MANEJO DE IRRIGAÇÃO E USO DE HIDROGEL NO DESENVOLVIMENTO DE EUCALIPTO 1 INTRODUÇÃO Miriele Silva Vaz da Costa 1 (UEG-Ipameri) miri_ele@hotmail.com Thaís Fernandes de Jesus 2 (UEG-Ipameri) Rogério Nunes Gonçalves 3 (UEG-Ipameri) Claudenir Facincani Franco 4 (FCAV-UNESP) Vitor Corrêa de Mattos Barretto 5 (UEG-Ipameri) barreto@ueg.br As florestas plantadas apresentam grande importância para o agronegócio florestal brasileiro, com participação de cerca de 4% do PIB nacional. O estado de Goiás está na 11ª posição em área de florestas plantadas (70.679 ha), no ano de 2010 (ABRAF, 2011), para atender a demanda das companhias mineradoras, que usam a lenha, para as siderúrgicas de Minas Gerais fabricarem o aço, para produção de embalagens e madeira serrada. A irrigação de mudas de espécies florestais durante o plantio e nas primeiras semanas da implantação é uma operação importante nos plantios comerciais, principalmente nas épocas secas do ano, influindo na sobrevivência e desenvolvimento das mesmas (BUZZETTO, BIZON e SEIXAS, 2002). Nesse sentido, os polímeros sintéticos foram desenvolvidos na década de 1960, sendo muitos deles recomendados para uso agrícola como condicionadores de solo por melhorarem as propriedades físico-químicas dos solos, reduzirem o número de irrigações e as perdas de nutrientes e diminuírem os custos no desenvolvimento das culturas (SAAD, LOPES e SANTOS, 2009). Polímeros hidroretentores são produtos naturais (derivados do amido) ou sintéticos (derivados do petróleo), que são valorizados por sua capacidade de absorver e armazenar água (MORAES, 2001). Os mais utilizados são os sintéticos, como a propenamida (denominados de poliacrilamida ou PAM) e os co-polímeros, como a propenamidapropenoato (conhecidos como poliacrilamida-acrilato ou PAA), usados como floculantes em fraldas e outros artigos sanitários, e para depósitos de líquidos químicos residuais (VALE, CARVALHO E PAIVA, 2006). Em espécies florestais, os polímeros sintéticos ou hidrogéis são utilizados, em escala operacional, pelas empresas florestais que reduzem os custos de plantio de eucalipto em 8% no primeiro ano, obtendo uma economia de 3% ao final do ciclo de sete anos (BOLETIM CELULOSE ON-LINE, 2007). O efeito de polímeros em sementeiras de espécies florestais foram estudados por Adams e Lockaby (1987) citado por Azevedo et al. (2002), que observaram que todas as mudas da testemunha murcharam aos dezoito dias após a primeira irrigação, enquanto as que receberam os polímeros permaneceram túrgidas. Buzetto, Bizon e Seixas (2002) estudando a eficiência do polímero no fornecimento de água para mudas de eucalipto, constataram que o polímero reteve a água de irrigação por 1 Acadêmica do curso de Agronomia, bolsista do PIBIC/CNPq - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq; 2 Acadêmica do curso de Agronomia, bolsista do PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG; 3 Acadêmico do curso de Agronomia, bolsista do PVIC/UEG - Programa Voluntário de Iniciação Científica da UEG; 4 Aluno de Doutorado em Produção Vegetal, colaborador; 5 Professor orientador. 1
maior período de tempo, disponibilizando-o de maneira gradativa para as plantas, o que resultou na diminuição da mortalidade das mudas cultivadas com o polímero, sem, contudo acelerar o crescimento em altura das mesmas. 2 OBJETIVO O presente trabalho teve como objetivo avaliar o manejo de irrigação e o uso do hidrogel no desenvolvimento de eucalipto. 3 METODOLOGIA O experimento foi instalado nas dependências da Unidade Universitária de Ipameri da Universidade Estadual de Goiás, em condições de casa de vegetação. Foram utilizadas mudas de um híbrido de Eucalyptus grandis x E. urophylla formadas a partir da germinação de sementes em tubetes de 50 cm 3 com substrato comercial. As plantas foram transplantadas dos tubetes para os vasos quando atingiram 20 cm de altura. Nessa ocasião, foram aplicados os tratamentos com a ausência e presença de hidrogel. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x5, com 4 repetições, totalizando 40 unidades experimentais, que foram representadas por um vaso de plástico com 7 dm 3 de solo com uma planta. O primeiro fator foi composto pela ausência e presença de hidrogel. Nos tratamentos com a aplicação do hidrogel a dose utilizada foi de 1 g por unidade experimental. O hidrogel foi hidratado com 500 ml de água. O segundo fator foi composto pelo intervalo de irrigação a cada: 2, 4, 8, 12 e 16 dias. Antes da implantação do experimento, realizou-se a irrigação até atingir a capacidade de campo. No plantio, os tratamentos com a aplicação de hidrogel foram irrigados com 1 L de água por vaso, enquanto que para os tratamentos sem o hidrogel, 1,5 L por vaso. A quantidade de água usada nos tratamentos foi de 500 ml por vaso, por meio de uma proveta. O solo usado foi LATOSSOLO VERMELHO distroférrico proveniente da camada superficial (0 0,2m), devidamente corrigido. As plantas foram conduzidas até os 120 dias após o transplantio. Os parâmetros de crescimento avaliados foram altura das plantas, número de folhas e diâmetro do colo a 8 cm do solo, aos 45 e 120 dias após tranplantio. Aos 120 dias após transplantio, as plantas foram lavadas e separadas em raízes, caule e folhas, e todo material vegetal foi colocado em estufa a 70 C por um período de 24 horas para obtenção da massa seca de cada um dos componentes. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e quando significativos, realizou-se o teste de comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferenças estatísticas para altura, número de folhas e diâmetro do colo a 8 cm do solo de plantas de eucalipto em função do uso ou não do hidrogel, aos 45 e 120 dias após transplantio. Enquanto que, para os intervalos de irrigação houve diferenças estatísticas no crescimento em altura, número de folhas e no diâmetro do colo a 8 cm do solo de plantas de eucalipto, aos 45 e 120 dias após transplantio. Entretanto, não foram observadas diferenças estatísticas na interação entre os tratamentos com ou sem hidrogel e intervalos de irrigação para altura, número de folhas e no diâmetro do colo a 8 cm do solo de plantas de eucalipto, aos 45 e 120 dias após transplantio. 2
Resultados semelhantes foram observados por Buzetto, Bizzon e Seixas (2002) estudando a eficiência do hidrogel no fornecimento de água para mudas de Eucalyptus urophylla em pós-plantio, constataram que não houve influência da aplicação do polímero no crescimento das mudas, aos 9 meses após plantio. Já para cafeeiro, Azevedo (2000) estudando a eficiência do hidrogel no fornecimento de água para o cafeeiro (Coffea arabica L) cultivar Tupi, constatou que o efeito do polímero na altura de plantas, na massa seca da parte aérea e na massa seca de plantas foi significativo. Saad, Lopes e Santos (2009), objetivando avaliar a sobrevivência de clone de Eucalyptus urograndis sob dois manejos hídricos de viveiro, plantados em dois solos (arenoso e argiloso), com e sem a adição de polímero hidroabsorvente (hidrogel), não constataram diferenças estatísticas entre uso ou não do hidrogel, tanto em um solo como no outro. Aos 120 dias após transplantio, os intervalos de irrigação que favoreceram maiores alturas (69,4 e 65,1 cm) e crescimento em diâmetro do colo (5,5 e 5 mm) foram de dois a quatro dias em comparação com o intervalo de 8 dias. Para número de folhas, o intervalo de irrigação que mais influenciou foi o de 2 (16) dias. Houve mortalidade de todas as plantas de eucalipto nos tratamentos com os intervalos de irrigação entre 12 e 16 dias. Azevedo (2000) constatou ainda que, a presença do hidrogel no substrato permitiu ampliar os intervalos entre irrigações, sem comprometer o crescimento do cafeeiro por déficit de água. Para produção de biomassa, não houve diferenças estatísticas em relação à presença e ausência da aplicação do hidrogel e interação entre os tratamentos com ou sem hidrogel e intervalos de irrigação, aos 120 dias após transplantio. Porém, observaram-se diferenças estatísticas para a produção de biomassa (folhas, caule, raízes, parte aérea e total) em relação a intervalos de irrigação. O intervalo de irrigação que mais favoreceu a produção de massa de matéria seca de folhas de eucalipto foi o de 2 (5,1 g) dias, em comparação a 4 (1,4 g) e 8 (0,8 g) dias. Já para a massa seca de caule de plantas de eucalipto, os maiores ganhos foram nos intervalos de 2 (5,3 g) e 4 (4 g) dias, diferindo estatisticamente apenas do intervalo de 8 (1,8 g) dias. A maior produção de massa seca das raízes de plantas de eucalipto (7,1 g) foi observada no intervalo de dois dias, diferindo estatisticamente dos intervalos de 4 e 8 dias, que obtiveram 2,9 g e 1,2 g de massa de raízes, respectivamente. A massa seca da parte aérea também apresentou maior produção, de 10,4 g, no intervalo de 2 dias, diferindo estatisticamente dos intervalos de irrigação testados (4 e 8 dias). A massa de matéria seca da parte aérea de plantas de eucalipto irrigado, a cada 4 dias, produziu 5,4 g. O pior intervalo de irrigação para massa de matéria seca da parte aérea de plantas de eucalipto foi o de 8 dias, com a produção de 2,5 g. A massa seca total de plantas de eucalipto foi maior (17,4 g) no intervalo de 2 dias de irrigação, em relação aos intervalos de 4 (8,3 g) e 8 (4 g) dias. Diante disso, pode-se inferir que os menores intervalos de irrigação (2 e 4 dias) conseguiram manter a umidade no solo suficiente para possibilitar um desenvolvimento satisfatório das plantas de eucalipto, até aos 120 dias após transplantio, em comparação com os tratamentos em que os intervalos de irrigação foram maiores (8, 12 e 16 dias). Provavelmente, isto ocorreu devido a quantidade de um litro de água ter sido suficiente às plantas nos intervalos de irrigação menores (2 e 4 dias), sendo que, nos intervalos de irrigação maiores, o intervalo de 8 dias e a quantidade de um litro de água não favoreceram o armazenamento de água tanto pelo hidrogel quanto pelo solo, sendo que nos intervalos de irrigação de 12 e 16 dias, houve mortalidade das plantas de eucalipto. Martins et al. (2004) avaliando os efeitos de quatro turnos de rega (7, 14, 21 e 28 dias) e cinco doses de um hidroabsorvente (0; 2,5; 5,0; 7,5 e 10,0 gramas por recipiente) na fase 3
inicial de desenvolvimento do cafeeiro conilon (Coffea canephora Pierre), verificaram que o turno de rega de 7 dias e a dose de 10 g de hidroabsorvente proporcionaram os maiores valores, para altura da planta, diâmetro da copa e diâmetro do caule. Entretanto, os valores de altura da planta, diâmetros do caule e copa decresceram com o aumento no turno de rega, o que ocorreu devido à falta de água no solo. E ainda, o hidroabsorvente não conseguiu manter a umidade adequada ao bom desenvolvimento das mudas, nos turnos de rega de 14, 21 e 28 dias, mesmo em doses maiores. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O hidrogel não influenciou na altura das plantas, número de folhas, diâmetro do colo, aos 45 e 120 dias após transplantio, bem como na produção de biomassa aos 120 dias após transplantio. Os intervalos de irrigação que favoreceram o desenvolvimento e produção de biomassa de eucalipto foram aos 2 e 4 dias, aos 120 dias após transplantio do eucalipto. 6 REFERÊNCIAS AZEVEDO, T.L.F. Avaliação da eficiência do polímero agrícola de poliacrilamida no fornecimento de água para o cafeeiro (Coffea arabica L) cv. Tupi. 2000. 38f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2000. AZEVEDO, T.L.F; BERTONHA, A; GONÇALVES, A.C.A. Uso de hidrogel na agricultura. Revista do Programa de Ciências Agro-Ambientais, Alta Floresta, v.1, n. 1, p. 23-31, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS - ABRAF. Anuário estatístico da ABRAF ano base 2010. Brasília. 2010. 130p. Disponível em:<http://www.abraflor.org.br/estatisticas/anuario-abraf11-br.pdf>. Acesso em: 05 set. 2011. BUZETTO, F.A.; BIZON, J.M.C.; SEIXAS, F. Avaliação de polímero adsorvente à base de acrilamida no fornecimento de água para mudas de Eucalyptus urophylla em pósplantio. 2002. Disponível em: <http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr195.pdf>. Acesso em: 15 mar 2011. BOLETIM CELULOSE ON-LINE. Internacional Paper. Disponível em: <http://www.celuloseonline.com.br/pagina/pagina.asp?iditem=14512&idnoticia=11967>. Acesso em: 22 mar 2011. MARTINS, C.C.; REIS, E.F.; BUSATO, C.; PEZZOPANE, J.E.M. Desenvolvimento inicial do cafeeiro Conilon (Coffea canephora Pierre) submetidos a diferentes turnos de rega e doses de hidroabsorvente. Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.12, n.3, 222-228, 2004. MORAES, O. Efeito do uso de polímero hidroretentor no solo sobre o intervalo de irrigação na cultura da alface (Lactuca sativa L.). 2001. 73f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 2001. 4
VALE, G.F.R.; CARVALHO, S.P.; PAIVA, L.C. Avaliação da eficiência de polímeros hidroretentores no desenvolvimento do cafeeiro em pós-plantio. Coffee Science, Lavras, v.1, n. 1, p.7-13, 2006. SAAD, J. C. C; LOPES, J. L. W; SANTOS, T. A. Manejo Hídrico em Viveiro e Uso de Hidrogel na Sobrevivência Pós-Plantio de Eucalyptus urograndis em Dois Solos Diferentes. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 29, n. 3, p. 404-411, 2009. 5