AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: (AINDA) ALGUMAS REFLEXÕES



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Transcrição:

AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: (AINDA) ALGUMAS REFLEXÕES RESUMO Cleuma Regina Ribeiro da Rocha Lins (UEPB) cleumaribeiro@yahoo.com.br Orientador: Prof. Dr. Juarez Nogueira Lins junolins@yahoo.com.br A discussão sobre concepções de linguagem e ensino de língua portuguesa é antiga e ampla, mas também atual, e necessária, se levarmos em consideração, que o ensino de LP passa por imensas dificuldades. Mesmo em uma época de grandes mudanças e inovações, a escola ainda convive com o ensino de LP ainda vinculado à primeira concepção de linguagem, que privilegia a norma, em detrimento da diversidade linguística e cultural do Brasil. A partir de uma pesquisa bibliográfica, interpretativista de natureza qualitativa objetivou-se (re) discutir o papel das concepções de linguagem na aula de português, a partir de dois textos motivadores. Tomamos como aporte teórico a interação verbal de M. M. Bakhtin (1999) e ainda, os estudos de Geraldi (2001), Koch (1999), Fiorin (1999) e outros mais. Concluiu-se que muitos (as) profissionais de linguagem já tomaram conhecimento das concepções de linguagem e de suas implicações sobre o ensino de LP. No entanto, na sala de aula, em virtude de fatores pedagógicos, políticos e outros, acabam seguindo o que parece mais fácil, seguir as normas gramaticais, e a compreenderem enquanto aula de língua portuguesa. Crêem que assim, estão realizando o correto, cobrado pela sociedade. E ignoram, na maioria das vezes, os resultados danosos dessa prática, para a escola, para si próprio e, principalmente para os alunos das escolas públicas do país. Palavras-chave: Concepções de linguagem. Ensino. Reflexões 1. INTRODUÇÃO Devemos defender-nos de toda palavra, de toda linguagem que nos desfigure o mundo, que nos separe das criaturas humanas, que nos afaste das raízes da vida. (Érico Veríssimo). A linguagem é essencial para todo e qualquer ser humano. Através dela os sujeitos sociais se representam e representam o mundo. Ela constrói e desconstrói, influencia e é influenciada pelos meios: social, econômico e cultural e esses, por sua vez, também são influenciados por esse instrumento de comunicação/interação. O homem, como principal agente desse processo, cria recursos que auxiliam ou aperfeiçoam com o objetivo de ampliar a interação humana a produção da linguagem. Ao longo dos tempos, as concepções de linguagem variaram, de acordo com o contexto sócio/histórico de cada época e, com os interesses de determinados grupos sociais. Como se pode presumir, a forma como se concebe a linguagem

afeta assim, instituições e grupos: a escola, a aula de língua portuguesa e as classes menos favorecidas, a grande massa de alunos do ensino público. Diante desse panorama, objetivamos rediscutir as concepções de linguagem e suas implicações sobre a aula de língua portuguesa. Para efetivar nosso objetivo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e interpretativista. E como referencial teórico, as contribuições de Bakhtin (1999), Geraldi (2001), Fiorin, (1997) além de outras. 2. METODOLOGIA Pesquisa bibliográfica e interpretativista, de natureza qualitativa, que teve como ponto de partida, dois textos motivadores: Aula de português (Carlos Drummond de Andrade) e As diferentes concepções de linguagem (Ingedore Koch). Após a leitura dos citados textos, procedeu-se o diálogo com alguns pressupostos teóricos sobre Concepções de Linguagem e Interação Verbal. Em seguida, a análise. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Iniciemos a discussão a partir da linguagem, ou das linguagens: a poética e a formal (argumentativa), presentes respectivamente, nos fragmentos abaixo. As duas produções apresentam concepções de linguagens diferenciadas. Vejamos o primeiro Aula de Português de Carlos Drummond de ANDRADE: Fragmento 01 A linguagem/na ponta da língua,/tão fácil de falar/e de entender./a linguagem/na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer?(...) /O português são dois; o outro, mistério. Ao tecer uma crítica à concepção de Ensino de Língua Portuguesa o poeta Drummond criticou consequentemente, uma concepção de língua/linguagem, que é responsável por este tipo de concepção de aula de português : a primeira concepção de linguagem representação do mundo e do pensamento (ver fragmento 02). Através dessa concepção, a aula de língua portuguesa tornou-se um monólogo em torno da metalinguagem, desestimulante e sem sentido para os alunos, que se comunicam bem em outra/mesma linguagem, mas infelizmente ainda não desvendaram, a linguagem da escola, a língua misteriosa.

O poema traz a voz dos milhões de brasileiros que não encontram espaço para interagir nas aulas de língua portuguesa, que vêem a língua como algo além do humano e, que dificilmente conseguiram utilizá-la para dar formas às suas experiências. Embora não admitida, pela escola, pelos professores, a primeira concepção de linguagem ainda se faz presente, ocupando espaço de outras. E, é claro, com o respaldo da mídia nacional que repudia as tentativas de relativização da norma padrão. O segundo fragmento, As diferentes concepções de linguagem de Ingedore KOCH, nos apresenta as três concepções, em uma linguagem objetiva e menos ácida do que a linguagem literária. Fragmento 02 A linguagem humana tem sido concebida, no curso da história, de maneiras bastante diversas, que podem ser sintetizadas em três principais: Representação (espelho) do mundo e do pensamento. Instrumento (ferramenta) de comunicação. Forma (lugar) de ação ou interação. A mais antiga destas concepções é, sem dúvida, a primeira, embora continue tendo seus defensores na atualidade. Segundo ela, o homem representa para si o mundo através da linguagem e, assim sendo, a função da língua é representar (refletir) seu pensamento e seu conhecimento de mundo. A segunda concepção considera a língua como um código através do qual um emissor comunica a um receptor determinadas mensagens. A principal função da linguagem é, neste caso, a transmissão de informações. A terceira concepção, finalmente, é aquela que encara a linguagem como atividade, como forma de ação, ação interindividual finalisticamente orientada; como um lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos... (KOCH, 1992, p.9-10). Ao descrever as três concepções, a autora nos chama a atenção para o ensino de linguagem, da língua portuguesa. Os (as) alunos (as) devem (I) aprender a língua para traduzir e exteriorizar o pensamento, (II) transmitir informações a outros ou (III) realizar ações, agir sobre o outro? Ao optar pela primeira, o professor irá construir o seu ensino com base na norma culta, no certo e no errado, excluindo todas as outras variantes lingüísticas, todos os alunos que tem dificuldades de falar na linguagem padrão. O aluno ao falar na linguagem coloquial, fala mal e, segundo

Geraldi, nessa concepção de linguagem, quem fala mal, pensa mal. (GERALDI, 2001). Tal concepção gera um conflito no ensino-aprendizagem da língua portuguesa, na sua prática, uma vez que, muitas destas regras são fenômenos abstratos que não representam o funcionamento real da língua. Para Marcuschi as línguas se fundam nos usos e não ao contrário (2001, p.16). Ao optar pela segunda, metodologicamente, o professor pode se transformar em um comunicador/apresentador em que o mais importante é a transmissão da mensagem e menos a compreensão dessa mensagem. Aqui a língua é vista como um código capaz de transmitir mensagens de um emissor para um receptor (TRAVAGLIA, 2002). O importante é transmitir, dizem alguns profissionais, não importa o que? Como? Como é recebido? Que ações provocam? Tal qual a primeira concepção, nesta também se presume a homogeneidade da língua, e assim, seguem desvalorizadas as variedades lingüísticas, que ainda são vistas como desvio. Já a terceira, vê a linguagem como uma atividade histórica e social. Nela os sujeitos se organizam e dão formas as suas experiências pessoais e coletivas.. A ação se realiza na e pela linguagem (KOCH, 1997, p.11). Essa concepção é regida pelo princípio bakhtiniano (1999) da interação verbal linguagem como forma de ação. E dessa interação surge o dialogismo, o espaço interacional entre o eu e tu (FIORIN, 1999). Nesta concepção, a variação não está apenas no interior do sistema lingüístico, mas também fora dele. Desse modo, os diversos falares são levados em consideração, são objetos de análise. A norma culta é relativizada, mas não excluída do processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa. Divide o espaço com outras variantes lingüísticas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Perdidos entre a repetição de suas práticas de língua portuguesa cotidianas, entre as teorizações advindas de capacitações e cursos de pós-graduação (especialização), entre as cobranças de coordenadores e alunos, os professores, mesmo tendo alguns conhecimentos sobre as três concepções de linguagem, acabam priorizando as duas primeiras concepções de linguagem e menos a terceira. Todo esse cenário os leva ao cansaço e ao mais cômodo, seguir a norma, sem

realmente perceber, o estrago que pode causar a uma maioria de alunos (as) que buscam na escola a chance se constituírem enquanto sujeitos de suas histórias. É importante então que o professor de língua portuguesa tenha uma visão clara sobre as concepções de linguagem que adota na sala de aula, pois elas influenciam, ou podem influenciar o ensino-aprendizagem da língua materna (GERALDI, 2001). Já há algum tempo, Os PCN (2002) sugerem que os profissionais adotem hoje, a concepção de linguagem que veja a língua como um processo de interação comunicativa que se constitui pela construção de sentidos. E os sentidos podem ser outros, além daqueles percebidos pelo livro didático, pelo professor, pela norma culta, enfim, pelas concepções que vêem a homogeneidade da linguagem. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1999. BARROS, D. L. P. de; FIORIN, J. L. Dialogismo, polifonia e intertextualidade em torno de Bakhtin. São Paulo: Edusp, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. PCN de Língua Portuguesa. Brasília, MEC, 2002. GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2001. KOCH, I. G. O Texto e a construção do sentido. Campinas: Contexto, 1997. MARCUSCHI, L. A. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. In: SIGNORINI, I. (Org.). Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2002.