Mapeamento do Artesanato em Cerâmica do Espaço Mauriti Cabo de Santo Agostinho - PE



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Transcrição:

Mapeamento do Artesanato em Cerâmica do Espaço Mauriti Cabo de Santo Agostinho - PE PROJETO CULTURAL 1564/13 PRODUTOR CULTURAL: TIBÉRIO TABOSA

RELATÓRIO DA PESQUISA Mapeamento do Artesanato em Cerâmica do Espaço Mauriti Cabo de Santo Agostinho - PE PROJETO CULTURAL 1564/13 PRODUTOR CULTURAL: TIBÉRIO TABOSA Recife, Dezembro de 2014

Sumário 1. Dados Gerais 1.1. Apresentação 1.2. Objetivos da Pesquisa 1.3. Metodologia da Pesquisa 1.4. Equipe Técnica 2. Meta 1. Levantamento dos principais mestres e artesãos e suas técnicas tradicionais 2.1. Contextualização histórico-geográfica do Cabo de Santo Agostinho 2.2. O Processo de Formação da Cerâmica Artesanal no Cabo: revisão sobre a história de constituição do Espaço Mauriti 2.3. Os Mestres Ceramistas entrevistados 2.3.1. Seu Celé 2.3.2. Seu Deó 2.3.3. Nena 2.4. As técnicas de produção 2.4.1. Extração e preparação de matéria-prima 2.4.2. Modelagem 2.4.3. Queima 2.4.4. Peças históricas 2.5. Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior 2.6. Trajetória histórica da Cerâmica Cabo 2.7. Transformações do Espaço Mauriti 2.7.1. Casa da maromba e estoque de barro 2.7.2. Forno de Seu Celé 2.7.3. Galpão de Seu Celé 2.7.4. Demais galpões 3. Sistematização da Informação 3.1. Memória Histórica 3.2. Pesquisa ação e os Modos de Fazer 3.3. Captura de Imagem e Sons 3.4. Os Conteúdos Finais Registrados e Disponibilizados 4. Considerações Finais 5. Bibliografia 6. Apêndices Apêndice A. Transcrição de Entrevista

Apêndice B. Transcrição de Entrevista Apêndice C. Transcrição de Entrevista Apêndice D. Transcrição de Entrevista Apêndice E. Transcrição de Entrevista Apêndice F. Vídeo de entrevistas com mestres artesãos

Agradecimentos A delicada tarefa da recuperação de patrimônio imaterial na linguagem artesanato envolve gente criativa e sensível, que se comunica através de seus discursos, tanto os verbais quanto os manuais. Estes foram dados de forma espontânea e livre, nos cabendo agora agradecer aos mestres pelo desprendimento e reiteradas manifestações de dádiva. Ao Seu Celé, Deó, Nena e tantos outros que nos permitiram contar suas histórias, o nosso muito obrigado. A equipe de pesquisadores

1. Dados Gerais 1.1. Apresentação Este documento apresenta ao Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Sistema de Incentivo à Cultura, o resultado da pesquisa fomentada pelo projeto cultural Mapeamento do Artesanato em Cerâmica do Espaço Mauriti Cabo de Santo Agostinho - PE. A pesquisa se propôs a realizar o mapeamento, a recuperação e disponibilização da história do artesanato em cerâmica do Espaço Mauriti, que está localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, no Estado de Pernambuco e teve como foco os principais eventos emblemáticos ocorridos ao longo do tempo a partir do relato dos mestres artesãos de maior representatividade do local sobre o processo de formação do núcleo produtivo e suas técnicas tradicionais. O projeto propôs quatro metas: Levantamento dos principais mestres e artesãos e suas técnicas tradicionais; Registro da história de constituição do espaço em documento digital; Registro das formas das técnicas e do fazer tradicional em cerâmica artesanal em documento digital; e Disponibilização das informações para o público em geral e pesquisadores do assunto. As três últimas metas tratam do material audiovisual e da distribuição de todo o material pesquisado, que serão veiculados de forma online no site do Laboratório O Imaginário e disponibilizado à Fundarpe para divulgação digital. 1.2. Objetivos da Pesquisa A pesquisa teve como objetivos: Geral Mapear, recuperar e disponibilizar a história do artesanato em cerâmica do Espaço Mauriti, localizado no município do Cabo de Santo Agostinho PE, a partir da pesquisa sobre os eventos emblemáticos ocorridos ao longo do tempo, a memória de mestres/artesãos representativos do local e o levantamento de suas técnicas tradicionais de produção. Específicos Realizar levantamento e registro da história oral a partir da identificação de mestres e artesãos do Espaço Mauriti; Pesquisar e registrar o processo de produção artesanal em cerâmica, especialmente o fazer tradicional; Organizar e disponibilizar a história da produção artesanal em cerâmica dos mestres e oleiros Espaço Mauriti;

1.3. Metodologia da Pesquisa Para condução de pesquisa, foram definidas metas e estratégias metodológicas contendo: META 1 - Levantamento dos principais mestres e artesãos (pelo menos 03 três) e suas técnicas tradicionais Etapa 01 Rastrear através de acervos públicos os principais mestres da história do artesanato do Cabo de Santo Agostinho, especificamente do espaço Mauriti; Etapa 02 Identificar os mestres do Cabo e suas técnicas tradicionais de produção; Etapa 03 Selecionar os mestres do espaço Mauriti que contribuíram para a formação da história do lugar; Tipos e estratégias de pesquisa: Pesquisa bibliográfica (livros, artigos e periódicos especializados); Pesquisa documental (arquivos, instituições, etc.); Pesquisa de campo (observação direta e entrevistas). META 2 - Registro da história de constituição do espaço em documento digital (áudio e vídeo) Etapa 04 Levantar a história dos mestres e seu legado; Etapa 05 Registrar, por meio de registro oral e por imagem, as histórias dos mestres e do lugar; Tipos e estratégias de pesquisa: Pesquisa ou estudo de campo (observação direta e entrevistas); Registro em áudio e vídeo; META 3 - Registro das formas das técnicas e fazer tradicional em cerâmica artesanal em documento digital (áudio e vídeo) Etapa 06 Levantar através de registro oral e por imagem as técnicas de produção artesanal dos mestres e seu legado; Etapa 07 Registrar o fazer artesanal e suas técnicas de produção; Tipos e estratégias de pesquisa: Pesquisa ou estudo de campo (observação direta e entrevistas); Registro fotográfico e em vídeo; Pesquisa-ação (análise da tarefa). META 4 - Disponibilização das informações para o público em geral e pesquisadores do assunto Etapa 08 Sistematização das informações; Etapa 09 Redação do relatório; Etapa 10 Disponibilização do relatório em formato digital.

1.4. Equipe Técnica Produtor Executivo Tibério César Macêdo Tabosa Pesquisadores Tibério César Macêdo Tabosa Ana Maria Queiroz de Andrade Virginia Pereira Cavalcanti Pesquisadores Júniores Erimar José Dias e Cordeiro Ana Carolina dos Reis Silva Vinícius Simões Botelho Felipe Rodrigues Soares Mariana Souza Melo Danyelle do Nascimento Marques

2. Meta 1. Levantamento dos principais mestres e artesãos e suas técnicas tradicionais

Para a realização da pesquisa, que se caracteriza como um estudo de caso, foram utilizadas basicamente três técnicas de pesquisa: A Documentação (coleta de documentos) é uma fonte de coleta restrita a documentos sendo de suma importância ao estudo de caso, pois pode ser útil a todos os tópicos e assumir muitas formas: cartas, memorandos, fotografias, entre outros. Os documentos adquiridos auxiliaram no processo de aquisição das informações e imagens sobre os aspectos culturais, enfocando a história. A Entrevista é uma das mais importantes informações para o estudo de caso. Definida como um procedimento interrogativo, trata-se do encontro entre duas pessoas, entrevistado e entrevistador, para que o entrevistador obtenha informações sobre determinado assunto. Para essa pesquisa foram utilizadas entrevistas não-estruturadas, por meio de questionários e gravações. A Observação direta se referente à observação realizada diretamente no local investigado, sendo úteis para fornecer informações adicionais em ocasiões em que se está coletando outras evidências. A observação direta esteve presente em todos os momentos pesquisados junto à comunidade, auxiliando no registro das informações de cada etapa. O conjunto das informações, após análise crítica, foi organizado em sete itens principais: contextualização histórico-geográfica do Cabo de Santo Agostinho; processo de formação da Cerâmica Artesanal no Cabo; os mestres ceramistas; as técnicas tradicionais; o Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior; a linha do tempo da Cerâmica Artesanal; as transformações do espaço Mauriti; e a sistematização das informações. Muito embora a proposição inicial da pesquisa tenha sido a de reconstituir a história do Espaço Mauriti, contada pelos seus principais mestres artesãos, a pesquisa não ficaria completa se não se tratasse também de incluir o novo momento de (re)territorialização da Cerâmica Artesanal do Cabo, agora no Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior. Por esse motivo, também dedicamos um item para descrever os primeiros anos de atividade do Centro e os mestres artesãos envolvidos nesse processo. 2.1. Contextualização histórico-geográfica do Cabo de Santo Agostinho A região do Cabo de Santo Agostinho e conhecida não só pelo seu litoral composto por belas praias, mas também pela sua rica história que remete também aos tempos de engenhos. A história do Cabo também tem relação com inúmeras batalhas, onde índios, de etnia Caetés, negros africanos, escravos de usinas de engenhos, portugueses, espanhóis e holandeses, lutaram em defesa da cultura e soberania do lugar. A economia era centrada no desenvolvimento da monocultura da cana-de-açúcar, posteriormente surgem novos engenhos e o Cabo passa a representar o poderio econômico da Província de Pernambuco (LIRA, 2007). Geograficamente, o Cabo de Santo Agostinho está localizado na região metropolitana do Recife. A 33 km da capital de Pernambuco, seus limites são, Moreno e Jaboatão dos Guararapes ao norte; ao sul, Ipojuca e Escada, a leste, o oceano Atlântico; e a oeste, Vitória de Santo Antão; e sua população é de 169.229 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). A sua área urbana é composta pela sede e os núcleos urbanos dos distritos e a área rural é constituída por engenhos, pequenas propriedades e latifúndios. O município do Cabo de Santo Agostinho congrega atrativos turísticos e potencialidades econômicas que repercutem no desenvolvimento de todo o Estado, no entanto, mesmo com todo esse potencial o município apresenta índices que apontam a necessidade de geração de emprego e renda. Economicamente, o Cabo se beneficia da localização geográfica, de uma infraestrutura ferroviária, rodoviária e principalmente do Porto de Suape, para se estabelecer como o maior polo

industrial de Pernambuco e um dos mais importantes complexos portuários do país. O Complexo Industrial e Portuário de Suape, situado nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, e a única entrada e saída naval para toda a Região Nordeste. Isso se torna um atrativo para empresas interessadas em colocar seus produtos no mercado regional ou exportar para outros países. 2.2. O Processo de Formação da Cerâmica Artesanal no Cabo: revisão sobre a história de constituição do Espaço Mauriti Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio (2007), cerca de 8,5 milhões de pessoas trabalham com a atividade artesanal e aproximadamente 28 bilhões por ano são movimentados pelo artesanato no Brasil. Parte dessa contribuição vem da região nordeste, na qual um grande contingente da população tem no artesanato a sua única fonte de renda. Em Pernambuco, a produção artesanal alcança um total de 75 mil pessoas e envolve localidades com baixos índices de desenvolvimento humano. A produção de cerâmica no Cabo de Santo Agostinho é uma das atividades que remonta aos tempos da colonização, mas a atividade artesanal no município conta também com uma grande variedade de matérias-primas, como argila, coco, couro, tecido, papel e madeira. No caso do artesanato cerâmico, as jazidas existentes na região, oriundas da formação geológica vulcânica, foram um importante elemento mobilizador. Durante séculos, as olarias de propriedade dos engenhos produziram apenas tijolos e telhas para atender, exclusivamente, às necessidades internas da principal atividade econômica da zona da mata sul de Pernambuco. Os utilitários como panelas e potes eram fabricados para engenhos como o Massangana em modelagem manual, ou seja, sem o auxílio do torno. A história da produção cerâmica do Cabo ganha força quando essas olarias se tornaram independentes dos engenhos e começar a produzir os produtos para comercializar na região. Com o passar do tempo, essas olarias confeccionaram moringas, jarras, panelas, potes, alguidares e pratos de curau. Um contexto deste início das olarias no Cabo é descrito por Lira, 2007: Nessa época, havia poucas olarias, segundo rememoram os mais velhos: a olaria de Sindo, Manuel da Paz e Eliote rio Nascimento Paz; e a olaria de um portugue s chamado Henrique Almeida, que produzia apenas manilhas de barro. As terras onde existiram essas olarias pertenciam ao Engenho Igarapu, que fazia parte da Usina Santa Ina cia, onde hoje se encontram as olarias de Celestino e Zeze, entre outras. Aprendiz na olaria de José do Nascimento, Celestino José Mota Filho, filho de Celestino José Mota e Josefa Maria Mota, que futuramente seria conhecido como Seu Celé, iniciava os primeiros passos no universo da cerâmica artesanal nos anos 50. Era o local de trabalho também de Abiud Trajano e Clementino Cândido. Seu Celé viria a se tornar o criador do que é hoje conhecido como Espaço Mauriti. O Espaço Mauriti começa a se constituir como território de produção da cerâmica artesanal do Cabo quando Seu Celé, em janeiro de 1971, retorna de Limoeiro do Norte Ceará. Após residir por dois anos acompanhado de seu pai e toda a sua família, Seu Celé se estabelece numa antiga vacaria, que é transformada em galpão, abrindo assim a primeira olaria do local. Pouco tempo depois o seu pai também retornaria do Ceará e se incorporaria ao negócio.

Figura 1. Área aproximada do terreno adquirido para construção da olaria. Fonte: Google Maps, 2012 Seu Celé passa a ser um disseminador da técnica e apoiador da iniciativa de outros moradores locais na instalação de olarias. Já no final da década de 70 e início de 80, a produção cerâmica do Cabo atinge seu auge com duas dezenas de unidades produtivas instaladas e funcionando no local e uma variedade de produtos que iam desde telhas e tijolos, objetos utilitários, tais como moringa e filtro de água, até objetos decorativos. Figura 2. Filtros em produção massiva. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004 A produção estava crescente e apenas a cerâmica do Seu Celé e seu pai ocupava um espaço de mais de mil metros quadrados, empregado em seu ápice 56 pessoas, entre oleiros, ajudantes, carregadores e motoristas. Entretanto, começaram a acontecer uma série de problemas relacionados com o fornecimento do barro, pela apropriação das terras onde ficavam as jazidas de

barro pela administração de Suape 1, que iniciava a reserva de áreas para sua utilização no complexo portuário, e também pela proibição do uso de lenha nativa pelo IBAMA. Isto afetou muitos dos produtores e reduziu a produção. Apenas alguns poucos permaneceram, suportados, na sua maioria, pelas redes familiares centralizadas em Seu Celé. A figura abaixo, adaptada de Lira,2007, ilustra o cenário no início dos anos 2000: Figura 3. Diagrama das redes entre os oleiros. Este estado de fragilização demandou a criação de um ente jurídico para reverter a situação de acesso ao barro, de modo de que foi criada, em 1985, a Associação dos Ceramistas e Artesãos do Cabo, cujo primeiro presidente foi o Seu Celé. O objetivo primário era a organização dos produtores para formalização da retirada do barro em terras administradas por Suape, o que veio a ocorrer inicialmente com um contrato de comodato de uso de uma área específica por 10 anos e foi renovado por períodos distintos e descontínuos até meados de 2014, quando a área em que a boas jazidas já foram vendidas a novas empresas. Essa ainda é uma questão delicada e em busca de solução, uma vez que a extração da argila deve envolver necessariamente um planejamento de manejo sustentável do processo. Já a substituição do uso da lenha nativa ocorreu com o uso de refugo e retraços de madeira de construção, abundantes na área em função do grande crescimento de edificações do entorno. 1 O Complexo Industrial Portuário de Suape é detentor do porto de mesmo nome e das terras adjacentes, onde foram instaladas diversas empresas e indústrias. Também compete à sua administração a demarcação das propriedades pré-existentes para conter o crescimento e a conservação ambiental na sua área de abrangência.

No entanto, a partir da década de 1990, a demanda pela produção começou a decrescer. A qualidade das peças já não condizia com os padrões estabelecidos pelo mercado e a escassez de novos produtos dificultava a manutenção das vendas. Fonte geradora de emprego e renda para muitas famílias, muitas olarias fecharam as portas. A situação só foi alterada a partir de 2003, quando o Laboratório O Imaginário, em parceria com o Sebrae, definiu junto aos artesãos e outros parceiros uma estratégia de ação que fortalecesse a produção artesanal da cerâmica utilitária no Cabo de Santo Agostinho. As ações para melhorias no desenvolvimento de produtos, nos processos de produção e no apoio a comunicação e a comercialização das peças cerâmicas artesanais, mobilizaram esforços de empresas, instituições e da comunidade que valorizaram a atividade artesanal no Cabo de Santo Agostinho. A materialização desse esforço se concretizou no ano de 2007 quando foi construído, pela Prefeitura do Município, o Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior, melhor detalhado no item [2.5. Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior], espaço localizado às margens da PE-60, perimetral de circulação turística do estado, e que favorecia a passagem da rede de gás natural, com o objetivo de abrigar um forno a gás e ser também um centro de treinamento. No que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos e a diminuição do uso de recursos naturais, a estratégia foi manter a técnica e direcionar a um mercado cujo valor agregado é percebido. A ampliação do portfólio de produtos ofertados para diferentes segmentos de mercado geraram maiores oportunidades de venda e rentabilidade para os artesãos. Em maior número e com melhor organização, estes tiveram a oportunidade de concretizar pedidos maiores e divulgarem os trabalhos de forma mais eficiente. Tais ações, aliadas ao novo espaço, convergiram em premiações, como o Top 100 Sebrae obtidos nos anos de 2009 e 2012. Figura 4. Artesãos Nena e Andrea (esquerda e centro) com o troféu do Top 100 Sebrae de 2012, ao lado da também ganhadora Maria Adélia, do Artesanato Cana-bravo. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2012 O Centro de Produção Artesanal, no entanto, não substituiu o Mauriti, que continuou abrigando ainda muitos oleiros e mestres artesãos. Ao longo dos anos de 2013 e 2014, uma grande e emblemática parte do espaço Mauriti foi desativada e transformado em campo de futebol e garagens, conforme está descrito no item [2.7. Transformações do Espaço].

2.3. Os Mestres Ceramistas entrevistados Os fazeres e as técnicas da atividade cerâmica da comunidade tradicional artesanal do Espaço Mauriti estão comprometidos pelo não repasse às novas gerações. Esse rico patrimônio imaterial precisa e deve ser preservado. A preservação do patrimônio cultural imaterial fortalece as referências culturais dos grupos sociais em sua heterogeneidade e complexidade. É necessário então, selecionar um conjunto de mestres artesãos que detenham os saberes e as técnicas necessários para a produção e a preservação dos aspectos dessa forma de expressão da cultura tradicional. (AMORIM, 2014) Segundo Fisher e Soares (2010), é atribuída a condição de mestre artesão àquele(a) que possui os conhecimentos e as técnicas necessárias para a produção, preservação e repasse das artes e ofícios enraizados no cotidiano de sua comunidade, sendo reconhecido no local onde vivem e por outros setores culturais. A transmissão desses conhecimentos formais e tácitos, valores, técnicas e habilidades possibilita a assimilação, acesso e difusão dos diversos saberes, memórias e histórias presentes na construção dos discursos da linguagem artesanato. Para a escolha dos mestres artesãos capazes de revelar o simbólico, o real e a aptidão manual do universo produtivo da cerâmica artesanal do Espaço Mauriti, optamos por fazer inicialmente uma pesquisa com os próprios artesãos da área, na busca da identificação dos que sejam considerados mais representativos. O único requisito foi de que estivessem vivos e em condições de nos oferecer seus depoimentos. Nessa primeira abordagem, chegamos a uma lista de nove nomes. Em paralelo fizemos uma compilação para construção de uma lista de nomes baseada em nossa experiência de trabalho na área, das observações feitas durante a pesquisa e de algumas indicações existentes na documentação e na bibliografia disponível, basicamente catálogo de feiras, exposições, indicações para premiações e menções em livros. Em seguida a equipe de pesquisadores analisou as indicações dos artesãos dentro dos critérios de validação definidos para a caracterização de um mestre artesão apta para suportar o processo de preservação do patrimônio imaterial. Conhecimento dos saberes e das técnicas tradicionais; Estilo próprio; Reconhecimento público e pela própria comunidade; Capacidade de transmitir saberes e técnicas; Seguidores e aprendizes formados ao longo da carreira; Disponibilidade para gravar depoimentos e confeccionar algum artefato cerâmico Ao final do processo fizemos a confrontação com a lista que havíamos previamente construído, resultando ao final do processo de convergência a seleção de três mestres artesãos para uma série de entrevistas para coleta de informações históricas, acerca das pessoas, do lugar e dos modos de fazer, que foram registradas em fotos, áudio de vídeo. Os mestres escolhidos foram: Seu Celé, Deó e Nena, cujos perfis são apresentados a seguir:

Figura 5. Realização das entrevistas com os mestres artesãos. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 2.3.1. Seu Celé Figura 6. Celestino José Mota Filho Seu Celé. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004 Nascido no Cabo em 20 de fevereiro de 1939, este é o representante vivo mais importante para contar a história do Mauriti. Celestino José Mota Filho, mais comumente chamado de Seu Celé, foi o iniciador da cerâmica na localidade do Mauriti, juntamente com seu pai, Celestino José Mota. Tal é a importância deles que, no hoje conhecido bairro Mauriti, uma rua leva o nome de Celestino José Mota, falecido em 1981. Figura 7. Correspondência com o nome da rua: Celestino José Mota. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014

Figura 8. Rua Celestino José Mota, Bairro Mauriti. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 Além da visão empreendedora de montar uma olaria com dezenas de pessoas nas diversas etapas de produção, Seu Celé é também um hábil oleiro para transformar o barro bruto e peças bem acabadas. Conta que começou a trabalhar na olaria de José do Nascimento, conhecido como Zezé, aos 11 anos de idade, onde ajudava a burnir a cerâmica (um tipo de polimento na cerâmica, antes de queimar, para dar um aspecto menos rústico). No final da década de 60, seu pai resolveu se mudar para o Ceará com toda a família. No Ceará, morou por cerca de dois anos, em Fortaleza e depois foi em Limoeiro do Norte; mas devido à esposa não ter se adaptado ao clima, Seu Celé voltou para o Cabo, onde comprou um galpão e abriu a pequena olaria que anos mais tarde se tornaria um bairro. Figura 9. Documentos de compra do local. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 A partir de sua olaria, outras foram surgindo, pois Seu Celé passou a ensinar a várias pessoas do local a trabalhar com o barro na produção de utilitários e objetos de ornamentação. Assim, foi vendendo alguns lotes, doando outros e várias residências se instalaram no local. Foi então que seu pai retornou do Ceará e se incorporou ao negócio, o empreendimento cresceu e chegou a ter 56 funcionários e ocupar uma área de mil metros quadrados.

Sua personalidade e suas habilidades o credenciam como mestre artesão principal da comunidade do Mauriti e lhe institucionalizam como líder. Funda em 1985 e é o primeiro presidente da Associação do Ceramistas do Cabo. Continua influenciando na comunidade e foi um dos incentivadores da construção do projeto coletivo do Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior, que tem como um dos objetivos a preservação do legado histórico e identitário do Mauriti. Em virtude da idade e por dar acompanhamento à esposa convalescente, Seu Celé quase não opera mais o torno, por falta de tempo, embora ainda mantenha a mesma habilidade e capricho que sempre foram sua marca. Uma de suas peças, batizada de Petisqueira Celé, é hoje continuada por outros artesãos, como Nena. Seu Celé é um mestre artesão com finas habilidades, autor de peças emblemáticas, reconhecidas e premiadas inclusive no exterior conforme pode ser observado no diagrama apresentado a seguir, transposto de SILVA, 2009: Figura 10. Diagrama das peças produzidas por Seu Celé ao longo do tempo. Fonte: Silva, 2009 Figura 11. Petisqueira Celé peça mais emblemática da produção recente de Celé. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004

2.3.2. Seu Deó Figura 12. Deoclécio José Mariano Deó. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006 Deoclécio José Mariano, apelidado de Deó, nascido em 03 de junho de 1945, conta que começou a trabalhar com barro por volta dos 14 anos, aprendendo com o pai, Severino José Mariano, fazendo panelas. Já fez peças de cerâmica em Escada, Amaragi, Primavera, entre outras cidades antes de se fixar no Cabo na década de 70. Aliás, o convite para vir trabalhar no Mauriti veio do pai de Seu Celé, que o conheceu na feira de Ribeirão, vendendo panelas de barro. Deó já chegou no Mauriti com o status de oleiro, não precisando passar pelas funções de ajudante, pois já conhecia o processo. Depois de ter trabalhado com e para Seu Celé por quase 30 anos, Deó hoje ainda mantém dois tornos e um forno em casa, mas com data certa para desativar. Pensa em como conciliar um bem merecido descanso com o hábito de estar sempre produzindo. Deó é um mestre artesão que gostaria de ter mais tempo para desenvolver o seu lado criativo, que pelas contingências da vida foi dificultado pela pressão da produção em série de peças demandadas pelo mercado massivo. Apresentamos a seguir algumas peças emblemática da produção de Deó: Figura 13. Peças produzidas mais recentemente por Seu Deó. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006

2.3.3. Nena Figura 14. Severino Antônio de Lima - Nena. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006 Severino Antônio de Lima nasceu em 15 de junho de 1964 e ganhou a alcunha de Nena desde muito jovem e assim ficou conhecido. Cresceu em meio à olaria de Seu Celé, onde perambulava desde garotinho e passou por todas as fases da formação de um oleiro: de curioso a ajudante, de burnidor a oleiro. Já fez tijolo, telha e depois passou a fazer peças mais elaboradas, como quartinhas, alguidares e vasos, sempre trabalhando com Clebe Mota, o irmão de Seu Celé. Talvez por ser um dos artesãos mais novos que tenham trabalhado como oleiro, Nena é um dos poucos que ainda continua em plena produção, mas dedicado prioritariamente às peças utilitárias e decorativas de valor agregado. É um mestre artesão com grande potencialidade criativa e que apresenta características importantes desta categoria. Gosta de experimentar, é observador das reações de seus consumidores, colabora com seus pares, gosta de ensinar e tem o artesanato como profissão assumida em tempo total desde muito jovem. Tem seu trabalho e estilo já reconhecido por especialistas que fazem pedidos e solicitação de projetos especiais com muita frequência; dentre as mais recentes, estão os vasos transformados em luminárias para decoração formulada pelo arquiteto Carlos Augusto Lira para o projeto do Centro do Artesanato de Pernambuco, inaugurado em 2012. Tem um amplo portfólio de artefatos do qual se apresenta uma representação a seguir:

Figura 15. Peças produzidas mais recentemente por Nena. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006 Figura 16. Ovos de Páscoa, produzidos como ação promocional. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2012

2.4. As técnicas de produção 2.4.1. Extração e preparação de matéria-prima A retirada de argila das jazidas nunca foi uma constante para o grupo de ceramistas. Já foi doada, vendida, e regularizada por favores políticos. Foi a causa da criação da Associação dos Ceramistas e Artesãos do Cabo de Santo Agostinho, em março de 1985, por orientação do então governador Roberto Magalhães. Uma das maiores dificuldades é que a melhor argila é a mais profunda, logo, é necessário a escavação das camadas mais superficiais. Como se trata de um grupo com menor grau de organização, nunca houve aquisição de maquinário para esta etapa, de modo de que todo o trabalho era feito com pás e enxadas. O transporte é feito por meio de caçambas de caminhão. Como unidade de medida, cada caminhão de barro era chamado de carrada, com cerca de 6 toneladas de argila. Durante o período das chuvas (de março a agosto), as condições de acesso à jazida e dela própria não favorecem a atividade, comprometendo o atendimento de pedidos e a qualidade das peças produzidas. Figura 17. Retirada manual da argila. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004 O processamento da argila era feito com os pe s, como os próprios artesãos chamam, pisando ou passando o barro. Nena conta que num galpão com teto baixo de madeira e piso de cimento, era espalhada areia para que a massa de barro não grudasse no chão. O passador de barro fazia então um exercício de força e equilíbrio, ao se equilibrar na pilha e forçar o espalhamento para em seguida recompor uma nova pilha e reiniciar o processo. Este espalhamento era feito pelo menos três vezes com cada porção de barro. Cada pisador processava em me dia 15 porções, que uma vez espalhada ocupavam cerca de 5 metros quadrados. O objetivo era de misturar o barro para homogeneizar a mistura.

Figura 18. Demonstração do processamento do barro sem maquinário. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 Dois artifícios eram usados nesses processo: o arame, que era passado esticado e de forma aleatória para retirada de pedaços de pedra, raízes e outros materiais indesejáveis; e o varão de ferro, usado para quebrar torrões de barro aglomerados que ficavam duros como pedra. Posteriormente foi adquirida/confeccionada uma máquina, chamada de maromba, que traz um resultado parecido, com um pouco menos de esforço. A máquina utiliza um motor, adaptado numa caixa de marcha de caminhão (para fazer a redução da velocidade e aumento da força) que movimenta um grande fuso, que faz a massa se compactar. Ainda assim, o barro era passado pelo menos três vezes na maromba para ficar misturado o bastante para ser usado no torno. Figura 19. Processamento do barro na maromba mecanizado. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004

2.4.2. Modelagem O processo de feitura das peças é feito tradicionalmente pela modelagem em tornos cerâmicos manuais improvisados, que posteriormente foram quase todos adaptados para uso de motor elétrico. Uma quantidade bastante reduzida de artesãos do local trabalhava com modelagem manual ou qualquer outra técnica. A operação no torno consiste em posicionar uma porção de argila no centro do prato giratório e, através de movimentos manuais, modelar a superfície da peça de revolução. Todavia, a manutenção da posição curvada e torcida do tronco frente ao torno pode provocar danos a coluna vertebral e aos músculos das costas. Figura 20. Artesão Clebe Mota trabalhando no torno. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004 Figura 21. Adaptação de motor ao torno mecânico. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2004

2.4.3. Queima A última etapa da produção é a queima, que é realizada em fornos em formato de torre, que queimam principalmente madeira. Esta madeira é proveniente normalmente de descarte de pallets e outras madeiras que são vendidas como lenha, também para padarias; mas no auge da produção foi utilizada muita madeira nativa, cortada sem o devido manejo. Os fornos são intermitentes, quer dizer, só se faz a queima mediante ter uma carga de peças de barro que preencha o forno. Como o controle da chama e feito no olho, a temperatura não e controlada nem homogênea. Com uso de cones pirométricos, a temperatura máxima medida foi de 650 C, o que em termos de cerâmica é considerado baixo. Acompanhar uma queima é um trabalho que exige dedicação, para fazer o aquecimento correto da temperatura, uma vez que utiliza de meia a uma caçamba de caminhão de madeira (dependendo do tamanho do forno) e cerca de 24 horas de queima, antes de deixar o fogo apagar e esperar o forno esfriar para retirar as peças. No alto do forno tem pequenas janelas ou espias como os artesãos chamam. Estas espias ajudam para saber a temperatura da câmara: quando todas as espiam ficam na cor de brasa, indica que a temperatura interna chegou ao nível desejado e o artesão já pode parar de abastecer com lenha e chama se extingue naturalmente. São necessárias cerca de 8 a 12 horas para esfriar e desenfornar o material. Seu Deó revela que tem que saber colocar as peças dentro do forno (enfornar), porque se não souber arrumar as peça dentro, vai quebrar muita peça. A peça não pode ficar em mau posição. Porque, se ela ficar em mau posição, quando queimar, ela quebra, entroncha, empena... O artesão Durval é o conhecedor da montagem dos fornos, tendo construído e reconstruído os fornos das olarias do Mauriti. O tamanho dos fornos é medido em quantos filtros bem colocados ele comporta. O maior forno das olarias era o que ficava próximo ao galpão de Seu Celé e comportava 800 filtros. Desde que cada artesão passou a trabalhar para si em pequenas unidades produtivas, existe a prática de compartilhamento de fornos em função da necessidade de cada um, ou seja, se existe uma quantidade de peças que precise ser queimada com rapidez, mas não preenchem o forno grande, o dono de um forno menor pode ceder espaço para esta queima. Figura 22. Durval Ferreira do Nascimento, artesão e montador de fornos; e Figura 23. Forno grande, junto à pilha de madeira. Fontes: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006

Figura 24. Forno pequeno. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006 Figura 25. Amontoado de madeira para ser usada como lenha. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006

2.4.4. Peças históricas Os artesãos relataram e se dispuseram a reproduzir algumas das peças históricas mais relevantes, como resgate e preservação de saberes. O artesão Nena conta que a quartinha de água era uma das peças mais difíceis, principalmente pelo bico fino e o corpo largo. Servia quase como uma prova de habilidade no torno. Figura 26. Alguidar (à esquerda) e caco de formiga (à direita). Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 Figura 27. Quartinha de água, fogareiro e panela de barro. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 Figura 28. Jarros descritos por Celé, Degrau (esq.), Apolo (centro) e Sino (dir.). Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014

2.5. Centro de Artesanato Arq. Wilson Campos Júnior Inicialmente com a demanda de instalar um forno a gás que atingisse maiores temperaturas, foi formatado um projeto para implementar um forno a gás. Diante dessas novas possibilidades foi negociada uma parceria encabeçada pelo Laboratório O Imaginário e o grupo de ceramistas com a Prefeitura do Cabo em 2005 para a construção de um novo Centro de Produção de Cerâmica Artesanal do Cabo. Para a execução das obras, em 2006, foram formadas parcerias com o Banco do Nordeste (aporte financeiro para construção do forno), Instituto Tecnológico de Pernambuco - ITEP (projeto do forno a gás), Prefeitura do Cabo (edificação do Centro) e Companhia Pernambucana de Gás - Copergás (instalação das redes de gás natural). O espaço de produção foi projetado para contemplar as etapas de modelagem, secagem, queima, esmaltação e estoque de produto acabado. Eventualmente também se tornou espaço de comercialização das peças e também espaço de treinamentos e reuniões. Figura 29. Construção do Centro de Artesanato. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2006 Um dos articuladores na prefeitura para cessão do terreno e autorização para as obras foi o então secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico e Ambiental, Wilson de Queiroz Campos Júnior. Infelizmente, ele faleceu durante uma viagem, vítima de um infarto em 12 de junho de 2007. Por seu empenho na edificação do centro, este foi inaugurado levando seu nome. Figura 30. Arquiteto Wilson de Queiroz Campos Júnior (esq.) e fachada do Centro. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2007 Em 2007, o Sebrae articulou que parte da Rodada de Negócios da Fenearte daquele ano fosse realizada levando os lojistas convidados a visitar os locais de produção. O recém criado Centro foi um destes locais. Neste dia, além da visitação e pedidos, houve uma demonstração de mestres artesãos fazendo peças no torno.

Figura 31. Rodada de negócios Sebrae. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2007 Em 2012, com aporte do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi adquirido um segundo forno a gás para aumentar a capacidade de produção. Figura 32. Segundo forno a gás instalado. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2012 No início de 2013, após novas parcerias com o Banco do Nordeste e com o Ministério da Ciência e Tecnologia, através do plano de criação de Centros Vocacionais Tecnológicos, foram adquiridas máquinas de processamento de argila de maior porte, que foram instaladas numa expansão do Centro.

Figura 33. Conjunto de esteira, laminador e maromba. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2013 Em meados de 2013, através de um incentivo do Funcultura, houve o primeiro treinamento voltado para a formação de novos artesãos, por meio do repasse promovido por um mestre, na ocasião foi o artesão Nena. Figura 34. Turma de treinamento realizada pelo incentivo Funcultura. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2013

No final de 2013 foi lançado oficialmente o patrocínio do Projeto Petrobras Desenvolvimento e Cidadania, com objetivo de geração de trabalho e renda com a cerâmica artesanal. Este foi um projeto estruturador foi realizado pelo Laboratório O Imaginário com duração de dois anos com recursos para equipe física constante, aquisição de equipamento permanentes, realização de treinamentos e material de consumo. Figura 35. Início do patrocínio Petrobras. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2013 Figura 36. Espaço de esmaltação de peças. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2013 Ao longo de 2014 novos participantes foram agregados ao Centro, novos equipamentos adquiridos e participações em feiras e desenvolvimento de produtos alavancaram as vendas.

Figura 37. Participação do Centro de Artesanato na XV Fenearte. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 Figura 38. Equipe fixa do Centro junto à equipe do Laboratório O Imaginário. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014

Figura 39. Fachada do Centro. Fonte: Acervo Laboratório O Imaginário, 2014 2.6. Trajetória histórica da Cerâmica Cabo Para análise da trajetória histórica do Espaço Mauriti e seus elementos interferentes, dentro da visão dialética, o que denominamos de Linha do Tempo fizemos uma adaptação da metodologia apresentada por Cardoso e Cunha (2005), um arcabouço teórico que denominaram de análise de trajetória aplicada a avaliação organizacional. Para eles, essa análise é o estudo sistematizado de um caminho percorrido no tempo; produz uma espécie de fotografia em movimento (nada mais que uma filmagem, observação dos pesquisadores) da história da organização e pode ser aplicado numa dimensão genérica, buscando ver a organização como um todo; ou específica, analisando a trajetória de uma área, de um projeto ou de um grupo dentro da organização. O uso da técnica consiste, basicamente, em caracterizar, num determinado segmento do tempo, os fatos e fenômenos mais importantes ligados à história que se pretende analisar. Como recurso formal, utiliza-se uma matriz de dupla entrada, chamada matriz da trajetória, na qual se cruzam os marco temporais e os fenômenos que se quer analisar. Os conteúdos das células da matriz são capturados através da análise crítica de discursos conseguidos via técnicas variadas, sendo a entrevista uma das mais utilizadas. Ao adaptar a técnica foram determinados intervalos de tempo e identificado fatos e fenômenos mais significativos. A construção da matriz da trajetória facilita o cruzamento dos dados e auxilia na visualização de fenômenos recorrentes, fatos isolados ou impactantes, ente outros aspectos que enriquecem a percepção e análise do grupo. Para nosso caso, vamos considerar os marcos temporais considerados relevantes, os que apareceram nas entrevistas não-estruturadas em repetição no nível de saturação, o que nos situou algumas décadas antes do início da abertura oficial das operações produtivas com cerâmica no Espaço Mauriti, que ocorreu no início de 1971 com a abertura da olaria do Seu Celé até o momento atual, quando está estabilizando um projeto produtivo de cerâmica com valor agregado no Centro de Artesanato, que por razões histórica e afetivas, está estritamente ligado ao Espaço Mauriti. Como fatos e fenômenos importantes, a prática da pesquisa e validação junto aos artesãos ao longo de todo o processo com entrevistas e reuniões, nos levou a considerar os fatos relevantes, os principais atores sociais individuais ou coletivos envolvidos, os impactos e resultados, o portfólio de produtos, as contradições e os problemas enfrentados e os modos de fazer e suas técnicas tradicionais. A Linha do Tempo construída para o Espaço Mauriti está apresentada a seguir:

Linha do tempo - Mauriti Marcos 1900-1949 1950-1975 1976-1985 1986-1990 1991-2006 2007-2008 2009-2014 Fatos relevantes Origem da cerâmica nos engenhos do Cabo Usina Santo Inácio (fornecimento de barro - 1940) Nascimento de Seu Celé (1944) Nascimento de Seu Deó (1945) Olaria de José do Nascimento (1950) Nascimento de Nena (1960) Montagem da olaria de Celé (1971). Expansão da cidade é proporcional a dificuldade de obtenção do barro Cerâmica de Zezé (José do Nascimento) no bairro de São Francisco Produção de filtros Chegada de Seu Deó ao Mauriti a convite de Seu Celé Filho (1975) Decadência do filtro (valor cobrado pelo filtro não justifica a produção) Chegada de Deó ao Mauriti (1980) Morte de Seu Celé (Pai) - 1981 Permissão para utilizar a olaria para produção de encomendas feitas individualmente ao artesão A escassez do barro (1983) Auge da olaria ceramica Mauriti (1984). Chegou a trabalhar com 56 pessoas (20 oleiros). Valorização do artesanato no Mercado O Artesanato (vasos para decoração) ganha força para equilibrar a decadência do filtro Crescimento dos intermediários Criação da Associação dos Ceramistas (1985) Sebrae - apoio a feiras e consultorias Incremento gradual da produção dos filtros Deixa de ser um Centro produtivo e passa a ter vários pequenos produtores (1993) Contrato: Sebrae / UFPE Imaginário para atuar no Cabo com oficinas de design e gestão (2003) Arrendamento da olaria de Celé para a produção de filtros (agregou boa parte dos artesãos) Problemas estruturais e ambientais (fumaça do forno) do Mauriti Apesar dos esforço a situação do fornecimento do barro é inconstante (Suape) O comércio de filtro representava, praticamente, a sobrevivência dos artesãos (2003/2004) Conforme documento da Associação, havia um total de 30 artesãos inscritos (2004) Operação do Centro de Artesanato Arquiteto Wilson Campos Júnior as margens da PE -60 (2007) Projeto Centro Vocacional Tecnológico Agravamento das questões ambientais e de acessibilidade no Mauriti. Desaceleração da produção do Mauriti Fornecimento precário do barro (Suape) Expansão Suape Redução significativa na produção do Mauriti (2012) Dificuldade do obtenção da matéria prima (suape, causas ambientais e transporte) Resistência dos ceramistas em utilizar o Centro de Artesanato Montagem projeto Petrobrás Início do projeto Petrobras no Centro de Artesanato Arquiteto Wilson Campos Júnior Cabo de Santo Agostinho (2013) Novo espaço de comercialização Garapu (2014) Inauguração da cerâmica do artesão Fernando Alves (2014) Criação do site/portfolio de produtos Mãos de Pernambuco (2014) Projeto do Centro de Artesanato Arquiteto Wilson Campos Júnior (2005) Início da construção do Centro de Artesanato Arquiteto Wilson Campos Júnior (2006) Consultoria da Comunidade Solidária

Linha do tempo - Mauriti Marcos 1900-1949 1950-1975 1976-1985 1986-1990 1991-2006 2007-2008 2009-2014 Principais atores sociais individuais ou coletivos envolvidos Manoel Paz precursor da Cerâmica (1900) José do Nascimento Celestino José Mota Celestino José Mota Filho Zezé dos filtros Zé Stamburgo (fazia artesanato) Intermediários. Exemplo: Inaldo da Galinha (atravessador) Apoio LBA e Cobal aos artesãos com projetos AD/Diper e Governo do Estado (Barro Suape) Coperbo (Empresa da qual comprava-se retraço de serraria) Deputado Cadoca (Facilitava negociações com empresas de Suape para obtenção do barro) Apoio do Sebrae Sebrae / UFPE O Imaginário Prefeitura BNB Lula Lima (instalou uma produção de filtros em Santo Inácio) Comunidade Solidária Prefeitura do Cabo Banco do Nordeste do Brasil Laboratório O Imaginário- UFPE Artesão Severino (Nena) AERPA - Plínio Santos Filho MCT Suape Família de Celé Associação de Ceramistas e Artesãos do Cabo Suape Prefeitura Laboratório O Imaginário- UFPE Fernando Alves Petrobras Deoclécio José Mariano (Deó) Erivaldo José de Paulo (Uruda) Portfólio de produtos Engenho Uchoa Produção de embalagem para mel Panelas Telhas e tijolos Produção de filtros (1940) Curau Quartinhas Manilhas Produtos utilitários, jarras, e filtros Tijolos e telhas manuais Alguidar Produziam a talha suporte para estocar água (1960) A oferta de produtos industrialzados em plástico e vidro ampliam as dificuldades de concorrência dos produtos em cerâmica (decorativos e utilitários) Utilitários: Filtros Fogareiro Caco de formiga Quartinha Decorativos: Jarro apolo Jarro sino Jarro degrau Caqueira Mealheiro Filtros Outras peças de menor valor Transformação na forma das peças Primeiro catálogo de produtos (padronização das peças) Criação da marca Ceramistas do Cabo Peça emblemática: petisqueira de Sr. Celé, Flores de Clebe e Totens de Nena Ainda continua a produção dos filtros Classificação e agrupamento dos produtos cuja finalidade é a organização Produtos desenvolvidos a partir da técnica do Olhar Atento Catálogo de produtos para Fenearte 2014

Linha do tempo - Mauriti Marcos 1900-1949 1950-1975 1976-1985 1986-1990 1991-2006 2007-2008 2009-2014 Modos de fazer e técnicas tradicionais Técnicas antigas para fabricação de panelas. Torno tradicional Uso do Torno Barro passado no pé Torno manual Barro passado na maromba Tinta natural (taguá) três fornos grandes, sendo seis queimas por semana Estoque de argila chamada de lamujo ou lamujem (barro residual produzido durante a execução da peça no torno) Introdução de novas tecnologias Oficinas para facilitar a organização dos espaços Definição de preços coletivamente Inicia a formulação do projeto coletivo/planejamento estratégico com a participação voluntária dos artesãos. Instalação do forno a gás Início das pesquisas com esmaltação Desenvolvimento de torno elétrico ergonômico Queima a gás natural Forno elétrico (2014) Contradições e problemas enfrentados Uso da madeira nativa (chamado pelos artesãos de lenha do mato) Concorrência interna. Os mesmos clientes e diferentes oleiros para atender a demanda nos mesmos espaços de produção Uso da lenha do mato Uso do mesmo fornecedor do barro Se por um lado a valorização do artesanato foi uma alternativa também trouxe a necessidade de novos mercados que demandava outro tipo de vendedor (novo intermediário) Apesar do pouco valor agregado ainda continua a produção de filtros Início do uso do barro de Suape Uso de madeira de retraço de construção As capacitações estavam voltadas para a inserção de jovens no artesanato. A sustentabilidade do artesão comprometida. O filtro permanecia como a demanda de mercado mais garantida. As questões relativas ao uso do barro, mesmo com a intervenção da Associação, não estão bem resolvidas (ambiental e institucionalmente) Mesmo com o incentivo e a divulgação os canais de distribuição e o mercado do filtro ainda é predominante. Concorrência da indústria de vidros e plástico A reação a mudança do Mauriti para o Centro de Artesanato, apesar da qualidade da estrutura oferecida. Nena foi o artesão que acreditou e investiu tempo (produção de peças e participação em feiras) A reação dos artesãos para trabalhar no Centro. A construção de um novo projeto coletivo e modelo de gestão

Linha do tempo - Mauriti Marcos 1900-1949 1950-1975 1976-1985 1986-1990 1991-2006 2007-2008 2009-2014 Resultados e impactos Engenho Massangana (melhor panela de barro do Brasil) Os oleiros trabalhavam para Celé e produziam por conta própria somente em suas residências A concorrência com outros artesãos A valorização do artesão/artista A necessidade do barro fez surgir a Associação dos Ceramistas e Artesãos do Cabo Seu Celé fez doações de 52 terrenos e 06 vendas no Mauriti Cursos e capacitações voltadas para o artesanato O arrendamento da Olaria agregou vários artesãos foco produção de filtro Primeira participação da Fenearte com mais espaço (no estande do Sebrae e no Imaginário) Exposição e divulgação do Ceramistas do Cabo Maior Reconhecimento Busca de maior valor agregado nos produtos Exposição de produtos com destaque na Fenearte Elaboração de convênio prefeitura/ universidade e copergás Dificuldade de fornecimento de barro (falta de planejamento dos ceramista para estocagem mais as dificuldade com a liberação de jazidas além da retirada de forma irregular e dificuldade de transporte Desarticulação dos ceramistas Premiação TOP 100 SEBRAE (2009 e 2012) Primeira compra de estande Fenearte (2010) Aproximação dos ceramistas de Jaboatão A construção de um novo projeto coletivo e modelo de gestão Premiação Pernambuco Design (2008)