4 Amostra e Descrição Estatística dos Dados

Documentos relacionados
Referências Bibliográficas

4 Dividendo Mínimo Obrigatório e Oportunidades de Investimento

Distribuindo os lucros

Referências bibliográficas

Estrutura Ótima de Capital

A CPMF e o Mercado Acionário Brasileiro: Efeitos sobre Governança Corporativa. e Estilos de Investimento *

Claudia Emiko Yoshinaga Francisco Henrique Figueiredo de Castro Junior

JOÃO FORTES ENGENHARIA S.A. COMPANHIA ABERTA CNPJ/MF: /

NADIR FIGUEIREDO INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A. CNPJ / NIRE COMPANHIA ABERTA

JOÃO FORTES ENGENHARIA S.A. COMPANHIA ABERTA CNPJ/MF: / PROPOSTA DA ADMINISTRAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL A SER REALIZADA EM 11/09/2017

Sistema Financeiro. Copyright 2004 South-Western

1 Introdução. 1 No Brasil, esta operação é conhecida como equity kicker. Porém, equity kicker também se

a) informar o número de ações emitidas de cada espécie e classe; b) informar o percentual que os acionistas receberão em ações;

Governança Corporativa

5. Resultados. 5.1 Diluição dos acionistas minoritários

Receita Operacional Bruta

COMENTÁRIOS DO DESEMPENHO NO 1º TRIMESTRE DE 2005

Setor de construção analise dos últimos 20 trimestres

AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES RESOLUÇÃO Nº 630, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2014

Fundos Imobiliários relatório Dividend Yield é superior ao mercado de ações. Valor de mercado e Volume financeiro nas máximas históricas.

O DESEMPENHO DO SETOR EXTERNO EM JANEIRO DE 2003

No entanto, a política de dividendos é igualmente relevante?

Estratégia de Sucesso Resultados refletem portfólio de negócios equilibrado. Outubro, 2012

ENERGISA S.A. Companhia Aberta CNPJ/MF: / NIRE: ANEXO 30 - XXXII DA INSTRUÇÃO CVM 480/2009 AUMENTO DE CAPITAL

Convênio de cooperação para acompanhamento e fiscalização de fundos de investimento - FII. Plano de Trabalho

Estratégia de Sucesso Resultados refletem portfólio de negócios equilibrado

Resultados 4T07 e de fevereiro de 2008

4 Resultados 4.1. Efeitos sobre Rentabilidade

4 Análise dos Resultados

Tema: Tópicos Especiais de Finanças Públicas. A CPMF e o Mercado Acionário Brasileiro: Efeitos sobre. Governança Corporativa e Estilos de Investimento

AUTORAS RENATA ROUQUAYROL ASSUNÇÃO (UFC) FRANCISCA JULIANA DE ANDRADE ARAÚJO (UFC) SILVIA MARIA DIAS PEDRO REBOUÇAS (UFC)

4. INFORMAÇÕES RELATIVAS À EMISSORA Informações Financeiras Selecionadas da Companhia Análise e Discussão da Administração sobre Demonstrações

Mercado acionário brasileiro

CPC 18 INVESTIMENTO EM CONTROLADA E COLIGADA. Prof. Mauricio Pocopetz

Curso de Legislação Societária. Profa. Dra. Silvia Mara Novaes Sousa Bertani

Além disso, o modelo apresenta significativa correlação entre as variáveis independentes, o que pode ter contribuído para aumentar artificialmente o

Oi S.A. CNPJ/MF Nº / NIRE Companhia Aberta

Comentários do Desempenho

Adesão aos Novos Mercados da BOVESPA: Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 Determinantes e Conseqüências

Unidade I AVALIAÇÃO DE EMPRESAS. Prof. Rubens Pardini

CÂMBIO E INFLAÇÃO. Artigo Outubro 2011

ANÁLISE DA LIQUIDEZ: TROCANDO INDICADORES PONTUAIS POR INDICADORES DINÂMICOS

Administração Financeira 4º SEMESTRE. Profª Silvia Flores Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados.

CENTRO DE IMAGEM DIAGNÓSTISCOS S.A. CNPJ/MF nº / NIRE Companhia aberta AVISO AOS ACIONISTAS

Governança corporativa, valor, alavancagem e política de dividendos das empresas brasileiras

Ações. acionista.com.br. eu sou, e você?

RUMO LOGÍSTICA OPERADORA MULTIMODAL S.A. Companhia Aberta de Capital Autorizado CNPJ/MF nº / NIRE AVISO AOS ACIONISTAS

ITR - Informações Trimestrais - 31/03/ POLPAR S.A. Versão : 1. Composição do Capital 1. Proventos em Dinheiro 2. Balanço Patrimonial Ativo 3

Forjas Taurus S.A. Reestruturação Societária

TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRAS S.A. TELEBRÁS

COMPANHIA ABERTA Código CVM 94 CNPJ / NIRE JUCERGS

157 IPOs em 2017 nos USA movimentam 80% do volume financeiro médio da Bovespa. Dois IPOs da Argentina em destaque.

REDE ENERGIA S.A. EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL - COMPANHIA ABERTA - CNPJ/MF n.º / NIRE

ANEXO 30-XXXII Comunicação sobre aumento de capital deliberado pelo Conselho de Administração em 28 de dezembro de 2015

AULA 13. Na sociedade anônima de capital aberto não podem ser divididas em classes diferentes.

Resultado Gerencial 1T15

BM&F BOVESPA Resultados do 2T08

AVISO AOS ACIONISTAS AUMENTO DE CAPITAL POR SUBSCRIÇÃO PRIVADA DELIBERADA PELO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO EM

Resultados do 1º Trimestre 2003

4. Metodologia Tipo de Pesquisa

3 Análise das comissões pagas aos coordenadores do IPO

Crise global e vulnerabilidade externa estrutural do Brasil

A busca do equilíbrio financeiro no segmento da distribuição de energia elétrica. Prof. Thereza Aquino

Comissão de Desenvolvimento Profissional (CDP)

ANEXO 30-XXXII Comunicação sobre aumento de capital deliberado pelo Conselho de Administração em 26 de junho de 2015

AVISO AOS ACIONISTAS AUMENTO DE CAPITAL E ABERTURA DO PRAZO PARA EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA

Sul América S.A. POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS

FONTES DE RECURSOS PARA FINANCIAMENTO EMPRESARIAL: Mercado Bancário e Mercado de Capitais

CIA SANEAMENTO BÁSICO ESTADO SÃO PAULO / OUTRAS INFORMAÇÕES QUE A COMPANHIA ENTENDA RELEVANTES

Painel. Alterações na Legislação das Sociedades por Ações e no Mercado de Valores Mobiliários Lei Federal nº /2007 TAX

PROPOSTA DE ADMINISTRAÇÃO

Volume de unidades faturadas no 1T13 foi 7,5% superior ao mesmo período de Vendas Recrusul de Implementos Rodoviários (em unidades)

1T19 AÇÕES EM FOCO. Destaques Financeiros 1 2. R$ 100,8 bilhões. R$ 2,5 bilhões. R$ 50,4 bilhões 18,8% Remuneração aos Acionistas

Destaques 1T17. Vitória no Lote 1 do Leilão 005/2016: Investimento de R$ 850 MM em 600 Km de linhas e em 3 subestações. Foto de Rafael Mendes Queiroz

COMUNICADO AO MERCADO

Demonstrações Financeiras Polpar S.A. 31 de dezembro de 2007 e 2006 com Parecer dos Auditores Independentes

SECULUS CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

Governança Corporativa

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

BANCO INDUSVAL S.A. Companhia Aberta de Capital Autorizado CNPJ nº / NIRE AVISO AOS ACIONISTAS

GRUÇAÍ PARTICIPAÇÕES S.A. CNPJ/MF nº / NIRE ( Companhia )

GERENCIAMENTO DE RISCO DE LIQUIDEZ - GRL

05/10/2016. Teoria de Mercado Eficiente. Mercado Financeiro I RCC Agenda da Aula - 7. Mito ou Verdade? Mito ou Verdade? Mito ou Verdade?

Águas Guariroba S.A. Companhia Aberta CNPJ nº / NIRE: Código CVM Destaques

Finanças Comportamentais

Águas Guariroba S.A. Companhia Aberta CNPJ nº / NIRE: Código CVM

Conhecimentos Bancários

Uma companhia Uma ação Um voto

ELETROPAULO METROPOLITANA ELETRICIDADE DE SÃO PAULO S.A.

Energisa Nova Friburgo Resultados 1º trimestre de 2012

AVISO AOS ACIONISTAS AUMENTO DE CAPITAL E ABERTURA DO PRAZO PARA EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA

1 Introdução. 1.1 Modelo de informação completa fator de impostos

Normas Internacionais de Avaliação. IVS Negócios e Participações em Negócios

GERAL FATO FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CNPJ Nº / (Administrado pela Corretora Geral de Valores e Câmbio Ltda.

2T17. Divulgação de Rsultados 2T17 e 1S17. carros

RELATÓRIO DE RESULTADOS 4T18 e 2018

PONTO III O ACIONISTA

BATTISTELLA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A. COMPANHIA ABERTA - CVM N CNPJ Nº / NIRE

Divulgação de Resultados 1T16

Transcrição:

4 Amostra e Descrição Estatística dos Dados Nessa seção, dividida em três partes, comentamos na subseção 4.1 os dados e a amostra escolhida para este estudo. Na subseção 4.2, comparamos o volume negociado em diferentes composições da carteira de ações. Por fim, na subseção 4.3, testamos, para cada um destes agrupamentos de ações, o impacto da CPMF sobre o volume transacionado. 4.1 Amostra e Dados Neste trabalho, procuramos estudar o impacto da CPMF no volume de transações da Bovespa (milhares de reais do mês de setembro de 2002) e na composição deste volume entre diferentes estruturas de governança e diferentes estilos de investimento. Para tanto, usamos dados da Economática sobre 545 ações negociadas na Bovespa do primeiro trimestre de 1990 ao segundo trimestre de 2002. A base de dados Economática possui informações diárias sobre preço e volume negociado, informações trimestrais sobre o balanço patrimonial e setor econômico em que atuam empresas com ações negociadas na Bovespa. Como este trabalho considera variáveis do balanço patrimonial, como lucro da firma e endividamento, optamos por selecionar apenas os dados trimestrais. A escolha da data inicial em janeiro de 1990 ocorreu pelos seguintes motivos. Em primeiro lugar, o período anterior à adoção da CPMF em agosto de 1993 nos permite comparar regimes com e sem CPMF. Em segundo lugar, como o banco de dados da Economática apresenta várias omissões de informações do demonstrativo financeiro das empresas no período anterior a 1990, resolvemos considerar apenas os dados a partir de 1990.

21 Do total de 545 ações da Bovespa reportadas pela Economática, 144 deixaram em algum momento de serem listadas, contudo, permanecem presentes na amostra. O fato de a Economática mantê-las na base de dados implica que não existe viés de sobrevivência. Por fim, segundo informações obtidas junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao Banco de Nova Iorque, verificamos se as ações em nossa amostra são de firmas que já emitiram ADRs e a data de adesão ao programa. 4.2 Estruturas de governança e estilos de investimento Nesta seção, buscamos analisar o volume negociado (milhares de reais de setembro de 2002) ao longo do tempo conforme características das ações, sem ainda relacionar, entretanto, a variação do volume com a alíquota da CPMF. O painel A da tabela 3 compara o volume negociado em ações com pagamento de dividendos alto e baixo relativamente ao lucro da firma. Para isso, usamos o percentual do lucro líquido que a firma propõe ao final de cada ano a ser destinado ao pagamento de dividendos, medida conhecida como payout. A partir desse indicador, classificamos as firmas da nossa amostra em dois grupos: payouts altos e baixos. As firmas com payouts altos são aquelas com payout médio no período amostral acima do payout mediano para a amostra total (todas as firmas e todos os anos). Em contraste, firmas com payouts baixos são aquelas com payout médio no período amostral abaixo do payout mediano para a amostra total. Os dados dão apoio à hipótese que dividendos aumentam o volume de transações das ações, principalmente de 1996 a 2002. Considerando este período, o volume médio anual das ações que distribuem relativamente mais dividendos é estatisticamente diferente e maior do que das ações que distribuem menos. Olhando para a diferença das medianas, a vantagem dessas ações é também observada nesse período, sendo o volume transacionado maior em ações com payout alto.

22 O painel B da tabela 3 busca evidências da importância da emissão de ADRs para o volume de transações. Reese e Weisbach (2002) argumentam que a emissão de ADRs protege acionistas minoritários dos paises de origem, que passam a se beneficiar do papel disciplinador da agência reguladora americana do mercado de capitais (SEC). De fato, os dados mostram que, a partir de 1994, quando o número de ações com ADRs passou a ser mais relevante, o volume das ações com emissão de ADRs, tanto médio quanto mediano, foi estatisticamente maior ao nível de significância de um por cento em todos os anos, sugerindo que a emissão de ADRs reforça a governança das firmas brasileiras. 3 O painel C examina diferenças de volume entre ações que se enquadram em distintos estilos de investimento. Em particular, seguindo Fama e French (1992, 1998), centramos nossa atenção nos estilos valor e crescimento. Estes autores identificaram quatro medidas que caracterizam os diferentes estilos de investimento, entre elas, a razão entre o lucro da firma e o preço da ação (L/P), a qual usamos neste trabalho da seguinte forma: ações do estilo valor são aquelas cujo L/P médio é alto, ou seja, está no quartil superior da distribuição de L/P levando em conta a amostra total de ações. Ao contrário, ações do estilo crescimento possuem L/P médio baixo, situado no primeiro quartil dessa distribuição. 4 Note que este critério pressupõe que uma mesma ação não pode mudar de estilo ao longo do tempo, isto é, no período amostral, a ação é valor, crescimento ou nenhuma dessas especificações. Com isso, evitamos que uma variação transitória do lucro da firma ou do preço da ação altere a classificação de uma ação entre os estilos de investimento. É importante salientar, entretanto, que os resultados não se alteram quando permitimos que uma mesma ação mude de estilo de investimento ao longo do tempo. 3 Entretanto, apesar de a emissão de ADRs do tipo II e III implicar um compromisso com melhores práticas de governança do que ADRs do tipo I [ver Srour (2002)], os dados não mostram um volume de transações significativamente diferente entre ações que emitiram ADR do nível I e as que emitiram ADRs de níveis II e III. 4 Fama e French (1998) mostram que as quatro medidas (valor patrimonial/valor de mercado da ação, lucro da firma/preço da ação, (lucro da firma + depreciação + amortizações)/preço da ação e dividendos pagos/preço da ação, respectivamente, B/M, L/P, E/P e D/P) prevêem semelhantemente diferenciais de retornos entre ações valor e crescimento. Em uma amostra de 13 países, os autores encontraram que ações com elevado B/M, L/P, E/P ou D/P (isto é, do estilo valor) possuem retornos persistentemente superiores em 12 países.

23 Conforme mostra o painel C, o volume médio de negócios em ações do estilo valor não é estatisticamente diferente do volume médio observado em ações do estilo crescimento. Entretanto, notamos que, a partir de 1993, o volume mediano de negócios em ações do estilo valor vem sendo sistematicamente maior do que o volume mediano em ações do estilo crescimento. No painel D da tabela 3 o foco é o tamanho da firma que, neste trabalho, é medido pelo logaritmo do valor de mercado das ações. Existe uma boa razão para que firmas maiores tenham um maior volume de transações. Firmas grandes tendem a ser mais monitoradas, o que dificulta a diluição dos minoritários por parte dos majoritários. Assim, deve haver uma preferência por transacionar ações de firmas maiores, implicando uma relação positiva entre volume de negócios e tamanho. 5 Como esperado, o painel D mostra que, em todos os anos da amostra, tanto o volume médio como o volume mediano das firmas grandes são maiores e estatisticamente diferentes (p-valor de 0,00) em relação ao volume das firmas pequenas. 6 Por último, o grau de endividamento também pode estar diretamente associado ao volume de transações. Se a probabilidade de insolvência implica uma menor demanda por ações, deveríamos esperar uma relação inversa entre endividamento e volume de transações. Entretanto, um endividamento relativamente alto pode também sinalizar uma melhor governança. Uma justificativa para isso é que o comprometimento com amortizações futuras da dívida reduziriam empreendimentos não lucrativos ou grandiosos por parte dos administradores da firma [Grossman e Hart (1982) e Jensen (1986)]. Como resultado, haveria uma demanda maior pelas ações de firmas mais endividadas, o que nos leva a esperar um maior volume de transações com estas ações. O painel E sugere que estes dois efeitos se anulam já que não podemos ver uma relação clara entre volume transacionado e o endividamento da firma. 5 Esta explicação é ambígua para firmas que têm dois tipos de ação negociadas em bolsa, ou seja, preferencial e ordinária. Neste caso, a capitalização de um dos tipos de ação pode ser baixa e ainda assim o monitoramento ser alto pelo tamanho da firma. 6 Lo e Wang (1998) encontram, entretanto, uma relação inversa entre volume negociado e tamanho para ações americanas.

24 4.3 O Impacto da CPMF Tendo analisado o volume de transações entre diferentes estruturas de governança e diferentes estilos de investimento, faremos agora uma primeira avaliação do impacto da CPMF em cada um desses agrupamentos de ações. Nesta análise, consideramos o período que compreende desde o primeiro trimestre de 1990 até o segundo de 2002. Como a distribuição do volume negociado é assimétrica, centraremos a análise no volume mediano de negócios para diminuir a influência dos valores extremos da amostra. Para cada especificação, testamos a igualdade entre o volume mediano antes da adoção do tributo (alíquota zero) e o volume mediano com as respectivas alíquotas de 0,20, 0,25, 0,30 e 0,38. A perda do volume de transações na Bovespa não cresceu monotonamente com a alíquota da CPMF. Em particular, as figuras 1 a 3 mostram que, quando a alíquota aumentou de 0,20 para 0,25 por cento, houve um crescimento do volume de negociação das ações de firmas agrupadas de acordo com o estilo de investimento (valor e crescimento), payout (alto e baixo) e emissão ou não de ADRs. O aumento de volume nestas amostras não é surpreendente porque, como demonstrado na tabela 2, a alíquota de 0,25 esteve em vigor no ano de 1994, quando houve um forte aumento do volume global de transações na Bovespa em resposta à expansão da economia associada ao Plano Real. Em outras palavras, a omissão de outras variáveis explicativas compromete a interpretação dos testes uni-variados. Ainda assim, a figura 1 mostra que, a exceção da alíquota de 0,25 por cento, o aumento da alíquota da CPMF implicou uma perda de volume negociado nos estilos valor e crescimento, sendo que estas perdas são estatisticamente significativas a cinco por cento. A figura 1 também sugere que ações do estilo crescimento tiveram uma perda maior de volume à medida que aumentou o tributo, consistentemente com a hipótese de que os custos da CPMF aumentam a chance do fim de volumes extraordinários associados a bolhas especulativas. 7 7 De outra forma, as ações do estilo valor tiveram um aumento do volume relativo de negociações, contrariamente à hipótese de Fama e French (1992) que estas ações são mais arriscadas.

25 A figura 2 mostra o impacto da CPMF nas firmas que pagam altos e baixos dividendos. Mais uma vez, o acréscimo da alíquota de 0,20 para 0,25 por cento está associado a um aumento do volume negociado de ações. Como esperado, entretanto, aumentos adicionais da alíquota (acima de 0,25 por cento) levam a uma redução do volume de transação de ações de ambos os grupos de firmas. Como explicado na seção 2, custos de transação induzem investidores a aumentar a demanda por ações que pagam dividendos. Assim fazendo, eles reduzem a probabilidade que necessidades de liquidez os forcem a vender ações com o conseqüente custo da CPMF. Em outras palavras, a CPMF aumenta a demanda por ações de firmas que pagam dividendos elevados. De fato, a figura 2 mostra que a introdução da CPMF na alíquota de 0,20 por cento causou uma queda do volume de transações de ações de firmas que pagam dividendos baixos, enquanto o volume de transações das que pagam dividendos altos aumentou; uma diferença de variação de volume com p-valor de 0,00. Por fim, a figura 3 mostra que, à medida que aumentou a alíquota do tributo, ações de empresas com listagem de ADRs tiveram um crescimento do volume mediano de transações, enquanto o volume negociado caiu significativamente (p-valor de 0,00) em ações sem emissão de ADRs. Um resultado contrário à hipótese que firmas emitiram ADRs para migrar a negociação de ações para o mercado americano, fugindo assim da cobrança da CPMF. Em resumo, os testes uni-variados sugerem que a CPMF reduziu o volume transacionado em ações dos estilos valor e crescimento, com alguma indicação de que o impacto foi mais forte nas ações do estilo crescimento. Os testes univariados também sugerem que a CPMF afetou mais fortemente as ações de firmas com baixos payouts e que aumentou o volume de transações das firmas que emitiram ADRs. A próxima seção busca confirmar estes resultados através de regressões múltiplas que levem em conta os efeitos de outras características da ação, como tamanho e grau de endividamento da firma, e também o comportamento macroeconômico no período da CPMF.