Acidentes de transportes passam a ser a principal causa de morte não natural do Estado de São Paulo



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Transcrição:

Resenha de Estatísticas Vitais do Estado de São Paulo Ano 10 nº 2 Março 2010 Acidentes de transportes passam a ser a principal causa de morte não natural do Estado de São Paulo Hoje, os acidentes de transporte constituem a principal causa de morte não natural entre a população residente no Estado de São Paulo, posto ocupado pelos homicídios durante mais de 20 anos. Com a expressiva redução dos homicídios na última década, os acidentes de transporte assumiram a liderança em 2007. A mortalidade por acidentes de transporte pode ser acompanhada detalhadamente por meio das estatísticas vitais produzidas pela Fundação Seade, com base em informações enviadas mensalmente pelos Cartórios de Registro Civil existentes nos municípios paulistas. Note-se que tais informações, oriundas das declarações de óbito, distinguem-se das registradas pelas instituições policiais e de transportes, que geralmente contabilizam as vítimas desses eventos quando o óbito ocorre no local do acidente. Já as informações do Registro Civil aqui utilizadas consideram todos os óbitos provocados por tais acidentes, inclusive os que tenham ocorrido fora do local do evento, como em pronto-socorros ou hospitais. Nos últimos 20 anos, os acidentes de transporte foram responsáveis pela morte de 149.911 pessoas, o equivalente à população de um município do porte de São Caetano do Sul, o que revela a importância desta causa de morte para a população paulista, conforme mostra a Tabela 1. 1 Em 1988, a taxa de mortalidade por acidentes de transporte era similar àquela por homicídios. A partir de 1993, os óbitos por acidentes passaram a aumentar continuamente, atingindo seu ápice entre 1996 e 1997, quando morreram em média 25 pessoas por dia em todo o Estado de São Paulo e a taxa de mortalidade por esta causa chegou a 25,7 óbitos por cem mil habitantes. 1. A redução acentuada nos níveis de mortalidade dos acidentes de transporte especificamente em 2000 deve-se, em grande parte, à mudança no modelo da Declaração de Óbito ocorrida nesse ano, que alterou a especificação do tipo de acidente. Tal mudança fez com que parte destes acidentes fossem codificados em um grupo de causas externas cuja natureza é indeterminada, prejudicando a qualidade da informação específica deste ano. Em 2001, passa a vigorar novo modelo de DO contendo um campo destinado à descrição do tipo de acidente, o que melhora a qualidade da informação.

Após a promulgação do novo Código Nacional de Trânsito, em 1998, houve importante redução desse coeficiente: já em 1999 foi de 20,1 óbitos por cem mil. Porém, a partir de 2001, quando os acidentes tiravam a vida de 19 pessoas por dia no Estado de São Paulo, essa tendência interrompeuse e os índices permaneceram praticamente constantes até 2006, em torno de 17,0 óbitos por cem mil habitantes. Em 2007, a taxa de mortalidade voltou a se elevar e atingiu o valor de 18,3 óbitos por cem mil. Em junho de 2008, nova modificação legal foi implantada a chamada Lei Seca, mas ainda não se refletiu de forma expressiva nas estatísticas, uma vez que a redução na mortalidade por acidentes de transporte foi muito pequena, alcançando uma taxa de 18,0 óbitos por cem mil habitantes, em 2008. À medida que as informações dos anos mais recentes forem disponibilizadas, será possível avaliar melhor o impacto desse novo estatuto legal sobre a mortalidade provocada pelos acidentes de transporte. Ao se analisarem os tipos de acidentes de transporte no período em pauta, conclui-se que a taxa de mortalidade por essa causa poderia ter se reduzido mais intensamente caso não tivesse ocorrido aumento dos óbitos provocados por acidentes com motocicleta. Entre 1996 e 2008, a taxa de mortalidade em decorrência de atropelamentos diminuiu pela metade (de 10,1 para 5,1 óbitos por cem mil habitantes). Entre os demais acidentes (automóvel, ônibus, veículo de carga pesada, camionete, etc.) a redução também foi expressiva (de 15,3 para 9,5 óbitos por cem mil habitantes). Entretanto, o indicador de mortalidade por acidentes com motocicleta, apesar de se situar em patamar inferior ao dos demais acidentes, aumentou de forma expressiva ao passar de 0,2 para 3,4 óbitos por cem mil habitantes, no período analisado (Gráfico 1). Além dessas tendências gerais, as estatísticas vitais permitem identificar que cada tipo de acidente de transporte atinge preferencialmente grupos populacionais específicos. Entre as vítimas de atropelamento, a mortalidade masculina é superior à feminina e sua principal vítima é a população idosa. Nota-se, para ambos os sexos, que à medida que avança a idade, aumentam também os níveis de mortalidade por esta causa (Gráfico 2). Já nos acidentes de motocicleta, embora também predominem as vítimas do sexo masculino, elas são majoritariamente jovens. Cerca de 55% das vítimas fatais desses acidentes ocorrem entre homens de 18 a 29 anos de idade. A taxa de mortalidade é mais elevada no grupo de 18 a 19 anos de idade e passa a diminuir nas faixas etárias seguintes. Entre as mulheres, apesar de as taxas serem bem inferiores, verificase aumento importante de sua incidência já no grupo de 15 a 17 anos, atingindo o nível mais elevado na faixa de 25 a 29 anos. SEADE 2

Ainda no Gráfico 2, é possível observar as características demográficas das vítimas dos demais tipos de acidentes de veículo. Entre os homens, a mortalidade do grupo de 18 a 19 anos praticamente triplica em relação ao grupo anterior, atingindo seu ápice entre 20 e 24 anos. A mortalidade diminui, então, até o grupo de 30 a 34 anos e se estabiliza nos grupos subsequentes. Entre as mulheres, o padrão é diferenciado: a mortalidade é mais elevada no grupo de 15 a 17 anos, embora em patamar muito inferior ao da população masculina, reduz-se até as idades entre 25 e 29 anos e mantém-se estável nos demais grupos etários. As informações apresentadas permitem comparar a situação paulista com a de outras Unidades da Federação, a partir dos dados produzidos pelo Ministério da Saúde. 2 Tomando 2007 como ano de referência último com informações disponíveis para todos os Estados, vê-se que, para o conjunto do país, a taxa de mortalidade por acidentes de transporte foi de 20,9 óbitos por cem mil habitantes, em comparação a 19,7 por cem mil, para o Estado de São Paulo. A situação era mais grave em Roraima, Tocantins e Santa Catarina, cujos coeficientes superavam 33,0 óbitos por cem mil habitantes. Em contraste, Amazonas e Bahia apresentavam situação mais favorável, com indicadores de mortalidade inferiores a 15,0 óbitos por cem mil habitantes. Em síntese, as informações mais recentes sobre a mortalidade por acidentes de transporte mostram que, apesar de sua importante e rápida retração após a implantação do Código Nacional de Trânsito, em 1998, esta tendência perdeu força nos anos posteriores. Mostram também que os efeitos esperados da implantação da Lei Seca, em 2008, ainda não foram captados integralmente por estas estatísticas. Outro ponto a ser destacado é a relação entre diferentes tipos de acidentes de transporte e os grupos populacionais predominantemente atingidos o que permitiria desenhar políticas públicas e campanhas de esclarecimento próprias a esses grupos. Espera-se, enfim, que as informações apresentadas possam contribuir para o planejamento de ações na área de transporte, nas diversas cidades e estradas paulistas, incentivando e subsidiando a implementação de medidas específicas e direcionadas, que visem diminuir progressivamente os índices de mortalidade por este tipo de causa não natural. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Datasus. Estatísticas Vitais do SUS. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/extuf.def> SEADE 3

Tabela 1 Óbitos, média diária e taxa de mortalidade por acidentes de transporte Estado de São Paulo 1988-2008 Ano Óbitos Média Diária Taxa (por 100 mil hab.) 1988 6.818 19 23,1 1989 6.970 19 23,1 1990 7.065 19 23,0 1991 7.076 19 22,5 1992 6.601 18 20,6 1993 6.690 18 20,5 1994 6.968 19 21,0 1995 7.804 21 23,1 1996 8.842 24 25,7 1997 8.988 25 25,6 1998 7.247 20 20,3 1999 7.313 20 20,1 2000 5.750 16 15,6 2001 6.691 18 17,8 2002 6.856 19 18,0 2003 6.798 19 17,6 2004 6.826 19 17,4 2005 6.959 19 17,5 2006 6.808 19 16,9 2007 7.437 20 18,3 2008 7.404 20 18,0 Fonte: Fundação Seade. Gráfico 1 Taxa de mortalidade (1), segundo tipos de acidentes de transporte Estado de São Paulo 1996-2008 Atropelamento Demais Acidentes Motociclista 18,00 16,00 14,00 12,00 1 8,00 6,00 4,00 2,00 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: Fundação Seade. (1) Por 100 mil habitantes. SEADE 4

Gráfico 2 Taxas de mortalidade (1), por tipo de acidentes de transporte, segundo sexo e faixa etária Estado de São Paulo 2008 Atropelamentos Mulheres Homens 45,00 4 35,00 3 25,00 2 15,00 1 5,00 Demais Acidentes Mulheres Homens 45,00 4 35,00 3 25,00 2 15,00 1 5,00 Motocicletas Mulheres Homens 45,00 4 35,00 3 25,00 2 15,00 1 5,00 Fonte: Fundação Seade. (1) Por 100 mil habitantes. SEADE 5

Governador do Estado José Serra Vice-Governador Alberto Goldman Secretário de Economia e Planejamento Francisco Vidal Luna Diretora Executiva Felícia Reicher Madeira Diretor Adjunto Administrativo e Financeiro Marcos Martins Paulino Diretor Adjunto de Análise e Disseminação de Informações Sinésio Pires Ferreira Diretora Adjunta de Metodologia e Produção de Dados Marise Borem Pimenta Hoffmann Chefia de Gabinete Ana Celeste de Alvarenga Cruz Produção Gerência de Indicadores e Estudos Populacionais (Gepop) Autoria Paulo Borlina Maia Edição Gerência de Editoração e Arte (Geart) Av. Cásper Líbero 464 01033-000 São Paulo SP Fone (11) 3324-7200 Fax (11) 3324-7297 www.seade.gov.br seade@ouvidoria.sp.gov.br geadi@seade.gov.br Permitida a reprodução, desde que citada a fonte.