Sumário Introdução... A sociedade e a teoria dos processos de civilização... Características do jogo no processo civilizatório... Processo de civilização do jogo em diferentes tempos e espaços... Apontamentos finais... Referências... 7 11 47 97 193 201
Jogo e civilização: história, cultura e educação 7
As inquietações pedagógicas sobre as relações do jogo com a Educação e a Educação Física, tanto na educação básica como no ensino superior, levaram-nos a refletir sobre os conhecimentos necessários à compreensão de como se deu a transformação do jogo, em grandes períodos de tempo, sob a perspectiva da teoria do processo de civilização. Nosso objetivo foi entender como se deu a relação entre a mudança na estrutura da personalidade dos indivíduos e a mudança na forma de se conceber a sociedade. Vários estudiosos dos pressupostos apresentados por Nobert Elias, afirmam que sua obra nos permite descortinar um pensamento original, ancorado em instrumentos conceituais e pressupostos teóricos próprios, que ajusta contas com toda uma tradição gnoseológica ao mesmo tempo em que lança ao debate uma interpretação particular da história humana. Não seria abusivo dizer que a espinha dorsal do modelo interpretativo dinâmico de Elias constituise na percepção das configurações sociais complexas a que chamamos sociedades e das personalidades dos indivíduos como duas faces de um mesmo e único processo, o que implica a ideia de evolução, de desenvolvimento social, não bastasse o próprio nome de sua teoria e principal obra explicitá-lo (MALERBA, 2011, p.188). Na obra de Elias, podemos nos deparar com uma análise que não separa o indivíduo (seu pensamento, sua ação, seu comportamento) que produz conhecimento da realidade pela qual esse conhecimento é construído. Dessa forma, a formação do sujeito tem ligação direta com as interações sociais. Essas mudanças ocorridas na estrutura da personalidade e na própria sociedade podem ser observadas em longos períodos da história, denominados por Elias como períodos de longa duração. Enquanto Norbert Elias fez a opção por observar o processo de civilização na mudança do comportamento humano, procuramos analisar esse processo na transformação do jogo. Os jogos que destacamos aqui não se referem culturalmente ao esporte, a questões políticas ou a um jogo de palavras metafóricas, mas Jogo e civilização: história, cultura e educação 9
a jogos de tabuleiros, jogos com brinquedos como ioiô, pião, corda, entre outros. Tratamos também daqueles jogos, considerados tradicionais, que fizeram parte da infância da maioria dos adultos como a amarelinha, pega-pega, a bola queimada/queima e o taco/bets, por exemplo. Ao escrevermos esta obra, levamos em consideração que o leitor possa desconhecer os elementos essenciais da Teoria dos Processos de Civilização, que apresente certa fragilidade no conhecimento historiográfico e que necessite de um maior aprofundamento sobre as questões teóricas do jogo, enquanto produto e produtor de cultura. Para Elias (1994a), não podemos tratar os fatos humanos, sociais ou psicológicos como antagônicos e naturais. Aspectos como natureza e cultura, indivíduo e sociedade, matéria e espírito não podem ser concebidos como estáticos e independentes, mas como elementos que compõem uma teia de interdependência. Assim, esperamos que nosso leitor possa compreender que a configuração social influencia o jogador, ao mesmo tempo que o jogador influencia a estrutura social em que está inserido. O padrão comportamental, os pensamentos e as relações com outras pessoas mostram-se como reflexos da realidade de certo contexto histórico. Observar as transformações ocorridas no jogo, simultaneamente às mudanças na estrutura da personalidade dos indivíduos e na estrutura da sociedade, revelam-nos que no jogo são incutidos os valores morais e o código de conduta necessários ao sujeito para inserir-se em dada realidade e estabelecer um bom nível de convivência em sociedade. 10 Jogo e civilização: história, cultura e educação