ESTUDO COMPARATIVO DE ADSORÇÃO DO Cr(VI) PELAS FIBRAS DE QUITOSANA E QUITOSANA MAGNÉTICA

Documentos relacionados
ESTUDO DA CINÉTICA E DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE U PELO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

VIABILIDADE DO USO DA CASCA DE BANANA COMO ADSORVENTE DE ÍONS DE URÂNIO

4. Materiais e métodos

Adsorção em interfaces sólido/solução

REMOÇÃO DE METAIS PESADOS EM ÁGUA ATRAVÉS DE BIOPOLÍMEROS MODIFICADOS 1 INTRODUÇÃO

II ESTUDOS DE ADSORÇÃO PARA REMOÇÃO DE URÂNIO EM MEIO NÍTRICO USANDO UM BIOSSORVENTE

Resumo. Luciana de Jesus Barros; Layne Sousa dos Santos. Orientadores: Elba Gomes dos Santos, Luiz Antônio Magalhães Pontes

QUITOSANA MAGNÉTICA PARA REMOÇÃO DE URÂNIO (VI)

ADSORÇÃO DE Cr(VI) EM HIDROGEL DE QUITOSANA

II-331 CARACTERIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR E FIBRAS DE COCO E AVALIAÇÃO COMO BIOSSORVENTES DE Pb

COMO NÚCLEO DE NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS APLICADAS NA REMOÇÃO DE CONTAMINANTES

4 Materiais e Métodos

Utilização de lama vermelha tratada com peróxido de BLUE 19

BIOSSORVENTE: UMA OPÇÃO ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DE RESÍDUO RADIOATIVO

ESTUDO DA ADSORÇÃO DE CHUMBO UTILIZANDO COMO ADSORVENTE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR ATIVADO

AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE ADSORÇÃO DE ÍONS CROMO (VI) EM NANOFIBRAS DE QUITOSANA/NYLON 6

Remoção de Cr(VI) de soluções aquosas pelo filme de óxido de ferro/nanotubo de carbono/quitosana reticulada

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO ph NA ADSORÇÃO DE CROMO (VI) EM CARVÃO ATIVADO GRANULAR

II-198 FIBRAS DE COCO VERDE PARA ADSORÇÃO DE ÍONS URANILO

Avaliação da casca de banana como potencial biossorvente natural na remoção de cobre da água (1).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1Comprimento de onda do corante Telon Violet

DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE ADSORÇÃO DE ÍONS DOS METAIS DE TRANSIÇÃO UTILIZANDO O MODELO DE AVRAMI

UTILIZAÇÃO DE QUITOSANA DE DIFERENTES GRAUS DE DESACETILAÇÃO PARA A REMOÇÃO DE CROMO DE SOLUÇÕES AQUOSAS

Uso de vermiculita revestida com quitosana como agente adsorvente dos íons sintéticos de chumbo (Pb ++ )

CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS MAGNÉTICAS DE QUITOSANA

4 MATERIAIS E MÉTODOS

INFLUÊNCIA DO ph NA ADSORÇÃO DE ÍONS Cr (VI) UTILIZANDO ESPONJA DE QUITOSANA

2017 Obtenção da amida do ácido cinâmico através da reação do cloreto do ácido cinâmico com amônia

QUITOSANA QUIMICAMENTE MODIFICADA COM ACETILACETONA NA AUSÊNCIA DE SOLVENTE

ESTUDO AVALIATIVO DA CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DO METAL PESADO CHUMBO (II) EM VERMICULITA REVESTIDA COM QUITOSANA

ESTUDO DA ADSORÇÃO DO CORANTE BÁSICO AZUL DE METILENO POR CASCAS DE Eucalyptus grandis LIXIVIADAS

3016 Oxidação do ácido ricinoléico a ácido azeláico (a partir de óleo de rícino) com KMnO 4

CARACTERIZAÇÃO ESPECTROSCÓPICA E FISICO- QUÍMICA DE FILMES DE BLENDAS DE AMIDO E CARBOXIMETILCELULOSE.

REMOÇÃO DE CÁTIONS METÁLICOS UTILIZANDO ZEÓLITA HBEA

BIOTECNOLOGIA AMBIENTAL: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA CAPTACAO DE ESPECIES METÁLICAS CONTIDAS EM MEIOS AQUOSOS UTILIZANDO BIOSSORVENTES HIDROFOBICOS

INVESTIGAÇÃO DOS POSSÍVEIS SÍTIOS DE ADSORÇÃO DE Cd +2 E Hg +2 EM SOLUÇÃO AQUOSA

Desenvolvimento de Materiais Híbridos com Aplicações Biomédicas. Prof. Joana Lancastre

PERFORMANCE DA MAGNETITA SINTÉTICA PARA REMOÇÃO DE ÍONS UO 2 2+ POR ADSORÇÃO

Uso de Vermiculita Revestida com Quitosana como Agente Adsorvente dos Íons Sintéticos de Chumbo (Pb ++ )

ESTUDO DA RETENÇÃO DO CORANTE VIOLETA CRISTAL EM QUITOSANA

ESTUDO DA DESSORÇÃO DO CORANTE TÊXTIL REATIVO AZUL 5G ADSORVIDO EM BAGAÇO DE MALTE

ESTUDO DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO E CONSTANTE DE DISTRIBUIÇÃO PARA A REMOÇÃO DE 241 Am EM REJEITOS RADIOATIVOS LÍQUIDOS COM MAGNETITA.

VIABILIDADE TÉCNICA DA REGENERAÇÃO DE COAGULANTE POR VIA ÁCIDA A PARTIR DO LODO DA ETA DE UMA INDÚSTRIA DE CORANTES

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATERIAL ADSORVENTE DO METAL NÍQUEL

Estudo da adsorção de níquel e zinco por meio de carvão de osso de boi

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO METAIS PESADOS

PREPARAÇÃO DE NANOFIBRAS DE QUITOSANA E NYLON VIA FORCESPINNING PARA A ADSORÇÃO DE CORANTES ANIÔNICOS

4. Materiais e Métodos 4.1. Preparo da biomassa

PRODUÇÃO DE ETANOL ENRIQUECIDO UTILIZANDO ADSORÇÃO EM FASE LÍQUIDA COM MULTIESTÁGIOS OPERANDO EM BATELADA E ALTA EFICIÊNCIA DE ENERGIA

REMOÇÃO DO CORANTE TÊXTIL VIOLETA REATIVO 5 DE SOLUÇÕES AQUOSAS UTILIZANDO FIBRA DE COCO NAS FORMAS BRUTA E ATIVADA

CARACTERIZAÇÃO DOS COMPÓSITOS MAGNÉTICOS DE ZEÓLITA SINTÉTICA

Síntese, caracterização e funcionalização com fosfato de nanopartículas de óxido de ferro.

INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE SAIS NA ADSORÇÃO DO CORANTE VERMELHO PROCION UTILIZANDO ALUMINA ATIVADA

4024 Síntese enantioseletiva do éster etílico do ácido (1R,2S)-cishidroxiciclopentano-carboxílico

UTILIZAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA NATURAL PARA TRATAMENTO DE EFLUENTE TÊXTIL

3003 Síntese de 2-cloro-ciclohexanol a partir de ciclohexeno

Síntese e Caracterização dos Compósitos de Fosfato Dicálcio Anidro/Óxido de Silício e avaliação da estabilidade química

ESTUDO DE ADSORÇÃO DE COBRE II UTILIZANDO CASCA DE ABACAXI COMO BIOMASSA ADSORVENTE

UTILIZAÇÃO DA LAMA VERMELHA PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES TÊXTEIS COM ELEVADA CARGA DE CORANTE REATIVO

ANALISE DE RENDIMENTO DO CATALISADOR HETEROGÊNEO ÓXIDO DE ALUMÍNIO (Al2O3) NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL DE SOJA (glycine max)

4002 Síntese de benzil a partir da benzoína

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE ESCAMAS DE SARDINHA VERDADEIRA SARDINELLA BRASILIENSIS NA REMOÇÃO DE CROMO HEXAVALENTE PELO PROCESSO DE ADSORÇÃO.

3033 Síntese do ácido acetilenodicarboxílico a partir de ácido meso dibromosuccínico

Adsorção do corante Rodamina B de soluções aquosas por zeólita sintética de cinzas pesadas de carvão

REMOÇÃO DE DICLOFENACO DE POTÁSSIO USANDO CARVÃO ATIVADO COMERCIAL COM ALTA ÁREA DE SUPERFÍCIE

AVALIAÇÃO DA BIOSSORÇÃO EM ÁGUA PRODUZIDA A PARTIR DA FIBRA DE CANA-DE-AÇÚCAR. Apresentação: Pôster

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DA CASCA DE ARROZ

4005 Síntese do éster metílico do ácido 9-(5-oxotetra-hidrofuran- 2-ila) nonanóico

Torrefação de biomassa

TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS EM AULAS PRÁTICAS DE QUÍMICA DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFV: UMA OPORTUNIDADE DE APRENDIZAGEM

DESSORÇÃO DO CORANTE COMERCIAL AZUL 5G A PARTIR DO ADSORVENTE CASCA DE SOJA

6 Metodologia experimental

USO DE QUITOSANA NO TRATAMENTO DE ÁGUAS CONTAMINADAS COM CORANTE ALIMENTÍCIO 1. INTRODUÇÃO

4006 Síntese do éster etílico do ácido 2-(3-oxobutil) ciclopentanona-2-carboxílico

2004 Redução diastereosseletiva de benzoina com boro-hidreto de sódio a 1,2-difenil-1,2-etanodiol

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.

APLICAÇÃO DE BIOADSORVENTE DE CASCA DE COCO VERDE PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES OLEOSOS

1017 Acoplamento Azo do cloreto de benzenodiazônio com 2- naftol, originando 1-fenilazo-2-naftol

USO DAS FIBRAS DE COCO NA BIOSSORÇÃO DE CHUMBO EM ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DO CARVÃO VEGETAL NA ADSORÇÃO DE PETRÓLEO EM TOLUENO

CINÉTICA DA ADSORÇÃO DE OURO CONTIDO EM SOLUÇÕES LIXIVIADAS DE MICROPROCESSADORES UTILIZANDO QUITINA COMO ADSORVENTE

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO COAGULANTE TANINO NA REMOÇÃO DA COR, TURBIDEZ e DQO DO EFLUENTE TEXTIL DE UMA LAVANDERIA INDUSTRIAL.

Adsorção de Ácido Laranja 8 de solução aquosa sobre zeólitas sintetizadas a partir de cinzas leves de carvão modificadas por surfactante

Patricia Cunico, Carina P. Magdalena, Terezinha E. M. de Carvalho,

EFEITO DA TEMPERATURA DE GASEIFICAÇÃO DE BIOMASSA NA ADSORÇÃO DE CORANTE REATIVO

Estudo comparativo de métodos para síntese de sílica gel a partir das cinzas de resíduo de biomassa da cana-deaçúcar.

ESTUDO DA ADSORÇÃO DO CARBENDAZIM EM BANANA.

REMOÇÃO DE METAIS PESADOS POR PROCESSOS DE BIOFLOTAÇÃO E BIOSSORÇÃO Aluno: Mariana Soares Knust Orientador: Mauricio Leonardo Torem

EFEITO DA FRAÇÃO MOLAR NA CINÉTICA DE ADSORÇÃO BICOMPOSTO DE ÍONS PRATA E COBRE EM ARGILA BENTONÍTICA

ADSORÇÃO DE CROMO HEXAVALENTE UTILIZANDO COMO BIOSSORVENTE SALVINIA SP.

Tratamento de Efluentes da Indústria Têxtil por Adsorção em Materiais de Baixo Custo

ADSORÇÃO DE ÍNDIGO CARMINE UTILIZANDO MICROESFERAS DE ALGINATO (AL) E QUITOSANA (QT) PURAS E DOPADAS COM NÍQUEL E FERRO

Métodos Físicos de Análise - ESPECTROFOTOMETRIA NO INFRAVERMELHO

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

TÍTULO: CASCA DE BANANA UTILIZADA NA REMOÇÃO DE FERRO EM SOLUÇÃO AQUOSA ATRAVÉS DE COLUNA DE LEITO FIXO

4028 Síntese de 1-bromodecano a partir de 1-dodecanol

ANÁLISE DE ADSORVENTES NATURAIS EMPREGADOS NA REMOÇÃO DE METAIS PESADOS PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES

Aluminas para aplicação em colunas de geradores Mo-99/Tc-99m de alta atividade

Artigo. Quim. Nova, Vol. 33, No. 3, , 2010 BIOMASSA RESIDUAL PARA REMOÇÃO DE ÍONS URANILO

Obs.: foram analisadas 90 questões dos últimos cinco anos

Transcrição:

ESTUDO COMPARATIVO DE ADSORÇÃO DO Cr(VI) PELAS FIBRAS DE QUITOSANA E QUITOSANA MAGNÉTICA RESUMO Mitiko Yamaura* (IPEN, PD) Glaucia Mayumi Shima (IPEN, IC) *myamaura@ipen.br Neste trabalho apresenta-se um estudo comparativo de propriedades de adsorção entre a quitosana e a quitosana magnética para o Cr(VI) na forma de íons dicromato Cr 2 O 7 2-. A quitosana magnética, um composto de partículas magnéticas funcionalizadas, possui os grupos funcionais da quitosana e um núcleo de nanopartículas de magnetita magnéticas. Dos espectros de infravermelho verificou-se a incorporação de magnetita na quitosana, a qual apresentou um comportamento superparamagnético. Os estudos de adsorção foram realizados em batelada e o controle analítico de Cr por espectrofotometria. Da relação entre adsorção e tempo de equilíbrio verificou-se uma remoção de Cr maior do que 80% com 10 min e a condição de equilíbrio foi atingido em 20 min com remoção maior do que 90%. Com relação ao ph, verificou-se que a porcentagem de remoção de Cr diminuiu com o aumento de ph. Determinaram-se as capacidades de adsorção de equilíbrio em diferentes ph. As duas quitosanas apresentaram as mesmas propriedades de adsorção para o Cr, o que indicou que a magnetita foi totalmente recoberta pelo biopolímero de quitosana. ABSTRACT In this work a comparative study of adsorption properties between two adsorbents chitosan and magnetic chitosan for Cr (VI) as dichromate ions, Cr 2 O 7 2-, is presented. The magnetic chitosan, known as functionalized magnetic particles, has functional groups of chitosan and a magnetic nucleus of magnetite nanoparticles. Magnetite incorporation in the chitosan was verified by infrared spectroscopy. This adsorbent has presented a superparamagnetic behavior. The adsorption studies had been carried through in batch and analytical control of Cr by spectrophotometry. Removal of Cr higher than 80% was verified at 10 min of contact, and the equilibrium condition was verified at 20 min with > 90% removal. With regard to ph, it was verified that the percentage of removal of Cr decreased with the increase of ph. Also, adsorption capacities of equilibrium for various ph were determined. The two adsorbents had presented the same properties of adsorption for Cr(VI), what it indicated that the magnetite nucleus was covered totally by biopolymer of chitosan. INTRODUÇÃO Com o aumento da poluição ambiental e a crescente preocupação e cobrança da sociedade com respeito à questão, tecnologias para o tratamento de efluentes contaminados estão sendo desenvolvidas em várias partes do mundo. Dentro desse contexto, processos de tratamento de efluentes líquidos usando materiais de baixo custo e/ou renovável e sustentável, tais como a magnetita [4], biomassa residual - como a quitosana [5], o bagaço de cana-de-açúcar [6], a casca de banana [1] - e partículas magnéticas funcionalizadas [2, 7] são estudadas no Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (CQMA/IPEN) para desenvolver adsorventes eficientes de metais pesados/radioativos e compostos orgânicos. Quitosana [3], um biopolímero de carboidrato derivado do processo de

desacetilação da quitina por tratamento alcalino (FIG.1), possui várias aplicações tecnológicas devido às suas excelentes propriedades, tais como biodegradabilidade, biocompatibilidade, propriedades de adsorção e de floculação. Quitina, a matériaprima da quitosana, é o segundo biopolímero de maior ocorrência na natureza - só perdendo para a fibra vegetal chamada celulose - encontrada especialmente nos exoesqueletos dos invertebrados marinhos, os camarões, as lagostas e carangueijos. Entretanto, suas aplicações são limitadas em comparação à quitosana por causa da sua estrutura molecular similar à celulose. desacetilação com quitosana NaOH quitina quitosana FIG.1. Esquema simplificado de obtenção de quitosana a partir de quitina. Neste trabalho apresenta-se um estudo comparativo de propriedades de adsorção entre a quitosana e a quitosana magnética para o Cr(VI) na forma de íons dicromato Cr 2 O 2-4. A quitosana magnética, considerada um composto de partículas magnéticas funcionalizadas, possui os grupos funcionais da quitosana e um núcleo de nanopartículas superparamagnéticas de magnetita. A grande vantagem dessa tecnologia é a combinação das técnicas de separação química e magnética resultando em um sistema altamente eficiente. As partículas são capazes de reter espécies químicas ou biológicas por fenômenos de adsorção devido aos grupos funcionais e podem ser facilmente retiradas do efluente por aplicação de um campo magnético devido às propriedades magnéticas. METODOLOGIA PREPARAÇÃO Inicialmente, preparou-se uma solução de acetato de quitosana 10 g.l -1 a qual foi dividida em duas porções iguais, uma para a síntese da quitosana solificada por

adição de uma solução de NaOH 1 mol.l -1 e outra para a síntese da quitosana magnética por adição de uma solução contendo nanopartículas de magnetita, Fe 3 O 4, e NaOH 1 mol.l -1. Após a etapa de lavagem as quitosanas obtidas foram secas na estufa e moídas. Os adsorventes preparados nessas condições foram denominados de QS para quitosana solificada e QM para quitosana magnética. CARACTERIZAÇÃO Obtiveram-se os espectros de infravermelho da QS e QM utilizando o espectrômetro FTIR Nicolet, Nesus 670. As amostras foram preparadas em pastilhas de KBr. ENSAIOS DE ADSORÇÃO EM BATELADA Todos os experimentos foram realizados por ensaios em batelada. Em um frasco de 10 ml contendo 50 mg de adsorvente foi colocado 1 ml de solução de dicromato de potássio (dose = 50 g.l -1 ). O frasco foi agitado por um tempo determinado. Em seguida, as amostras que continham QS foram filtradas e o filtrado chamado de sobrenadante foi separado para posterior análise de Cr. Para as amostras que continham QM, a separação sólido-líquido foi realizada em 2 min com o uso de um imã. As amostras de QM foram deixadas em repouso sobre um imã por 2 min e em seguida a parte líquida, chamada de sobrenadante, foi retirada e guardada para análise de Cr. Todos os sobrenadantes foram analisados por espectrofotometria para determinação da concentração de Cr remanescente, utilizando o difenilcarbazida. A quantidade de Cr adsorvido, Cr ads, foi determinada pela diferença entre as concentrações de Cr na solução inicial e no sobrenadante, de acordo com a equação (1) e a capacidade de adsorção de equilíbrio foi determinada segundo a equação (2). Cr ads (mg) = (C 0 C f ) x V (1) sendo C o = concentração de Cr (mg.l -1 ), na solução inicial antes do contato C f = concentração de Cr (mg.l -1 ) no sobrenadante, em equilíbrio V = volume (L) da solução de Cr colocada em contato com o adsorvente capacidade de adsorção de equilíbrio q eq (mg.g -1 ) = Cr ads / M (2) sendo M = massa de adsorvente (g)

ESTUDOS DE ADSORÇÃO O processo de adsorção foi avaliado segundo a cinética de equilíbrio e a influência do ph no processo de adsorção de Cr nos QS e QM foi calculada segundo a equação (3). % remoção = (C 0 C f ) / C 0 x 100 (3) sendo C 0 = concentração de Cr (mg.l -1 ) na solução inicial C f = concentração de Cr (mg.l -1 ) no sobrenadante RESULTADOS E DISCUSSÃO A FIG.2 ilustra os adsorventes QS e QM obtidos segundo o procedimento descrito no item de preparação. O QS apresentou um coloração areia com aspecto de fibras altamente resistentes ao processo de moagem, diferentemente dos flocos originais de quitosana. O QM também apresentou um aspecto de fibras rígidas porém de coloração negra e com comportamento superparamagnético, ou seja, apresentou uma forte atração por um imã sem contudo tornar-se magnetizável. quitosana solidificada (QS) quitosana magnética (QM) FIG.2. Fotos da quitosana solidificada e quitosana magnética. A FIG. 3 mostra os espectros de absorção na região de infravermelho das moléculas poliméricas de QS e QM. Comparando os espectros, verificou-se o aumento da banda na região de 573 cm -1 para o QM. Esse aumento foi associado à contribuição das vibrações de estiramento de Fe-O e Fe-O-Fe da magnetita na quitosana. A banda larga na região de 3455 cm -1 está associada às ligações OH e de -NH do polímero de quitosana. A banda observada na região de 2910 cm -1 é atribuída aos grupos funcionais CH e da região de 1641 cm -1 é caracterizada pelas ligações NH

dos grupos amino e C=O proveniente dos grupos amida residuais no polímero. As bandas em 3455 cm -1 e 1641 cm -1 podem, ainda, sofrer influência de uma possível presença de moléculas de água no QS e QM. A banda da região 1075 cm -1 correspondente aos éteres é característica da estrutura de quitosana. 90 80 QS transmitância 70 60 2910 QM 1641 1075 573 50 3455 40 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 número de onda (cm-1) FIG.3. Espectros de absorção na região de infravermelho de QS e QM. No estudo da cinética determinou-se o tempo de equilíbrio do processo de adsorção de Cr pelos adsorventes. Variaram-se o tempo de contato de agitação entre o adsorvente e a solução de Cr de 10 min a 40 min, mantendo-se constante a concentração de Cr em 32,5 mg.l -1, ph 5,6. Da relação entre adsorção e tempo de contato verificou-se uma remoção de íons dicromato maior que 80% com 10 min e a condição de equilíbrio foi atingido em 20 min com remoção maior do que 90%. Os valores de porcentagem de remoção obtidos deste estudo foram ilustrados na FIG.4. % remoção 120 100 80 60 40 20 0 QS QM 0 20 40 60 min

FIG.4. Efeito do tempo de contato na remoção de Cr pelos adsorventes QS e QM. A influência de ph foi verificada variando-se o ph no intervalo de 2 a 9 e mantendose constantes a concentração de Cr em 45,4 mg.l -1 e o tempo de agitação em 20 min. O íon dicromato, Cr 2 O 2-7, da solução utilizada apresenta-se em equilíbrio com as outras espécies HCr 2 O - 7, HCrO - 4 e CrO 2-4. A relativa abundância de cada espécie depende da concentração de Cr e do ph da solução. A FIG.5 mostra os valores de % remoção obtidos para os dois adsorventes. 100 80 % remoção 60 40 20 QS QM 0 0 2 4 6 8 10 ph FIG. 5. Efeito de ph na remoção de Cr pelos QS e QM. Pela FIG.5, verificou-se que a porcentagem de remoção de Cr diminuiu com o aumento de ph tanto para QS quanto para QM. Este comportamento sugere que a adsorção dos íons dicromato ocorreu pelos grupos amino, -NH 2. Em ph baixo, o adsorvente é positivamente carregado devido à protonação dos grupos amino, - NH 3 +, enquanto o adsorbato se encontra principalmente como um anion proporcionando uma atração eletrostática entre o adsorvente e o adsorbato. Quando o ph da solução aumenta, o adsorvente sofre desprotonação e a capacidade de adsorção diminui. O ph 2 proporcionou melhor % remoção, porém, não se recomenda a utilização deste ph visto que foi observado uma pequena dissolução dos adsorventes pelo ácido. Determinaram-se também as capacidades de adsorção de equilíbrio em diferentes ph e estão ilustrados na FIG.6. Os dois adsorventes não apresentaram diferenças significativas de adsorção, o que indicou que QM foi totalmente recoberto pelo

biopolímero de quitosana, de forma que não ocorreu a contribuição das partículas de magnetita como adsorvente. 1,00 qeq (mg.g -1 ) 0,80 0,60 0,40 0,20 QS QM 0,00 0 2 4 6 8 10 ph FIG. 6. Capacidades de adsorção de equilíbrio dos QS e QM em diferentes ph para [Cr(VI)] = 45,4 mg.l -1 e quantidade de adsorvente = 50 g.l -1. CONCLUSÕES O adsorvente magnético de quitosana QM apresentou uma cinética de adsorção boa com um tempo de equilíbrio de 20 min. Verificou-se que a adsorção de íons dicromato pelo QS como pelo QM é favorecida com a diminuição de ph. Entretanto, recomenda-se, um ph maior do que 2 a fim de evitar uma possível dissolução da quitosana. A capacidade de adsorção de equilíbrio pelos íons de Cr(VI) em ph5,6 à temperatura ambiente foi maior do que 0,8 mg.g -1 para uma solução de concentração igual a 45,4 mg.l -1 e dose de 50 g.l -1, para os dois adsorventes. O adsorvente QM apresentou boas perspectivas como adsorvente de Cr(VI) visto que manteve as propriedades dos grupos funcionais da quitosana representada pelo adsorvente QS, somadas as propriedades magnéticas do núcleo de magnetita. O comportamento superparamagnético do adsorvente QM facilita a separação do sistema sólido-líquido sem geração de rejeito secundário eliminando os custos operacionais de filtração ou centrifugação necessárias em processos de separação sólido-líquido. AGRADECIMENTOS Apoio financeiro e bolsa de IC: RENAMI/CNPq/MCT

REFERÊNCIAS 1. BONIOLO, M.R.; YAMAURA, M.. Viabilidade do uso da casca de banana como adsorvente de íons de urânio. In: International Nuclear Atlantic Conference - INAC2005, 2005, Santos. Proceedings of the INAC2005, 2005. CDROM. 2. CAMILO, R.L.; YAMAURA, M. ; FELINTO, M.C.F.C.; RODRIGUES, L.S.; SAMPAIO, L.C. Síntese do núcleo magnético de nanocompósitos funcionalizados para uso no tratamento de rejeitos radiotivos e tóxicos. In: International Nuclear Atlantic Conference - INAC2005, 2005, Santos. Proceedings of the INAC2005, 2005. CDROM. 3. FEREIDOON, S., JANAK, K.V.A., YOU-JIN, J. Food applications of chitin and chitosans, Trends in Science & Technology 10 (1999), p. 37-51. 4. LEAL, R. Estudos de adsorção da magnetita sintética para os íons uranilo. Dissertação de mestrado, IPEN, São Paulo, 2006. 5. RODRIGUES, L.S.; YAMAURA, M. ; CAMILO, R.L.; LANDGRAF, J G. Estudo da cinética de adsorção de Cr(VI) em partículas magnéticas de quitosana pelo método radioquímico. In: International Nuclear Atlantic Conference - INAC2005, 2005, Santos. Proceedings of the INAC2005, 2005. CDROM. 6. YAMAMURA, A.P.G.; YAMAURA, M.. Estudo da cinética e das isotermas de adsorção de U pelo bagaço de cana-de-açúcar. In: International Nuclear Atlantic Conference - INAC2005, 2005, Santos. Proceedings of the INAC2005, 2005. CDROM. 7. YAMAURA, M. ; CAMILO, R.L.; SAMPAIO, L.C.; MACÊDO, M. A. ; NAKAMURA, M. ; TOMA, H. E.. Preparation and characterization of (3-aminopropyl)triethoxysilane-coated magnetite nanoparticles. Journal of Magnetism and Magnetic Materials, v. 279, n. 2-3, p. 210-217, 2004.