Modalidade da apresentação: Comunicação oral. A garantia do direito à dignidade do operário em seu ambiente de trabalho

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Transcrição:

Condições de Trabalho e Saúde do Trabalhador Nome do GT Modalidade da apresentação: Comunicação oral A garantia do direito à dignidade do operário em seu ambiente de trabalho Adyha Aby Faraj e Silva (Graduanda de Bacharel em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e-mail: adyhafaraj@gmail.com ) Anna Beatriz Rodrigues Garcia (Graduanda de Bacharel em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e-mail: bbia_garcia2@hotmail.com ) Ana Cecília Bezerra Cortês (Graduanda de Bacharel em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e-mail: cecimodas13@gmail.com ) Maria Clara Ribeiro Soares (Graduanda de Bacharel em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e-mail: eumariaclara5@gmail.com ) Nathália Lara Fagundes Souza Camilo (Graduanda de Bacharel em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e-mail: nathalialfsc@gmail.com)

Resumo: Na atual conjuntura, onde o sistema econômico vigente é o capitalismo, observase que o conceito de trabalho está atrelado a um recurso disponível as organizações e moeda de troca que alimenta tal sistema, mas também à dignidade, valor intrinsecamente ligado ao homem social. Visando a redução de custos e maximização dos lucros, as organizações podem passar a operar sob circunstâncias precárias, as quais podem vir a lesar os direitos do trabalhador. Em casos extremos, surge o trabalho análogo ao de escravo, questão que vem sendo amplamente discutida no mundo. O Brasil é reconhecido por ser exemplo em medidas que visam erradicar esse mal que assola milhões de pessoas, entretanto observa-se que o fim está longe. O presente trabalho, baseado em pesquisas bibliográficas e através do método materialista histórico dialético, busca discutir, analisar e explanar as raízes desse problema, o ciclo do trabalho escravo contemporâneo, os meios que o Brasil utiliza para combatê-lo, porque essas medidas não são suficientes e como sanar a situação. É imprescindível a discussão aberta do tema, possibilitando, enfim, a conscientização geral sobre esse cruel cenário e cultuando meios para o desenvolvimento de medidas de combate realmente efetivas. Palavras-chave: Capitalismo. Trabalho análogo à escravidão. Lucro.. 1 INTRODUÇÃO Há pouco mais de cento e vinte anos, no dia de 13 de maio de 1888, a conhecida Lei Áurea aboliu a escravidão no Brasil. Após esse marco, diversas leis foram sendo criadas e medidas adotadas para que o trabalho escravo fosse definitivamente erradicado. A própria Carta Magna impede o trabalho análogo à escravidão ao ressaltar a dignidade humana e os valores sociais do trabalho como princípios fundamentais na República Federativa do Brasil. Ademais, hoje temos o art. 149 do código penal, que decreta de dois a oito anos de reclusão e multa por essa condição desumana de trabalho.

No entanto, observa-se não ser o suficiente para impedir que o trabalho análogo a escravidão aconteça, tendo em vista que em 2013 o Brasil estava entre os 100 países com maior índice de utilização de trabalho análogo à escravidão, segundo dados do ranking divulgado pela Walk Free Foundation. Nessa mesma temática, uma lista publicada em 2015 pela ONG Repórter Brasil, divulgou 420 empresas em território brasileiro que cometeram, comprovadamente, tal ilegalidade. O presente trabalho tem por objeto de estudo as raízes desse problema, o ciclo da escravidão contemporânea e as medidas que visam erradicá-lo. 2 DESENVOLVIMENTO Em um retrocesso do conceito de trabalho e seu impacto social, vemos que nos primórdios da sociedade humana o trabalho era associado às atividades que permitiam suprir as necessidades básicas, como a agrupação e a organização de pessoas para executar a caça e a colheita. Entretanto, com o avanço humano enquanto sociedade percebeu-se a existência de necessidades além das fisiológicas, passando então a se desenvolverem atividades que viriam a determinar as condições históricas do trabalho. Segundo Karl Marx, em sua obra O Capital, o trabalho é qualquer atividade produtiva que visa um determinado objetivo. O autor afirma ainda que o principal objetivo desse processo seja a geração de valor. Portanto, o trabalho, sendo atividade vinculada diretamente e intrinsecamente ao homem, seria a condição da sua existência.

Com o surgimento e implantação do capitalismo como modelo econômico, percebe-se uma mudança significativa no modo de analisar o trabalho. A partir da Revolução Industrial, a qual teve como característica central o incremento da tecnologia aliada à produção, como mencionado no artigo Trabalho e processos de trabalhos no modo de produção capitalista- PUC-RIO, o trabalhador passa a ser visto como um recurso da organização aliado ao maquinário. Nesse momento histórico, onde os novos sistemas produtivos - Fordismo, Taylorismo e Toyotismo - priorizavam a linha de produção e a maximização dos lucros, o trabalhador passa a ser um recurso-chave, porém descartável, visto que a demanda por emprego em meio à crise econômica era exacerbada. Devido à possibilidade de alta rotatividade, as condições de trabalho tornaram-se precárias (HIDALGO). De acordo com o exemplar cientifico Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas rupturas e continuidades, as circunstâncias de trabalho baseavam-se em cargas horárias exaustivas, baixa remuneração, exposição à ambientes de alta pressão psicológica e ausência de regulamentação dos direitos trabalhistas. A situação descrita era tão característica à época que foi relatada no cinema através do filme Tempos Modernos, do cineasta Charles Chaplin. Esses sistemas de produção surgiram a partir da sede incansável dos ditadores do capitalismo, os grandes empresários. É imprescindível analisar que na maioria das vezes os produtos gerados através da capacidade física e mental dos operários não se tornam acessíveis aos mesmos, devido aos seus baixos poderes aquisitivos.

Entra nesse contexto o conceito de mais-valia, que segundo Marx descrito em O capital, é o lucro, retido pelo empregador, resultante da diferença entre o que ele paga pela mão de obra e o valor que ele cobra pela mercadoria produzida por essa força de trabalho; no fim, uma fração de trabalho não paga. Com a consolidação do sistema capitalista e a visão de um mundo globalizado, percebe-se um ambiente de competição e concorrência entre as empresas, visando sempre à redução de custos e maximização do lucro. O Brasil, nesse contexto econômico, tem adotado com recorrência a estratégia da economia de escala. A economia de escala pode ser entendida como a adoção de estratégias de diminuição dos fatores produtivos, os quais conduzem para redução do custo médio de produção de um determinado produto à medida que sua quantidade produzida aumenta, segundo o SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Nessa perspectiva, as empresas têm a opção de reduzir seus custos causando transformações na mão de obra utilizada, no maquinário ou na compra de matéria-prima. Indubitavelmente, a economia de escala apresenta vertentes interessantes e competitivas, visto que oferece uma possibilidade real de crescimento e desenvolvimento a partir da redução de custos e aumento de lucratividade. Comumente, a economia de escala vem sendo uma estratégia amplamente utilizada por empresas de grande porte, já que facilmente possuem capacidade produtiva para aumentar a quantidade produzida. Todavia, é necessário entender que a economia de escala é vantajosa para específicas tipagens de organização, normalmente aquelas de grande porte. Notase ainda que quando é implantada sem prévio planejamento, pode levar a perda do controle de processos básicos e fundamentais, como o de gestão, comprometendo sua saúde financeira, conforme analisado pelo SEBRAE.

Ademais, é primordial perceber que existe uma linha tênue entre a diminuição dos fatores produtivos e a precarização dos mesmos. Analisando na perspectiva da mão de obra, a partir do instante em que, na tentativa de cortar custos, fragilizam-se as condições de trabalho, infringindo os direitos básicos do trabalhador, pode-se acarretar situações de ilegalidade. O caso mais grave, nesse sentido, é o trabalho análogo à escravidão, que para Lívia Mendes Moreira Miraglia, em TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO: conceituação à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, se define como o trabalho em condições extremamente degradantes e exaustivas, que infringe os princípios de liberdade, legalidade, igualdade e, principalmente, de dignidade da pessoa humana. Observando o contexto histórico, a prática abusiva da submissão do trabalhador esteve presente desde as sociedades antigas, por isso, é inegável que a presença do trabalho forçado serviu como componente primordial no desenvolvimento econômico e político de diversas civilizações. A exploração era tida não só como algo habitual, mas também como algo necessário naquela realidade. Não obstante, no Brasil Colônia, entre 1530 e 1850, conforme relatado em Açúcar e escravidão no Brasil Colônia, a busca incessante por mão de obra escrava africana se deu pelo seu potencial de força, sendo necessário para a extração de recursos provenientes da terra, e seu baixo valor de troca, resultando em um comércio altamente lucrativo. Chegando ao território brasileiro, os africanos passaram por um processo de descaracterização devido a diversas práticas de desculturação, tornando-se um mero objeto, violando sua autonomia, liberdade e dignidade. Segundo o Doutor em Direito, Ingo Wolfgan Sarlet, a identificação da violação da dignidade humana, fundamenta-se na intenção de coisificar o outro.

Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que a liberdade total finalmente foi alcançada pelos escravos no Brasil. Essa lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no território nacional. Após a abolição, o preconceito continuava acentuado, dificultando a integração dos ex-escravos no mercado formal e assalariado, e aumentando a preferência pela mão de obra europeia (GIL: 2008) Seguindo essa linha de raciocínio, como no início do século XX 80% da população brasileira habitava no campo, de acordo com informações do livro citado, havia então pouco poder de pressão do proletariado, contribuindo para a presença de mão de obra estrangeira com conscientização política. A partir disso, houve o aumento de movimentos grevistas em prol de alertar a urgência de medidas de proteção ao trabalhador. Em 1930 ocorreram transformações de ordem política, econômica, cultural e social no Brasil. Com Getúlio Vargas no poder, iniciaram-se intervenções trabalhistas, dando início a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), a qual regulamentou também a carga horária, estabelecendo condições necessárias de trabalho. Entretanto, mesmo com as Leis de Trabalho e a Constituição Brasileira definidas, o comportamento escravocrata nunca deixou de existir no Brasil. Esse fenômeno de exploração sustenta, pois, a miséria e as necessidades do homem, permanecendo uma parcela populacional que é submetida a condições subumanas de vida. Infelizmente, a imagem do trabalhador explorado continua estereotipada às práticas coloniais. Em detrimento a isso, usa-se a expressão trabalho análogo à escravidão para denominar tal comportamento.

O Ciclo do trabalho escravo contemporâneo mostra que essa situação ainda é vigente no Brasil porque o meio econômico e a cadeia produtiva fomentam tal situação. Constata-se ainda que os indivíduos submetidos estejam em um cenário de vulnerabilidade socioeconômica. Além disso, as medidas tomadas pelo poder público, ainda que referência no combate ao trabalho análogo à escravidão, são insuficientes A Walk Free Foundation, organização internacional que visa erradicar a escravatura moderna, criou um Índice de Escravidão Global, o qual classifica os países fazendo uma proporção da quantidade de indivíduos nessa situação em relação à população. Segundo o mesmo, o Brasil, em 2014, passou da posição 94ª (200 mil pessoas em situação análoga a de escravo) para a posição 143ª. Segundo o Código Penal Brasileiro, o crime de trabalho análogo à escravidão se define por: Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendoo a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto (art. 149). Há de se reconhecer, portanto, que o principal bem jurídico lesado não é a liberdade, mas sim a dignidade da pessoa humana. Diante disso, o Ministério Público do Trabalho dispõe de instrumentos extrajudiciais para lutar contra formas similares a escravidão, sendo o inquérito judicial, que concede ao MPT o poder de recolher fatos que comprovem a violação dos direitos trabalhistas, com o objetivo de endossar os direitos sociais que são garantidos aos trabalhadores. E o termo de ajustamento de conduta, que consiste em um acordo que o Ministério Público celebra com o violador de um certo direito. Se o violador não cumprir, o MP pode acionar medidas de ações civis públicas para o cumprimento do dever assinado no acordo.

Têm-se também os chamados Mecanismos Judiciais, que são as armas das esferas judiciais: a Ação Civil Pública é a ação que visa proteger a coletividade, responsabilizando o infrator por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse, bem como a direito difuso ou coletivo. Segundo o art. 3º da Lei nº 7.347/1985, a ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. O dano moral coletivo, segundo Xisto Tiago de Medeiros Neto, por sua vez, corresponde à lesão injusta e intolerável aos interesses ou direitos de natureza extrapatrimonial, titularizados por uma coletividade, considerada em seu todo ou em qualquer de suas expressões, como grupos, categorias ou classes de pessoas, os quais refletem bens e valores fundamentais para a sociedade. Parafraseando Leandro Konder, em sua obra MARX, o conceito de alienação construída pelo sociólogo Karl Marx ratifica que o trabalho na modernidade assumiu características desumanas, já que os trabalhadores não se realizam como seres humanos nas suas atividades. Pelo contrário, na indústria vigente do capitalismo, encaram o trabalho como uma obrigação imbecilizadora e odiada por serem atividades opressoras. É percebido por meio dos proletariados que o progresso beneficia apenas ao burguês, e não a eles, concentrando a riqueza apenas nas mãos de quem já a possui. Marx, em O capital, chamou de alienação do trabalho esse fenômeno pelo qual o trabalhador, desenvolvendo a sua atividade criadora em condições que lhe são impostas pela divisão da sociedade em classes, é sacrificado ao produto do trabalho.

Com base nas autuações de empresas que utilizam a mão de obra escrava moderna, houve a criação de um mecanismo de transparência Estatal que visa fiscalizar e garantir os direitos trabalhistas. A chamada Lista Suja foi criada em 2003 objetivando a publicação, a cada seis meses, dos nomes das empresas que usufruem do trabalho análogo à escravidão, promovendo a interação com a sociedade brasileira e uma possível conscientização social. Entretanto, a lista foi suspensa em 2014, por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Em 2015, através da ONG Repórter Brasil, foi divulgada uma lista com 420 empresas que comprovadamente utilizaram de mão de obra escrava. Entre as medidas de combate tomadas, é importante frisar que empresas e bancos públicos que assinaram o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo podem negar crédito, empréstimos e contratos a organizações que usam a mão de obra ilegal. O fato é que hoje, no Brasil, não se encontra relatos de permanência em reclusão por praticar desse ato, e, até o ano de 2016, não houve relatos do cumprimento da pena até o fim, mesmo que desde 1997 aproximadamente 2.500 empresários foram flagrados e autuados. Em tese, a pena para quem submete indivíduos a condições análogas à escravidão no Brasil é de dois a oito anos de reclusão e multa, juntamente da pena correspondente a violação cometida.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de a legislação brasileira abordar o assunto e ter proporcionado tamanhas evoluções em relação à criminalização do ato exploratório ao trabalhador, avalia-se que não há uma aplicação efetiva da lei. Mesmo havendo punição prescrita, os responsáveis por essa prática nefasta não cumprem de fato ou totalmente a condenação à qual foram submetidos, conforme afirma O artigo O trabalho escravo é uma realidade, mas as punições, não. Isso se deve ao fato de muitos processos serem arquivados ou prescreverem. Observou-se também que o número de fiscais diminuiu nos últimos anos. A Organização Internacional do Trabalho sugere cerca de 8 mil promotores do Ministério Público do Trabalho para atuar na fiscalização, entretanto em 2015 o Brasil contava com a atuação de apenas 2,6 mil, de acordo com informações do artigo citado a pouco. Devido ainda à falta de recursos e à comissão de flagrante ser composta por membros de vários estados brasileiros, o flagrante torna-se remoto e seu processo é demorado. Sob esse prisma, torna-se urgente a atuação do poder do Estado nos gargalos supracitados. É indispensável o aumento do número de fiscais, bem como a otimização do processo de flagrante. E mais: são necessárias ações punitivas exemplares. A preocupação e pressão social em cima da resolução desses casos tornam-se fundamental. É certo que, por meio dessas medidas coercitivas, pode-se atingir a erradicação desse cenário que afeta negativamente milhares de pessoas, contribuindo para a garantia e promoção dos direitos humanos primordiais.

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