Luís Vaz de Camões Retrato pintado em Goa, 1581.

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Transcrição:

Luís Vaz de Camões +- 1524-1580 Retrato pintado em Goa, 1581.

Vida Provavelmente nasceu e faleceu em Lisboa Um dos maiores poetas da literatura de língua portuguesa Frequentou a corte de D. João III 1755: terremoto que destruiu metade de Lisboa consumiu com os restos mortais de Camões Seu túmulo no Mosteiro dos Jerônimos, 1880, provavelmente carrega ossos de outra pessoa Túmulo do poeta no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa.

Lírica camoniana Podemos dizer que a lírica camoniana anuncia muitas das características românticas três séculos antes do advento do Romantismo Forte platonismo Sofrimento amoroso que tende ao drama Idealização do amor e dos sentimentos que ele causa Idealização da mulher (objeto de quem o amor se alimenta) O homem se submete ao sentimento, logo ele é servo da sua amada também (vassalagemsuserania) Amor cortês, galante Antíteses: reforçam a ideia do amor impossível Paradoxos: reforçam os sentimentos confusos que advêm do amor Camões na prisão de Goa. Pintura anônima de 1556.

Poetas clássicos acolhendo Camões como um dos maiores artistas do mundo ocidental. Praça Monumento Lviz Vaz de Camóes, em Lisboa, 1867. Obra de António Víctor de Figueiredo Bastos (1830 1894). Busto de Camões em Macau, 1987.

Sonetos. Sonetto: pequeno som, ou pequena canção Estrutura italiana do séc. XII Possui 14 versos: duas estrofes de 4 versos, e outras duas de três versos Camões instituiu sua medida nova: versos decassílabos (dez sílabas poéticas) Separação de sílaba poética: Separar as sílabas normalmente Unir as sílabas que causarem encontro vocálico (vogais) Se no encontro vocálico ambas as sílabas forem tônicas, não haverá união Conta-se só até a sílaba tônica da última palavra I 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

II Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. III Quem vê, Senhora, claro e manifesto O lindo ser de vossos olhos belos, Se não perder a vista só em vê-los, Já não paga o que deve a vosso gesto. Este me parecia preço honesto; Mas eu, por de vantagem merecê-los, Dei mais a vida e alma por querê-los, Donde já não me fica mais de resto. Assim que a vida e alma e esperança, E tudo quanto tenho, tudo é vosso, E o proveito disso eu só o levo. Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho e quanto posso, Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

IV Quem diz que Amor é falso ou enganoso, ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso. Amor é brando, é doce e é piedoso; Quem o contrário diz não seja crido: Seja por cego e apaixonado tido, E aos homens e inda aos deuses odioso. Se males faz Amor, em mi se vêem; Em mim mostrando todo o seu rigor, Ao mundo quis mostrar quanto podia. Mas todas suas iras são de amor; Todos estes seus males são um bem, Que eu por todo outro bem não trocaria. V Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.

VI Quem quiser ver d'amor uma excelência onde sua fineza mais se apura, atente onde me põe minha ventura, por ter de minha fé experiência. Onde lembranças mata a longa ausência, em temeroso mar, em guerra dura, ali a saudade está segura, quando mor risco corre a paciência. Mas ponha-me Fortuna e o duro Fado em nojo, morte, dano e perdição, ou em sublime e próspera ventura; ponha-me, enfim, em baixo ou alto estado; que até na dura morte me acharão na língua o nome, n'alma a vista pura.

Leia, respectivamente, o soneto de Luís de Camões e a letra da canção Me acalmo, me desespero, de Cazuza. Texto I Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio, o mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconcerto; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando, numa hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar uma hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora. Texto II O amor deflagra guerras No coração de quem ama Um bandido sórdido Uma menina linda O amor lança seu ferrão No desamparo dos amantes É um inseto louco em volta da luz Um lobo solitário uivando na escuridão Do amor pouco sei E quase tudo espero Amando eu me acalmo e me desespero O amor faz da minha voz Um gemido surdo De mim um escravo lanhado Um tigre encurralado (...)

Considere as seguintes afirmações sobre a forma como o amor é descrito no soneto e na letra da canção. I - O amor, um sentimento imprevisível, é deflagrado a partir da figura angelical de certas mulheres. II - O amor, por ser um sentimento de natureza contraditória, leva o indivíduo e a ver o mundo como um lugar instável e desconcertante. III - O amor provoca angústias, fazendo com que os sujeitos não se compreendam no mundo em que vivem.. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas III. (D) Apenas I e II. (E) Apenas II e III.

RESPOSTA: B