Teoria da Comunicação. UNISALESIANO Aula 5: A Escola de Frankfurt

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Transcrição:

Teoria da Comunicação UNISALESIANO Aula 5: A Escola de Frankfurt

Origem A Escola de Frankfurt (Instituto de Pesquisa Social afiliado à Universidade de Frankfurt) foi criada em 1923 por Max Horkheimer e outros teóricos e fechada pelo nazismo, o que resultou em uma emigração de pesquisadores para a Universidade de Columbia (Estados Unidos), entre eles Horkheimer, Leo Löwenthal e Theodor Adorno. O instituto foi reaberto em 1950. O conceito da indústria cultural, criado por Horkheimer e Adorno, remete a produção de cultura como mercadoria (MATTELARD, 1999) através do uso de tecnologias, com a mesma racionalidade técnica e domínio dos meios de produção da fabricação de automóveis em série, padronizados numa cultura de massa. A importância da Escola de Frankfurt é a de expressar a crítica dialética materialista marxista sobre a produção de bens culturais a partir da compreensão das contradições da sociedade, da economia política e das crises econômicas.

Para os teóricos da Escola da Frankfurt, a indústria cultural representa a derrocada da cultura porque transforma o ato cultural em valor e suprime a função crítica, dissolvendo laços de uma experiência autêntica (MATTELARD. 1999, p. 78).

Estudar os fenômenos da mídia e da cultura na era da técnica é importante para a investigação do modo de vida contemporâneo (RÜDIGER; IN: HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2001)

Indústria cultural é definida como a prática social de produção cultural e intelectual orientada em função das possibilidades de consumo de mídia enquanto máquina de publicidade (RÜDIGER)

Dialética do Iluminismo Horkheimer e Adorno criticam o autoritarismo da indústria cultural na obra Dialética do Iluminismo (1944) em um contexto pós-guerra. De acordo com os teóricos, nas sociedades capitalistas a população é mobilizada para manter o sistema econômico e social através do consumo estético massificado. Assim o conteúdo libertador da arte é freado e em vez do conhecimento emancipador, as comunicações reproduzem a ordem social dominante. Os tempos modernos criaram a ideia de que não apenas somos livres como podemos construir uma sociedade capaz de permitir a todos uma vida justa e realização individual. No entanto, as contradições internas deste projeto, transformaram os meios do iluminismo progressista em expressões de barbárie tecnológica. Para Horkheimer e Adorno, a enxurrada de informações, desperta e idiotiza pessoas (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA).

A pesquisa crítica A principal característica das pesquisas conduzidas pela Escola de Frankfurt é a criticidade. Os estudos realizados por integrantes da escola que analisam fenômenos sociais da sociedade americana, nos anos 30 e 40 não revitalizaram o funcionalismo mas são fundamentais para a compreensão da nova sociedade de massa, com o crescimento do rádio, da televisão e do cinema. Todas as meras técnicas de pesquisa, de dados objetivos vedam a si próprias a possibilidade de verdade. É necessário libertar-se deste tipo de pesquisa. (HORKHEIMER;ADORNO, 1956). Para estes pesquisadores, a indústria cultural é um sistema que harmoniza filmes, rádios e semanários entre si.

A perda da aura Entusiasta da experiência soviética de cinema, rádio e artes gráficas e simpático à tecnologia como instrumento de democratização da cultura e que acabaria com a alienação do trabalho, tornando os bens acessíveis e o homem livre da espoliação, Walter Benjamin analisa que em uma sociedade capitalista, a tecnologia resulta em experiências padronizadas e empobrecidas pela exploração desses meios pelo capital. Para o teórico, os produtos da indústria cultural não são em si mesmos obras de arte, ao contrário da pintura, peça teatral. Apenas substituem a presença única por uma existência em série, como no cinema de Walt Disney que traz histórias que exaltam o individualismo e valores capitalistas. Benjamin, faz crítica sobre a perda da aura da cultura na era da reprodutividade técnica (1933) dos produtos culturais facilmente reproduzidos, com o risco de padronização para elevar a rentabilidade econômica e o controle social.

O que a indústria cultural oferece de novo não é mais que a representação, sob formas diferentes, de algo que é sempre igual (ADORNO, 1967. IN: WOLF, 2003). É a indústria dos best sellers, excluindo o que é novo.

O indivíduo na era da indústria cultural: Aquilo que outrora os filósofos chamavam vida, reduziu-se à esfera do privado e, posteriormente, a do consumo puro e simples (ADORNO, 1951. IN: WOLF, 2003). Esta nova sociedade é sempre vencedora e o indivíduo não passa de um fantoche manipulado pelas normas sociais (falta de pensamento crítico). Divertir-se significa estar de acordo, significa sempre não dever pensar, esquecer a dor mesmo onde essa dor é exibida. Na sua base, está a impotência. É efetivamente fuga; não, como se pretende, fuga da feia realidade, mas da última ideia de resistência que a realidade pode ainda ter deixado (HORKHEIMER; ADORNO).

O produto cultural Os teóricos da Escola de Frankfurt analisam que a leitura de livros com enredos secundários traz um jogo narrativo. Mas na cultura do best seller, o leitor e o espectador do filme policial televisivo sabe com absoluta certeza como se chega ao fim da história. Adorno critica a música ligeira porque despoja o ouvinte da espontaneidade e fomenta reflexos condicionados (easy listening). Em seu estudo sobre programas musicais no rádio, o teórico conceitua o rebaixamento da arte ao estado de ornamento da vida cotidiana, direcionando críticas à música americana que reforçava o status quo da sociedade e não uma resistência cultural. Para os expoentes europeus, a televisão é produção de mediocridade, de inércia intelectual. A divisão do conteúdo da tv em gêneros (comédia, drama, notícias) cria formas rígidas e aproxima a audiência de um modelo estabelecido de expectativas.

Efeitos: a dimensão única O professor da Universidade da Califórnia, Herbert Marcuse, membro da Escola de Frankfurt, permanece nos EUA com o fim da II Guerra Mundial. É um crítico da cultura burguesa que, sob a aparência de um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, manifesta-se em uma irracionalidade que subjuga o indivíduo, em vez de libertá-lo, porque reduz o discurso e o pensamento a uma dimensão única, em uma sociedade unidimensional e sem espaço para o pensamento crítico que poderia ser reconciliado com uma revolução completa da ciência e da técnica. Para o teórico, todo o potencial da ciência está voltado apenas para a reprodução do sistema de dominação e de sujeição (MATTELARD, 1999).

A expansão do american way of life e a americanização da cultura brasileira a partir dos anos 40

Não tem tradução (Noel Rosa, 1933) O cinema falado é o grande culpado da transformação Dessa gente que sente que um barracão prende mais que o xadrez Lá no morro, seu eu fizer uma falseta A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês A gíria que o nosso morro criou Bem cedo a cidade aceitou e usou Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote Na gafieira dançar o Fox-Trote Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia é brasileiro, já passou de português Amor lá no morro é amor pra chuchu As rimas do samba não são "I love you" E esse negócio de "alô", "alô boy" e "alô Johnny" Só pode ser conversa de telefone..

A colonização da esfera pública em Habermas As conquistas e liberdades foram concebidas na esfera pública da sociedade, com indivíduos se reúnem para discutir e decidir sobre interesses comuns. Na sociedade de massa, a esfera pública foi colonizada pelo consumismo promovido pelos interesses mercantis e propaganda manipuladora de partidos políticos e estados liberais (democracias capitalistas). Habermas vê o eclipse da figura do cidadão pela figura do consumidor e contribuinte.

Apocalípticos X Integrados O teórico italiano Umberto Eco divide os teóricos americanos em duas vertentes na obra Apocalípticos e Integrados, de 1964, em discussões sobre cultura popular, cultura de massa e indústria cultural. Para os apocalípticos, o novo fenômeno da indústria cultural é uma ameaça para cultura e a democracia, padronizando e pasteurizando manifestações diversas em série. Para os integrados, a produção em série é uma democratização do acesso a milhões a essa nova cultura do lazer, vulgarizada em suas mais diversas formas mas considerada como sinal do progresso. Edward Shils distingue a cultura superior (refinada) com temas sérios e problemas importantes, com uma riqueza de sentimentos; a cultura medíocre é mais imitativa, como a comédia musical; e a cultural brutal, com conteúdo simbólico mais pobre, com pouca criação original.

Quanto mais dura e complicada é a vida moderna, mais as pessoas se sentem tentadas a agarrar-se a clichês que parecem conferir uma certa ordem para aquilo que, de outra forma, seria incompreensível (ADORNO, 1954)