Aula 3 Eduardo Valladares (Bernardo Soares) Este conteúdo pertence ao Descomplica. Está vedada a cópia ou a reprodução não autorizada previamente e por
Foca na Redação 21 mar Quais são as características da dissertação argumentativa?
RESUMO Agora que já conhecemos um pouco da teoria do argumento, cabe mergulhar, de vez, nas características da dissertação, o tipo de texto que será cobrado no vestibular. Como você já viu e entendeu todas essas ideias, nosso papel, aqui, será aprofundar esse conteúdo, tirando todas as suas dúvidas e, é claro, vendo muitos exemplos! Vamos juntos? Dissertação expositiva x Dissertação argumentativa Antes de tudo, é muito importante que essa diferença fique clara para você. Você entende o que faz de um texto, necessariamente, argumentativo? Há uma estrutura fundamental em toda a sua construção - se ela não existe, não há posicionamento e, consequentemente, não há argumentação. Que estrutura é essa? Vamos tentar identificá-la no parágrafo de introdução abaixo? O tema é A importância da reivindicação pela saúde pública no Brasil. Em 2013, centenas de jovens foram às ruas lutar por seus direitos civis e cobrar das autoridades melhorias sociais, dentre elas, a saúde. Ainda que esses direitos sejam garantidos pela Constituição Federal, os casos de corrupção fizeram com que a população se mobilizasse visando chamar a atenção dos governantes em busca de meios que assegurem o bem-estar dos cidadãos. Neste sentido, nota-se que a saúde pública não é vista como prioridade e faz-se preciso combater esse descaso, como também, reconhecer a importância das reivindicações populares para alterar tal cenário na sociedade brasileira. Em 2013, centenas de jovens foram às ruas lutar por seus direitos civis e cobrar das autoridades melhorias sociais, dentre elas, a saúde. Ainda que esses direitos sejam garantidos pela Constituição Federal, os casos de corrupção fizeram com que a população se mobilizasse visando chamar a atenção dos governantes em busca de meios que assegurem o bem-estar dos cidadãos. O problema, então, não foi resolvido, mas a reivindicação pela saúde pública no Brasil continua frequente em diversos estados e grupos sociais. Notou a diferença? Ela é básica e, se você não souber identificá-la, aproveite esta aula para tirar todas as suas dúvidas, ok? A dissertação argumentativa Identificada a principal estrutura da dissertação e, na aula anterior, a formulação de sua unidade de informação - o argumento -, é importante, agora, aprofundar algumas características - de estrutura e conteúdo - do texto em si. Você conhece alguma? Vamos tentar revisar? Quantas linhas pode ter um texto dissertativo- -argumentativo, no vestibular? Em quantos parágrafos essas linhas se dividem? Como fica essa distribuição? Qual é o conteúdo básico de cada um desses parágrafos? Que qualidades não podem faltar nesse texto? O texto pode ser pessoal? Pode ser objetivo? 3 O fato é: se o seu parágrafo não tem essa estrutura, não deixa a sua existência clara, explícita e, obviamente, consistente, seu texto é expositivo. Vejamos um exemplo, no mesmo parágrafo e tema: Entendidas as características, vamos identificá-las em uma redação? O tema é O livro na era da digitalização do escrito e da adoção de novas ferramentas de leitura: Exemplo 1 O caminho digital é sem volta. A frase é de Paulo Coelho, escritor carioca mundialmente famoso, em uma entrevista à revista Época sobre a chegada do Kindle ao Brasil. De fato, a ascensão dos e-readers abriu portas para o desenvolvimento de novas tecnologias ligadas à leitura e, principalmente, para a preocupação com relação ao fim do livro impresso. Em um contexto de valorização, cada vez maior, de novas formas de ler e comercializar as obras, vale questionar se, diante de uma sociedade que sofre com a falta de concentração, é vantajoso adotar esses meios.
É necessário analisar, antes de tudo, o comportamento do indivíduo atingido pela digitalização da escrita. Na visão de Zygmunt Bauman, há, hoje, uma crise de atenção. A dificuldade de se concentrar, aliada à informação em grande escala, gera o que o sociólogo polonês chama de fragmentos do conhecimento, dificultando o aprendizado e, consequentemente, a dedicação a grandes leituras. Nesse sentido, é difícil garantir que um pequeno aparelho com mais de duas mil obras seja interessante para qualquer pessoa que não consiga terminar um livro. Ainda assim, é indispensável destacar as vantagens da adoção dessas novas ferramentas. Além da alta capacidade de armazenamento e do acesso facilitado em qualquer hora e lugar, o preço dos textos digitalizados é muito mais baixo, uma vez que que o processo de produção também é mais barato. Há livros físicos que chegam a custar três vezes o valor da sua versão virtual, o que justifica a dificuldade de manter um hábito de leitura na nossa sociedade. No mesmo caminho, a concorrência cada vez maior nesse mercado tem permitido a redução do preço dos aparelhos de leitura digital, facilitando ainda mais a compra, a venda e, é claro, a fidelização do leitor. Torna-se evidente, portanto, que, apesar das muitas vantagens na digitalização da escrita, há obstáculos que precisam ser resolvidos, a fim de aproveitá-las plenamente. Em primeiro lugar, a escola, crucial na iniciação do aluno na leitura, pode trabalhar a inserção desses textos em sala, com a possibilidade de utilizar vídeos, imagens e até a internet. Deve, também, trazer psicólogos, por exemplo, que falem sobre a procrastinação e suas consequências. A mídia, por sua vez, pode tratar o problema em novelas, debates e até propagandas, tentando mostrar aos indivíduos a necessidade cada vez maior de tratar a concentração. Só assim, resolvendo o problema na sua raiz, o homem e a leitura chegarão a um caminho comum, sem ninguém olhar para trás. 4 Vamos ver mais um exemplo? Tema: O preconceito linguístico e seus efeitos em discussão no Brasil. Exemplo 2 Poliglotismo nacional A língua é um dos principais instrumentos que sustentam a vida em sociedade, já que é responsável pela comunicação e interação entre os indivíduos. No entanto, ela também pode atuar de maneira negativa, sendo uma das ferramentas de segregação social. O preconceito linguístico, no Brasil, é muito evidente e, por isso, é preciso entender que há diversas variantes na língua, e uma não deveria ser mais prestigiada em relação às demais. Em primeiro lugar, é importante destacar que, embora todos os brasileiros sejam falantes da Língua Portuguesa, ela apresenta diversas particularidades no contexto regional, etário, social e histórico. Isso significa que a linguagem está em constante transformação, e os responsáveis pelas mudanças são os próprios falantes, independente de classe social ou nível de escolaridade. Nesse sentido, não se deve desconsiderar a gramática normativa e suas regras, já que ela serve como base para o sustento do idioma, mas sim admitir que todas as variações são inerentes à língua. Além disso, é evidente que o fato de existir uma variante padrão faz com que as demais sejam desprestigiadas, gerando o preconceito linguístico. Esse tipo de preconceito pouco discutido no Brasil acentua ainda mais a desigualdade social no país, pois a língua está totalmente ligada à estrutura e aos valores da sociedade, e os falantes da norma culta são aqueles que apresentam maior nível de escolaridade e poder aquisitivo. Os indivíduos que sofrem discriminação linguística tendem a desenvolver problemas de sociabilidade e, até mesmo, psicológicos. Fica claro, portanto, que a língua é um fator decisivo na exclusão social. Por isso, o preconceito linguístico deve ser admitido e combatido. Primeiramente, as escolas deveriam fazer uma abordagem mais aprofundada sobre esse tema, além de ensinar, nas aulas de Português, todas as variantes existentes na língua. A mídia deveria
parar de estereotipar os personagens de acordo com a sua maneira de falar e poderia investir em campanhas que ajudem a desconstruir o preconceito linguístico. Afinal, ser um bom falante é ser poliglota na própria língua. A dissertação no ENEM Sabemos que, no vestibular do ENEM, há alguns critérios de correção que, sem dúvida, precisam ser conhecidos por seus candidatos, a fim de, na produção textual, não haver erros ou informações diferentes das exigidas pela prova. Você conhece essas competências? Vamos revisá-las, usando as definições da própria prova? Dê uma olhada no manual do candidato de 2016, disponível aqui: http://download. inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2016/manual_de_redacao_do_enem_2016. pdf. A aula acabou! E agora? Chegamos ao fim de mais uma aula. Você tem certeza de tudo o que aprendeu, aqui? Se sim, tente responder às questões abaixo, ainda que mentalmente. Se alguma delas ficou pouco clara, volte à aula, aos vídeos gravados, às monitorias, à live semanal e tente respondê-la. Não saia daqui sem saber tudo sobre o tema da semana, tá? O que diferencia, de fato, um texto dissertativo- -expositivo de um argumentativo? Quais são as características, de estrutura e conteúdo, da dissertação argumentativa? O que pode fazer a minha redação ser diferente de todas as outras, no vestibular? Quais são as exigências, em termos de critérios, feitas pela Banca do ENEM? Agora que você já sabe tudo sobre esse tipo de texto, a próxima tarefa é simples: no nosso grupo do Facebook, crie um post com um tema específico (tente não repetir o do amigo, tá?) e tente, junto com os seus colegas, formular teses para cada uma dessas propostas. Pode ser um tema do ENEM, do Descomplica ou até um assunto qualquer sobre o qual você queira discutir. O objetivo principal é tentar tornar as discussões cada vez mais argumentativas, sem usar a pessoalidade, tão temida pelos alunos. Você consegue fazer isso? Te esperamos lá! 5