ATIVIDADE FÍSICA E DISFONIA EM PROFESSORAS

Documentos relacionados
A DISFONIA EM PROFESSORAS E A PRÁTICA DA FONOAUDIOLOGIA

Qualidade de Vida Relacionada à voz em Professoras do Ensino Fundamental da Rede Pública

Sintomas Vocais, Perfil de Participação e Atividades Vocais (PPAV) e Desempenho Profissional dos Operadores de Teleatendimento

RECOMENDAÇÕES PREVENTIVAS PARA DISFONIA AMPARADAS EM UM INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO

Correlações entre idade, auto-avaliação, protocolos de qualidade de vida e diagnóstico otorrinolaringológico, em população com queixa vocal

Análise dos aspectos de qualidade de vida em voz. após alta fonoaudiológica: estudo longitudinal

Distúrbio de voz relacionado ao trabalho docente: um estudo caso-controle.

A disfonia é um processo multifatorial sendo definida como qualquer. dificuldade ou alteração na emissão natural da voz. Aspectos biológicos,

Procura pela assistência vocal por professores municipais do ensino fundamental de Belo Horizonte

Palavras-chaves: Qualidade da voz; Qualidade de vida, docente. (4). Um importante aspecto a ser avaliado em processos

RESUMO SIMPLES. AUTOPERCEPÇÃO DA VOZ E INTERFERÊNCIAS DE PROBLEMAS VOCAIS: um estudo com professores da Rede Pública de Arari MA

Análise dos instrumentos de avaliação autoperceptiva da voz, fonoaudiológica da qualidade vocal e otorrinolaringológica de laringe em professores.

AÇÕES DE SAÚDE VOCAL O QUE O PROFESSOR UTILIZA NA ROTINA PROFISSIONAL EM LONGO PRAZO?

TÍTULO: DESVANTAGEM VOCAL EM CANTORES POPULARES PROFISSIONAIS E AMADORES COM E SEM TREINAMENTO

O IMPACTO DE CONDIÇÕES CRÔNICAS NA QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À SAÚDE (SF-36) DE IDOSOS EM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL ISA-SP.

TRAÇANDO O PERFIL VOCAL DE DOCENTES COM DISTÚRBIO DE VOZ: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO VOCAL.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES DISFÔNICOS ACOMPANHADOS PELO PROVOX

EXCESSO DE PESO E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS ASSISTIDOS PELO NASF DO MUNICÍPIO DE PATOS-PB

FOZ DO IGUAÇÚ PR. 30/NOV á 02/12/2011

RELAÇÃO ENTRE RUÍDO AUTORREFERIDO EM SALA DE AULA E SUAS CONSEQUÊNCIAS SOBRE A VOZ

Boletim COMVOZ n o. 1

ADOECIMENTO VOCAL EM PROFESSORES

ESTUDOS SECCIONAIS. Não Doentes Expostos. Doentes Expostos. Doentes Não Expostos. Não Doentes Não Expostos

Cássia Rafaela de Oliveira Ribeiro

Voz e disfunção temporomandibular em professores

Qualidade de Vida 02/03/2012

INVESTIGAÇÃO DE FATORES ASSOCIADOS À ALTERAÇÕES VOCAIS EM DOCENTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

1. Distúrbios da voz 2. Fatores de risco 3. Condições do trabalho

1. Introdução. 2. Objetivo

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE MEDICINA

Escore Máximo. Masculino 50,63 17, , Feminino 52,21 18, ,27 29, Total 51,86 18, ,18 27,

AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA GLOBAL DE USUÁRIOS DE UM AMBULATÓRIO DE FONOAUDIOLOGIA

AUTOPERCEPÇÃO DE ALTERAÇÕES VOCAIS E DE ABSENTEÍSMO EM PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

Autopercepção das condições de trabalho por professores de ensino fundamental

Prevalência de problemas de sonolência diurna em praticantes e não praticantes de atividades físicas em uma escola de Canindé-Ceará.

ADOECIMENTO VOCAL: PREVALÊNCIA E ANÁLISE DO TRABALHO DE INSTRUTORES E TÉCNICOS DE MODALIDADES ESPORTIVAS DE UM CLUBE DA CIDADE DE BELO HORIZONTE

Subprojeto de Iniciação Científica

SATISFAÇÃO COM ASPECTOS PSICOSSOCIAIS NO TRABALHO E SAÚDE DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA EM RECIFE, PERNAMBUCO

Bogotá, Colombia. 50 años de la Fonoaudiología en Colombia

ESTILO DE VIDA E AGRAVOS À SAÚDE E VOZ EM PROFESSORES

Sinais e sintomas da disfunção autônoma em indivíduos disfônicos

A RELAÇÃO DOS ALUNOS DO IFBA COM A PRÁTICA DE ESPORTES E ATIVIDADES FÍSICAS

Milany de Souza Barroso. Recordação da informação pelo paciente com disfonia na terapia da voz BELO HORIZONTE

RISCOS OCUPACIONAIS À SAÚDE E VOZ DE PROFESSORES: ESPECIFICIDADES DAS UNIDADES DE REDE MUNICIPAL DE ENSINO

VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE VOZES ADAPTADAS E DISFÔNICAS

QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À VOZ DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

Acácio Lustosa Dantas Graduanda em Educação Física pelo PARFOR da Universidade Federal do Piauí

ACONSELHAMENTO SOBRE MODOS SAUDÁVEIS DE VIDA: PRÁTICA E ADESÃO EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.

RUÍDO EM SALAS DE AULA: UM ESTUDO SOBRE OS PROBLEMAS DE INTELIGIBILIDADE 1 NOISE IN CLASSROOMS: A STUDY OF PROBLEMS OF INTELLIGIBILITY

Questionário Condição de Produção Vocal Professor (CPV-P): comparação. Autores: SUSANA PIMENTEL PINTO GIANNINI, MARIA DO ROSÁRIO DIAS

Desvantagem vocal e rouquidão em cantores populares de Belo Horizonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitoria de Recursos Humanos. Projeto de Atualização Pedagógica - PAP

na maioria das vezes, a superficialidade da fundamentação teórico-conceitual e das 3

Desigualdades sociais e doenças crônicas de adultos:

Qualidade de vida em voz: o impacto de uma disfonia de acordo com gênero, idade e uso vocal profissional

Distúrbio de voz, estresse no trabalho e perda de capacidade de trabalho realizado com professores de São Paulo

Plano de Ensino da Disciplina

Higiene, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho no Serviço Público

PREVALÊNCIA DE CEFALEIA EM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO MUNICÍPIO DE CARUARU-PE

TÍTULO: ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DO QUESTIONÁRIO HOLANDES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os Benefícios da Atividade Física no Tratamento do Transtorno no Uso de Drogas

Inovação e Resultados em Gestão de Saúde I.CONHECENDO O CONTEXTO

Anexo 1: Fig. 1 Cartilagens da laringe. (McFarland, D. [2008]. Anatomia em Ortofonia Palavra, voz e deglutição. Loures: Lusodidacta)

TERMINOLOGIA DE RECURSOS VOCAIS SOB O PONTO DE VISTA DE FONOAUDIÓLOGOS E PREPARADORES VOCAIS

A voz do Professor professor VOZ Araraquara (SP) São Bernardo do Campo (SP) Botucatu (SP) Rio de Janeiro (UFRJ) Curitiba (PUC-PR): Dourados

AVALIAÇÃO VOCAL EM CRIANÇAS DISFÔNICAS ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM GRUPO

ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

Tempo Máximo de Fonação: influência do apoio visual em crianças de sete a nove anos

QUEM SÃO OS INDIVÍDUOS QUE PROCURARAM A AURICULOTERAPIA PARA TRATAMENTO PÓS-CHIKUNGUNYA? ESTUDO TRANSVERSAL

Palestrantes: Amábile Beatriz Leal (2º ano) Jéssica Emídio (4º ano) Orientação: Fga. Ms. Angélica E. S. Antonetti

INDICADORES DE ESTILO DE VIDA DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CATARINENSE QUE PARTICIPAM DO PROGRAMA GINÁSTICA NA EMPRESA

RESUMO. Palavras-chave: Doença de Alzheimer. Cuidadores. Qualidade de vida. INTRODUÇÃO

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS DE UM CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS DE BELO HORIZONTE-MG

Eficiência e valores de corte do Perfil de Participação e Atividades Vocais para não professores e professores

MOTIVOS E BENEFÍCIOS QUE LEVAM A PRATICA DA GINÁSTICA NO GRUPO NO RITMO

Idosos Ativos, Idosos Saudáveis

CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA VOCAL PARA PRESBIFONIA COM USO DA TÉCNICA DO TUBO DE RESSONÂNCIA

Alterações vocais no Parkinson e método Lee Silverman

pressão interna que favorece a percepção do diafragma, da parede abdominal e da própria laringe 3. Uma das variações dos ETVSO consiste no uso dos

CAMILA RODRIGUES BRESSANE CRUZ MIRIAM MATSURA SHIRASSU CENTRO DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO À SAÚDE PREVENIR HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL HSPE-

DESCRIÇÃO DO PERFILVOCAL DE PROFESSORES ASSISTIDOS POR UM PROGRAMA DE ASSESSORIA EM VOZ

Adriane Mesquita de Medeiros DISFONIA E CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS PROFESSORAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE BELO HORIZONTE

PRODUTO TÉCNICO DO MESTRADO PROFISSIONAL INTRODUÇÃO

5º Simposio de Ensino de Graduação

Grupo Bem-me-quero: Intervenção para pais na APAE em Juiz de Fora/MG

SINTOMAS VOCAIS RELACIONADOS À HIDRATAÇÃO MONITORADA

ARTIGOS. INTEGRALIDADE: elenco de serviços oferecidos

PERCEPÇÃO ACERCA DO CONSUMO DE PRODUTOS HORTIFRUTÍCOLAS PELOS ACADÊMICOS DA UFFS CAMPUS CERRO LARGO

VOZ E CONDIÇÕES DE TRABALHO EM PROFESSORES

RESUMO INTRODUÇÃO: Pessoas com sintomas de ansiedade apresentam maiores níveis de pressão arterial. A presença de ansiedade está associada com as

Marina Emília Pereira Andrade

SINTOMAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES DE UMA INDÚSTRIA DO POLO MOVELEIRO DE ARAPONGAS PR

Plano de Formação 2018/2021

Disfonia: relação entre o trabalho do professor e o prejuízo da voz

RISCOS OCUPACIONAIS À SAÚDE E VOZ DE PROFESSORES: ESPECIFICIDADES DAS UNIDADES DE REDE MUNICIPAL DE ENSINO

ASSOCIAÇÃO ENTRE SENSAÇÕES LARINGOFARINGEAS E CAUSAS AUTORREFERIDAS POR PROFESSORES.

Transcrição:

ATIVIDADE FÍSICA E DISFONIA EM PROFESSORAS Palavras-chave: Distúrbios da voz, Atividade Motora, Docentes. Introdução A disfonia é um dos problemas ocupacionais mais prevalentes entre os professores (1-4) e um dos principais motivos de afastamento do trabalho (1,5-6). As condições ambientais e organizacionais do trabalho e o estilo de vida são fatores associados à disfonia. Estudos também mostram que a disfonia tem impacto importante na qualidade de vida, tanto sobre o componente mental quanto físico (7-9). Entretanto, são poucos os estudos epidemiológicos que examinam a associação entre disfonia e a atividade física. Na prática clínica, a investigação da atividade física em pacientes com problemas de voz é feita de rotina não apenas devido aos benefícios da atividade física para a saúde em geral, mas também, porque esse hábito está envolvido na produção vocal mais enérgica e com maior resistência (10-11). As situações de estresse interferem na evolução da disfonia (12) e os autores buscam constatar a efetividade da atividade física como um dos recursos para interferir no desencadeamento ou evolução dessa morbidade (13-14). A promoção da atividade física é uma prioridade em saúde pública, pois indivíduos ativos fisicamente vivem mais tempo do que os indivíduos sedentários e têm menos chance de desenvolver vários tipos de doenças crônicas, entre elas: doenças cardíacas, hipertensão arterial, diabetes do tipo 2, ansiedade e depressão. A intensidade e a freqüência de atividade física podem modificar a magnitude do efeito sobre as doenças crônicas (15). Nesse caso, os sujeitos com disfonia seriam beneficiados quando inseridos em práticas de atividade física? Dada a elevada prevalência de alteração vocal em professores e de inatividade física na população adulta brasileira, o objetivo do presente artigo é investigar se a prática de atividade física está associada à presença de disfonia em professoras do ensino fundamental. Método Foi realizado um inquérito sobre as condições de saúde e de trabalho dos professores do ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte (RMEBH). Participaram do estudo 3.142 professoras, excluindo-se aquelas que não exerciam a docência na escola ou estavam licenciadas.

A amostra aleatória simples considerou as escolas municipais que estavam em funcionamento em 2004, nos turnos da manhã e tarde. O questionário continha questões referentes a características sociodemográficas, trabalho, presença de depressão (General Health Questionaire 12), sintomas vocais, presença de infecções de vias aéreas superiores, realização de outra atividade com o uso da voz, prática de atividade física e hidaratação. A coleta de dados ocorreu entre maio de 2004 e julho de 2005 por meio de visitas realizadas nas escolas selecionadas. Antes da aplicação do questionário, as professoras foram informadas sobre os objetivos da pesquisa, sobre a instituição responsável e sobre o caráter voluntário e sigiloso da participação de cada um. Procedia-se, então, à entrega da carta convite e consentimento livre e esclarecido e do questionário. A variável dependente foi uma combinação das respostas às questões 53 e 54 do questionário Nas duas últimas semanas, você tem sentido cansaço para falar? e Nas duas últimas semanas, você percebe piora na qualidade de sua voz? Essas perguntas possuem 3 possibilidades de resposta, sendo: não, de vez em quando e diariamente. O grupo de professoras consideradas com problema de voz foi definido tendo como critério a combinação de sintomas (cansaço ao falar e piora na qualidade vocal), a freqüência (de vez em quando; diariamente) e a duração (últimos 15 dias). A categorização da variável foi determinada pelos seguintes valores: 0 para disfonia ausente e 1 para disfonia presente. Disfonia foi considerada a manifestação concomitante de cansaço ao falar e de piora na qualidade da voz por um período de 15 dias tendo freqüência esporádica (de vez em quando) ou diária (diariamente). Duas condições levaram a descartar a presença da disfonia: quando o respondente negou a presença de um dos dois sintomas no período de 15 dias; ou, quando o respondente afirmou a presença de ambos os sintomas, mas relatou uma freqüência esporádica (de vez em quando). A variável independente para investigar a prática de atividade física derivou da questão Você realiza alguma atividade física regular (caminhadas, exercícios, prática de esportes, etc.)? com três possibilidades de resposta: nenhuma, 1-2 vezes por semana e 3 ou mais vezes por semana. Utilizou-se o programa STATA, versão 8.0 para a análise estatística. Para verificar os fatores associados à disfonia foi realizada uma análise univariada e, todas as variáveis associadas à variável dependente ao nível p<0,20 foram testadas no

modelo final (p<0,05). A magnitude de associação foi estimada pela razão de prevalência e intervalo de confiança de 95%, obtidos pela regressão de Poisson adaptada para estudos transversais. O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa local em 05 de outubro de 2004 e cumpriu os princípios éticos expressos na Declaração de Helsinki. Resultados A média de idade das professoras foi 42 (desvio padrão= 8) anos, a maioria casada (58,77%), com pelo menos um filho (70,28%) e nível superior (94,19%), 57,88% lecionavam em dois ou três turnos. O exercício de outra atividade com o uso intensivo da voz foi relatado por 17,08% das professoras. No modelo final, a disfonia mostrou-se associada à inatividade física ajustada pelo hábito de ingestão de água durante as aulas, problemas de via aérea superior, presença de depressão/ansiedade e percepção de ruído elevado gerado na sala de aula (p<0,05) (Tabela 1). A ausência de atividade física foi associada positivamente à disfonia. As professoras que não praticavam atividade física tiveram maior risco em apresentar disfonia (RP= 1,58/ IC95%= 1,15-2,17) quando comparadas àquelas que praticavam atividade física três ou mais vezes por semana (RP= 1,0) (Tabela 1). Discussão Na população de estudo, a prevalência de disfonia encontrada foi de 15,63% e a ausência de atividade física (não praticar nenhum exercício físico durante a semana) foi informada por 47,52 % das professoras. As demais professoras (52,48%) praticavam caminhadas, exercícios físicos, esportes e outros, sendo 31,25% uma ou duas vezes por semana e 21,23% três ou mais vezes por semana. A prevalência de disfonia foi maior entre as professoras que não praticam atividade física. Este resultado suscita o debate sobre o benefício da atividade física regular sobre a voz. É possível, portanto, que a associação observada entre inatividade física e disfonia reflita tanto um efeito direto da piora do sintoma vocal, como também seja uma expressão geral da deterioração da qualidade geral de vida dos indivíduos com disfonia, já observada por outros autores (7-9). A presença de depressão/ansiedade mostrou-se associada à disfonia entre as professoras incluídas no presente estudo (Tabela 1). Quanto ao papel da atividade física, é plausível supor que a redução do estresse a ela relacionada poderia levar a uma produção vocal com menor esforço e menor tensão muscular do aparelho fonador. Freqüentemente, em resposta ao

estresse os quadros disfônicos estão acompanhados de uma hipercontração dos músculos intrínsecos e extrínsecos da laringe (16). A resistência vocal é a habilidade de um falante usar sua dinâmica de voz por um determinado período (demanda), sem mostrar sinais de cansaço (fadiga) (17). A demanda vocal é uma combinação de tempo de uso da voz relacionado a fatores ambientais da comunicação como ruído de fundo, acústica do ambiente e qualidade do ar. Na atividade docente, a demanda mais importante diz respeito ao uso prolongado da voz associado aos fatores ambientais desfavoráveis, gerando um aumento do esforço vocal (18). No presente estudo, houve associação significativa entre a percepção pelos professores de ruído elevado gerado dentro da sala de aula e a disfonia. Hábitos saudáveis, por exemplo, atividade física, poderia amenizar esse efeito sobre a dinâmica do aparelho fonador. Em suma, a atividade física pode repercutir positivamente sobre a resistência vocal, já que a saúde fisiológica e emocional tem relação direta com o bem estar da voz (19). Sendo assim, quanto melhor o bem estar físico, maior a resistência vocal, ou seja, maior a sua capacidade do indivíduo de suportar suas demandas vocais de origem social e/ou profissional, sem apresentar sinais de fadiga na voz. Um limite do presente estudo refere-se à aferição da prática da atividade física, feita por meio de uma pergunta que não permite avaliar, por exemplo, a duração da atividade física dos respondentes por unidade de tempo, nem a natureza da atividade. Ademais, não foi possível avaliar a contribuição dos vários domínios da atividade física (tempo de lazer, ocupação, tarefas domésticas etc) no conjunto da atividade física da professora. As professoras com freqüência esporádica dos sintomas de voz (cansaço ao falar e piora da qualidade vocal) e o grupo que referiu apenas um dos dois sintomas não foram consideradas professoras com disfonia. Essa caracterização pode ter provocado uma subestimação da prevalência de disfonia por não incluir as professoras em estágio precoce de disfonia. No entanto, o grupo das professoras consideradas com presença de disfonia preenche melhor os critérios de caso. Estudos futuros serão necessários para uma melhor compreensão da interferência da atividade física sobre o bem estar físico e mental dos indivíduos, principalmente, no tocante ao grau dos seus efeitos sobre a resistência e a produção vocal, e ao conseqüente surgimento de sintomas relacionados à voz. A prática de hábitos saudáveis é imprescindível para a saúde vocal.

Tabela 1. Modelo final da associação entre disfonia e prática da atividade física ajustado por outros fatores - 2004/2005 Fatores RP* IC95%** Prática de atividade física regular 3 ou mais vezes por semana 1 1-2 vezes por semana 1,24 0,88-1,76 Nenhuma 1,58 1,15-2,17 Ingestão de água durante as aulas Não 1 Sim 1,37 1,05-1,78 Problema nas vias aéreas superiores (últimos 15 dias) Não 1 Sim 2,65 2,07-3,39 Depressão/ Ansiedade ausente 1 presente 1,85 1,44-2,37 Ruído gerado na sala de aula Desprezível a razoável 1 Elevado a insuportável 2,20 1,70-2,85 *RP= razão de prevalência **IC= intervalo de confiança REFERÊNCIAS 1. Roy, N, Merril, RM, Thibeaul,TS, Gray, SD, Smith, EM. Voice disorders in teachers and the general population: effects on work performance, attendance, and future career choices. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. 2004;47:542-551. 2. Delcor, NS, Araújo, TM, Reis, E JFB, Porto, LA, Carvalho, FM, Silva, MO, Barbalho, L, Andrade, JM. Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública. 2004;20(1):187-196. 3. Simberg, S, Sala, E, Vehmas, K, Laine, A. Changes in the prevalence of vocal symptoms among teachers during a twelve-year period. Journal of Voice. 2005;19(1):95-102. 4. Medeiros, AM, Barreto, SM, Assunção, AA. Voice disorder (dysphonia) in public school female teachers working in Belo Horizonte: prevalence and associated factors. Journal of Voice. 2008;22(6): 676-687. 5. Medeiros, AM, Barreto, SM, Assunção, AA. Professores afastados da docência por disfonia: o caso de Belo Horizonte. Cadernos de Saúde Pública (UFRJ). 2006,14:615-624 6. Fortes FSG, Imamura R, Tsuji DH, Sennes LU. Perfil dos profissionais da voz com queixas vocais atendidos em um centro terciário de saúde. Rev Brasileira de Otorrinolaringologia. 2007;73(1):27-31. 7. Wilson JA, Deary IJ, Millar A, Mackenzie K,. The quality of life impact of dysphonia. Clinics Otolaryngologie Allied Sciences. 2002;27:179-82. 8. Kasama ST, Brasolotto AG. Vocal perception and life quality. Pro Fono. 2007;19: 19-28.

9. Jardim, R, Barreto, SM, Assunção, AA. Condições de trabalho, qualidade de vida e disfonia entre docentes. Cadernos de Saúde Pública. 2007;23: 2439-2461. 10. Behlau, M, Pontes, P. Higiene vocal. Cuidando da voz. 3. ed. Ampliada atualizada. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. 11. Pinho, SMP. Manual de higiene vocal para profissionais da voz. Pró-Fono. Dep. Editorial. Carapicuíba; 2003. 12. Melnyk, P, Jamardo, B, Cacace, M, Pardo, H, Pino, AA, Tomasetti, A, Cortizas, MMA, Hurtado DE, Braier MR, Verretilne G. Considerations about teachers dysphonias. International Congress Serires. 2003;1240:1293-1296. 13. Nunomura, M, Teixeira, LAC, Carudso, MRF. Nível de estresse em adultos após 12 meses de prática regular de atividade física. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2004;3(3):12-134. 14. Mello, MT, Boscolo, RA, Esteves, AM, Tufik, S. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2005;11(3):203-207. 15. Organização Pan-Americana de Saúde,. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: Estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília; OPAS: 2003. 16. Roy N. Functional dysphonia. Current Opinion in Otolaryngology & Head & Neck Surgery 2003;11(3):144-148. 17. Behlau M, Feijó D, Madazio G, Rehder MI, Azevedo R, Ferreira AE. Voz profissional: aspectos gerais e atuação fonoaudiológica. In: Belhau M (Org). Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p.287-407. 18. Vilkman E. Occupational safety and health aspects of voice and speech professions. Folia Phoniatrica et Logopedica. 2004; 56-4. 19. Deeter A. Undertanding Massage: how massage therapy can enhance self-care and vocal health. Journal Singing. 2006;62:541-5.