LITERATURA E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DO USO DA OBRA NATURALISTA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO NO ENSINO MÉDIO

Documentos relacionados
UM JOGO BINOMIAL 1. INTRODUÇÃO

Respostas dos alunos sobre o curso

Leônidas Siqueira Duarte 1 Universidade Estadual da Paraíba UEPB / leonidas.duarte@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS

A escrita que faz a diferença

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Diretoria de Pós-graduação e Pesquisa

c- Muitas vezes nos deparamos com situações em que nos sentimos tão pequenos e às vezes pensamos que não vamos dar conta de solucioná-las.

RELATÓRIO SIMPLIFICADO FINAL PSICOLOGIA GENÉTICA DE JEAN PIAGET 2ª UNIDADE. Instrução Geral ao Relatório:

3 Metodologia de pesquisa

MODELO SUGERIDO PARA PROJETO DE PESQUISA

Sala de Jogos da matemática à interdisciplinaridade

RELATÓRIO FINAL - INDICADORES - DOCENTES ENGENHARIA AMBIENTAL EAD

LEVANTAMENTO DOS RESÍDUOS GERADOS PELOS DOMICÍLIOS LOCALIZADOS NO DISTRITO INDUSTRIAL DO MUNICÍPIO DE CÁCERES

Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú

PROEJETO ARBORIZAÇÃO, JARDINAGEM E HORTA COMUNIDADE BETEL: Contribuições Para a Formação Acadêmica

EDITAL DE LANÇAMENTO E SELEÇÃO DE ALUNOS PESQUISADORES PARA O PROJETO DE PESQUISA

O USO DO STOP MOTION COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA TORNAR MAIS LÚDICO O ENSINO DE BIOQUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

CIBERESPAÇO E O ENSINO: ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR VIANA

Biblioteca Escolar: estratégias para torná-la mais atraente

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE AO DESPERDÍCIO DE ALIMENTO

PARTICIPANDO DA CONSTRUÇÃO DA AGENDA 21 DA UFFS, CAMPUS CERRO LARGO, RS

GEOGRAFIA UNIVERSOS. Por que escolher a coleção Universos Geografia

Manual Geral de Aplicação Universal Entrada 2008

Plano de Trabalho Docente 2014

ORIENTAÇÕES TRABALHO EM EQUIPE. Trabalho em Equipe. Negociação

Período ATIVIDADE OBJETIVO Responsabilidade Local

Processo Seletivo/UFU - julho ª Prova Comum - PROVA TIPO 1 SOCIOLOGIA QUESTÃO 51

GEOGRAFIA ESCOLAR E O LÚDICO: ALGUMAS APROXIMAÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL II

EDUCAÇÃO E LEITURA: o ensino-aprendizagem da literatura nas escolas municipais e estaduais de cinco municípios do nordeste

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - A VACINAÇÃO CONTRA O PAPILOMA VÍRUS HUMANO (HPV)

TRANSFORMAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: OS PRIMEIROS PASSOS DE UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL1 1

I ENCONTRO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS CURSOS DE LICENCIATURA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA: EM BUSCA DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

Introdução

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONHECIMENTO DOS AGRICULTORES DO ASSENTAMENTO SANTA CRUZ, NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

ESCOLA ESTADUAL DR. MARTINHO MARQUES VERA LUCIA DOS SANTOS GIVANILZA ALVES DOS SANTOS MARIA APARECIDA CRIVELI SIRLEI R. C. DO P.

USO DO AUDIO-IMAGEM COMO FERRAMENTA DIDÁTICO PEDAGÓGICA EM ATIVIDADES EM SALA DE AULA.

Identidade e trabalho do coordenador pedagógico no cotidiano escolar

ÁREA: TURISMO AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO FLUXO DE TURISTAS PARA A ILHA GRANDE EM ANGRA DOS REIS - RJ

Mostra de Projetos Capoeira - menino Pé no Chão

PROJETO PROLICEN INFORMÁTICA NA ESCOLA : A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA E O ENSINO MÉDIO PÚBLICO

ENSINO-APRENDIZAGEM DA CARTOGRAFIA: OS CONTEÚDOS COM BASES MATEMÁTICAS NO ENSINO FUNDAMEANTAL 1

TABLETS COMO RECURSO DE ENSINO: UM ESTUDO COM PROFESSORES DE MATEMÁTICA NUMA ESCOLA PÚBLICA DA PARAÍBA

Consulta à Sociedade: Minuta de Resolução Complementar sobre Acreditação de Comitês de Ética em Pesquisa do Sistema CEP/CONEP

Ensino Técnico Integrado ao Médio FORMAÇÃO GERAL. Plano de Trabalho Docente

Redação Publicitária reflexões sobre teoria e prática 1

FORMAÇÃO CONTINUADA ONLINE DE PROFESSORES QUE ATUAM COM ESCOLARES EM TRATAMENTO DE SAÚDE Jacques de Lima Ferreira PUC-PR Agência Financiadora: CNPq

1º Concurso - Universidades Jornalismo e Publicidade - Maio Amarelo 2016

EBSERH E D I I T T R A

Lógica de Programação. Profas. Simone Campos Camargo e Janete Ferreira Biazotto

PROGRAMA DE CONSCIENTIZACAO DA SOCIEDADE CIVIL

TÍTULO: AUTORES: ÁREA TEMÁTICA: Objetivo

Normas para Apresentação de Trabalhos Ensino Médio (normas simplificadas adaptadas da ABNT)

PARALISIA CEREBRAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ACERCA DA INCLUSÃO ESCOLAR

A LITERATURA E PRODUÇÃO DE TEXTO EM SALA DE AULA: AS METODOLOGIAS DE DOCENTES DE UMA ESCOLA DO ENSINO FUNDAMENTAL DE PRESIDENTE PRUDENTE.

Práticas de linguagem: textos e contextos da escrita na educação infantil

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PONTA DOS DEDOS: COMO ENSINAR DEFICIENTES VISUAIS?

PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS DA ESCOLA MUNICIPAL CENTRO DE PROMOÇÃO EDUCACIONAL ACERCA DO ESTATUTO CRIANÇA E ADOLESCENTE

UM ESPETÁCULO DE DANÇA COMO MEDIADOR SEMIÓTICO NA AULA DE ARTE

Estudo aponta influência do código de barras e da tecnologia na decisão de compra do consumidor e na estratégia do varejo

APRESENTANDO O GÊNERO DIÁRIO

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU ESCOLA TÉCNICA VALE DO ITAJAI TÍTULO NOME

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Artes, Ciências e Humanidades Graduação em Gestão Ambiental Prof. Dra. Sylmara Gonçalves Dias

Atividades práticas-pedagógicas desenvolvidas em espaços não formais como parte do currículo da escola formal

Filme: O Xadrez das cores

ESCOLA ESTADUAL LUIS VAZ DE CAMÕES FEIRA DE CIÊNCIAS NA ESCOLA: O PRAZER DE DEMONSTRAR OS CONHECIMENTOS IPEZAL-DISTRITO DE ANGÉLICA/MS

Quadro sintético de ações na perspectiva da gestão democrática


Seminário Municipalista sobre Descentralização e Gestão Local

Os recursos tecnológicos na Educação de Jovens e Adultos: um diferencial no processo ensino aprendizagem.

COLÉGIO DE EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL FERNANDO DE ALMEIDA. Lista de trabalhos Terceiro Ano- 1 bimestre/ 2016

O POTENCIAL DE INOVAÇÃO E A QUESTÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NAS INDÚSTRIAS DA REGIÃO NOROESTE DO RS 1

Ismênia Pires. Obra - Operários Tarsila do Amaral 1933

A GEOGRAFIA DO PROFESSOR E A EMANCIPAÇÃO DO CIDADÃO

PROJETO BRINCANDO SE APRENDE

BREVE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AULAS NO ENSINO MÉDIO

O MEIO AMBIENTE: TEMA TRANSVERSAL

O ASSISTENTE SOCIAL E SEU PAPEL NA EFETIVAÇÃO DE GARANTIAS DE DIREITOS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NAS APAES

LIBRAS: CONHECER A CULTURA SURDA

Curso de Especialização DIREITO AMBIENTAL

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA ESCRITA EM CRIANÇAS DE ESCOLA PÚBLICA ORIUNDOS DE CLASSES POPULARES

GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

ATUAÇÃO DO TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Todas as crianças, tenham ou não deficiências, têm direito a educação. enhuma criança deve ser considerada ineducável.

2 PLANEJAMENTO AMBIENTAL. 2.2 Conceito de Planejamento Ambiental

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 40 h Semestre do Curso: 3º

ENADE: OS RESULTADOS INFLUENCIAM NA GESTÃO ACADÊMICA E NA QUALIDADE DOS CURSOS

Rodrigo Claudino Diogo 1, Valéria A. Ribeiro de Lima 2, Vanusa Maria de Paula 3, Rosymeire Evangelista Dias 4

BULLYING Questão de educação emocional e social

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

GUIA PEDAGÓGICO PARA OS PAIS Jardim I

O JOVEM COMERCIÁRIO: TRABALHO E ESTUDO

O Desenvolvimento Sustentável na Ótica da Agricultura Familiar Agroecológica: Uma Opção Inovadora no Assentamento Chico Mendes Pombos - PE Brasil

Eixo Temático ET Desenvolvimento de Estratégias Didáticas

O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) Introdução

PLANO DE TRABALHO DO PROFESSOR

O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CARTA PESSOAL: UMA EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA

Eliana Lúcia Ferreira Coordenadora do Curso.

ABORDAGEM METODOLÓGICA EM GEOGRAFIA: A PESQUISA DE CAMPO*

CARTA DA PLENÁRIA ESTADUAL DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA DE PERNAMBUCO AO MOVIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E À SOCIEDADE

O ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL DIDÁTICO COM VISTAS À INCLUSÃO

Transcrição:

LITERATURA E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DO USO DA OBRA NATURALISTA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO NO ENSINO MÉDIO Luciana Bessa Silva INTRODUÇÃO Literatura é a expressão cultural de um povo. Para entender uma obra literária, é necessário conhecer quando foi produzida, por quem foi produzida, qual a posição que o autor ocupa na sociedade e qual a sua intenção, uma vez que a Literatura, como toda obra de arte, veicula uma mensagem. O escritor escreve para ser lido, para ser debatido, para levar o leitor à reflexão, para causar prazer e, em muitos casos, para denunciar as mazelas da sociedade. Como todo tipo de Arte, a Literatura está vinculada à sociedade em que se origina. É raro encontrar um escritor indiferente à realidade, pois de alguma maneira, ele participa dos acontecimentos vividos pela sociedade. Isso não significa, necessariamente, que o escritor transforme sua obra num mero panfleto de denuncia social. Assim, não é possível analisar uma obra literária e seu autor desvinculado do meio em que está inserido, pois àquela é produto de uma cultura e tem o poder de retratar a alma do coletivo. Partindo dessa perspectiva, bem como de nossa prática como professor da referida disciplina, é que constatamos o abismo que há entre a leitura de uma obra literária e as reais necessidades de aprendizagem dos alunos. Portanto, esse trabalho tem como objeto de estudo estabelecer uma relação entre Literatura e Sociedade a partir das obras naturalistas de Aluísio de Azevedo. A metodologia desse trabalho é uma pesquisa bibliográfica para o melhor entendimento do tema proposto, seguida de uma pesquisa de campo no Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Barbalha-Ce, com alunos e professores através de uma entrevista estruturada. Pretendemos discutir a relação entre Literatura e Sociedade, além de mostrar aos alunos que uma obra literária não é resultado da inspiração ou do gênio de um escritor, mas que ela é construída socialmente, pois durante sua gestação, o escritor atua como um produtor e reprodutor da sociedade na qual está inserido. Professora de Produção e Interpretação Textual da Faculdade Leão Sampaio. 1

2 LITERATURA: UM PRODUTO DA SOCIEDADE A arte não é apenas o trabalho de um indivíduo (artista). Antes, a arte é um produto da sociedade humana. Nas palavras da professora Lajolo a obra literária é um objeto social. Para que ela exista, é preciso que alguém a escreva e que outro alguém a leia. Ela só existe enquanto obra nesse intercambio social. (LAJOLO, 1995, p. 16) Coube aos filósofos gregos discutirem as funções sociais da Literatura. Platão, defensor da mimese artística, defendia que arte/literatura era nociva ao bem-estar social. Para Horácio, poeta latino, a literatura apresentaria duas funções: educar e prazer. No século XVIII, com o período denominado de Romantismo, a literatura assumiria a função de evasiva e/ou escapista. Os escritores escreviam para fugir do tédio e da melancolia que o contexto social lhes impunha. Contudo, a partir do século XX, com desenvolvimento das ciências sociais, a literatura assume um caráter mais comprometido com a realidade. Para o crítico Wilson Martins, (...) o papel social do escritor e o seu compromisso dependem das circunstancias de tempo e lugar, exprimindo-se ora em textos engajados, como se dizia no vocabulário sartriano, ora, ao contrário, sublinalmente e por implicação da obra de arte pura. (MARTINS, 2005, p.2) A arte literária não surge do nada ou de um processo de pura imaginação. Ela é resultante dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos de uma época. No século XVIII, o Romantismo é fruto do nosso processo de independência. Por isso, os escritores exaltam a pátria, a natureza, a nação e a figura do índio. A Literatura é o canal divulgador de nossas belezas e grandezas. Contudo, no século XIX Proclamação da República, Abolição da Escravatura - não há mais lugar para a exaltação, mas sim para observação, análise e crítica à realidade vigente. É o período Realista/Naturalista, conhecido como uma arte reformadora. É um momento que arte assume um caráter mais comprometido com a realidade. Vale salientar que compromisso com a realidade é diferente de militância. Esta é uma opção ou contingência da ideologia do escritor. Escrever sob a perspectiva social, para imitá-la ou nega-lá é um método que se vale o escritor para aproximar a Literatura da realidade circundante. Assim, a Literatura torna-se um produto social. Primeiro, porque ao escrever para um público indefinido, o escritor congrega em torno de sua obra as mais variadas classes sociais; segundo, porque a Literatura além de proporcionar passatempo, informa e esclarece ao leitor acontecimentos históricos; terceiro, porque a Literatura é um produto produzido e consumido em moldes capitalistas (LAJOLO, 1995, p. 17). METODOLOGIA/RESULTADOS Com base nas pesquisas bibliográficas e de nossa prática em sala de aula ministrando a disciplina de Literatura, elegemos a entrevista para averiguar se e/ou como os professores do Ensino Médio trabalham as obra naturalistas do escritor Aluísio de Azevedo sob uma perspectiva sociológica. Foram consultados, ainda, os alunos para compreendermos como se processa todo esse trabalho. 2

A coleta de dados foi realizada no mês de novembro e dezembro do ano de 2008 na escola Nossa Senhora de Fátima, em Barbalha. Foram entrevistados 03 professores de Literatura (1º, 2º e 3º anos) e 15 alunos (05 de cada uma das respectivas séries), na idade entre 15 e 17 anos. Realizada a coleta de dados, pudemos constatar entre os professores do Ensino Médio extraem da obra naturalista sobremaneira os aspectos literários e que, em alguns momentos, naturalmente comentam alguns aspectos sociológicos como, por exemplo, o preconceito racial e a miséria humana. A professora do 1º ano, afirmou que é muito difícil utilizar as obras de Aluísio de Azevedo porque os alunos não estão preparados para entrar em um universo tão complexo como o naturalista. Assim, ela desenvolve a seguinte metodologia: Divide a turma em equipes e sorteia uma atividade para cada uma: contação de história, caracterização dos personagens, teatralização de algumas cenas relevantes do livro e maquetes. A professora do 2º ano afirma que o interessante das obras de Aluísio de Azevedo é que a mesma apresenta temáticas pobreza, degradação humana, prostituição, homossexualismo semelhantes a nossa realidade circundante. Dessa forma, a obra fica mais instigante aos olhos dos alunos. Ela lamenta o fato de ter apenas uma aula por semana e por esse motivo não ter tempo suficiente para trabalhar de forma mais direta os aspectos anteriormente citados. Acrescentou, ainda, que em muitas ocasiões solicitou a leitura da obra e realizou uma prova para verificar se os alunos haviam lido realmente o livro. A professora do 3º ano declarou que só trabalha uma obra de Aluísio de Azevedo quando ela é indicada para o vestibular de uma faculdade. Declarou, ainda, que analisa essencialmente com os aspectos literários: período literário, biografia do autor, enredo, narrador, personagens, tempo, espaço etc, contudo, ao examinar a obra de forma geral, trabalha com o contexto histórico e aspectos sociais: relação homem e mulher na sociedade, preconceito racial, miséria humana, animalização do ser humano etc. Vale ressaltar que tudo isso é desenvolvido em aulões aos sábados ou domingos e que dentro de sala de aula o aluno se dedica a estudar os movimentos literários e recebe um TD Trabalho Dirigido com as principais informações sobre a obra, elaboradas pelo professor. Quanto aos alunos do 1 º ano, disseram que trabalharam o livro O Cortiço, mas não gostaram, porque a linguagem era difícil, existiam muitas descrições e o enredo não era interessante, além do mais, apresentaram uma peça de teatro e que não viram a menor graça. Questionados sobre as temáticas sociais da obra, os alunos alegaram que elas não foram trabalhadas. Apenas a professora havia relacionado o cortiço às favelas, mas não deu prosseguimento ao assunto. Por fim, perguntados qual a relação entre Literatura e Sociedade os alunos não souberam responder. No que concerne aos alunos do 2º ano, (os alunos consultados foram do sexo feminino) afirmaram que gostaram de trabalhar a obra O Mulato, porque há o amor entre Raimundo e Ana Rosa. Quanto aos aspectos sociais da obra, destacaram o preconceito racial. Quanto à relação Literatura e Sociedade, declararam que aquela retrata os problemas existentes na política, na economia, na educação. Os alunos do 3º ano disseram que receberam um TD Trabalho Dirigido com as informações sobre a obra e que, portanto, não precisavam fazer a leitura integral da obra. Haviam trabalhado em sala alguns trechos e era suficiente. Quanto aos aspectos sociais presentes na obra, os professores tinham feito uma análise crítica e eles acharam muito importantes. Ao comentarem da relação Literatura e Sociedade, disseram que autor ao escrever uma obra torna-se imortal, ela (a obra) passa a fazer parte da sociedade. Acrescentaram que toda sociedade apresenta escritores, assim, também há literatura. 3

CONCLUSÃO Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri A partir do resultado da pesquisa realizada com os professores, constatamos que os mesmos não trabalham as obras naturalistas de Aluísio de Azevedo de forma satisfatória no sentido de não contribuir para que os alunos desenvolvam uma análise criticada realidade lida e vivida, ou seja, eles (alunos) são capazes de fazer provas, trabalhos, encenar trechos, caracteriza-se de personagens, contudo não são capazes de associar que as obras realistas/naturalistas imitam os problemas enfrentados por qualquer sociedade: exploração do homem pelo homem, degradação humana, pobreza, miséria, luta pelo poder, castas sociais, lutas de classes, preconceito etc temáticas trabalhadas pela Sociologia. Quanto aos alunos, nem todos são aptos a estabelecer a relação entre Literatura e Sociedade. Muitos, acreditamos, vêm a Literatura como um conjunto de fatos que precisam ser decorados para passar de ano marco inicial e final do período literário, biografia e características do autor. No entanto, a Literatura ultrapassa as fronteiras do imediatismo, do circunstancial, do prosaico ou mesmo da dramática história de amor. Ela conduz o leitor a refletir sobre sua condição na sociedade e os fatos que ocorrem no universo. Para isso ser possível, é fundamental REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história. 7ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985. LAJOLO, Marisa. O que é Literatura. São Paulo: Nova Cultural: Brasiliense, 1986 (Coleção Primeiros Passos) MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil. Rio de Janeiro: F. Alves, 2005. 4

5 Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri