ALBÂNIA Resumo O Filme Albânia é um documentário europeu que, utilizando muitas imagens de época, relata a história política deste pequeno país da região dos Bálcãs. O filme perpassa toda a agitada história da Albânia ao longo do Século XX, desde o movimento pela independência, no contexto da primeira guerra mundial até a queda do regime comunista nos anos 90, passando pela ocupação italiana durante a segunda grande guerra. A maior parte do documentário é dedicada a descrever as características singulares da experiência socialista albanesa. Inicialmente sob influência da Iugoslávia de Tito, a partir do final dos anos 40, a Albânia adotará os princípios stalinistas então vigentes na União Soviética. Desde então, o princípial líder político albanês foi Enver Hoxha, retratado no filme como um governante autoritário e centralizador. O documentário relata ainda a situação de isolamento vivida pela Albânia depois de romper com a União Soviética e posteriormente com a China, sempre em nome da pureza de seu socialismo. Um aspecto importante do filme é discussão sobre a formação do Estado Albanês. Em vários momentos de sua história, os albaneses estiveram espalhados por vários países europeus, gerando conflitos étnicos e a impressão de que os albaneses são um povo orgulhoso e singular, ainda em busca do seu lugar na História.
Palavras-chave Albânia, Bálcãs, Comunismo, Guerra Fria, Nação. Nível de ensino Ensino Fundamental (final). Componente curricular História. Disciplinas relacionadas Geografia Diversidade Cultural Aspectos relevantes do vídeo O Documentário Albânia é um relato cronológico da história da Albânia ao longo do Século XX. Já na introdução, o narrador apresenta o fio condutor do filme: a Albânia é um país com grande diversidade cultural, uma história recheada de invasões estrangeiras e um forte apego às tradições. A partir desses três elementos, o filme perpassa a dominação do Império Otomano e do fascismo Italiano, as relações com o socialismo soviético e chinês, o isolamento cultural e político, além do processo de queda do regime comunista nos anos 80. O primeiro aspecto tratado no filme é o processo de independência, concluído em 1912. Utilizando imagens históricas de arquivos albaneses, entrevistas com pesquisadores e especialistas, o filme relata que o território do
Estado Albanês ficou menor do que aquele habitado efetivamente pelos albaneses. Ao mesmo tempo, os conflitos pelo controle político do novo estado são atropelados pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, conflito no qual a Albânia esteve no centro de muitas operações militares (sete diferentes exércitos passam pela Albânia durante a Primeira Guerra). No período entreguerras, a influência italiana sobre a Albânia aumentou muito, culminando em 1939 com a ocupação do território albanês pelas tropas de Mussolini. Até a derrota italiana em 1944, a Albânia passaria por um rápido processo de desenvolvimento econômico e social, com a construção de clubes, estádios, escolas, aeroportos, além de uma expansão territorial denominada Albânia étnica, que pretendia unificar todos os albaneses em um mesmo território. A seguir, o documentário passa a narrar os 40 anos de domínio político de Enver Hoxha, líder comunista que governou a Albânia com mão de ferro, e sustentando seu poder numa estratégia das mais bem sucedidas da história de culto ao líder. Assim, o filme usa e abusa de imagens históricas para percorrer a Conferência de Yalta; as relações e a ruptura com Tito, governante da Iugoslávia; a aproximação com Stálin e a ruptura com o regime soviético depois de Kruschev; a aproximação e o rompimento com o regime comunista chinês e, finalmente, o processo de queda do comunismo nos anos 80. Merecem destaque no documentário as impressionantes imagens de um desfile de moda na Albânia comunista (completamente diferente do que nossos alunos imaginam ser um desfile de moda ). Podem ser destacados ainda os relatos de medidas autoritárias e absurdas como a proibição das barbas ou ainda
as cenas de exercícios coletivos que visavam à construção do chamado homem novo socialista. Cabe dizer que o filme não se propõe a fazer uma análise histórica do regime albanês. Repetindo, muitas vezes, expressões cunhadas durante à Guerra Fria, o narrador constrói uma imagem da Albânia e de seu ditador no pós-guerra utilizando expressões como loucura, obsessão, surrealismo, paranoia. Desta forma, o filme apresenta uma narrativa bastante linear e pouco reflexiva que, no entanto, pode servir exatamente para se exercitar a necessária análise crítica de qualquer material que se pretende utilizar em sala de aula. Discutir com os alunos a necessidade de compreender os aspectos singulares do regime albanês, inserindo-os no contexto mais amplo da guerra fria pode ser um excelente exercício de análise histórica. Tal possibilidade deve ser encarada como importante e fundamental na utilização deste vídeo. Duração da atividade Cinco aulas. O que o aluno poderá aprender com esta aula Construir, a partir de exemplos históricos, os conceitos de Estado e de Nação. Compreender alguns elementos históricos e políticos que explicam os conflitos militares atuais. Relacionar aspectos da história albanesa com o contexto mais amplo da história européia.
Adquirir uma visão geral dos conflitos político-militares que envolvem aspectos do nacionalismo atualmente em curso no mundo. Conhecimentos prévios que devem ser trabalhados pelo professor com o aluno Importante que o professor já tenha trabalhado ou esteja trabalhando com o contexto histórico da Guerra Fria a fim de facilitar a compreensão do documentário pelos alunos. Para a plena realização da atividade, o professor também pode resgatar os conteúdos relacionados à Formação dos Estados Nacionais Modernos e à Unificação Italiana e Alemã. Nestes dois casos, é possível que os alunos já tenham lidado com os conceitos de Estado e Nação e, portanto, recuperá-los pode ajudar na construção da atividade. Estratégias e recursos da aula/descrição das atividades Aula 1: preparação para o vídeo. Antes da exibição do vídeo, os alunos devem ser questionados sobre o que já sabem sobre a Albânia. É bastante provável que surjam poucas respostas neste momento, o que deve ser utilizado como elemento para aguçar a curiosidade dos alunos em relação ao vídeo. O professor pode orientar os alunos para que, ao assistir ao documentário, procurem responder a algumas questões, como, por exemplo, quem são os albaneses? o que torna os albaneses tão singulares?
que aspesctos culturais mais chamaram sua atenção ao longo do vídeo (antes e depois do regime comunista)? Tais questões deverão ser retomadas como forma de contribuir para os próximos passos da atividade Aula 2: exibição do vídeo. Aula 3: Exposição sobre os conflitos na região dos Bálcãs e preparação da atividade. Se possível, em conjunto com o professor de Geografia e utilizando mapas históricos, o professor deve mostrar as modificações de fronteiras na região dos Bálcãs pelo menos em dois contextos históricos distintos: entre 1912-1914, durante as chamadas Guerras Balcânicas, relacionadas diretamente ao contexto da Primeira Guerra Mundial e o processo de independência das regiões da antiga Iugoslávia (Croácia, Bósnia, Macedônia, Kosovo, etc). O objetivo aqui é demonstrar as modificações de fronteiras no contexto de conflitos, questionando os alunos sobre as relações entre Estado e Nação. Quando os alunos tiverem compreendido - mesmo que sem profundidade ainda - a diferença entre os conceitos de Estado e Nação, a turma deve ser dividida em grupos que pesquisarão outros contextos histórico-geográficos em que tais conceitos são essenciais para o entendimento dos conflitos sociais como a Palestina, a Chechênia, Tibet, Nacionalismo Basco, Caxemira, etc. Aulas 4 e 5: Apresentação dos trabalhos dos alunos. Sempre procurando incentivar a criatividade, os alunos poderiam apresentar o resultado das pesquisas em formato de telejornal simulado, com apresentadores, repórteres, cidadãos entrevistados, etc. Recursos para as aulas:
1 - Mapas: normalmente, os livros didáticos que tratam do século XX trazem mapas da região balcânica para explicar o contexto que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Da mesma forma, se a atividade for construída em conjunto com o professor de Geografia, pode-se consultá-lo a respeito do acesso dos alunos a estes mapas. A seguir reproduzimos dois mapas que podem ser utilizados na atividade, caso as estratégias anteriores não sejam bem sucedidas: Mapa 1 - Formação da Iugoslávia http://tkgeo.blogspot.com/2008/02/balcs.html
Mapa 2: Bálcãs na atualidade http://tkgeo.blogspot.com/2008/02/balcs.html No caso de a escola contar com acesso à internet, há uma interessante seqüência de mapas (infográfico) criada no site do jornal O Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/especiais/a-disputa-dos-balcas,12590.htm Tal sequência é excelente para a terceira aula da atividade. 2- Conceitos de Nação e Estado. Para o Ensino Fundamental, não se espera que os alunos dominem a discussão sobre os conceitos de Nação e Estado com grande profundidade. Há
uma farta bibliografia sobre o tema e um longo processo de discussão nas áreas de História, Sociologia e Geografia. Sugerimos que, para esta atividade, o professor trabalhe principalmente com a ideia de Nação associada a sentimento nacional e a ideia de Estado como aparelho burocrático ou entidade administrativa para estabelecer os conflitos existentes nos vários contextos pesquisados pelos alunos. O importante é que cada grupo estabeleça muito claramente quais são os conflitos que envolvem as noções de Estado e de Nação nas diferentes realidades pesquisadas. Assim, eles poderão partir do concreto para a construção de definições próprias. A seguir indicamos alguns trechos que podem ajudar na discussão com os alunos: Nação é concebida como um grupo de pessoas unidas por laços naturais e portanto eternos - ou pelo menos existentes - e que, por causa destes laços, se torna a base necessária para a organização do poder sob a forma do Estado Nacional. As dificuldades se apresentam quando se busca definir a natureza destes laços ou, pelo menos, identificar critérios que permitam delimitar as diversas individualidades nacionais, independentemente da natureza dos laços que a determinam. BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília, Editora da UNB, 1983. Observação: Ao utilizar esta definição, o professor pode questionar os alunos no sentido de identificar experiências históricas em que a construção do Estado Nacional não respeitou (ou até procurou destruir) os laços naturais entre as pessoas de algum grupo. Ao tratar do conceito de Nação construído nos séculos XVIII e XIX, o historiador Eric Hobsbawn afirmou:
Na prática, havia apenas três critérios que permitiam a um povo ser firmemente classificado como nação, sempre que fosse suficientemente grande para passar da entrada. O primeiro destes critérios era sua associação histórica com um Estado existente ou com um Estado de passado recente e razoavelmente durável. Havia pouca controvérsia sobre a existência de um povo-nação inglês ou francês ou de um povo russo ou polonês e também pouca controvérsia fora da Espanha sobre a existência de uma nação espanhola com características nacionais bem compreendidas. Pois uma vez dada a identificação da nação com o Estado, era natural que estrangeiros pressupusessem que o único povo em um país fosse aquele pertencente ao povo-estado, um habito que ainda irrita os escoceses. O Segundo critério era dado pela existência de uma elite cultural longamente estabelecida, que possuísse um vernáculo administrativo e literário escrito. Isso era a base da exigência italiana e alemã para a existência de nações, embora os seus respectivos povos não tivessem um Estado único com o qual pudessem se identificar. Em ambos os casos, a identificação nacional era, em conseqüência, fortemente lingüística, mesmo que (em nenhum dos dois casos) a língua nacional fosse falada diariamente por mais do que uma pequena minoria - na Itália foi estimado que esta era 2,5% da população no momento da unificação - e que o resto falasse vários idiomas, com freqüência incompreensíveis mutuamente. O terceiro critério, que infelizmente precisa ser dito, era dado por uma provada capacidade para a conquista. Não há nada como um povo imperial para tornar uma população consciente da sua existência coletiva como povo, como bem sabia Friederich List. Além disso, no século XIX a conquista dava a prova darwiniana do sucesso evolucionista enquanto espécies sociais. HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismos desde 1780: mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Observação: Ao utilizar este texto, o professor poderá ressaltar como a questão da conquista estrangeira incentivou a formação de um sentimento nacional albanês e como isso aparece em outros contextos históricos.
Questões para discussão Caso o professor queira aprofundar seu conhecimento sobre a questão nacional na região dos Bálcãs, sugerimos um artigo do embaixador brasileiro em Sofia (Bulgária), disponível pela internet, do qual reproduzimos um texto abaixo. ALVES, José Augusto Lindgren. Os Bálcãs novamente esquecidos in: Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 47 nº1 Brasília Jan/Jun 2004 Como é sabido e estudado, foi no Ocidente que emergiu a noção de Estado nacional homogêneo, inspiradora de todos os nacionalismos e "limpezas étnicas" do mundo. Foi essa ideologia ocidental "iluminista" que provocou as chamadas "guerras balcânicas", inclusive, naturalmente, as duas que primeiro receberam esse nome, de 1912 e 1913, tendo a Bulgária (de independência recente e território sucessivamente estendido e encolhido à conveniência das potências externas) como principal protagonista. Tais guerras do início do Século XX envolveram, em alianças opostas e com inimigos variados, conforme a ocasião, a Sérvia, o Montenegro, a Grécia e o Império Otomano, essencialmente em torno da "questão da Macedônia". Foi essa questão que também levou a Bulgária a aliar-se aos Impérios Centrais na Primeira Guerra Mundial, e às Potências do Eixo, na Segunda. Quanto às "limpezas étnicas", que então não tinham esse nome, as maiores da região ocorreram no fim do conflito greco-turco de 1921-22, com o deslocamento compulsório de enormes contingentes de cristãos ortodoxos da asiática Anatólia (muitos dos quais nem falavam grego) para a Grécia, "em troca" de muçulmanos da Grécia (muitos dos quais não falavam turco) para a Turquia, já sem sultão, sob a liderança de Mustafa Kemal, o Atatürk ("Pai dos turcos"). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0034-73292004000100004&script=sci_arttext. Acesso em 15 de fevereiro de 2011. Outro artigo para o aprofundamento do conhecimento do professor sobre o tema, também disponível na internet, é O Estado Nacional como Ideologia: o caso brasileiro, da professora Elisa Pereira dos Reis. Pode se acessado através da Biblioteca Virtual da Fundação Getúlio Vargas. É um artigo da conceituada revista Estudos Históricos editada por esta instituição.
Link: http://virtualbib.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2166/1305 O Portal do IBGE fornece informações sobre todos os países do mundo, agrupadas em 8 Temas: Síntese, População, Indicadores Sociais, Economia, Redes, Meio Ambiente e Objetivos do Milênio. Pode ser uma valiosa ferramenta para que os alunos pesquisem informações não só sobre a Albânia, mas também sobre as outras realidades que pesquisarão para a atividade sugerida. Link: http://www.ibge.gov.br/paisesat/ Há um portal de mapas históricos dos conflitos mundiais, disponível através do Portal do Professor (MEC) que pode ajudar na visualização dos conflitos citados, caso a escola tenha acesso à internet. Link: http://www.conflicthistory.com/#/period/1908-1916/conflict/+en+second_balkan_war Descrição do site no Portal do Professor: Apresenta as guerras através de uma mapa interativo que aponta a região geográfica de cada conflito, as datas e um pequeno resumo, além da linha do tempo onde se pode escolher o período a ser observado. Um recurso a mais para as aulas de História e de Inglês. Consultor: Tarcísio Motta de Carvalho.