INTERAÇÃO DE CICLONES MARÍTIMOS E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR NA COSTA: ESTUDO DE CASOS

Documentos relacionados
Figuras 3 e 4-Chuva Média e observada para o mês de fevereiro, respectivamente

ANALISE DAS ANOMALIAS DAS TEMPERATURAS NO ANO DE 2015

Estado. Observado. Estrutura strutura da Salinidade alinidade dos Oceanosceanos. Médio

Obtenção Experimental de Modelos Matemáticos Através da Reposta ao Degrau

A profundidade do oceano é de 3794 m (em média), mais de cinco vezes a altura média dos continentes.

IV Seminário de Iniciação Científica

Plano Estratégico Sectorial de Energias Renováveis

Álgebra Linear Aplicada à Compressão de Imagens. Universidade de Lisboa Instituto Superior Técnico. Mestrado em Engenharia Aeroespacial

ANEXO 6 Análise de Antropismo nas Unidades de Manejo Florestal

3 - Bacias Hidrográficas

2 Plataformas Carbonáticas

CONCEITOS DE CARTOGRAFIA ENG. CARTÓGRAFA ANNA CAROLINA CAVALHEIRO

INFLUÊNCIAS SINÓTICAS NO ATLÂNTICO SUDOESTE: LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE SITUAÇÕES DE INTERESSE.

No contexto das ações de Pesquisa e Desenvolvimento

NOVO MAPA NO BRASIL?

INSTRUÇÃO NORMATIVA IBAMA N 185, DE 22 DE JULHO DE 2008.

Corrente elétrica, potência, resistores e leis de Ohm

Mudanças nos Preços Relativos

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB Credenciada pelo Decreto Estadual N 7.344, de

Registro de Retenções Tributárias e Pagamentos

Estudo da Variação Temporal da Água Precipitável para a Região Tropical da América do Sul

Ondas EM no Espaço Livre (Vácuo)

CARTOGRAFIA. Sistemas de Coordenadas. Prof. Luiz Rotta

STV 8 SET uma polaridade de sincronismo negativa, com os pulsos de sincronismo na posição para baixo, como mostrado na figura abaixo

Exercício. Exercício

Aula 6 Corrente Alternada e Corrente Contínua

Física Experimental III

Novembro de 2012 Sumário

Estudo sobre a dependência espacial da dengue em Salvador no ano de 2002: Uma aplicação do Índice de Moran

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS METEOROLÓGICOS NAS ESTAÇÕES AUTOMÁTICAS E CONVENCIONAIS DO INMET EM BRASÍLIA DF.

Aula 4-Movimentos,Grandezas e Processos

OS FUSOS HORÁRIOS E AS ZONAS CLIMÁTICAS DO PLANETA!

Resolução Comentada Unesp

UM JOGO BINOMIAL 1. INTRODUÇÃO

Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2009 RESUMO EXECUTIVO

Aula 5. Uma partícula evolui na reta. A trajetória é uma função que dá a sua posição em função do tempo:

Introdução à Oceanografia Física. Oceanos e Sazonalidade. Circulação e Movimentos de Massas de Água. Circulação e Movimentos de Massas de Água

Ceará e o eclipse que ajudou Einstein

7. A importância do aterramento na Qualidade da Energia.

Análise do valor informacional em imagens de reportagens de capa da revista Superinteressante¹

Tipologia dos Escritórios de Projeto

CARTOGRAFIA DE RISCO

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

Tópicos Avançados em Banco de Dados Dependências sobre regime e controle de objetos em Banco de Dados. Prof. Hugo Souza

FÍSICA. A) 2 J B) 6 J C) 8 J D) 10 J E) Zero. A) 6,2x10 6 metros. B) 4,8x10 1 metros. C) 2,4x10 3 metros. D) 2,1x10 9 metros. E) 4,3x10 6 metros.

ATIVIDADE DE FÍSICA PARA AS FÉRIAS 8. o A/B PROF. A GRAZIELA

ISS Eletrônico. Formato de Arquivos para Transmissão de Documentos Declarados através do aplicativo OFFLINE. Extensão do Arquivo JUNHO2006.

1ª) Lista de Exercícios de Laboratório de Física Experimental A Prof. Paulo César de Souza

Análise espacial do prêmio médio do seguro de automóvel em Minas Gerais

INFORME ETENE. INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA NO NORDESTE 2ª Edição 1. INTRODUÇÃO

-ESTRUTURA VIÁRIA TT048 SUPERELEVAÇÃO

GEOGRAFIA - 2 o ANO MÓDULO 64 OCEANIA

Novembro de 2012 Sumário

DISTRIPUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR CLASSE MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Análise Termográfica RELATÓRIO TÉCNICO 0714


Se inicialmente, o tanque estava com 100 litros, pode-se afirmar que ao final do dia o mesmo conterá.

a) a inclinação do eixo da Terra em 23º.27 e o seu movimento de translação.

PROCEDIMENTOS PARA INCLUSÃO DE PERIÓDICOS NO PORTAL DE PERIÓDICOS FCLAR UNESP

Nº 009 Setembro/

Gerenciador de Ambiente Laboratorial - GAL Manual do Usuário Módulo Controle de Qualidade Analítico

MODELAGENS. Modelagem Estratégica

Cap. II EVENTOS MUTUAMENTE EXCLUSIVOS E EVENTOS NÃO- EXCLUSIVOS

O que esta acontecendo com a Região Metropolitana de São Paulo Análise Socioeconômica Carlos Paiva*

Teoria dos erros em medições

1-Eletricidade básica

DIRETORIA DE PESQUISA - DPE COORDENAÇÃO DE CONTAS NACIONAIS CONAC. Sistema de Contas Nacionais - Brasil Referência 2000

8 -SISTEMA DE PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR - UTM

Formulário de Controle de Frequência e Jornada de Trabalho

Parecer sobre Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental, Social e de Saúde no Bloco 6, São Tomé e Príncipe

22 - Como se diagnostica um câncer? nódulos Nódulos: Endoscopia digestiva alta e colonoscopia

Modelo Entidade Relacionamento (MER) Professor : Esp. Hiarly Alves

#PESQUISA CONEXÃO ABAP/RS E O MERCADO PUBLICITÁRIO GAÚCHO NOVEMBRO DE 2015

0.1 Introdução Conceitos básicos

ESTRUTURA DO CURSO 08:00-10:00 RTQ-R

Comandos de Eletropneumática Exercícios Comentados para Elaboração, Montagem e Ensaios

F.17 Cobertura de redes de abastecimento de água

UTILIZAÇÃO DE SENSORES CAPACITIVOS PARA MEDIR UMIDADE DO SOLO.

ESTUDO PRELIMINAR DA RESSURGÊNCIA NA REGIÃO DE CABO FRIO

André Urani

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11. Profº André Tomasini

Indicadores Sociais Municipais Uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010

GTMMI, Lda. Condições Gerais de Venda

Gripe H1N1, o que os Pais precisam saber!

Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências da Terra

Unidade 1: O Computador

Universidade Federal de Pernambuco

Boletim Climatológico Mensal Março de 2014

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA. Redes de Telecomunicações (2006/2007)

Brazilian Depositary Receipt BDR Nível I Não Patrocinado

AVALIAÇÃO DE UM TANQUE DE DECANTAÇÃO DE SÓLIDOS UTILIZANDO FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

REQUERIMENTO. (Do Sr. Vittorio Medioli) Senhor Presidente:

Semiologia Cardiivascular. Pulso Jugular Venoso. por Cássio Martins

2 Workshop processamento de artigos em serviços de saúde Recolhimento de artigos esterilizados: é possível evitar?

INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA DO CADE. 9 a 13 de maio de Diário Oficial da União de

REGULAMENTO DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SISTEMAS PARA INTERNET

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO ACESSIBILIDADE CULTURAL: ARTICULAÇÕES E REFLEXÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Edital

Boletim de Conjuntura Imobiliária. Clipping. Especulação leva à queda de preço nos lançamentos de imóveis em Brasília

Fundamentos de Teste de Software

Geografia. Aula 02. Projeções Cartográficas A arte na construção de mapas. 2. Projeções cartográficas

Transcrição:

INTERAÇÃO DE CICLONES MARÍTIMOS E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR NA COSTA: ESTUDO DE CASOS Ana Luiza Matos Xavier E-mail: sucamx@hotmail.com Jaci Maria Bilhalva Saraiva Laboratório de Meteorologia FURG Av. Itália, km 8 Campus Carreiros Rio Grande RS CEP 9621-9 E-mail: dgejaci@super.furg.br ABSTRACT The local effect of the pressure and the wind cause the storm surges that are associated with high-energy waves, surf at the coast and damages to the navigation. In the RS coast, the southwestern winds produce the raising of the mean sea level and are originated by a cyclone on the ocean, an anticyclone on the continent or by the interaction of both, which forms a fetch. The northeaster winds, predominant in this coast, promote negative storm surges; they are intensified by an anticyclone on the ocean or by the interaction of it with a cyclone on the continent. INTRODUÇÃO Além da circulação dos oceanos, existem outros tipos de movimentos do mar mais comuns, que são os movimentos periódicos, chamados ondas e marés. As ondas são produzidas pela ação dos ventos sobre as águas superficiais (Turekian, 1969). As marés, assunto do trabalho aqui apresentado, de acordo com Vieira (1969), são oscilações periódicas da superfície do mar, caracterizadas por sua universalidade e perenidade, devidas a pequenas forças periódicas de atração luni-solar. Os principais ciclos de marés, caracterizados por elevações e abaixamentos do mar, são de origem astronômica, sendo que a Lua desempenha o principal papel (Turekian, 1969). As luas cheias e novas criam marés altas e correntes mais fortes. Segundo Vieira (1942), na costa sul do Brasil verifica-se uma influência acentuada da maré diurna, mas também dos sistemas semi-diurnos do Atlântico Sul (duas marés- alta e duas marés-baixa no decurso de um dia). A costa do Rio Grande do Sul estende-se por cerca de 62km entre Torres e Chuí e é composta por praias arenosas contínuas constituindo uma grande restinga (Calliari et al.,1996, citado em Bedran, 2). Segundo Davies (198), citado em Carneiro (1999), a costa do Rio Grande do Sul é do tipo de micromarés, pois apresenta a amplitude das marés astronômicas inferior a 2m, significando que, nesta área, a costa é dominada por ondas. Apesar da maré astronômica não representar grandes influências para os processos sedimentares da região, o aumento das condições dinâmicas do mar devido a fatores meteorológicos ampliam os efeitos das micromarés na costa do estado (Calliari et al., 1997, citado em Bedran, 2). Diversas causas meteorológicas influem sobre a altura do nível médio do mar: a pressão barométrica, o vento e as cheias dos rios, contribuindo com uma proporção anormal de água doce, no caso de estuários e bacias fechadas (Vieira, 1942). A costa sudeste da América do Sul é afetada por sistemas atmosféricos de escala sinótica e subsinótica, influenciados tanto por fatores associados à circulação de grande escala quanto às circulações locais (Climanálise, 1986). A costa sul do Brasil está sob influência do Anticiclone do Atlântico Sul durante todo o ano (Bedran, 2). A costa Atlântica da parte sul da América do Sul é caracterizada por intensa influência meteorológica sobre o oceano, com freqüentes oscilações de baixa freqüência no nível médio do mar (Stech & Lorenzzetti, 1942; Camargo & Harari, 1994; Castro & Lee, 1995, citados em Camargo & Harari & Caruzzo, 1999). Villwock & Tomazelli (1985), citados em Carneiro (1999), mostram que as marés astronômicas são de pequena amplitude e secundárias em relação às variações de nível associadas à ação dos agentes meteorológicos (vento e pressão atmosférica). Verifica-se, então, a ocorrência da maré meteorológica, definida como a diferença entre a maré observada e a maré astronômica calculada para um determinado local (Pugh, 1987, citado em Caruzzo, 1999). As duas causas da maré meteorológica são as variações da pressão atmosférica e a transferência de momentum pelo vento para superfície do mar. Em geral, os efeitos derivados unicamente da ação da pressão atmosférica são da ordem de 1% do efeito total, sendo o restante devido exclusivamente à tensão de cisalhamento (atrito) do vento na superfície do oceano (Caruzzo,1999). As flutuações de baixa freqüência do nível do mar costeiro entre 3 e 15 dias estão relacionadas aos efeitos locais da pressão atmosférica e da tensão do vento. Estas oscilações na superfície oceânica se propagam até a costa e são denominadas de marés meteorológicas (Truccolo & Franco, 1998). 278

Quanto à pressão atmosférica, o efeito deste fator meteorológico na variação do nível do mar é conhecido como barômetro invertido, que consiste em um decréscimo de um centímetro no nível do mar para cada milibar aumentado na pressão atmosférica. No entanto, na prática, o efeito acima raramente ocorre como foi descrito, sendo que as prováveis causas são as respostas dinâmicas de águas rasas da plataforma continental à movimentação do campo de pressão atmosférica (Pugh, 1987, citado em Bedran, 2). O principal fator para a geração da maré meteorológica é a pista de vento, que é o tamanho da área oceânica onde efetivamente ocorre a troca de momento entre o ar e o mar (Caruzzo, 1999). No Rio Grande do Sul, os ventos reinantes de nordeste fazem baixar as águas e os ventos de sudoeste, pelo contrário, elevam-nas (Vieira, 1942). A causa disto é a inclinação da costa do Rio Grande do Sul, que é de NE/SW. A atuação destes ventos é sentida em nossa costa devido ao efeito de Coriolis, que em situações de fortes ventos de sudoeste tende a empilhar água e quando estes são de nordeste, tende a retirar água da costa (Bedran, 2). A pressão atmosférica e a tensão do vento são forçantes associadas com o mesmo mecanismo atmosférico que atua sobre a maré meteorológica: a passagem de sistemas frontais (Truccolo & Franco, 1998). Sabe-se que as marés meteorológicas estão geralmente associadas a uma elevação da energia das ondas, o que pode acarretar em um aumento na erosão costeira em pontos de foco estável de ondas. Nas situações extremas de anomalias positivas do nível médio do mar é comum ocorrer ondas de superfície com grande poder destrutivo, que podem atingir setores mais frágeis da costa, causando significativa destruição ou erosão. Este fenômeno implica também em intrusão de água do mar em locais onde isso normalmente não ocorre, causando grandes inundações (Caruzzo, 1999). A maré meteorológica de uma determinada região tem extrema significância para a população que ali reside, uma vez que afeta portos, pesca e pode causar danos a embarcações e residências próximas ao nível do mar; daí a importância de um estudo sobre estas, pois dessa forma pode-se prevenir e evitar desastres sócio-econômicos nos litorais. MATERIAIS E MÉTODOS Os casos estudados no presente trabalho ocorreram em maio de 1977, entre os dias 12 e 22 (evento positivo) e outubro de 1977, entre os dias 12 e 14 (evento negativo). O monitoramento do nível do mar foi feito através de registros horários de elevação da superfície do mar observados no Porto de Rio Grande (RS), na estação de número 637, localizada em 32 7,6'S e 5 2,6'W. Os dados foram fornecidos pela Ministério da Marinha, Diretoria de Hidrografia e Navegação, Departamento de Documentação, sendo registrados através de um marégrafo, aparelho destinado a registrar automaticamente as variações do nível médio do mar. O nível médio do mar foi obtido através da média aritmética dos valores horários do período de 1/3/1977 à 28/2/1978. Assim, obteve-se a média da série, cujo valor é 151cm. Nos gráficos apresentados neste trabalho atribui-se o valor (zero) à média calculada, podendo-se, assim, verificar variações positivas e negativas em relação à média. A seguir, aplicou-se um filtro com janela de 48 horas à série horária das alturas de maré. Este procedimento permite evidenciar as flutuações positivas e negativas em relação ao nível médio, a partir da remoção de oscilações com períodos inferiores a 2 dias, mantendo-se as variações de longo período. Em todos os procedimentos citados foi utilizado o programa Matlab. Com relação à análise das variáveis atmosféricas, se utilizou os dados meteorológicos de reanálise do Modelo Global do Centro Nacional de Previsão do Tempo (NCEP), cuja resolução espacial é de 21km, no horário das 12TMG (Tempo Médio de Greenwich). A análise dos dados atmosféricos foi realizada com o programa GRADS (Grid Analysis and Display System), através do sistema operacional UNIX. As variáveis usadas foram vetor vento à 1m (componente zonal e meridional), divergência do vento em 1mb, vorticidade relativa em 5mb. O vento analisado foi o de maior intensidade situado próximo ao litoral, uma vez que a influência deste na costa é provavelmente a mais efetiva. A vorticidade relativa, bem como a divergência do vento, foram analisadas no ciclone, quando da presença do mesmo sobre o oceano. No hemisfério Sul, quanto mais negativa a vorticidade, mais ciclônico é o movimento. Estas duas variáveis servem para que se possa analisar a intensidade do giro ciclônico, bem como os ventos associados a ele. A pista de vento foi calculada com base na relação de 1 para 11km, tanto para latitude quanto para longitude, sendo que na latitude esta é uma relação média. No caso positivo são analisados ciclones sobre o oceano e anticiclones sobre o continente e no negativo, ciclones sobre o continente e anticiclones sobre o oceano, salvo algumas exceções, que são devidamente mostradas. 2781

RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelos gráficos apresentados neste trabalho, nota-se que todas as variações de pequena escala, as quais correspondem a maré astronômica e outras possíveis interferências no nível médio do mar, são eliminadas com o filtro de 48h, podendo-se assim analisar apenas a ação da maré meteorológica, cujos períodos de duração são maiores que 2 dias. A figura 1 mostra as variações de maré do mês de maio de 1977, com a curva dos dados filtrados e não filtrados e a figura 2 representa o mesmo mês, mas somente com a curva dos dados filtrados. 22 Rio Grande - Maio 1977 - Dados filtrados e não filtrados 6 Rio Grande - Maio 1977 - Dados filtrados 2 18 4 16 2 14 12 1 8-2 6 4-4 2 65 7 75 8 85 9-6 65 7 75 8 85 9 Figura 1 Figura 2 O mês de maio de 1977 tem seu máximo de elevação em 56cm acima da média, ocorrido no dia 17. O nível do mar, para o mês em questão, mostra uma variação negativa máxima no dia 3, de -13cm. As flutuações positivas do nível médio do mar possuem um período médio de 7,7 dias, tendo a maré mais forte apresentado duração de 14 dias. Os dados atmosféricos para o mês de maio estão expressos na tabela abaixo, onde: A = dias do evento; B = componente zonal do vento à 1m (m/s); C = componente meridional do vento à 1m (m/s); D = vento máximo associado à 1m (m/s); E = localização da pista de vento; F = extensão da pista de vento (km); G = divergência do vento em 1mb (x1 5 s 1 ); H = vorticidade relativa em 5mb (x1 5 s 1 ); I = localização do ciclone; J = localização do Anticiclone. A B C D E F G H I J 12 3 W 3 S 3 SW ------- ------- -5-2 Cavado entre 5 W - 35 W 6 W - 5 W 35 S - 3 S 13 12 W 12 S 15 SW 65 W - 55 W 1555,6-2,5 no -7 no Cavado entre ------- 5 S - 4 S 55 W - 45 W 6 S - 45 S 14 12 W 1 S 17 SW 65 W - 5 W 55 S - 3 S 327-5 -7 55 W - 35 W 6 S - 45 S 55 W 2 S 15 9 W 18 S 19 SW 65 W - 5 W 327-5 -6 45 W - 25 W ------- 6 S - 35 S 6 S - 45 S 16 12 W 15 S 17 SW 65 W - 45 W 5 S - 3 S 3111,3-5 -5 4 W - 25 W 6 S - 5 S 7 W - 65 W 35 S - 3 S 17 6 W 9 S 1 SW 65 W - 6 W 55 S - 45 S 2267,7 ------- ------- ------- 65 W - 55 W 35 S - 25 S 18 14 W 1 S 11 SW 65 W - 6 W 55 S - 4 S 1739,2 ------- ------- ------- 55 W - 5 W 35 S - 25 S 19 15 W 5 S 18 SW 65 W - 6 W 55 S - 45 S 2 8 W 1 S 13 SW 55 W - 5 W 21 12 W 1 S 15 SW 65 W - 5 W 1229,8-4 no 777,8-2 no -4 no Cavado entre 65 W - 5 W 6 S - 5 S -5 no Cavado entre 5 W - 35 W 6 S - 35 S 1739,2-5 -4 3 W - 2 W 35 S - 2 S 5 W - 45 W 3 S - 2 S ------- 65 W - 6 W 22 6 W 3 S 7 SW 65 W - 45 W 55 S - 4ºS (praticamente de oeste) 275-5 no -7 no Cavado entre 5 W - 3 W 6 S - 3 S 65 W - 6 W, 4 S - 3 S; 55 W - 45 W, 3 S - 25 S 2782

Neste mês, durante o evento positivo analisado, entre os dias 12 e 22, a componente zonal do vento varia entre 3m/s e 15m/s oeste. A componente meridional do vento varia de 3m/s a 18m/s de sul. A intensidade do vento máximo associado ao evento varia de 3m/s a 19m/s de quadrante sudoeste. No dia em que ocorreu a máxima elevação do nível do mar o vento é de 1m/s sudoeste. No primeiro dia do evento de maio não há pista de vento. Nos demais dias, a pista de vento varia sua localização entre 65 W - 45 W e 6 S - 3 S. A divergência do vento na superfície de 1mb varia entre -2x1 5 e -5x1 5 s 1. A vorticidade relativa em 5mb está entre -2x1 5 e -7x1 5 s 1. No primeiro dia do evento tem-se apenas um, que após dois dias origina um ciclone, o qual persiste até um dia antes da máxima elevação do nível do mar. No dia 17, quando ocorre a máxima elevação do nível do mar, há um Anticiclone sobre o continente. No dia 22 há dois Anticiclones sobre o continente. Nota-se também que a elevação do nível do mar observada nos gráficos, entre os dias 23 e 25, representa na verdade o tempo de retorno ao nível médio, mas ainda ocorrem ventos de oeste. Os gráficos 1 e 2 representam o campo de ventos para os dias 14 e 15 respectivamente, às 12TMG. Vê-se claramente a presença de pista de vento com ventos de quadrante sudoeste. Gráfico 1 Gráfico 2 O mês de outubro de 1977 está representado nas figuras 3 e 4, sendo que a primeira mostra a curva dos dados filtrados e não filtrados e a segunda, somente a curva dos dados filtrados. Observa-se um aumento máximo do nível do mar de 1cm, no dia 9, e uma diminuição máxima de -5cm, ocorrida no dia 12. A curva deste mês apresenta-se quase inteiramente abaixo da média, com apenas uma elevação, a qual teve duração de 4 dias. 2783

22 Rio Grande - Outubro 1977 - Dados filtrados e não filtrados 6 Rio Grande - Outubro 1977 - Dados filtrados 2 18 4 16 14 2 12 1 8-2 6 4-4 2 215 22 225 23 235 24 245-6 215 22 225 23 235 24 245 Figura 3 Figura 4 A tabela a seguir apresenta os dados analisados referentes ao evento negativo do mês de outubro de 1977 analisado neste trabalho, entre os dias 12 e 14, onde: A = dias do evento; B = componente zonal do vento à 1m (m/s); C = componente meridional do vento à 1m (m/s); D = vento máximo associado à 1m (m/s); E = localização da pista de vento; F = extensão da pista de vento (km); G = divergência do vento em 1mb (x1 5 s 1 ); H = vorticidade relativa em 5mb (x1 5 s 1 ); I = localização do ciclone; J = localização do Anticiclone. A B C D E F G H I J 12 ------- 1 N ------- ------- ------- ------- ------- ------- 5 W - 4 W sobre o oceano 13 9 E 5 N 1 NE ------- ------- ------- ------- Convergência em 65 W, 38 S 14 9 E 12 N 13 NE 5 W - 45 W 35 S - 25 S 1229,8 ------- ------- Convergência em 3 S, 64 W 55 W - 4 W 45 S - 35 S sobre o oceano 4 W - 25 W 45 S - 3 S sobre o oceano No evento negativo deste mês, no primeiro dia, não ocorrem ventos de leste e no segundo e no último dia deste evento a referida componente tem intensidade de 9m/s leste. A componente meridional varia de 5m/s a 12m/s norte. O vento máximo associado é de 1m/s norte a 13m/s nordeste, que ocorre no último dia do evento, quando uma pista de vento está presente. Nota-se que durante os três dias de diminuição do nível do mar ocorre um Anticiclone sobre o oceano. É importante salientar que no primeiro dia do evento (dia 12), na costa do Rio Grande do Sul o vento era de sudoeste. Afastado da costa, em torno do litoral de Santa Catarina, inicia a formação de uma pista de vento, com ventos de componente leste e norte; o mesmo ocorre no dia 13. Observa-se que no último dia do evento forma-se uma pista de vento, ocorrendo ventos de nordeste na costa do Rio Grande do Sul. Além disso, esta maré meteorológica negativa ocorre logo após uma subida do nível do mar, como observado na figura 4, sugerindo um atraso entre os dados de marégrafo e os dados do Modelo Global. O gráfico abaixo representa o campo de ventos referente ao dia 14 do mês de outubro, às 12TMG. 2784

Segue-se uma breve discussão dos resultados, bem como uma comparação com os de outros autores. Nota-se que no caso positivo de maio de 1977 há uma pista de vento durante quase todo o período da maré meteorológica, resultando numa elevação bem significativa. Além disso, os ventos máximos associados são intensos e a presença de ciclone sobre o oceano e Anticiclone sobre o continente é freqüente neste mês. De acordo com Sinclair, citado em Carneiro (1999), a maior taxa de intensificação dos ciclones ocorre em torno de 35 S - 4 S, o que parece estar relacionado ao forte gradiente de temperatura da superfície do mar (TSM). Isto também é observado nos eventos analisados neste trabalho. Bedran e Saraiva (2) analisaram 2 eventos de marés meteorológicas (do inglês storm surges ) no período de abril de 1997 à julho de 1999 e observaram que os ventos mais intensos associados a estes eventos, junto à costa sudoeste do Atlântico Sul, variam entre 16 e 24m/s nas direções sudoeste, sul e sudeste, sendo que em 85% dos casos o vento sudoeste influenciou o fenômeno. Observaram também que a componente meridional do vento apresentou valores maiores que a zonal, antes e durante o fenômeno. Carneiro (1999) também observou que o vento predominante associado aos ciclones junto ao litoral era de quadrante sudoeste e que existiu um predomínio da componente meridional do vento junto ao ciclone. Estes resultados são similares aos do presente trabalho. Cabe ressaltar ainda que as maiores intensidades de vento ocorrem após os picos de diminuição e aumento do nível do mar, sugerindo um possível atraso no Modelo Atmosférico Global utilizado neste trabalho, o que também foi observado por Bedran (2), porém esta utilizou o Modelo Atmosférico Global Brasileiro. Em 8% dos eventos estudados por Bedran e Saraiva houve a formação de uma pista de vento devido à interação de um ciclone extratropical sobre o mar e um Anticiclone sobre o continente. Dos 15 eventos analisados por Carneiro (1999), 9 deles, ou seja, 6% formaram pista de vento (do inglês fetch ). A presença de um Anticiclone sobre o continente e ciclone sobre o mar formando pista de vento também é observada no evento positivo de maio de 1977, sendo de grande extensão e provocando uma elevação do nível do mar bem significativa. No caso de diminuição do nível do mar a pista de vento ocorre apenas no último dia de evento. Além disso, os valores de vorticidade encontrados são menos intensos quando comparados àqueles dos trabalhos de Bedran (2) e Carneiro (1999), ao quais utilizaram dados do Modelo Global Brasileiro, e não dados de reanálise. CONCLUSÃO O mês de maio de 1977 analisado neste trabalho apresenta máxima elevação de 56cm e variação negativa máxima de 13cm. No mês de outubro de 1977 o máximo aumento do nível do mar é de 1cm e a diminuição máxima é de 5cm. O maior vento associado aos eventos analisados é de 19m/s de quadrante sudoeste no caso de maré meteorológica positiva em maio de 1977 e 13m/s nordeste no evento negativo de outubro de 1977. A vorticidade relativa em 5mb mais significativa é de -7x1 5 em um no evento positivo de maio de 1977. A menor divergência em 1mb encontrada é de -5x1 5 e ocorre em um no evento positivo de maio de 1977. Comparando-se evento positivo e negativo percebe-se que o negativo é provocado por ventos de menor intensidade do que o positivo, além de formar pista de vento com menor freqüência e de menor tamanho meridional. Outro aspecto observado é que o caso positivo tem maior período. Nota-se também que o vento predominante junto ao litoral do Rio Grande do Sul com a passagem de ciclones marítimos é de quadrante sudoeste. O vento nordeste, que condiciona os eventos negativos, é considerado o principal vento que atua no estado, e pode ser intensificado por um Anticiclone no mar ou pela sua ação em conjunto com um ciclone no continente, gerando ventos que retiram água da costa, devido ao transporte de Ekman. A pista de vento ocorre com maior significância no evento positivo de maio de 1977. Dependendo da direção, intensidade, tempo de atuação e largura da pista de vento tem-se, então, diferentes efeitos na maré na costa do Rio Grande do Sul, devido a sua inclinação que é de NE/SW. Além disso, a costa do Rio Grande do Sul possui uma configuração praticamente retilínea, que lhe confere, dentro dos aspectos dinâmicos, um caráter bem aberto e exposto à ação de ondas de energia média a elevada (Tomazelli & Villwock, 1992, citado em Bedran, 2). Vê-se então que os ventos são os principais responsáveis pela dinâmica costeira, pois além de serem a causa das ondas e correntes litorâneas que modelam as zonas costeiras, também promovem o transporte eólico da areia seca da praia para as dunas e destas para as zonas mais interiores (Nimer,199, citado em Thompson, 1999). Também são eles os principais responsáveis pelas marés meteorológicas, que geram ressacas na costa e causam prejuízos à toda população. 2785

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEDRAN, C. Marés Meteorológicas no Balneário Cassino: verificação e análise de seus processos atmosféricos condicionantes, no período de janeiro a julho de 1999. Rio Grande, 2 85p. Monografia de Graduação, Fundação Universidade Federal do Rio Grande. BEDRAN, C., CARNEIRO C. T., SARAIVA, J. Monitoramento de storm surge na costa sul do Rio Grande do Sul. Trabalho submetido ao Simpósio Brasileiro sobre Praias Arenosas: Morfodinâmica, Ecologia, Usos, Riscos e Gestão, 2, Itajaí. CAMARGO, R., HARARI, J., CARUZZO, A. Basic Statistics of Storm Surges Over the South-Western Atlantic. Afro-America Gloss news, v.3, n.2, p.12-14. S. Paulo, 1999. CARNEIRO, C. T. Monitoramento de ciclones extratropicais no Oceano Atlântico Sudoeste. Rio Grande, 1999 57p. Monografia de Graduação, Fundação Universidade do Rio Grande. CARUZZO, A. Influências Sinóticas no Atlântico Sudoeste: Atualização dos Eventos Significativos e Determinação das Condições Atmosféricas Típicas. São Paulo, 1999 23p. Relatório de Iniciação Científica, Instituto Astronômico e Geofísico, Universidade de São Paulo. CLIMANÁLISE. Revista Brasileira de Meteorologia Número especial. INPE, 1986. HARARI, J., CAMARGO, R. Tides and sea mean level variabilities in Santos (SP), 1944 to 1989. São Paulo, 1995 15p. Relatório Interno do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. TRUCCOLO, E.C., FRANCO, D. Marés meteorológicas e a tensão do vento local em São Francisco do Sul, SC. In: XI SEMANA NACIONAL DE OCEANOGRAFIA, 1998, Rio Grande. Resumos expandidos. Anais... FURG, 1998. TUREKIAN, K. Oceano. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda 1969, 151 p., 17 112. VIEIRA, J. As marés; Observação, estudo e previsão no Brasil. Porto Alegre: Globo, 1942. 172 p. 2786