A CONFECÇÃO DE LIVROS INFANTIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS Edimarcia Virissimo da Rosa - FAMPER 1 Resumo: O presente trabalho tem como finalidade apresentar a confecção de livros infantis étnicoraciais desenvolvida no segundo semestre do ano de 2016, na Faculdade de Ampére FAMPER, situada no município de Ampére/PR, realizada pelo curso de Licenciatura em Pedagogia, na disciplina de Educação das Relações Étnico-Raciais, orientada pela professora Especialista Rita de Cássia Lima, com o objetivo de pensar práticas pedagógicas que possibilitem aos alunos uma melhor compreensão da história Afro-Brasileira, e valorizem as culturas étnico-raciais. Para a confecção dos livros, foram utilizados materiais dos mais diversos, desde tecidos, até papel cartão. O objetivo era permitir que os acadêmicos e acadêmicas aproximassem do cotidiano das crianças, no Sudoeste do Paraná, as histórias de homens e mulheres reais de origem afro ou indígena. Sabemos da importância de levar para dentro das salas de aula metodologias diferentes, com o intuito de reeducar valores, gestos e posturas, tornando a produção científica de conhecimentos algo significativo, repercutindo também na sociedade como um todo. Sendo assim, é importante para o professor a busca de materiais didáticos como recursos, sabendo que a data de 20 de novembro ficou marcada, e obrigatoriamente deve ser trabalhada na escola, sem a visão fechada que muitos livros trazem, de que a consciência negra é apenas associada ao escravismo, mas, fazendo relações com todas as contribuições trazidas pelos africanos, e que tornaram o Brasil um país pluricultural, enriquecido de misturas e belezas, tanto de costumes, quanto de cores. Palavras-chave: Educação. Livros infantis. Étnico-Raciais. INTRODUÇÃO O presente texto descreverá o resultado do trabalho realizado na disciplina de Estudos das Relações Étnicos Raciais, que compete ao desenvolvimento de práticas pedagógicas a fim de levar a 1 Acadêmica da Faculdade de Ampére FAMPER. Email: edimarciavirissimo@hotmail.com
história da cultura Afro-Brasileira para dentro do espaço escolar, com seu principal objetivo de aproximar as histórias reais, de pessoas negras e índias do cotidiano da escola, destacando a importância de tornar concreta a valorização desses povos. Destacou-se brevemente sobre a Lei N 10.639, de 9 de janeiro de 2003, a qual instituiu o ensino obrigatório da História da Cultura Afro-Brasileira, e como foi explorado a confecção de livros de histórias infantis na Faculdade de Ampére FAMPER, durante a atual disciplina, com algumas reflexões sobre a produção e o uso desses recursos, bem como, considerações finais relevantes, a fim de expor ao leitor um complemento significativo do tema. DESENVOLVIMENTO O Brasil passou uma história de exclusão e violência, principalmente quando se trata dos Afro-Brasileiros e Africanos, expostos a uma grande vulnerabilidade social, ocasionada pela escravidão, e marcada pela ideologia do branqueamento, sendo então dominados por estes. Desse modo, as desigualdades, ainda existentes, são seculares, vindo a afetar a sociedade como um todo, direta ou indiretamente, nas suas posturas preconceituosas, racistas e discriminatórias, ainda utilizadas por meio de verbalizações pejorativas às coisas, ou até mesmo às pessoas, podendo citar um exemplo do ditado popular de que todo negro é bandido. Por conseguinte, há algum tempo o governo federal vem criando políticas afirmativas a fim de corrigir injustiças e acabar ou diminuir toda e qualquer forma de discriminação, com o intuito de valorizar mais a riqueza da diversidade étnico-racial e cultural presente no país. Contudo, os desafios especialmente da educação estão cada vez maiores, cabendo à escola um papel importantíssimo de construção de identidades, valorização a produção de conhecimentos e posturas de inclusão social, por meio de estratégias pedagógicas a fim de reeducar as relações étnico-raciais. Pensando nisso, a Lei n 9.394, de 20 de novembro de 1996, modificada pela Lei n 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, pois é na escola que a construção da identidade acontece, devendo ocorrer a:
Introdução, nos cursos de formação de professores e de outros profissionais da educação, de análises das relações sociais e raciais no Brasil; de conceitos e de suas bases histórias, tais como racismo, discriminações, intolerância, preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multiculturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na perspectiva da reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e aprendizagem da História e Cultura dos Afro-brasileiros e dos Africanos. (BRASIL, 2005, p. 23). Sendo assim, articular educação e identidade negra é uma tarefa difícil, pois exige mudança social e, contudo, confronto de pensamentos e ideias, que geram uma interação crítica. Em suma, a valorização e o reconhecimento do Brasil como um país multiétnico e pluricultural, possibilita o enriquecimento das relações e a superação do etnocentrismo europeu, e: [...] a identidade, para se constituir como realidade, pressupõe uma interação. A idéia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu eu, é intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros, em decorrência de sua ação. Nenhuma identidade é construída no isolamento. Ao contrário, é negociada durante toda a vida, por meio do diálogo, parcialmente exterior, parcialmente interior, com os outros. Tanto a identidade pessoal quanto a identidade socialmente derivada são formadas em diálogo aberto e dependem, de maneira vital, das relações dialógicas estabelecidas com os outros. (ADESKY (2001) apud GOMES, 2002, p. 39). Nesta mesma perspectiva, a escola (e não apenas, mas a sociedade em geral) desenvolverá um papel fundamental nessa dinâmica, pois é nela que perpassam todos os tipos de pessoas com culturas diferentes e discriminações já internalizadas, cumprindo o grande desafio de reeducar posturas e valores. METODOLOGIA Com base na Lei supracitada 10.639/03,o curso de Pedagogia da Faculdade de Ampére FAMPER, localizada no município de Ampére/PR, instituiu em 2012 a disciplina de Educação das Relações Étnico-Raciais, e no segundo semestre do ano de 2015, desenvolveu atividades práticas com relação à confecção de livros e histórias infantis baseados nas culturas afro-brasileiras, indígenas ou africanas, organizado pela professora Especialista Rita de Cássia Lima. Essa atividade contribuiu para que as acadêmicas e os acadêmicos pudessem refletir sobre a produção de materiais didáticos, como recurso para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental Anos Iniciais, visto que a demanda de obras visando combater o racismo e a discriminação do povo
africano ainda é muito pequena nas instituições de ensino, e as obras encontradas nas bibliotecas municipais e escolares ficam muitas vezes escondidas, ou passam despercebidas. Dessa forma, precisamos de: Edição de livros e materiais didáticos, para diferentes níveis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto neste perecer, em cumprimento ao disposto no Art. 26ª da LDB, e, para tanto, abordem a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afro-descendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE). (BRASIL, 2005, p. 25). Acrescenta-se também, a necessidade de livros inclusive para a formação de professores, a fim de evitar que a história do Brasil seja contada apenas sob o ponto de vista da ideologia da branquitude, ou sob o sofrimento do negro, mas dando muita ênfase nas contribuições trazidas por estes, [...] Daí a necessidade de se insistir e investir para que os professores, além de sólida formação na área específica de atuação, recebam formação que os capacite não só a compreender a importância das questões relacionadas à diversidade étnico-raciais, mas a lidar positivamente com elas e, sobretudo criar estratégias pedagógicas que possam auxiliar a reeducá-las. (BRASIL, 2005, p 17). Essas estratégias pedagógicas envolvem não apenas o uso de materiais já confeccionados e prontos, mas a sua produção, do professor junto com seus alunos. São tais atitudes que levam a História e a Cultura Afro-Brasileira e Africana a se difundirem pela superação do racismo e da discriminação, uma vez que: [...] A luta pela superação do racismo e da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política. O racismo, segundo o Artigo 5 da Constituição Brasileira, é crime inafiançável e isso se aplica a todos os cidadãos e instituições, inclusive, à escola. Os livros confeccionados na respectiva disciplina de Educação das Relações Étnico-Raciais foram feitos de tecidos, e outros materiais artesanais, destinados ao final, para escolas de Ensino Fundamental Anos Iniciais. CONCLUSÃO
A confecção de materiais dentro das escolas precisa estar relacionada ao planejamento do professor, trazendo metodologias criativas que despertem o interesse do aluno. A prática realizada na turma de Licenciatura em Pedagogia, na Faculdade de Ampére FAMPER, encantou os envolvidos, pois a forma como foi conduzida, e construída, remeteu muito a reflexão sobre as prateleiras das bibliotecas escolares, e os Centros de Educação Infantil, uma vez que, a presença de livros diferentes com a abordagem desse tema (cultura Afro-Brasileira), ainda é escassa. Desnaturalizar desigualdades exige interesse principalmente político, através das medidas públicas, que muito fariam se trouxessem para o interior das instituições de ensino e formações, discussões mais aprofundadas e menos superficiais das raças, o que causariam maior interesse e criticidade para construir novas práticas pedagógicas, apesar de já termos programas e caminhos para tal, como de Cotas. E os professores são os mais importantes para essa desnaturalização, pois são formadores de cabeças pensantes, e quanto mais cedo pudermos moldar esses conhecimentos, futuramente teremos com certeza uma sociedade mais igualitária e revolucionária. REFERÊNCIAS BRASIL.Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988..Lei n. 9.394. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.. Ministério da Educação. Resolução N 1, de 17 de junho 2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília DF, out. 2005. GOMES, Nilma Lino. Educação e identidade negra. In: Aletria revista de estudos de literatura. Alteridades em questão. Belo Horizonte, POSLIT/CEL, Faculdade de Letras da UFMG, v.6, n.9, dez/2002, p.38-47.