4.4. Algarve: Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres 1



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4.4. Algarve: Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres 1 A visita aos Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres, realizou-se no dia 14 de Maio de 2004. Trata-se de um conjunto de quatro edifícios designados pelas letras A, B, C e D; os corpos B, C e D são mais recentes que A. Para este trabalho, destacar-se-ão os corpos A e D, onde se detectou a alteração cromática. O corpo A (centro de multimédia, exposições permanentes e temporárias) foi construído a partir de um já existente; o paramento virado a norte apresenta revestimento exterior em pedra calcária desde o chão até mais de metade da sua altura, à qual se segue um revestimento em tinta branca, aplicado directamente sobre Pladour (poliestireno expandido recoberto, na sua face exterior, por um barramento cimentício armado com rede de fibra de vidro), fixado directamente à alvenaria de blocos cimentícios, não rebocados, por perfis metálicos em forma de U, próprios do sistema. Entre 1996 e 1998, este edifício sofreu intervenções, tendo sido neste último período que as paredes interiores foram impermeabilizadas até 3 m acima do pavimento. (Figuras 24 e 25) F i g ura 24. O corpo A dos Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres. Figura 25. O corpo A dos Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres.

1 A fonte de algumas das informações contidas nesta secção encontra-se em anexo, pg. 51. No corpo D encontram-se os serviços administrativos (piso superior) e casas de banho (piso térreo). (Figuras 26 e 27) Figuras 26 e 27. O corpo D dos Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres. A escadaria dá acesso ao piso superior; a porta que está aberta (direita), às casas de banho. Salienta-se que a Fortaleza de Sagres se encontra em ambiente marítimo: ocorrência esporádica de chuva, vento moderado a forte (orientação preferencial norte/noroeste), humidade relativa e temperatura elevadas. 4.4.1. Formas de decaimento associadas A área da parede em análise apresenta depósitos superficiais (poeiras, sujidades, etc. aos quais poderão estar associados microorganismos), lacunas, humidade ascensional e vegetação de intensidade média. 4.4.2. Descrição da alteração cromática

A alteração cromática foi notada há cerca de dois a três anos, na fachada virada a norte do corpo A, sobre a área revestida a Pladour e tinta branca, sem atingir a pedra calcária; desde então, tem vindo a alastrar tornando-se cada vez mais intensa (Figuras 24 e 25). Uma firma de engenharia civil procedeu à identificação do quadro patológico e concluiu tratar-se de origem biológica; sugeriu também uma proposta de intervenção 1 a qual se pensa cumprir num futuro próximo. 1 Resumidamente, a proposta de intervenção consiste na identificação dos microorganismos, aplicação de um produto apropriado ao seu extermínio, lavagem da superfície com jactos de água a pressão controlada e pintura do paramento com tinta branca adequada. Ver anexo, pg. 52 Posteriormente, a mesma alteração foi detectada no corpo D 1, na fachada norte, estendendo-se à oeste, igualmente sobre materiais industriais (cimento, tinta branca, Pladour, etc.). (Figuras 26, 27, 28 e 29) Figuras 28 e 29. Pormenor da escadaria que dá acesso ao piso superior do corpo D (à esquerda); a fachada virada a oeste do corpo D (à direita). Em ambas as figuras se observa a alteração da cor branca para rosa (tinta materiais industriais/recentes).

Observa-se uma alteração da cor original do substrato, de tonalidade rosada, com aspecto de mancha sem sentido definido 2, que se distribui de forma heterogénea pela parede, alojando-se entre as rugosidades da superfície. Assemelha-se a uma película sólida (massa pulverolenta), coesa, uniforme e de espessura muito reduzida. 4.4.3. Teste do cotonete Esta película apresenta adesão mediana ao substrato. Quando em contacto com um cotonete, verifica-se que a cor rosada se altera para um tom amarelo-alaranjado intenso (Figura 30); no cotonete vem agarrada porções da película, mas não o suficiente para deixar ver a coloração original da superfície. após Figura 30. Aspecto da superfície rosada passagem do cotonete. 1 Até ao momento, esta alteração ainda não foi detectada nos corpos B e C. 2 O seu aspecto talvez se aproxime mais de escorrência do que pincelada. 4.4.4. Parâmetros colorimétricos das áreas de amostragem A medição dos parâmetros colorimétricos realizou-se no limite inferior do corpo D, entre as duas portas (a da direita dá acesso a casas de banho); a área alterada designouse por S.1.. A área aparentemente não alterada encontra-se virada a oeste e designou-se por S.0. (apesar de não ter a mesma orientação, apresenta o mesmo substrato que a primeira). (Figura 31)

S.0. S.1. Figura 31. As áreas S.0. e S.1. onde se efectuaram as medições dos parâmetros de cor, no corpo D. No quadro 8 apresentam-se os valores da média, desvio padrão, máximo e mínimo dos parâmetros colorimétricos, L*, a* e b* para as áreas de amostragem S.0., S.1. S.0. S.1. L* a* b* L* a* b* Média 95.81-0.03 3.44 84.97 5.82 8.88 D.Padrão 0.36 0.09 0.32 1.94 0.73 0.58 Mínimo 95.31-0.16 3.1 81.64 4.94 7.68 Máximo 96.17 0.12 3.99 87.29 7.06 9.44 Quadro 8. A Média, Desvio-Padrão (D.Padrão), Mínimo e Máximo dos parâmetros L*, a* e b* das áreas de amostragem S.0. e S.1.. No quadro 9 apresentam-se os valores de ΔL*, Δa* e Δb* calculados a partir dos valores médios indicados no quadro 8 que permitirão calcular o valor ΔE*. S.1. - S.0. ΔL* -10.84

Δa* 5.85 Δb* 5.44 ΔE* 13.47 Quadro 9. Os valores de ΔL*, Δa*, Δb* e ΔE*. Da observação dos quadros 8 e 9 verifica-se que as medições efectuadas vêm de encontro ao revelado pela inspecção visual: existe variação de cor acentuada em ambas as situações S.0. e S.1., em que ΔE* aproximadamente 13,5. A alteração cromática promove a diminuição de luminosidade, isto é, a região alterada escurece (a tonalidade rosada é mais escura que a branca dos materiais industriais); dá-se o aumento de ambos os componentes vermelho-verde e amarelo-azul relativamente ao obtido na área considerada não alterada, o que significa que há ganho da componente vermelha e amarela em S.1. (a tonalidade rosada aproxima-se mais do vermelho que a superfície branca dos materiais industriais). Considerando os resultados obtidos pela empresa de engenharia civil é provável que esta alteração tenha origem biológica, facto baseado não só nos ensaios que realizaram mas também nas semelhanças com o caso observado e estudado em Coimbra e no crescente aumento de área afectada, à medida que o tempo passa. Em geral, observaram-se alterações cromáticas sobre diferentes materiais inorgânicos, nomeadamente litótipos (mármore/évora, calcário/coimbra e granito/porto) e materiais de construção industriais/sagres. Esta forma de decaimento tanto pode ocorrer em materiais que se encontrem no exterior (mármore, granito e materiais industriais) como no interior (calcário), ou seja, a presença de luz, vento, variações de

humidade relativa e temperatura, entre outros factores, são uma constante em todos os casos observados. A alteração é visível em substratos que se encontram em diferentes estados de conservação, sendo comum a presença de depósitos superficiais (poeiras, sujidades, poluentes atmosféricos, etc. aos quais também poderão estar associados microorganismos). Verificam-se também diferenças quanto à configuração, textura e grau de aderência da alteração cromática, de acordo com o tipo de substrato em que se desenvolve: enquanto que sobre mármore e calcário se parece com uma pincelada, sobre granito e materiais industriais não apresenta sentido definido; sobre mármore parece-se com uma crosta sólida, sobre calcário e materiais industriais toma o aspecto de uma massa pulverolenta e sobre granito, de pequenos cristais de açúcar ; quanto ao grau de aderência, o teste do cotonete diz-nos que a película mais aderente ocorre sobre mármore, seguindo-se o granito, materiais industriais e, por último, calcário. Apenas sobre este último litótipo se conseguiu remover completamente a película permitindo observar a cor original daquele; sobre os materiais industriais assistiu-se à alteração da tonalidade rosada para amarelo-alaranjando sem se observar a cor original da superfície; no granito e mármore não se conseguiu remover a película. Tal como foi mencionado ao longo da apresentação de cada um dos casos estudados, a alteração cromática dos diferentes substratos foi confirmada pelos valores de ΔE* balizados entre 3,64 (mármore/e.1.1.) e 13,47 (materiais industriais/sagres), indicativos de variação total de cor moderadamente visível a muito visível, respectivamente; ou seja, significa que a alteração de cor mais intensa ocorreu sobre materiais industriais, decrescendo para o granito (ΔE* = 12,46), calcário (ΔE* = 10,43), seguido do mármore, na região E.1.2. (ΔE* = 6,6) até à alteração menos intensa, também sobre mármore, na região E.1.1.. Para além da intensidade de alteração de cor, também se verifica a aquisição de diferentes tonalidades de acordo com o tipo de substrato em que ocorre. Por observação macroscópica, a olho nu, sobre mármore, calcário e materiais industriais apresenta-se rosada; sobre granito, cor-de-laranja. Comparando os três primeiros casos verifica-se que, sobre calcário e materiais industriais, os valores de ΔE* se aproximam

entre si, assim como a cor resultante - rosa claro (10,43 e 13,47, respectivamente), enquanto que sobre mármore, os valores de ΔE* decrescem consideravelmente (E.1.1 = 3,64 e E.1.2. = 6,6), observando-se tonalidades rosadas mais escuras que nos casos anteriores. Apesar de existir uma aproximação dos valores de ΔE* do granito com os de calcário e materiais industriais (12,46, 10,43 e 13,47, respectivamente), não é coerente estabelecer uma relação entre estes valores na medida em que as cores resultantes são francamente diferentes, tal como é possível constatar na observação das componentes ΔL*, Δa* e Δb*, fundamentais para a construção da cor final. Sendo assim, e analisando este facto, os dados indicam que em mármore, calcário e materiais industriais ocorre diminuição da luminosidade (logo, a superfície alterada escurece em relação à não alterada; ΔL* < 0), enquanto que esta aumenta no granito (logo, a superfície alterada torna-se mais clara do que a não alterada; ΔL* > 0); as componentes a* e b* diminuem apenas sobre mármore (Δa* e Δb* < 0) e aumentam nos restantes casos (Δa* e Δb* > 0), sobre superfícies alteradas. Traduzindo esta análise para um gráfico, obtém-se: (Figura 24) 15 10 Variação dos Parâmetros de Cor Évora E.1.1 Évora 1.1.2. Coimbra Porto Sagres Intensidade 5 0-5 DL* Da* Db* DL* Da* Db* DL* Da* Db* DL* Da* Db* DL* Da* Db* -10-15 Parâmetros de Cor Figura 24. Gráfico ilustrativo da variação dos parâmetros de cor em função dos casos analisados. No gráfico, entenda-se a letra D por Δ.

Considerando também a sugestão de Johnston-Feller (2001) 1 e aplicando o seu exemplo aos casos em estudo 2, obtém-se o gráfico representado na Figura 25. 10 Distribuição dos parâmetros de cor 8 Porto 6 4 Sagres Delta b* E.1.1. 2-4 Coimbra 0-3 -2-1 0-2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 E.1.2. -6-8 Delta a* Figura 25. Gráfico resultante da distribuição dos parâmetros Δa* e Δb* pelo quadrante correspondente à cor vermelha. O gráfico presente na Figura 25 evidencia a aproximação já mencionada em relação às alterações cromáticas sobre calcário, granito e materiais industriais, e não deixa de confirmar as semelhanças de cor entre as tonalidades rosadas sobre calcário e materiais industriais. Comparando este gráfico com o esquema da Figura 26 [1], verifica-se que há concordância entre a distribuição das cores obtidas sobre calcário, granito e materiais industriais que não se verifica no tom rosa claro e avermelhado do mármore. Figura 26. Esquema bidimensional de a* e b*. [1]

1 Johnston-Feller (2001) diz-nos que é possível excluir o parâmetro L* e considerar apenas a* e b* num sistema coordenado xy, para o qual se convencionou a cor vermelha (+a*) sobre o eixo xx, à direita do gráfico, desenvolvendo-se no primeiro quadrante (Figura 1). 2 Recorreu-se aos valores de Δa* e Δb* porque indicam o valor real da cor, após subtracção do branco superfície considerada não alterada. Possivelmente a ausência de concordância entre os resultados esperados e os obtidos no ensaio colorimétrico sobre mármore se deva à prática de alguns erros no processo de medição dos parâmetros de cor, nomeadamente no modo de medição e quantidade de valores recolhidos, talvez pela falta de experiência e geometria curva da escultura tumular 1. Estas situações poderiam ter sido evitadas se se tivesse colocado uma máscara sobre a superfície pétrea que adaptasse a sua configuração à do colorímetro e minimizasse a interferência da luz natural na medição dos parâmetros de cor. Devido à configuração regular das outras superfícies analisadas paredes a ausência da máscara não foi relevante. Quanto à quantidade de valores recolhidos, na literatura relativa ao sistema CIELab não se encontrou um número mínimo de valores a recolher, mas na descrição de casos práticos sugere-se a medição de dez valores. (ALARCÃO, 2004) (RODRIGUES, 2001) De qualquer modo, o objectivo inicial do presente trabalho determina a comparação dos resultados colorimétricos obtidos com os de Catarina Alarcão, para a qual, à partida se exclui o caso estudado sobre granito (tonalidade cor-de-laranja). Recuperando os valores calculados para a área de amostragem A (correspondente a C.1.), que se apresentam na Figura 27: A-0 ΔL* -14.03 Δa* 8.88 Δb* 3.1 ΔE* 16.89 Figura 27. Valores de ΔL*, Δa* e Δb*, referentes à área de amostragem A, obtidos por Catarina Alarcão (ALARCÃO, 2004) Verifica-se que a componente ΔL* é negativa tanto para a área de amostragem A como para mármore, calcário e materiais industriais, aproximando-se significativamente do valor obtido nos materiais industriais (-10,84) e se afastando em mármore/e.1.1. (- 0,15). As componentes Δa* e Δb* são ambas positivas para a área de amostragem A assim como para calcário e materiais industriais, afastando-se dos valores negativos obtidos para o mármore. Os valores de ΔE* obtidos em calcário e materiais industriais

aproximam-se dos de Catarina Alarcão, afastando-se a alteração verificada sobre mármore. 1 Este facto é indicado no elevado valor de desvio-padrão. A concordância dos valores dos parâmetros de cor entre calcário e a área de amostragem A era esperada dado que aquele ensaio foi propositadamente realizado nesta região. Por fim, o valor de ΔE* vem de encontro à observação macroscópica: o caso estudado sobre materiais industriais é o que mais se aproxima do estudado por Catarina Alarcão; aquele que menos se assemelha é a alteração verificada sobre mármore. Permanece a problemática quanto à natureza destas alterações cromáticas. O aparecimento de manchas coloridas pode ter causas químicas (processos de oxidação, deposição de sais) e/ou biológicas (microorganismos que promovam processos de oxidação-redução e/ou produção de pigmentos). Salienta-se que, nos substratos analisados, se encontram reunidas as condições favoráveis ao crescimento biológico (água, luz, CO 2, substrato bio-receptivo, etc.) 1 e que o mesmo foi concluído por Catarina Alarcão no seu estudo sobre a coloração rosada que ocorre nas paredes da Igreja de S. João de Almedina (MNMC, Coimbra) e pela empresa de engenharia civil, nos primeiros estudos realizados a uma coloração com características semelhantes àquela presente sobre os corpos A e D dos Edifícios da Correnteza, Fortaleza de Sagres. A biodeterioração não é facilmente reconhecida nos materiais pétreos; por exemplo, as bactérias provocam danos semelhantes aos produzidos pelas causas químicas e a sua identificação exige análises laboratoriais; as bactérias sulfuricantes e nitrificantes produzem esfoliações e pulverolência semelhantes à acção do SO x e do NO x, respectivamente (poluentes atmosféricos); muitas bactérias heterotróficas estão associadas às crostas negras. Durante o seu desenvolvimento, muitos microorganismos produzem pigmentos orgânicos que podem ter diferentes cores de acordo com a espécie que o emite, a composição química do substrato, a presença de elementos

metálicos (Ferro, Zinco, Chumbo, Magnésio e Cobre), o ph do meio e as condições ambientais (água, temperatura, luz, sais minerais, etc.). 1 Um substrato bio-receptivo é aquele que é apto a ser colonizado por organismos vivos aos quais fornece alojamento e alimento. Os primeiros colonizadores de substratos inorgânicos são as bactérias autotróficas (CO 2 como fonte de carbono; subdividem-se em fotoautotróficas - luz solar como fonte de energia - e litoquimioautotróficas - oxidam substâncias inorgânicas) e as heterotróficas (matéria orgânica como fonte de carbono); estes microorganismos desempenham um papel relevante na meteorização dos materiais inorgânicos, aos quais se seguem outros autotróficos, tais como, cianobactérias, algas e líquenes (associações simbióticas entre algas e fungos) e heterotróficos, como os fungos (AIRES-BARROS, 2001). Por exemplo, colónias de cianobactérias que, em geral, são verdes podem tornar-se vermelhas (de acordo com a concentração de sais), negras, cinzentas ou rosas assemelhando-se a eflorescências salinas; a melanina é um dos produtos metabólicos dos fungos que origina manchas negras a castanhas; a associação de cianobactérias, bactérias e fungos pode ser responsável por biofilmes de cor amarela, laranja, rosa, violeta, castanha, etc. (CANEVA e tal. 2000; KRUMBEIN, 1992). Num estudo recente de Tiano (2004) sobre o aparecimento de manchas vermelhas em mármore da Catedral de Siena, observaram-se amostras ao microscópio óptico e após o desenvolvimento biológico em meios orgânicos e inorgânicos, verificou-se a presença de algas verdes, fungos e bactérias (a bactéria dominante pertencia à espécie Micrococcus). As colónias tomaram as cores rosa, amarela, laranja e verde por causa da produção de diferentes pigmentos carotenoides. Após a inoculação das espécies responsáveis pela cor vermelha num meio reforçado com CaCO 3 e MgCO 3, assistiu-se à produção de um pigmento orgânico vermelho. Verificou-se que os pigmentos carotenoides reagiram com a matriz calcária, sendo por esta absorvidos e estabelecendo uma ligação química muito forte; aqueles tornaram-se praticamente insolúveis nos solventes (orgânicos e inorgânicos) usados na tentativa de os remover, facto que poderá impossibilitar o acesso à natureza química de manchas vermelhas em amostras retiradas de monumentos.