PRINCIPAIS MUDANÇAS DO SETOR LÁCTEO NACIONAL

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Transcrição:

1 PRINCIPAIS MUDANÇAS DO SETOR LÁCTEO NACIONAL Fernanda Mattioda (UTFPR) fermattioda@yahoo.com.br Juliana Vitória Messias Bittencourt (UTFPR) julinavitoria@utfpr.edu.br RESUMO A cadeia agroindustrial do leite está presente em todo território nacional e desempenha papel importante no desenvolvimento econômico e social do país. Porém ao longo de sua história, a pecuária leiteira nacional foi marcada por sucessivos impactos, principalmente a partir da década de 90. Mas mesmo com as instabilidades do setor, o Brasil posiciona-se entre os seis maiores produtores de leite do mundo, e o Paraná é o terceiro maior produtor. Nesse contexto o presente artigo tem como principal objetivo apresentar, por meio de uma revisão bibliográfica, as principais mudanças que ocorreram no setor leiteiro nacional. Entre as quais, destacam-se a Instrução Normativa n 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a implantação de pagamento por qualidade nos laticínios. Palavras chave: Setor Lácteo nacional, qualidade, produção leiteira. 1 Introdução A cadeia agroindustrial do leite é caracterizada como uma das mais importantes do agronegócio brasileiro, e presente em todo território nacional desempenha papel importante no desenvolvimento econômico e social do país. Yamaguchi et al (2001) considera relevante a atividade no país, destacando as características de ocupação e uso de extensas áreas de terra com elevada quantidade de mão de obra, participação na formação da renda do setor agropecuário e da renda nacional além do fornecimento de alimentos de alto valor nutritivo para a população. Porém, a pecuária leiteira nacional ao longo de sua história, foi marcada por sucessivos impactos. Dentre outros, Yamaguchi et al (2001) aponta as questões de baixa produção e produtividade, os quais são reflexos do baixo nível tecnológico; a elevada sazonalidade da produção diante do consumo considerado estável ao longo

2 do ano; elevado custo de produção de derivados se comparado ao baixo poder aquisitivo da população e por fim a falta de uma política coordenada de desenvolvimento da pecuária de leite. Nesse mesmo contexto, o presente trabalho vem apresentar, através de uma revisão bibliográfica, as principais mudanças ocorridas no setor lácteo nacional a partir da década de 90, tanto nas propriedades leiteiras quanto nos laticínios. 2 Referencial Teórico 2.1 Mudanças recentes na cadeia produtiva de leite Na década de 80, houve um aumento de 2,9 bilhões de litros na produção de leite, e na década de 90 houve aumento de 4,5 bilhões, referentes também aos anos extremos da década, destaca Gomes (2001). Segundo Yamaguchi et al (2001), na década de 90 foram tomadas várias medidas da economia nacional que resultaram na abertura ao comércio exterior, criação de programas de qualidade e competitividade, criação de programas de privatização, estabelecimento do Plano Real e desregulamentação da economia. E no que diz respeito ao setor lácteo nacional, esses movimentos foram relevantes tanto nas políticas do governo quanto nas estratégias de segmento privado nacional e internacional. Segundo Gomes (2001) outra relevante mudança na década de 90 foi o aumento da concentração da produção, sendo que os maiores produtores do país correspondem por parcelas cada vez maiores e os pequenos produtores por parcelas cada vez menores na produção nacional. E não se pode mais afirmar que a produção de leite se caracteriza como uma atividade típica de pequeno produtor. Com relação ao número de produtores, as indústrias tiveram uma redução mais acentuada dos seus números a partir de 1998, devido à coleta de leite a granel e a obrigatoriedade do resfriamento do leite na fazenda, inviabilizando a permanência dos pequenos produtores na atividade em razão dos custos dos investimentos. O destino dos produtores que deixam de fornecer leite para os laticínios passam a ser, para Gomes (2001), os seguintes: produção apenas para o consumo próprio, grupo de produtores que entregam leite ao laticínio em conjunto, ou passam a vender direta ou indiretamente no mercado informal. 2.2 Produção de leite no Brasil

3 Mesmo com as instabilidades da cadeia leiteira no país, a Embrapa Gado de Leite (2008) mostra que o Brasil posiciona-se como o sexto maior produtor de leite mundial, ficando atrás somente dos Estados Unidos, Índia, China, Rússia e Alemanha, com uma produção de 25.327 mil toneladas no ano de 2007. Tabela 1 - Produção de leite mundial 2007 Paises Produção de leite (mil t) 2007 1º Estados Unidos da América 84.189 2º Índia 42.140 3º China 32.820 4º Federação Russa 31.950 5º Alemanha 27.900 6º Brasil 25.327 Fonte: Embrapa Gado de Leite (2008) Como consequência dessas sucessivas mudanças, o setor lácteo nacional demonstrou modificações nos padrões que determinam a competitividade dos setores de produção, industrialização e distribuição do leite e derivados. E esse processo de modernização vem acompanhado do aumento da qualidade do produto exigido pelo mercado consumidor, e o estímulo de que produtores, indústrias e distribuidores que não estão de acordo com as novas exigências sejam eliminados do setor. Atualmente o processo de modernização no setor tem beneficiado o desenvolvimento de novos produtos, investimentos em pesquisa, novas tecnologias, propagandas e fortalecimento das marcas. Porém, todos esses fatores exigem a oferta de produtos em grande escala e o alcance de mercados mais distantes, obrigando as empresas a implantarem sistemas de produção e distribuição cada vez mais avançados. (Yamaguchi et al, 2001). Tem-se como uma das necessidades do setor, o aumento da produção de leite sob inspeção, ou seja, condições de obtenção, armazenamento e produção adequadas e inspecionadas por órgãos públicos. E considerando essa necessidade, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) fixa através da Instrução Normativa n 51 (IN 51), de 18 de setembro de 2002, a identidade e os requisitos mínimos de qualidade que deve apresentar o leite destinado à obtenção de Leite Pasteurizado para consumo

4 humano direto ou para transformação em derivados lácteos nos estabelecimentos de laticínios, submetidos à inspeção sanitária oficial. Define ainda, leite como o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias e bem alimentadas. Esta normativa foi outro fator de grande relevância nas mudanças do setor, pois trouxe uma série de modificações para os produtores, laticínios e consumidores, sendo que sua implantação fornece ao leite brasileiro parâmetros aceitos internacionalmente, possibilitando um acréscimo nas exportações de lácteos. As condições de qualidade do leite exigem acompanhamento desde a produção, armazenamento, transporte, industrialização e comercialização, por se tratar de um alimento perecível. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008), de 2000 a 2007, demonstram que a produção total de leite no país cresceu de 19.676 para 26.134, e a produção sob inspeção teve um crescimento de 12.108 para 17.889 milhões de litros. Observa-se também que o aumento da produção vem acompanhado do aumento do rebanho. Tabela 2 - Produção total de leite, produção sob inspeção e número de vacas ordenhadas no Brasil - 2008. Produção total de Produção recebida sob Vacas ordenhadas leite (milhões litros) inspeção (milhões litros) (mil cabeças) 2000 19.767 12.108 17.885 2001 20.510 13.213 18.194 2002 21.643 13.221 18.793 2003 22.254 13.627 19.256 2004 23.475 14.495 20.023 2005 24.621 16.284 20.626 2006 25.398 16.670 20.943 2007 26.134 17.889 21.122 Fonte: IBGE (2000 a 2007), PPM - Pesquisa da Pecuária Municipal e Pesquisa trimestral do Leite. 2.3 Pagamento pela qualidade O principal instrumento para estimular os produtores a se especializar e buscar a qualidade é o pagamento diferenciado. E segundo Guerreiro (2005), a qualidade da matéria-prima adquirida para os processos de produção contribui para a confiabilidade do produto final, influenciada por fatores zootécnicos e fatores de

5 obtenção e armazenamento do leite recém-ordenhado e, para Cusato (2007), importantes transformações na área de alimentos têm se tornado um desafio nessa busca pela segurança. O pagamento diferenciado também surge com a necessidade da indústria em reduzir suas perdas com matérias-primas de má qualidade (Roma, 2008), a qual tem aumentado sua exigência para que o leite tenha um elevado padrão já na sua origem. Dessa forma, as indústrias de grande porte no início dos anos 90, passaram a estabelecer novos requisitos para o recebimento do leite, relacionando a remuneração do produtor com a qualidade da matéria-prima, estabelecendo assim o pagamento diferenciado pela qualidade do produto. Existem as iniciativas do governo, que visam melhorar a qualidade do leite, como Instrução Normativa n 51, porém, segundo Roma (2008) algumas indústrias iniciaram a implantação do pagamento por qualidade, como forma de incentivar o produtor a buscar melhorias no seu produto e, indiretamente obter o rendimento industrial. Parâmetros físico-químicos e microbiológicos descritos na IN n 51 são adotados pela maioria das indústrias como critérios de pagamento diferenciado e, além de bonificações para leite de elevada qualidade, existem também as penalizações para o leite de baixa qualidade, tornando-se uma ferramenta para motivar os produtores a melhorar a qualidade do leite. 2.4 Produção de leite no Paraná O Paraná se encontra entre os três maiores produtores de leite nacionais, ficando atrás somente de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a tabela seguinte demonstra essa situação. Tabela 3 - Ranking da Produção Anual Leite por Estado no Brasil, 2007. Produção de Estados Leite (milhões de litros) 1 Minas Gerais 7.275 2 Rio Grande do Sul 2.944 3 Paraná 2.701 Fonte: Embrapa Gado de Leite (2007)

6 O Paraná, através do Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH) foi o pioneiro no uso de contagem de células somáticas (CCS) como um indicador para avaliar a qualidade do leite. A manutenção da qualidade por meio desse parâmetro mostrou uma evolução positiva na qualidade do leite dos rebanhos monitorados. Gomes (2001) destaca que duas grandes cooperativas da região de Castro adotaram um sistema de pagamento baseado em um programa que considera o teor de gordura, teor de proteína, contagem bacteriana, temperatura do leite no momento da coleta, crioscopia (presença de água no leite), presença de antibiótico, e contagem de células somáticas, sendo este último o de maior impacto no preço final. As células somáticas são células de defesa e sempre que um animal é contaminado por alguma bactéria, essas células somáticas atacam e eliminam as bactérias. Portanto, a Contagem de Células Somáticas (CCS) é um indicativo de mastite do animal. As células somáticas secretam enzimas que degradam a gordura e a proteína do leite, por isso, para as indústrias, quanto menor a CCS melhor o rendimento industrial e maior será o tempo de vida de prateleira dos derivados. Dessa forma, as células somáticas se tornaram a principal ferramenta de avaliação da qualidade do leite e adquiriram esta importância por representarem o estado sanitário da glândula mamária, e serem de fácil detecção (VAZ, 2007). O leite com elevados níveis de CCS apresenta alterações na sua composição e entre as perdas econômicas causadas pelo aumento da CCS estão relacionadas a diminuição do volume da produção de leite, redução do rendimento industrial, e queda na qualidade do produto devido a queda na quantidade de gordura e proteína. Outra importante conseqüência da mastite está relacionada aos riscos a saúde dos consumidores, devido à veiculação de agentes patogênicos através do leite. (SPEXOTO, 2003) As indústrias têm o sistema de pagamento por qualidade que parte de um preço-base sobre o qual incidem premiações e descontos por qualidade, acrescida da bonificação por volume, sendo que as empresas de médio e grande porte adotam a estratégia de que não pode faltar leite nas indústrias, o que faz que as empresas disputem entre si produtores com maiores volumes e qualidade. (SBRISSIA, 2004) 3 Considerações finais

7 O presente trabalho demonstra que apesar de inúmeras mudanças no setor leiteiro nacional, o país encontra-se em uma posição de destaque com relação á produção de leite. Inovações tecnológicas, criação de Programas de qualidade e competitividade, implantação do Plano Real, entre outros, foram os fatores que impulsionaram esse crescimento da produção nos últimos anos. Com a reformulação da Instrução Normativa n 51 e a diferenciação do pagamento da matéria-prima pela qualidade, foi uma forma de incentivar o produtor a buscar melhorias no seu produto, e para que o setor industrial obtenha um rendimento satisfatório. Referência Bibliográfica BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite. Instrução Normativa nº 22, de 18 de setembro de 2002. Diário Oficial da República Federativa do Brasil; Brasília, DF, 2002. CUSATO, Sueli. Relação Custo-Benefício da implantação do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) em laticínio do estado de São Paulo. 2007. 113f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, 2007. Embrapa Gado de Leite. Informações técnicas Estatísticas do leite. 2008. Disponível em <http://www.cnpgl.embrapa.br> Acesso em 28 de ago. 2009 GOMES, Sebastião T; Evolução recente e perspectivas da produção de leite no Brasil In: GOMES, Aloísio T; LEITE, José Luiz B; CARNEIRO, Alziro V. (Ed). O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. p. 49-61 GUERREIRO, Paola K. et al. Qualidade microbiológica de leite em função de técnicas profiláticas no manejo de produção. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.29, n.1 jan./fev. 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br > Acesso em: 4 jun. 2009. IBGE. Dados censitários. Brasília, DF, 2007. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - Disponível em: < www.agricultura.gov.br >. Acesso em 13/06/2009 ROMA JUNIOR, Luiz C. Características quantitativas e qualitativas da proteína do leite produzido na região Sudeste. 2008. 148f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2008. SBRISSIA, Gustavo F; BARROS, Geraldo S. C. Sistema Agroindustrial do Leite: formas de pagamento e bonificações por volume. In: XLII Congresso da SOBER de 2004, Cuiabá. Disponível em: < http://www.sober.org.br. Acesso em: 10 jul. 2009

8 SPEXOTO, Andrezza A. Aplicação do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) em propriedades leiteiras. 2003. 157f. Dissertação (Mestrado em Nutrição Animal) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, 2003. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses >Acesso em 4 de jun. 2009. VAZ, Adil K. O que as células somáticas realmente representam?, 2007. Artigos técnicos do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite. Disponível em:< http://www.cbql.com.br> Acesso em: 10 jul. 2009. YAMAGUCHY, Luiz Carlos T; MARTINS, Paulo C; CARNEIRO, Alziro V. Produção de leite no Brasil nas três últimas décadas. (Ed). O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. p. 33 48 Área Temática: Gestão