BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO NATURAL NO DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DO BEBÊ

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Transcrição:

BENEFÍCIOS DO ALEITAMENTO NATURAL NO DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DO BEBÊ Gervania Pereira Gigante Janelliza Sousa Antunes Nayara Júlia Ribeiro de Lima Priscila Kellen Malaquias de Morais Taís Nogueira de Almeida Maria Clotilde M. M. Pimentel RESUMO Este estudo tem por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a importância dos benefícios do aleitamento natural no desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê, onde conclui-se que por ser uma ação promotora de saúde bucal, a amamentação natural nos 6 primeiros meses de vida do bebê é importante para o bom desenvolvimento do sistema estomatognático prevenindo assim a instalação de hábitos deletérios, devendo ser do conhecimento dos profissionais da saúde e incentivado de maneira multidisciplinar. Palavras-chave: Aleitamento natural. Prevenção. Hábitos deletérios. Sistema estomatognático. Graduandos do 8º Período do Curso de Odontologia da FACS/UNIVALE Especialista e Mestre em Odontopediatria UFRJ/CPO-SLM; Professora do Curso de Odontologia da FACS/UNIVALE - Área de concentração: Odontopediatria

2 INTRODUÇÃO O leite materno é reconhecido como o alimento adequado para a criança nos primeiros meses de vida não só por sua característica energética, macro e micronutrientes, mas também pela proteção que confere contra as doenças (WHO, 1998). É uma estratégia chave para a sobrevivência da criança e um patrimônio de alto valor biológico. Assim o aleitamento natural deve ser promovido, protegido e apoiado por todos (PEREIRA, 2007). De acordo com as recomendações da União Internacional das Ciências Nutricionais para o Ano Internacional da Criança, publicado pela UNICEF: Nada mais do que o leite humano é necessário para manter o crescimento e a boa nutrição durante os primeiros seis meses de vida e, deve-se salientar, que a alimentação infantil não pode ser considerada somente em relação ao fornecimento dietético de nutrientes, mas também num contexto social mais amplo (RODRIGUES et al., 1995, p. 125). A recomendação da Organização Mundial de Saúde é de que as crianças sejam amamentadas exclusivamente ao seio, sem alimentos complementares até o sexto mês de vida. Após essa idade é necessária a introdução de outros alimentos, mantendo-se o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais (OMS, 2001). O aleitamento materno sem restrições diminui a perda de peso inicial do recém-nascido, estabiliza os níveis de glicose do mesmo, diminui a incidência de hiperbilirrubinemia e previne ingurgitamento mamário na mãe (GIUGLIANI, 2000). Dentre os benefícios que envolvem a prática do aleitamento materno, ressaltamse os aspectos emocionais, como o aconchego do ato de mamar cria entre a mãe e o

3 filho um profundo clima de identificação que marca, para sempre, a personalidade da criança, preparando-a para saber transmitir e receber amor (FRANÇA, 2006). O aleitamento materno favorece o desenvolvimento do tônus muscular necessário à utilização quando da chegada da primeira dentição, promove o crescimento antero-posterior dos ramos mandibulares e a modelação do ângulo mandibular. É vital para o neonato que este aleitamento seja exclusivo até o sexto mês de vida, visto que há uma forte correlação entre a presença de hábitos bucais nocivos e a amamentação insuficiente, constituindo-se um dos principais fatores etiológicos das maloclusões dentárias. Além do mais, é muito importante na prevenção da síndrome do respirador bucal, pois estabelece uma relação correta entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático, permitindo assim uma respiração adequada, ou seja, nasal (MEDEIROS & RODRIGUES, 2001). Os bebês amamentados naturalmente, quando não estão sugando ou deglutindo, eles descansam com o mamilo moderadamente apertado pela língua, enquanto os que usam mamadeira descansam com o bico de látex expandido (pressionando a língua). Quando a mamadeira é utilizada, a criança trabalha menos os músculos da face, pois a mesma atinge a plenitude alimentar sem, contudo atingir a plenitude emocional da sucção, por isso, a necessidade da criança em chupar dedo, chupeta e paninho para satisfazer essa deficiência. Todavia, somente a amamentação natural, realizada de forma correta, estimulará o sistema estomatognático, e seu desenvolvimento se dará de forma mais completa possível (BRIZOLA et al., 2008). É necessário que a amamentação seja um hábito cultural e, para tanto, torna-se fundamental transmitir aos profissionais de saúde este conhecimento básico sobre a amamentação, bem como, seus benefícios no desenvolvimento do sistema estomatognático, pois estes fazem parte dos direitos humanos e precisam ser estimulados por meio da educação, além da conscientização destes profissionais, a

4 terem como princípio o incentivo à amamentação, visando a garantia do direito da criança de acesso ao leite materno. Sendo assim, o aleitamento natural e seus benefícios no desenvolvimento do bebê deve ser um tema amplamente discutido, devido sua grande relevância para os profissionais da área da saúde, bem como o cirurgião dentista que tem compromisso com a saúde da criança. Cabe, principalmente, aos Odontopediatras, por meio de atitudes e práticas, a tarefa de garantir, a cada mãe, uma escuta ativa, ou seja, de saber ouvi-la, dirimir suas dúvidas, entendê-la e esclarecê-la sobre suas crenças e tabus, de modo a tornar a amamentação um ato de prazer e não o contrário. Influenciando assim, positivamente, o início da amamentação, sua duração e a adquirir autoconfiança em sua capacidade de amamentar. Frente ao exposto acima este estudo tem por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a importância dos benefícios do aleitamento natural no desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê. REVISÃO DA LITERATURA Influência da amamentação no desenvolvimento do Sistema Estomatognático O mecanismo de sucção durante a amamentação, desenvolve os órgãos fonoarticulatórios e a articulação dos sons das palavras, reduzindo a presença de maus hábitos bucais e também de patologias fonoaudiológicas (NEIVA et al., 2003).

5 A amamentação proporciona à criança uma respiração correta, mantendo uma boa relação entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático e, uma adequada postura de língua e vedamento de lábios. O desenvolvimento da articulação temporomandibular (ATM), durante o período em que os dentes ainda não erupcionaram, também está relacionado à amamentação. Essa articulação fica prejudicada se houver um menor esforço muscular para extrair alimento, como na amamentação artificial, causando uma anulação da excitação da ATM e da musculatura mastigatória do recém-nascido (TOLLARA et al., 2005). No ato de amamentar, a criança realiza um exercício físico contínuo que propicia o desenvolvimento da musculatura e ossatura bucal, proporcionando o desenvolvimento facial harmônico. Isso direciona o crescimento de estruturas importantes, como seio maxilar para respiração e fonação, desenvolvimento do tônus muscular, crescimento antero-posterior dos ramos mandibulares, anulando o retrognatismo mandibular. Além disso, ele impede alterações no sistema estomatognático, a saber: prognatismo mandibular, musculatura labial superior hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, atresia de palato, interposição de língua e atresia do arco superior e evita maloclusões, como mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e aumento de sobressaliência (ANTUNES et al., 2008). Amamentação natural x Instalação de hábitos bucais deletérios A industrialização e a urbanização crescentes implantaram novas rotinas e hábitos na alimentação, atingindo também mães e filhos. Em meados do século XX, a indústria moderna introduziu o leite em pó que, através de intensas campanhas de incentivo, foi conquistando o mercado com sua facilidade e praticidade. Este fato, associado a fatores sociais (aumento de números de mães trabalhando fora) e culturais (falta de informação sobre os benefícios da amamentação, causas referidas como "a criança não quis mais", "tenho pouco leite" ou crenças "leite é fraco"), além do medo

6 em relação à estética do seio, ocasionaram a falta de estímulo à prática da amamentação. Hoje, esses fatores continuam existindo exceto em relação à informação, que é bem divulgada por ser um assunto em voga (ANTUNES et al., 2008). O uso de mamadeiras pode ser justificado pela cultura popular e por influência da mídia nas famílias. Entretanto, o uso por um período prolongado, pode ser explicado, ainda, pela falta de conhecimento dos pais dos malefícios que a mamadeira traz, como por exemplo, na oclusão dentária. Justifica-se, desta forma, que sejam desenvolvidos trabalhos efetivos com a população, enfatizando a amamentação como prioridade do infante, desmistificando o uso da mamadeira, principalmente seu uso prolongado que pode ser prejudicial ao desenvolvimento dentofacial da criança (TRAWITZKI et al., 2005). Serra Negra et al. (1997) realizaram um trabalho com o objetivo de associar a forma de aleitamento, a instalação de hábitos bucais deletérios e consequentes maloclusões. Foram examinadas 357 crianças, na faixa etária de 3 a 5 anos, pertencentes a creches e escolas de diferentes classes sociais da cidade de Belo Horizonte. Para se obter informações sobre o desenvolvimento das crianças, foram enviados questionários para as mães. Houve um retorno de 289 questionários, sendo avaliadas 289 fichas clínicas das crianças participantes. Estando a forma de aleitamento sujeita à influência de fatores sociais, foram também analisadas questões como: o comportamento das classes sociais, a escolaridade da mãe, a necessidade da força de trabalho da mulher e a hierarquia familiar. Constatou-se que há associação do aleitamento natural com a não instalação de hábitos bucais viciosos, pois 86,1% das crianças aleitadas no seio materno por 6 meses ou mais não apresentavam hábitos deletérios comparadas a 4,6% que não apresentaram tais hábitos e nunca receberam aleitamento no seio. A chupeta foi o hábito mais prevalente (75,1%). A associação de maus hábitos com maloclusões foi significante, sendo mais frequentes as mordidas cruzadas posterior e a aberta anterior. As variáveis sociais influenciaram o comportamento das mães, observando-se que

7 quanto maior a escolaridade e mais favorecida a classe social mais tempo foi praticado o aleitamento natural. Em 1996, Barbosa & Schnonberger afirmaram que a introdução de artifícios como mamadeiras e chucas leva ao desinteresse pelo aleitamento materno e ao desmame precoce, o que, consequentemente, favorece desequilíbrios funcionais do sistema estomatognático. O desmame precoce, com a introdução de aleitamento nãomaterno e outros alimentos "substitutivos", favorece a instalação de hábitos bucais deletérios de sucção, como a sucção digital e/ou chupeta e hábitos de mordida, como o bruxismo cêntrico ou excêntrico. Ferreira & Toledo (1997) realizaram um estudo com 427 crianças, de três a seis anos, com o objetivo de analisar a relação entre tempo de aleitamento materno e hábitos bucais. Os autores concluíram que quanto maior o período de aleitamento materno, menor a ocorrência de hábitos de sucção, respiração oral e bruxismo. Em um estudo com o intuito de analisar a influência do período de amamentação nos hábitos de sucção persistentes e ocorrência de maloclusões em crianças com dentição decídua completa, Robles et al. (1999) verificaram que as crianças que apresentavam tempo maior de amamentação natural demonstraram menor frequência de hábitos bucais de sucção persistentes, em comparação àquelas crianças que tiveram o período de amamentação natural abaixo do ideal consolidando uma associação positiva entre a presença de hábitos e a ocorrência de maloclusões na dentadura decídua. Pierotti (2001) investigou a influência do tipo de aleitamento com a oclusão, as funções e hábitos bucais em 150 crianças da rede particular de ensino da cidade de São Paulo e revelou que um grande número de crianças amamentadas fez uso de mamadeira

8 (93%) em alguma época de sua vida. Onde um número elevado de crianças apresentou algum tipo de maloclusão ou presença de hábito parafuncional bucal. Sousa et al. (2004) realizara um estudo que objetivou identificar e relacionar a presença de maloclusões dentária, hábitos bucais deletérios e caracterizar a forma e período de aleitamento materno. Foram examinadas 126 crianças entre 2 e 6 anos, de ambos os gêneros, com dentição decídua completa e matriculadas em creches municipais de João Pessoa/PB. Mediante formulário direcionado aos pais, coletaram-se informações em relação à presença de hábitos bucais deletérios e sua frequência (sucção digital, uso de chupeta, onicofagia e morder objetos), bem como o tipo e o período de duração do aleitamento materno. Observou-se que 45 (35,71%) das crianças possuíam maloclusão dentária, e destas 17 (37,78%) apresentavam mordida aberta anterior. Verificou-se a presença de sucção digital em 24 (16,78%), uso de chupeta 71 (49,65%), onicofagia em 22 (15,38%) e o hábito de morder objetos em 26 (18,18%). A amamentação mista foi a mais frequente em 92 (73,02%), seguida da natural 26 (20,63%). Relataram o uso de amamentação natural inferior a seis meses de idade (47,62%). Concluiu-se que: a duração insuficiente do aleitamento natural está associada à presença de hábitos de sucção persistentes em crianças com a dentição decídua completa e; a presença dos hábitos estudados (chupeta, onicofagia, sucção digital e morder objetos) está associada à ocorrência da maloclusão. Trawitzki et al. (2005) realizaram um estudo clínico com coorte transversal, com o objetivo de verificar a relação do padrão respiratório com o histórico de aleitamento e hábitos orais deletérios. A população foi constituída por 62 crianças, de 3 anos e 3 meses a 6 anos e 11 meses, as quais foram submetidas à avaliação otorrinolaringológica, para definição dos grupos respiradores nasais e bucais e entrevista fonoaudiológica. Os pais das crianças foram questionados em relação à forma (natural e/ou artificial), e ao período de aleitamento, além da presença de hábitos bucais deletérios (sucção e mordida). Os resultados mostraram que o período de aleitamento materno foram maiores nos respiradores nasais concentrando-se no período de 3 a 6

9 meses de idade. A presença de hábitos bucais deletérios ocorreu de maneira marcante nos respiradores bucais evidenciando hábitos de sucção e hábitos de mordida. Os autores concluíram que as crianças respiradoras bucais apresentaram um menor período de aleitamento materno e um histórico de hábitos bucais presentes comparadas às crianças respiradoras nasais. Destacaram que a amamentação promove vários benefícios na criança, entre eles o favorecimento da respiração nasal. Geralmente os hábitos bucais nocivos instalam-se com maior frequência em quem não obteve amamentação natural, para tentar suprir o impulso da sucção, pois ela satisfaz, além da necessidade de alimento, importantes necessidades psicológicas. O dano causado ao sistema estomatognático pelo hábito depende das variáveis: frequência, intensidade e duração do hábito (Tríade de Graber). Todo hábito que perdurar após os três anos ou tiver alta frequência, será mais deletério e capaz de causar oclusopatias graves (ROCHA et al., 2008). A importância do incentivo ao aleitamento natural De acordo com Monte Alto et al. (2008) existe fundamental necessidade da interação médico-odontológica no sentido de promover e implantar medidas que apóiam a amamentação materna correta como meio de alimentação para os lactentes, evitando o uso indiscriminado da mamadeira, já que seu uso indiscriminado pode trazer consequências negativas por não estimular o exercício muscular adequado, que seria um dos fatores responsáveis pelo crescimento da face. Também, os fatores etiológicos dos hábitos de sucção não nutritivos e as suas consequências para a oclusão dentária são comentados. Diante disto, destaca-se a importância da amamentação natural, abordada sob âmbito multiprofissional.

10 O cirurgião dentista como profissional da área de saúde está incluído neste contexto e deve ser capaz de orientar a gestante e as recém-mães visto a forte relação que existe entre amamentação natural e o desenvolvimento do sistema estomatognático. Deve-se, portanto justificar a necessidade do aleitamento do bebê ao seio, visto que uma amamentação insuficiente tem forte correlação com a presença de hábitos bucais nocivos, constituindo-se num dos principais fatores etiológicos das maloclusões dentárias (ANTUNES et al., 2008). A Odontologia atualmente tem enfatizado a atenção primária de saúde, desde a vida intra-uterina até a erupção dos dentes, podendo o profissional agir precocemente e assim alcançar melhores resultados em maior alcance e efetividade, pois os indivíduos absorvem melhor o conhecimento; evitando assim, danos ao sistema estomatognático e prevenindo oclusopatias. Considerando a importância do aleitamento materno na nutrição, diminuição da mortalidade infantil, melhoria dos aspectos psicológicos da criança e benefícios para a saúde bucal dos bebês, é extremamente importante ações educativo-preventivas com as gestantes incentivadas pelos profissionais de saúde, principalmente o cirurgião-dentista, qualificando assim a saúde bucal da gestante, bem como a saúde bucal de seu bebê (ROCHA et al., 2008). DISCUSSÃO A importância da amamentação natural é praticamente um consenso entre ao autores pesquisados pois a sucção nutritiva natural promove o crescimento e desenvolvimento adequado do Sistema Estomatognático do bebê (MEDEIROS e RODRIGUES, 2001; NEIVA et al., 2003; TOLLARA et al., 2005; ANTUNES et al., 2008; BRIZOLA et al. 2008) e, também trás benefícios imunológicos e nutricionais, além de reforçar o vínculo entre mãe e filho (RODRIGUES et al., 1995; OMS, 2001; GIUGLIANI, 2000; FRANÇA, 2006; BRIZOLA et al., 2008).

11 O tempo de amamentação natural tem uma influência sobre a aquisição de hábitos deletérios pois, com o desmame precoce, a criança não supre suas necessidades de sucção e acaba adquirindo hábitos de sucção não nutritiva (NEIVA et al., 2003), e assim corroboram Ferreira & Toledo (1997) pois nestes estudos os autores constataram que crianças amamentadas no seio materno por 6 meses ou mais não apresentavam hábitos deletérios ou menor frequência destes hábitos (SERRA NEGRA et al., 1997; ROBLES et al., 1999). Quanto a presença de hábitos deletérios e o desenvolvimento de maloclusões pode-se dizer que a presença destes hábitos pode comprometer o equilíbrio da neuromusculatura orofacial, o crescimento craniofacial e propiciar alterações oclusais dependendo do período, da intensidade e da frequência do hábito (TRAWITZKI et al., 2005). Neste sentido, Sousa et al. (1997) concluíram que a presença dos hábitos estudados (chupeta, onicofagia, sucção digital e morder objetos) está associada à ocorrência da maloclusão. O que está de acordo com os resultados dos estudos de Barbosa & Schnonberger (1996), onde os mesmos encontraram um número elevado de crianças que apresentou algum tipo de maloclusão ou presença de hábito parafuncional oral. Fato sustentado por Pierotti (2001), que encontrou um resultado significante entre a associação de maus hábitos com maloclusões, sendo mais frequentes as mordidas cruzadas posterior e a aberta anterior. Nota-se a também que existe uma preocupação entre os autores em resaltar a importância da interação médico-odontológica no sentido de promover, apoiar e incentivar a amamentação natural por meio de ações educativas-preventivas com as gestantes, qualificando assim a saúde bucal das mesmas e de seus bebês (MONTE ALTO et al., 2008; ANTUNES et al., 2008).

12 CONCLUSÕES Após a revisão da literatura concluiu-se que: A amamentação natural nos 6 primeiros meses de vida do bebê é importante para o bom desenvolvimento do sistema estomatognático prevenindo assim a instalação de hábitos deletérios. Sendo o cirurgião-dentista um profissional da saúde ligado ao processo de desenvolvimento da face é de fundamental importância que o mesmo tenha este conhecimento e exerça seu papel dentro de uma equipe multidisciplinar. ABSTRACT This study aims to review the literature on the importance of the benefits of breastfeeding in the development of the stomatognathic system of the baby, which concluded that an action to be promoting oral health, breastfeeding in the first 6 months of life baby is important for the proper development of the stomatognathic system and thereby prevents the installation of harmful habits and should be aware of health professionals and encouraged by a multidisciplinary team. Keywords: Breast natural. Prevention. Harmful habits. Stomatognathic system. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, L. S. et al. Amamentação natural como fonte de prevenção em saúde. Ciênc. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 103-109, nov. 2008.

13 BARBOSA, T. C.; SCHNONBERGER, M. B. Importância do aleitamento materno no desenvolvimento da motricidade oral. In: MARCHESAN, I.Q.; ZORZI, J. L.; GOMES, I. C. D. (eds.) Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1996. BRIZOLAN, C. S. et al. Amamentação natural: uma prevenção dos distúrbios do sistema estomatognático, Rio Grande do Sul: UFPel, 2008. Disponível em: <http://www.via-rs.net/pessoais/ivo-poa/artigos/amament.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2009. FERREIRA M. I. D. T.; TOLEDO, A. O. Relação entre tempo de aleitamento materno e hábitos bucais. Revista ABO Nacional, v. 5, p. 317-20, 1997. FRANÇA, L. D. As condições do aleitamento materno em presídios femininos: aspectos jurídicos. Revista Jurídica, Ano II, n. 2, 2006. Disponível em: <http://www.novafapi.com.br/revistajuridica/ano_ii/laureni.php>. Acesso em 15 jun. 2009. GIUGLIANI, E. R. J. O aleitamento materno na prática clínica. J Pediatr, Rio de Janeiro, v.76, n.3, p.238-52, 2000. MEDEIROS, E. B.; RODRIGUES, M. J. A importância da amamentação natural para o desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê. Rev. Cons. Reg. Odontol. Pernambuco, v. 4, n. 2, p. 79-83, jul./dez. 2001. MONTE ALTO, L. A. et al. Aleitamento materno no crescimento e desenvolvimento de recém-nato. Artigo original, 2008. Disponível em: <http://www.tatianavieira.odo.br/recen_nato.htm> Acesso em: 4 set. 2009. NEIVA, F. C. B. et al. Desmame precoce: implicações para o desenvolvimento motororal. J Pediatr, v. 79, n. 1, p. 7-12, 2003. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS. Evidências científicas dos dez passos para o sucesso no aleitamento materno. Brasília (DF): A Organização; 2001. PEREIRA, A. Amamentação na primeira hora de vida salva um milhão de bebês: semana mundial do aleitamento materno, 2007. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/dspace> Acesso em: 4 set. 2009.

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CEP: 45960 000 Tel.: (73) 3296 1073 E-mail: gervaniagigante@yahoo.com.br 15