DISCURSO PROFERIDO POR OCASIÃO DA CERIMÔNIA DE POSSE DO DESEMBARGADOR ROQUE MIGUEL FANK NA PRESIDÊNCIA DO TRE-RS Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 29 de maio de 2005. Sabidamente, os rios nascem nas montanhas e altiplanos. Suas puras vertentes, a partir daí, juntam-se a outras, por vezes formando lagos e lagoas, por vezes juntando-se a outros rios, mas, sempre, correndo, correndo e correndo em direção ao tenebroso mar. No entanto, dizem os velhos marinheiros, pouco antes de entrar no oceano, os rios param, com medo de serem engolidos. A metáfora tem aplicação ao gestor pelo desafio que representa cada administração. É inegável o medo de ser engolido pelas engrenagens que compõem sua burocracia. No entanto, logo percebi que não se tratava do rio ser engolido pelo mar, mas de contribuir em sua formação. Ante a inexorabilidade de seu caminho, as águas interiores oferecem sua contribuição, integram-se, mormente quando o propósito é a clareza de atuação e o compartilhamento. Recordei Caetano Veloso, em Força Estranha, quando diz: [...] eu pus os pés no riacho e acho que nunca os tirei [...] Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos. Estive no fundo de cada vontade encoberta. E a coisa mais certa de todas as coisas (Não) vale um caminho sob o sol. É o sol sobre a estrada. É o sol sobre a estrada, é o sol. Por isso a força me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Desde o primeiro momento, esteve presente, de forma objetiva, a missão da Justiça Eleitoral, de facilitadora das eleições no Estado do Rio Grande do Sul, para a garantia do princípio da efetiva representação popular. Para tanto, busquei o envolvimento de todos, descentralizando decisões administrativas e procurando a atualização conceitual em todos os 1
campos de atuação. Encaminhou-se uma gestão de conhecimento em que as deliberações ficassem claras e com total transparência, perenizando a credibilidade e a confiança pelas quais lutamos. Por evidente, passado 1 (um) ano, embora o curto espaço de tempo, a caminhada foi longa e complexa. A preocupação imediata consistia no pleito municipal de outubro de 2004, cuja tradição de tranqüilidade no Estado do Rio Grande do Sul, não poderia ser rompida. Como tínhamos realizado expressivo número de revisões eleitorais, começamos com o planejamento de 3 (três) encontros com todos os Juízes Eleitorais e Chefes das respectivas Zonas, a última com a presença do eminente Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, então Presidente do colendo TSE; com debates com todas as empresas de comunicação social; com seminários com a AGERT e ANJ, sempre buscando o esclarecimento da opinião pública, sem perder o foco dos destinatários, contribuindo decisivamente para a elucidação dos possíveis pontos controvertidos, contando sempre com a ativa participação da ilustrada Procuradoria Regional Eleitoral. Em convênio com a Assembléia Legislativa, foi veiculado no trimestre anterior ao pleito municipal, o programa PLENÁRIO TRE, pela TV Assembléia, canal 16 da NET. Da mesma forma, integramo-nos permanentemente com associações municipalistas Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul - FAMURS, Associação Gaúcha de Municípios AGM, Delegações de Prefeituras Municipais DPM e UVERGS União dos Vereadores do Estado do Rio Grande do Sul. Campanhas preparatórias foram realizadas. Ao contrário de utilizar convocações, foi buscado voluntariado para os serviços eleitorais através de campanhas como MESÁRIO CIDADÃO, para a qual tivemos como parceira a colenda Assembléia Legislativa, sempre com resultados positivos. Contamos também com a inestimável colaboração de amigos da Casa como o escritor Luiz Antônio Assis Brasil, Dna. Eva Sopher, do atleta Cláudio Taffarel e da saudosa mesária voluntária Zilah Milano. Igualmente campanhas foram desenvolvidas para a qualificação dos eleitores entre 16 e menos de 18 anos, com voto facultativo. Em convênio com o egrégio Tribunal de Justiça, com o Juizado da Infância e Juventude da Capital, Secretarias Estadual (Titularidade do Dep. José Fortunatti) e Municipais de Educação e com a AJURIS foi possível desenvolver o Projeto Eleitor do Futuro, que se 2
desenrolou em 2 (dois) planos, com a qualificação eleitoral dos adolescentes cumprindo medidas sócio-educativas em meio fechado e com eleições parametrizadas em educandários que voluntariamente aderiram, desenvolvendo programas sugeridos por técnicos do Juizado. Igualmente, auxiliamos concretizar um programa vencedor desenvolvido pelo então Presidente da colenda Assembléia Legislativa, Deputado Estadual Vieira da Cunha, denominado Parlamento Juvenil. Em 2 (duas) oportunidades participamos de debates na ONG Instituto de Acesso à Justiça IAJ, acerca do Voto do Preso, a última no decurso do Forum Social Mundial. Na preparação da disputa eleitoral, pelo menos 2 (dois) encontros nacionais foram realizados nesta Capital: Secretários de Informática e dos Secretários de Administração e Orçamento & Finanças dos TRE s. Tenho sempre afirmado que a implantação exitosa do voto eletrônico no Brasil foi também resultado da adequação de equipamentos e desenvolvimento de sistemas informatizados, a que igualmente se soma o cadastro eletrônico nacional o mais atualizado possível e em perfeito funcionamento. Mas, para que se tenha a real dimensão de tais sistemas informatizados, com efetividade e em perfeito uso em toda a extensão territorial do Estado, de forma articulada ou isolada, convém enumerá-los, sob pena de simplificação equivocada e para que se tenha uma visão de sua extensão e complexidade. Dentre eles. a) Sistemas de seção de voto informatizado (SVI) - montador de dados (MODA) - sistema para validação dos arquivos recebidos do sistema de preparação e cadastro eleitoral para encaminhar para o Gerador de Mídias; - gerador de mídias (GM) - sistema de controle de correspondência (SISCC) - sistema de consulta ao cadastro nacional de eleitores off line (CADOFF) b) Softwares de urna autoteste - ajuste de data e hora (ADH) - gerenciador de aplicativos (GAP) - mesa receptora de justificativa (MRJ) - sistema recuperador de correspondência (RECO) - recuperador de dados (RED) 3
- sistema de Impressão de Boletim de Voto Digital (SISVD) - sistema de carga de urna eletrônica (SCUE) - sistema de teste exaustivo (STE) - sistema visualizador de LOG (VLOG) - sistema validador de foto (VVFotos) c) Eleição - sistema de voto oficial (VOT) - sistema de voto cantado (SVC) d) Sistema de processamento de eleições (SPE) CAND HORARIO ELEITORAL OUTDOORS SISTEMA DE RECUPERAÇÃO DO BOLETIM DE URNA (recbu) SISTEMA DE APOIO À VOTAÇÃO PARALELA (SAVP) TRANSPORTADOR e) Sistemas internos sistema de acompanhamento DP (SADP) f) assinatura eletrônica dos títulos. O domínio de tais programas permitiu atuação do TRE/RS em eleições na Argentina Província de Buenos Aires e no Equador Guaiaquil, a realização de 48 outras eleições para Conselhos Tutelares, Subprefeituras e outras. A Secretaria de Informática ainda concretizou um sistema para os procedimentos de suspensão dos direitos políticos. Lançou uma nova página interna INTRANET, com novas funcionalidades, para a rede de usuários do TRE/RS e Zonas Eleitorais. Desenvolveu o programa CRONO para planejamento e acompanhamento das atividades das Zonas e do TRE/RS, instalando mais 30 linhas dedicadas, assim como implantou o Sistema Geral de Recursos Humanos SGRH, do TSE, destacando-se o módulo local de freqüência. Na área administrativa, foi celebrado contrato de parceria com a ECT caracterizado pelo ineditismo e pela atualização da parceira na prestação de serviços externos. Da mesma forma, foi firmado termo de cooperação técnica entre os TRE s. da região Sul do 4
Brasil PR, SC e RS, simplificando as licitações comuns. Na administração de pessoal, houve adesão à gestão de qualidade no serviço público, percebendo-se frutos nas iniciativas e nas mudanças introduzidas. Foi possível realizar 252 nomeações entre técnicos e analistas judiciários na implementação dos cargos de 1º grau, antiga aspiração da Justiça Eleitoral, dos quais 161 já tomaram posse e prepara-se a próxima posse de mais 60 funcionários. Foi possível aprimorar o treinamento dos novos servidores já nos padrões de qualidade. As modificações de Chefias e assessoramento buscaram sempre o aperfeiçoamento do serviço. Na Secretaria Judiciária, o esforço de seus abnegados servidores permitiu que as longas pautas fossem cumpridas com alegria e satisfação em todas as coordenadorias que a compõem, introduzindo-se na Coordenadoria de Documentação e Informação a padronização técnica das publicações, consolidando-se em rede (intranet) a jurisprudência da Corte, acessível, pois, em todas as zonas eleitorais. Através de iniciativa conjunta e com representação de diversos órgãos de nossa estrutura, destaco o CENTRO DE MEMÓRIA DA JUSTIÇA ELEITORAL DO RS, em busca da preservação de nosso acervo decorrente de 60 anos de existência da JE e 30 anos do prédio, com exposição sobre a epopéia da construção 30 anos do Edifício Sede, com fotos, textos, documentos históricos e emocionante testemunho de um de seus baluartes, registrando o comparecimento de vários de seus idealistas, vindo a lume em 8 de junho próximo, o livro 60 ANOS DE JUSTIÇA ELEITORAL NO RS. Na área da gestão orçamentária buscou-se uma estratégia de planejamento e adoção de concepção sistêmica, buscando uma sintonia com os demais órgãos da Justiça Eleitoral, padronização e integração de procedimentos e com, em tempos bicudos, a meu juízo, considerável recuperação de ativos dos servidores. No âmbito de obras físicas, foi possível recuperar a arquitetura externa deste prédio. Com a colaboração dos servidores locais, foi criada a central de atendimento de eleitores de Canoas, inaugurada no dia 11 do corrente mês de maio. Foi firmado convênio com a PM de Santa Maria para viabilizar melhores instalações das zonas eleitorais sediadas naquele Município. Fica, entretanto, uma pequena frustração. A obra de complementação do chamado anexo superou a maldição do estaqueamento, já tendo saído do chão, estando sua estrutura quase ao término, esperando que possa ser concluída ainda na gestão de V.Exª., Des. 5
Roque. Sabidamente, por sua natureza, as eleições municipais podem ganhar a dimensão das disputas pessoais, particulares e territoriais, tornando-as por vezes ásperas. A última não fugiu a regra, ficando, entretanto, como singularidade o expressivo número de feitos em andamento, judicializando-se, pois, os conflitos, cumprindo aos Magistrados, à Corte e ao colendo TSE suas resoluções. Sem dúvida, houve a profunda dedicação dos Magistrados eleitorais e servidores em suas respectivas Zonas. Este TRE/RS protagonizou novas, disputadas e paradigmáticas eleições em Novo Hamburgo, onde igualmente foi realizada a apuração, contando-se com a solidariedade e apoio da Comunidade e da integralidade de seus integrantes que para lá se deslocaram. É hora de agradecimentos. A começar pelos eminentes Ministros Sepúlveda Pertence e Carlos Mário da Silva Velloso, ex e atual Presidente do colendo TSE, pela consideração e confiança. Ao não menos emin. MIN. LUIZ CARLOS LOPES MADEIRA, cujo gabinete foi sempre a embaixada do TRE/RS e porto seguro de nossas postulações. A peça de metal aposta à parede dos fundos deste Plenário, aparentemente disforme, mas que se conjuga, representa a forma escabinada de composição do TRE/RS, em que cada um de seus integrantes oferece sua experiência para a melhor adequação dos julgamentos. Poderia mencionar dados significativos colhidos de cada um, todavia, prefiro destacar todos aqueles com os quais tive a satisfação de atuar, a partir da composição atual: Desembargador Roque Miguel Fank, Desembargador Federal Nylson Paim de Abreu, Dr. Luiz Carlos Echeverria Piva, Dra. Lizete Andreis Sebben, Dr. Almir Porto da Rocha Filho e Maria José Schmitt Sant Anna. Também dos Desembargadores Alfredo Guilherme Englert, de quem recebi a presidência, Araken de Assis, Vasco Della Giustina, Danúbio Edon Franco, Antônio Janyr Gall Agnol Jr., Dálvio Leite Dias Teixeira, Desª. Isabel de Borba Lucas, Desembargadores Federais Manoel Lauro Volkmer de Castilhos, Desembargador Federal Vilson Darós, Dra. Mylene Maria Michel, Dr. Tasso Caubi Soares Delabary, Dra. Judith dos Santos Mottecy, Dr. Paulo Sérgio Scarparo e Dra. Lúcia Liebling Kopittke. Tive, sempre, a contribuição firme e sobranceira do Ministério Público Federal. Inicialmente com o Dr. Francisco de Assis Vieira Sanseverino, todavia, em sua maior parte, com o insigne Dr. João Heliofar de Jesus Villar, Procurador Regional Eleitoral, cuja humanidade e conhecimento sempre nortearam seus pronunciamentos e resultaram acatados. Cumpre igualmente agradecer a presteza e 6
proficiência da Procuradora Regional Eleitoral Substituta, Dra. Márcia Neves Pinto, e o Procurador de Justiça Dr. Gilmar Maronesi, da Coordenadoria Eleitoral de 1º Grau, pelo diálogo construtivo e franco. Estendo o agradecimento aos advogados militantes, que diuturnamente freqüentam a Casa, ajudando com sua independência e militância à construção da democracia. Uma palavra igualmente aos Prefeitos Municipais e ao digno Governador do Estado, cuja colaboração foi indispensável para o exercício das atividades eleitorais. Ainda dispomos de muitos funcionários cedidos. Realizamos igualmente parceria em vários projetos institucionais com a colenda Assembléia Legislativa, particularmente com o ex-presidente Dep. Vieira da Cunha, cujo alto espírito público permitiu as campanhas MESARIO CIDADÃO e PARLAMENTO TRE, através da TV Assembléia, contando igualmente com sua participação no treinamento dos novos servidores. O Tribunal de Justiça que colaborou no projeto ELEITOR DO FUTURO. Da mesma forma, agradeço publicamente aos jornalistas e comunicadores, como já o fiz pessoalmente aos dignos Presidentes da ARI e da AGERT, pela correção das informações, contribuindo permanentemente para o esclarecimento da opinião pública. Sempre destaquei a sinergia encontrada no corpo funcional da CASA. Há uma força estranha no ar. Há um inestimável esforço do corpo funcional na concretização de suas funções e um envolvimento com o resultado final. Agradeço-lhes a dedicação, o respeito e a compreensão na pessoa do Senhor Diretor-Geral, Dr. Antônio Augusto Portinho da Cunha. Também está prestes a deixar a Corte, onde intensamente colaborou com sua experiência e ponderação, o lagoense e emin. Des. Federal Nylson Paim de Abreu. Vamos cedê-lo para a presidência do egr. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, formulando votos que seja tão feliz quanto foi em sua passagem pela Administração, preparado que está para as grandes mudanças que se avizinham em decorrência da almejada Reforma do Judiciário. Mas, perdendo um lagoense, outro passará a integrá-la: o emin. Des. Leo Lima. Membro de família com expressiva e respeitável vinculação com a Justiça Estadual, a começar por seu dileto pai, tio Nica, pessoa que honrou os quadros da Justiça Estadual, além dos demais 12 (doze) irmãos, de forma que é com muita satisfação que recebemos sua eleição e sua integração à Justiça Eleitoral. 7
Ainda que não tivesse concretizado o idealizado, procurei fazer o possível, contando, repiso, com a colaboração de todos. Novas tarefas avizinham-se, como o referendo, o recadastramento e a reforma política, com inevitável repercussão no âmbito eleitoral. Mas, meu tempo, democraticamente findou. O futuro próximo da colenda Justiça Eleitoral no Estado do RGS pertence ao emin. Des. Roque Miguel Fank. Homem sereno, dedicado, preocupado e compreensivo, que, com renovada esperança, tenho certeza, dar-lhe-á a melhor solução. Na saudação recebida no momento de minha chegada foi mencionada uma passagem em que me encontrava embarcado, daí a lembrança de Adair Philippsen, em Partida : Sem rumo, sem remo (e farto), no barco embarco e parto ao porto deserto, decerto tão perto. A V.Exª., Des. Roque, e aos que lhe estão perto, que Deus os ilumine. MUITO OBRIGADO! 8