FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: A PESQUISA NO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

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FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: A PESQUISA NO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO Karla Jaqueline Souza Centro Universitário Franciscano - UNIFRA karlasouzat@hotmail.com Resumo: Na educação brasileira atual enfrenta-se o desafio de melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem dos alunos da educação básica, figurando a matemática como uma das principais áreas do conhecimento escolar para o desenvolvimento de habilidades e competências para a vida em sociedade. Nesse contexto, a formação inicial do professor é decisiva de qualidade e os estágios curriculares supervisionados podem ser fatores determinantes de qualidade. O presente relato traz uma experiência de estágio no curso de licenciatura em Matemática, no Centro Universitário Franciscano, de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul. Durante os estágios, os futuros professores são desafiados a elaborar e executar projetos de pesquisa e, redigir um artigo científico para compartilhar experiências. As experiências de estágios, assim constituídas, são fontes motivadoras para os licenciandos e oportunizam uma formação inicial crítica e reflexiva, comprometida com a postura investigativa sobre a prática pedagógica. Palavras-chave: Formação inicial; Estágios curriculares supervisionados, Postura investigativa. INTRODUÇÃO Os baixos resultados apresentados nos exames aplicados aos alunos da educação básica brasileira evidenciam a necessidade de melhorias no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, e, nesse contexto, a formação inicial dos professores e figura como um dos principais fatores determinantes da qualidade. Sabe-se que, para uma formação profissional de qualidade, é importante uma consistente aliança do conhecimento científico com o pedagógico, onde se destacam as experiências nos estágios curriculares supervisionados. Atendendo à legislação atual, em cursos de formação de professores, no Brasil, os estágios devem abordar as diferentes dimensões da atuação profissional, acontecer a partir do início da segunda metade do curso, atender um projeto de estágio elaborado em conjunto com o estudante e ser acompanhado por todo o grupo de professores formadores, no sentido de compartilhar ideias e ações. 1

Os licenciandos, ao realizar seus estágios, observam com maior atenção a posturas, metodologias e estratégias adotadas por seus professores, construindo, desta forma, parâmetros para sua prática docente futura. Além disso, as horas acadêmicas destinadas à realização dos estágios precisam aprofundar conhecimentos matemáticos e, ao mesmo tempo, estudar metodologias de ensino e recursos didáticos para o processo de ensino e aprendizagem. Tornam-se indispensáveis as discussões, análises e reflexões acerca das realidades escolares, da legislação vigente e dos parâmetros curriculares, abrindo espaços para evidenciar a necessidade da formação geral do aluno em oposição à formação específica, considerando que, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o desenvolvimento de competências e habilidades básicas comuns a todos os brasileiros é uma garantia de democratização (PCN s, 1999, p. 31). Assim, os estágios oportunizam, ao futuro professor, a produção e sistematização dos conhecimentos matemáticos e pedagógicos, através de experiências investigativas sobre a prática do professor regente e, especialmente, sobre sua própria prática. Apresentamos, então, um relato de experiência de estágio curricular supervisionado do curso de Licenciatura Plena em Matemática, do Centro Universitário Franciscano, UNIFRA, localizado no município de Santa Maria, região centro do estado do Rio Grande do Sul, estruturado por uma formação de professor pesquisador crítico e reflexivo. 1 ESTRUTURA DOS ESTÁGIOS CURRICULARES SUPERVISIONADOS NO CURSO DE MATEMÁTICA O Centro Universitário Franciscano, visando a melhoria da qualidade da formação inicial do professor de matemática, organiza as experiências pedagógicas dos futuros professores com atividades práticas e teóricas. Num total de 493 horas, 221 horas são destinadas à observação e/ou a execução de aulas de reforço na educação básica e 272 horas para regência de classe. O primeiro contato dos estudantes com os estágios acontece no quinto semestre do curso, com alunos do nível fundamental da educação básica. No semestre seguinte, realizam a mesma modalidade de estágio, porém com alunos do ensino médio e, no último 2

ano do curso, os estudantes assumem regência de classe, primeiramente no ensino fundamental e depois no ensino médio. As horas práticas são aquelas vivenciadas no campo de estágio ou na própria instituição com atividades de ensino e aprendizagem da matemática na educação básica, enquanto as horas teóricas constituem momentos de planejamento e reflexões críticas acerca da necessidade de um currículo crítico para a realidade educacional. Skovsmose (2001), escreveu sobre a importância em intensificar a interação entre Educação Matemática e Educação Crítica, para que seja possível desenvolver nos alunos uma atitude crítica na sociedade tecnológica que nos é imposta. Para ele, existem questões relacionadas com um currículo crítico, que incluem a aplicabilidade do assunto, os interesses e os pressupostos por detrás do assunto, as funções do assunto e as limitações do mesmo, afirmando que o processo educacional deve ser entendido como um diálogo (p.18). Os estágios curriculares supervisionados, assim estruturados, visam uma formação reflexiva e crítica do futuro professor, consciente da importância de seu papel, como profissional, para a construção de uma sociedade mais humana e mais justa. 2 A PESQUISA NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS ESTÁGIOS CURRICULARES SUPERVISIONADOS Percebe-se, nas realidades educacionais, a necessidade de um currículo que contemple as aplicabilidades dos conhecimentos, impulsionando a percepção da matemática com toda a sua beleza e utilidade. Sabe-se que o verdadeiro significado da matemática pode ser evidenciado através de situações de formulação de conceitos e teorias gerais aplicáveis a situações reais: (...) Não importa quantos problemas contextuais resolvamos mediante técnicas ad hoc, não estaremos utilizando toda a força da Matemática se não estivermos olhando para esses problemas como situações especiais de um conceito, de uma teoria matemática que nos permitirá resolvê-los e resolver muitos outros problemas, nem sempre obviamente análogos (Lima, 2001, p. 200). 3

Nesse sentido, o estágio curricular, ao desencadear atividades que apresentam a matemática como instrumentadora para a vida em sociedade, pode colaborar para a conquista de uma aprendizagem de qualidade. Os estagiários, a partir do conhecimento do campo de estágio em que atuarão, elaboram seus projetos de pesquisa, sob a orientação do professor supervisor e colaboração do professor regente da turma de estágio, visando contemplar interesses coletivos. Esses projetos, de maneira geral, primam pela melhoraria da aprendizagem, por uma maior participação dos alunos nas atividades em aulas, pelo incentivo ao estudo e ao gosto pela matemática, bem como pela necessidade da adoção de novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Apostando na importância da reflexão sobre a ação, ao final de cada estágio o futuro professor é desafiado a redigir um artigo científico para compartilhar todo o aprendizado, culminando com publicação. A reflexão sobre a ação é um componente essencial do processo de aprendizagem permanente que constitui a formação profissional. Em tal processo se abrem para consideração e questionamento individual ou coletivo não apenas as características da situação problemática sobre a qual atua o profissional prático, mas também os procedimentos utilizados na fase de diagnóstico e definição do problema (Pérez Gómez,2000, p. 371). A elaboração e execução do projeto de estágio, bem como a escrita do artigo, ambos de cunho prático e reflexivo, têm culminado, muitas vezes, com o trabalho de final de graduação (TFG) dos alunos, uma vez que são muitas as experiências de estágios transcritas nesses trabalhos de final de curso, o que transparece o entrelaçamento entre as disciplinas do curso. 3 UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO No segundo semestre do ano de 2009, um estudante do curso de licenciatura em Matemática, na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II, elaborou um projeto de pesquisa com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade da aprendizagem da Matemática numa turma de primeira série do ensino médio. 4

Esse estudante, entusiasmado com a modelagem matemática como metodologia de ensino, que para Bassanezi (2002 p.24) consiste essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual, trabalhou com o tema automedicação. Trata-se de uma metodologia dinâmica que possibilita uma aproximação entre a matemática e os problemas do mundo real vividos cotidianamente, que provocou receptividade da professora regente e dos alunos. O estagiário planejou e executou atividades que oportunizaram a introdução ao estudo de função exponencial, conteúdo trabalhado posteriormente pela professora regente. 3.1 Atividades desenvolvidas 3.1.1 O tema: Automedicação O estagiário, juntamente com a professora regente, apresentou o tema automedicação aos alunos, descreveu situações cotidianas e levantou vários questionamentos referentes à dinâmica de acumulação e de eliminação de medicamento no organismo humano. A partir do lançamento do tema e dos interesses manifestados pelos alunos, situações-problema foram elaboradas e resolvidas. Após a apresentação do tema, foi solicitada uma tarefa aos alunos para a próxima aula, que consistia em trazer uma bula de medicamento, para dar continuidade às atividades de modelagem. 3.1.2. A dinâmica de eliminação de medicamento do organismo humano Embora, na primeira aula, a maioria dos alunos tenha se mostrado entusiasmada com a proposta de estudar matemática partindo de um tema com referência na realidade, apenas um dos alunos levou a bula solicitada, refletindo a falta de hábito que os alunos tinham em trazer material para as aulas. Porém, precavidamente, o estagiário levou algumas bulas, o que possibilitou o estudo planejado. 5

Um texto sobre automedicação, cujo título foi: Automedicação mata 20 mil por ano no Brasil, foi amplamente discutido entre estagiário, professora e alunos, destacandose a seriedade do tema, seus riscos e suas implicações para a saúde. Os alunos, divididos em grupos, passaram a analisar bulas de diferentes medicamentos, identificando e conceituando a meia vida de um medicamento. A partir desse estudo algumas situações surgiram e foram resolvidas através da análise da bula de medicamentos, que serão apresentadas resumidamente, a seguir, a partir dos registros de um dos grupos de alunos. A primeira situação-problema elaborada: Qual o tempo necessário para o organismo humano eliminar completamente a droga ingerida em um comprimido de 50 mg do medicamento, sabendo que a meia vida reside entre 6 horas? Após as discussões, levantamento de hipóteses e alguns cálculos, os alunos construíram tabelas, tal como: Tabela 1_Quantidade do medicamento no organismo, em função do tempo, t, em horas: t 0 6 12 18 24 30 36 Mr(t) 50 25 12,5 6,25 3,125 1,563 0,781 Onde Mr(t) representa a quantidade de medicamento no organismo, em miligramas, em função do tempo, t, em horas. A partir da organização dos dados obtidos, um modelo matemático para a quantidade de medicamento residual no organismo humano, dado um comprimido de 50mg com meia vida de 6 horas, foi construído: Mr(t) = 50. 1 t 6 2 Foram momentos de muita riqueza nas discussões, compartilhamento de ideias e construção de conhecimentos. Os alunos não identificaram o momento exato de eliminação total do medicamento do organismo humano, o que despertou curiosidades, identificadas 6

em expressões, tal como: (...) está infinitamente próximo ao zero, mas sem chegar a zero.... Os alunos fizeram a representação gráfica da situação em seus cadernos e usando o Excel, conforme figura1, abaixo: medicamento residual de uma dose 60 50 40 30 20 10 0 0 6 12 18 24 30 36 medicamento residual de uma dose Figura 1: Valor residual de uma dose de 50 mg do medicamento no organismo humano. Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2002, p. 89) as planilhas eletrônicas, mesmo não sendo ferramentas que não foram pensadas para propósitos educativos, também podem ser utilizadas como recursos tecnológicos úteis à aprendizagem matemática, o que pôde ser constatado pelo estagiário. Durante as aulas o estagiário e a sua professora supervisora interagiram com os grupos, orientando o trabalho enquanto os alunos participavam ativamente das construções. Desta forma, outra situação-problema surgiu: Posteriormente, os grupos resolveram a situação-problema: Considerando o medicamento em estudo, de 50mg, de uso continuado, de 6 em 6 horas, qual a quantidade residual permanece no organismo humano após 24 horas? E após 48 horas? Há um acúmulo em excesso no organismo quando o medicamento é de uso contínuo? Novamente, sob a orientação da professora supervisora e do estagiário, os alunos realizaram inúmeros cálculos, construíram tabelas, gráficos e o modelo matemático que descreve o valor residual de medicamento acumulado no organismo humano, em função do tempo, em horas, foi elaborado: Mr(t) = 1 50. 2 2 t 6 7

A quantidade do valor residual do medicamento de 50mg no organismo humano, cuja meia vida era de 6 horas, usando o Excel, foi representada através de gráfico, conforme figura abaixo: Mr acumulado no organismo 120 100 80 60 40 20 0 0 6 12 18 24 30 36 Mr acumulado no organismo Figura 2: Valor residual do medicamento de 50 mg no organismo humano, com uso contínuo a cada 6horas. Os alunos estudaram a sistemática de acúmulo residual dos medicamentos, percebendo uma tendência de estabilização em 100mg no momento em que era ingerido um novo comprimido de 50mg,. Tais atividades viabilizaram momentos de reflexões, pesquisas e discussões sobre automedicação e meia vida de medicamentos, bem como sobre a utilidade da matemática em situações reais. Os conhecimentos construídos foram enriquecidos com o uso de novas tecnologias, para a representação e interpretação dos modelos construídos. Através da resolução das situações-problema os alunos foram incentivados a estudar função exponencial, como ferramenta para interpretação de informações com referência na realidade. 3.1.3 Redação do artigo científico A escolha da metodologia da modelagem matemática para as atividades de estágio transpareceram o interesse do estudante sobre o assunto, despertado na disciplina oferecida pelo curso, no semestre anterior. Esse fato evidencia as importantes relações existentes entre as disciplinas que integram a formação do professor. O trabalho realizado pelo estudante ilustrou a modelagem matemática como meio para enfatizar a participação dos alunos na elaboração 8

das atividades e na percepção da matemática na dinâmica de eliminação e acúmulo de medicação no organismo humano. As atividades de estágio culminaram com a redação final de um artigo científico que apresentou as atividades desenvolvidas, bem como o relato das observações e as considerações finais quanto às percepções do aluno estagiário sobre as atividades desenvolvidas e as reações dos alunos. No artigo o estudante relatou suas considerações positivas quanto à adoção da modelagem matemática como contribuinte para a melhoria da aprendizagem dos conteúdos estudados e referenciou algumas dificuldades enfrentadas A escrita do artigo esteve pautada em leituras pertinentes à educação, modelagem e automedicação, que contribuíram para a construção dos conhecimentos do estagiário enquanto pesquisador, oportunizando a publicação de seu trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao executar uma pesquisa visando contribuir para a melhoria da aprendizagem dos conteúdos, as atividades oportunizaram ao estagiário a percepção dos conhecimentos matemáticos como ferramentas para seus alunos, não apenas para a resolução das situações-problema elaboradas, mas para a interpretação, em outras posteriores, que levarão a diferentes significados em suas vidas. Além do projeto e execução da pesquisa e da elaboração do artigo, o estagiário participou, através de uma comunicação oral, no simpósio de ensino, pesquisa e extensão, promovido pela instituição, compartilhando suas experiências com os demais acadêmicos e professores. Ainda, ao final do semestre letivo, realizou-se um encontro de todos os alunos do curso para que os estagiários expusessem seus resultados para colegas e professores da instituição. Oportunidade em que o estudante apresentou sua pesquisa e salientou o seu crescimento através da realização do estágio e a importância do mesmo para sua formação profissional. As atividades que envolveram as experiências de estágio curricular supervisionado oportunizaram pesquisas e reflexões sobre a prática docente, ultrapassando a concepção do estágio como forma de observação e realização de prática pedagógica, viabilizando uma 9

formação do professor pesquisador, reflexivo e crítico, tão importante para a conquista da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Por meio dos estágios, assim organizados, é possível promover a reflexão através da prática e da escrita, sobre a atuação pedagógica, contribuindo para a construção de uma postura investigativa, desencadeando um processo contínuo de formação do futuro professor. Evidencia-se, ainda, a ideia de João Frederico Meyer, ao prefaciar a obra organizada por Barbosa, Caldeira e Araújo: De modo inevitável continua a questão que se coloca de modo subjacente: a de aprender e ensinar Matemática de modo a, compreendendo o mundo, ter como interferir na História com o saber e com o conseguir-fazer que a Educação proporciona (Barbosa, J. C.; Caldeira, A.D.; Araújo, J. De L., 2007, p. 13). Os desafios da mudança são evidentes e precisam ser superados com mudanças práticas na formação inicial do professor, para a conquista de uma melhoria da qualidade da educação, por uma sociedade mais justa, humana e feliz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Jonei Cerqueira; CALDEIRA, Ademir Donizeti; ARAÚJO, Jussara de Loiola. (org.). Modelagem Matemática na Educação Matemática Brasileira: pesquisas e práticas educacionais. (Biblioteca do Educador Matemático, v. 3).Recife: SBEM, 2007. BASSANEZI, Rodney Carlos. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática:. São Paulo: Contexto,2002. BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. V. 2. Ciências da Natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica, 2006.. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: Ministério da Educação, 1999. PÉREZ GÓMEZ, I. P. A função e formação do professor/a no ensino para a compreensão: diferentes perspectivas. In: SACRISTÁN,J.G.; PÉREZ GÓMEZ, A.I. Compreender e transformar o ensino. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. LIMA, Elon Lages. Matemática e ensino. (Coleção do professor de matemática. V. 16.). Rio de Janeiro : SBM, 2001. SKOVSMOSE, Ole. Educação matemática crítica: A questão da democracia. (Coleção Perspectivas em Educação Matemática - SBEM) Campinas, SP : Papirus, 3.ed., 2006. 10