A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES PARA O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA Paulo Damasceno do Amaral Neto; Débora Alfaia da Cunha Bolsista do projeto de extensão Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira (LAAB) UFPA/ Campus Castanhal; Profª. Drª da Faculdade de Pedagogia/ Campus Castanhal/UFPA Eixo temático V: Educação; Étnico-racial e-mail: paulinhodan01@hotmail.com RESUMO A pesquisa vincula-se ao projeto de extensão Ludicidade Africana e Afrobrasileira: produção de materiais didáticos e metodologias especificam para escolas quilombolas, coordenadas pela professora Dra. Débora alfaia da cunha. O trabalho tem por o objetivo conhecer as representações de discentes com relação à linguagem cinematográfica, assim como analisar o uso do cinema como recurso didáticometodológico para o ensino da cultura e história Africana e Afro-brasileira nos cursos de formação inicial de professores no Campus de Castanhal da Universidade Federal do Pará. Foi utilizado questionários de perguntas objetivas e subjetivas para saber o entendimento sobre a temática africana dos discentes, e ainda rodas de discussões referentes à temática exibida nos filmes. Os resultados da pesquisa constataram que o uso do cinema contribui para a formação inicial e continuada dos professores. Palavras-chave: Formação de Professores, Cinema, Cultura Africana. INTRODUÇÃO A aprovação da Lei Nº 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para estabelecer a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira na educação básica, exige a proposição e experimentação de novas metodologias e ações para que de fato se possa introduzir a temática histórica e cultural no currículo escolar e na formação inicial e continuada de professores. Tal desafio foi correspondido pelo projeto Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira (LAAB), na qual tem por objetivo produzir materiais didáticos para o ensino das relações etnicorraciais, auxiliando os professores na implementação da Lei 10.639/2003, que insere os estudos de cultura africana a afro-brasileira no currículo
escolar. Para tanto, utilizou-se de metodologias significativas para o processo de ensino e aprendizagem, entre as quais se destaca o uso da linguagem cinematográfica, por meio da apresentação de filmes e documentários voltada para a formação inicial e continuada de professores na temática africana e afro-brasileira, voltados a combater o racismo no ambiente escolar e acadêmico. Entendemos que a formação inicial e continuada de profissionais da educação deve acontecer na sua plenitude, contemplando os diversos saberes e culturas existentes no cotidiano escolar. Como nos afirma Ribeiro e Araújo: Entendemos que a formação dos profissionais da educação, em especial, dos professores, pode se atualizar e se ressignificar no curso de sua carreira, sofrendo mudanças com as alterações externas advindas da sociedade e das mudanças que ela impõe (2013, p. 29). Nessa moldura, o plano de trabalho ora apresentado busca ser uma ação educacional afirmativa do patrimônio sociocultural afro-brasileiro, e responder, com a arte do cinema, a legislação educacional contemporânea, que cobra das universidades a materialização de uma pedagogia antidiscriminatória (BRASIL, 2002). Nesse intuito, o plano iniciou com a apresentação de filmes e documentários, em sessões denominadas Cine-Afro UFPA, para alunos dos cursos de Licenciatura do Campus de Castanhal. O objetivo da ação era dar acesso aos diferentes olhares produzidos pelo cinema sobre o patrimônio negro, no Brasil e no mundo. A contextualização da valorização e respeito à cultura africana e afro-brasileira em nossas instituições de ensino, tanto nas escolas como na universidade, ainda precisa passar por grandes modificações curriculares. E cabe aos projetos de extensão, pela sensibilidade a cultura, a arte e a sociedade, serem espaço de proposições de novas práticas educativas. O projeto Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira (LAAB) e o plano de trabalho aqui exposto possuem essa ambição e esse sonho, de ajudar essas instituições a valorizar o patrimônio negro. A desconstruir preconceitos e estereótipos sobre o continente africano que o representam apenas nos aspectos negativos, vinculando a fome, a doença e a guerra (FELIPE, 2009). O uso do cinema permite lançar diversos olhares para a África, tanto de revolta, ao ver a omissão das organizações internacionais com a exploração da miséria pelas grandes indústrias, tais como a farmacêutica no filme O Jardineiro Fiel (2005) de Fernando Meireles, ou da guerra, como no longa-metragem Hotel Ruanda (2004) Terry George. O cinema permite polemizar o racismo americano, como em A outra
história americana (1998)Tony Kaye, ou as raízes da luta negra em solo brasileiro, como em Besouro (2009) João Tikhomiroff. Enfim, em todos novas nuances, novas questões sobre a temática negra são lançados e podem e devem ser pensados e debatidos. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é analisar o uso da produção cinematográfica como recurso didático-metodológico para o ensino da cultura e história Africana e Afrobrasileira nos cursos de formação inicial e continuada de professores no Campus de Castanhal, da Universidade Federal do Pará. METODOLOGIA O plano de trabalho teve inicio com o levantamento bibliográfico sobre o uso da linguagem cinematográfica para a formação de professores, mais especificamente nos cursos de licenciatura. Na sequência, realizou-se uma busca na internet, sobre a produção cinematográfica voltada a história dos negros brasileiros e do continente africano, bem como temáticas relativas à intolerância racial. Foram selecionados 10 títulos. Entre os filmes selecionados encontram-se Besouro de João Tikhomiroff., Amistad (1997) de Steven Spielberg, O jardineiro fiel (2005) de Fernando Meireles, Hotel Ruanda (2004) de Terry George, e outros. O Cine-Afro ocorreu de Março a outubro de 2013, e teve como objetivo não apenas analisar os filmes, mas também problematizar o olhar que tanto o cinema brasileiro quanto o internacional lançam para a história da África e de seus descendentes, bem como perceber quais efeitos da diáspora africana são retratados pelo cinema. A pesquisa, de caráter quantitativo, realizou-se por meio de um questionário aplicado a 230 alunos da UFPA do Campus de Castanhal, e ainda rodas de discussões referentes à temática exibida nos filmes. O mesmo foi constituído por 24 perguntas, objetivo e subjetivo, aplicado nos cursos de Pedagogia, Letras Matemática e Sistemas de Informação do campus de castanhal da UFPA, buscando identificar o repertório cinematográfico que estes alunos possuíam sobre a temática racial. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ficou evidenciado que é inquestionável a influencia da mídia no nosso cotidiano, afinal vivemos na era tecnológica, pois estamos cercados de mensagens
midiáticas por todos os lados. A releitura requer uma análise critica dessa linguagem cinematográfica, pois a mesma carrega em si elementos que colaboram para construir e descontruir opiniões e comportamentos sociais (TERUYA,2006). O cine-afro UFPA revelou, juntamente com os resultados dos questionários aplicados, que os alunos dos cursos de Pedagogia, Letras, Sistema de informação e Matemática, indicaram não conhecer filmes que tratassem do continente africano. Entre os que indicaram conhecer alguns filmes destaca-se a produção diamantes de sague (2006) de Edward Zweck, evidenciado um baixo contato com a temática racial produzida pelo cinema. A análise da trajetória do Cine-Afro UFPA revela a importância do uso do cinema na Educação das relações etnicorraciais, pois permitiu aos alunos de graduação lançar um novo olhar para o continente Africano e problematizarem as desigualdades sociais dos países africanos, a partir do modelo de desenvolvimento capitalista, no qual a produção da riqueza ocorre paralela ao aprofundamento da pobreza na periferia do sistema. O uso do cinema permitiu ainda aos alunos participantes compreenderem a necessidade do respeito à diferença para a superação do racismo, bem como corrigiu imprecisões e incoerências que possuíam acerca do continente africano. O plano evidencia a necessidade de novas ações voltadas à ampliação do conhecimento da potencialidade da linguagem audiovisual no ensino da cultura africana e afro-brasileira, o que levou o projeto LAAB a propor a organização, no site do projeto, de um guia de audiovisuais, incluindo filmes e documentários, produzidos no Brasil, em outros países e no próprio continente Africano, que permitam acessar a realidade plural e multifacetada da cultura africana contemporânea. CONCLUSÃO A linguagem cinematográfica é uma estratégia didática promissora para formação inicial e continuada de professores, pois os filmes provocaram reflexões sobre práticas sociais e educativas voltadas aos grupos de negros e pardos, problematizando os conceitos de igualdade, raça, etnia, diferença, cultura e conhecimento. REFERÊNCIAS DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autêntica. 2002. FELIPE, Delton Aparecido. Narrativas para Alteridade: O cinema na formação de professores professoras para o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na
educação básica. 2009. (Dissertação de mestrado) Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual de Maringá, Paraná, 2009. FELIPE, Delton Aparecido; TERUYA, Tereza Kazuko. Historia afro-brasileira: linguagem fílmica enriquece o conhecimento sobre a temática. Revista do Professor. Porto Alegre, Ano 24; n:95, jul/set. p.43-53, 2008. MUNANGA, Kabengele. Superando o racismo na escola. Brasilia: Ministerio da educação, Secretaria da Educação Fundamental, 2001. RIBEIRO, Maria Edilene; ARAÚJO, Naiara de Souza. A formação continuada de Professores: um olhar sobre o projeto inovações metodológicas. Castanhal, PA: GEPPE, 2013. p. 27-36. TERUYA, Tereza Kazuko; Trabalho e educação na era midiática. Maringá, PR: Eduem, 2006.