes são actores sociais que pertencem a determinada cultura, que procuram ter sucesso num determinado momento históricopolítico, influenciados por minorias e pelo 25 poder. Abordagem personalística: a história da disciplina resulta de personalidades fundamentais, os autores das ideias científicas, cujas ideias impulsionam o desenvolvimento (exemplo: Copérnico, Darwin e Freud). Zeitgeist: estes autores fundamentais encarnam as forças socio-culturais (espírito dos tempos) da sociedade e da época em que vivem (exemplo: Charles Darwin e Alfred Wallace). Além do efeito potenciador, o zeitgeist pode igualmente ter efeito inibidor sobre ideias avançadas no tempo (exemplo: dream activity). 26 Justificação do presente (presentism) versus Perspectiva histórica (historicism) Justificação do presente: a história da disciplina é descrita como uma série de passos progressivos que conduzem ao seu estado actual; minimizam-se situações que não tiveram consequência para a situação actual. Perspectiva histórica: cada época histórica é analisada em si mesma e não como fase de evolução até ao presente; é dada igual importância às ideias que contribuíram para a situação actual e às ideias que desapareceram. 27 Análise das metáforas teóricas Análise histórica das metáforas utilizadas para descrever o funcionamento humano. Porquê umas metáforas e não outras? Exemplos: * Metáforas usadas ao longo da história para descrever a memória: tabula rasa, armazém, enciclopédia, arquivo, bancada de trabalho... * Metáforas usadas para descrever a atenção selectiva: filtro, gargalo de garrafa, holofote. 28 O modelo hidráulico tem sido largamente utilizado para descrever o funcionamento dos instintos, pulsões ou motivações. Zeitgeist Escolas de Pensamento Personalidades importantes (biografias e teorias) Psicologia como produto social e histórico Não existe Internalismo Externalismo Exemplo de metáfora psicológica 29 Personalidades Iremos procurar apresentar a História da Psicologia à luz da perspectiva das Escolas de Pensamento. 30 5
6 Escolas de Pensamento Um grupo de cientistas que está de acordo sobre questões como: a) Qual é o problema a abordar? b) Que fenómenos devem ser estudados? c) Como olhar para esses fenómenos? Questões a responder de forma consensual... Qual o problema? Que fenómenos estudar? Como estudar esses fenómenos? Escolas de Pensamento Behaviorismo Comportamento Associações Estímulo- Resposta Experimentalmente Psicanálise Processos inconscientes Sonhos Associação livre O método histórico Dados históricos: únicos e não replicáveis; ênfase nas fontes originais (correspondência, diários, por exemplo); Fontes de erro: Perda de documentos; Auto-relatos que distorcem a realidade (exemplo: Skinner descrevia-se como trabalhador enquanto estudante) Supressão de episódios incómodos pelos biógrafos seguidores (exemplo: uso de cocaína por Freud) 33 6
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