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InfoReggae - Edição 68 Territórios Sociais 23 de Janeiro de 2015 O Grupo AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. Coordenador Executivo José Junior Coordenador Executivo Adjunto Danilo G Costa Coordenação Editorial do InfoReggae e Autor da Proposta Marcelo Reis Garcia O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) +55 21 3095.7200 Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) +55 11 3249.1168 Gerente de Informação e Monitoramento Thales Santos Edição de Arte Luiz Adrien Equipe de Concepção e Debates Ana Cristina Silva Danilo Castro Marcelo Reis Garcia Naira Pereira Thales Santos Contatos www.afroreggae.org facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Patrocínio Institucional Parceria Apoio
Apresentação O trabalho social no Brasil segue sem um compromisso real com mobilidade e resultados. Segundo a nossa avaliação, não existe articulação, integração e resultado nas milhares e milhares de ações que se espalham por todo o Brasil. Temos nos intimidado em construir uma Nova Inteligência Social para práticas sociais que, a cada dia mostram-se mais e mais datadas. Um desafio diário que precisamos assumir no Brasil é com a inovação da gestão social dos projetos e programas sociais. Não faltam recursos e nem ações sociais no Brasil. O que falta é racionalidade, uma ação voltada para resultados e desconcentração de ações. Na maioria das vezes, Territórios mais pobres e vulneráveis tem menor cobertura de projetos. É a velha teoria "O rio corre para o mar". A opção por uma organização de estruturas de proteção e desenvolvimento social de forma histórica não consideram a vulnerabilidade e a urgência social de espaços importantes com alta vulnerabilidade e urgência social que se mostram com força ativa. Se olharmos com atenção o mapeamento da presença de programas de educação, vamos observar que, em geral, não estão localizados onde deveriam estar. E assim é com programas culturais, sociais, esportivos e habitacionais. A observação destes hiatos me levou a debater a urgência da construção de Territórios Sociais. Esta edição do InfoReggae apresenta o conceito e um caminho para que tenhamos no Brasil uma reorganização de prioridades e de foco. Figura 1 - Trabalhador Social em trabalho de campo. 3
A construção de Territórios Sociais será uma busca comprometida para fazer da pobreza, não um cenário esquecido, mas uma pintura que deve ganhar cor e vida. A implantação de Territórios Sociais teria a capacidade de reorganizar o financiamento público para que a pobreza e os brasileiros esquecidos nesta pobreza tivessem de fato acesso a uma ação integral que leve ao desenvolvimento individual, familiar e comunitário. Não é um debate fácil. É um debate que mexe com tradições, com culturas institucionais e, sobretudo, com uma característica muito atual no Brasil que se traduz por meio do distanciamento dos técnicos sociais das áreas mais vulneráveis do Brasil. Este conceito está em construção e posso considerar um novo momento a partir da Metodologia do Risco Social Família implantada no AfroReggae desde 2012 e que vem provocando um movimento de busca de soluções para a vida diária da população atendida por programas sociais. Em minha trajetória de 20 anos de trabalho social venho sempre me questionando se o que faço tem possibilitado mudanças reais na vida dura do povo brasileiro. Debater territórios sociais faz parte desta pergunta que vem me acompanhando deste que inicie minha carreira: O que fazemos está servindo para alguma coisa? Esta pergunta me confronta e me indica que a melhor resposta está sempre na busca de movimentos responsáveis que levem ações concretas a quem de fato mais precisa. Esta pergunta deve confrontar à todos os trabalhadores e gestores sociais. Esta pergunta não pode nunca fugir da resposta. Os Territórios Sociais surgem desta forma como um caminho para que esta resposta seja SIM. Marcelo Reis Garcia Coordenador Editorial do InfoReggae Responsável pela Proposta 4
A CIDADE E TERRITÓRIOS SOCIAIS Uma cidade precisa se conhecer e, sobretudo, conhecer suas principais vulnerabilidades e urgências sociais. O olhar sobre uma cidade, como um todo, não garante o que de fato precisamos. É preciso uma LUPA para olhar cada espaço da cidade. Para isso é fundamental dividir a cidade em territórios. Figura 2 Favela Santa Marta Botafogo/RJ Suponhamos que esta divisão, feita a partir de dados do IBGE e da observação real do crescimento da cidade, nos leve a 1.000 territórios. Destes, quantos seriam Territórios Sociais? A caracterização de Territórios Sociais deve levar em conta a cobertura institucional, indicadores de renda, saúde, educação e a Classificação do Risco Social das Famílias. Para ser um Território Social devemos aplicar uma Tabela de 20 Desproteções Sociais*: 1. Ausência de unidades de escola fundamental no território. 2. Ausência de Programa Saúde da Família. 3. Ausência de atividades sócio culturais e esportivas para crianças. 4. Unidade de Saúde com uma distância superior a 5 km. 5. Unidade de Assistência Social com uma distância superior a 5 km. 5
6. Creche e Pré-escola distantes a mais de 2 Km da comunidade. 7. 50% ou mais da comunidade tendo como renda familiar programas de transferência de renda. 8. 50% dos jovens entre 18 e 29 anos sem o ensino fundamental. 9. 50% das crianças e adolescentes em distorção idade/série. 10. 50% dos adolescentes que deveriam estar no ensino médio fora da escola ou ainda no ensino médio. 11. Analfabetismo de adultos acima de 10% da população. 12. Presença do tráfico de drogas. 13. 20% das famílias com membros adultos cumprindo penas por algum crime cometido. 14. 10% das famílias com membros adolescentes cumprindo medidas sócio educativas. 15. 5% das famílias com membros adolescentes cumprindo medida de privação de liberdade no sistema DEGASE. 16. 1% das famílias vivendo como população de rua para garantir renda familiar. 17. 15% das famílias vivendo em áreas de risco e em habitações vulneráveis. 18. 10% das famílias vivendo em casas sem acesso a banheiro e saneamento básico. 19. 10% das famílias com a presença de pessoas com deficiência e baixa mobilidade, sem acesso à escola e programas de reabilitação. 20. Ausência de Programa Social coordenado por Organização Social e Comunitária. * Cada Cidade pode identificar pontos diferentes para avaliar a Classificação de Territórios Sociais. 6
CLASSIFICAÇÃO DOS TERRITÓRIOS SOCIAIS A. Para cada uma destas ausências daremos 0,5 ponto. B. Se considera um Território Social aquele que somar 4 pontos. C. Territórios Sociais de 4 a 6 pontos são classificados como vulneráveis. D. Territórios Sociais de 6,5 a 8.5 pontos são classificados como altamente vulneráveis. E. Territórios Sociais de 9 a 10 pontos são classificados como Urgência Social. F. Não é possível classificar os territórios apenas com dados secundários. Precisamos de trabalho de campo. G. A classificação dos territórios deve ser divulgada com transparência para os moradores e para toda a cidade. H. A classificação dos territórios organiza a ação e a urgência da ação. I. A partir deste mapeamento temos um caminho a percorrer e um trabalho a ser feito, mas passamos a saber o que um Território Social precisa de fato. Devemos estruturar um Plano Municipal de Mobilidade dos Territórios Sociais levando em conta a Classificação dos Territórios e não a facilidade para implantação de projetos e construção de resultados. Os Territórios Sociais em Urgência Social terão, sem dúvida, mais dificuldades para uma ação integrada, mas é para lá que a prioridade social da Cidade deve caminhar. Um fato comum que ocorre com Programas Sociais no Brasil é que eles são pensados a partir de ideias técnicas ou vontades individuais e não da realidade social das comunidades. O Mapa dos Territórios Sociais muda isso. A estratégia dos Territórios Sociais muda o fazer social que se desarticula da realidade. A realidade passa a comandar as práticas e o fazer social. 7
O QUE FAZER A partir da classificação e divulgação dos resultados, a Prefeitura deve: A. Fazer um chamamento Público para Parcerias Sociais nos Territórios Sociais. B. Organizar o Plano de Travessia Social dos territórios sociais para que no período de 6 a 24 meses este território mude seu patamar de classificação ou deixe de ser um território social. C. As Secretarias, Autarquias e Fundações devem identificar sua responsabilidade no Plano de Travessia. D. Apresentar o Plano de Travessia Social para o Governo Estadual e Federal. E. Definir como prioridade nas leis de incentivo ações nos Territórios Sociais. F. Indicar que todo governo deve atuar de forma integrada nos Territórios. G. Constituir Grupo Externo e independente de Avaliação e Monitoramento. H. Divulgar mensalmente os passos dados no Plano de Mobilidade Social. Figura 3 Favela em Santa Teresa/RJ 8
PRÓXIMOS PASSOS A Equipe Técnica do AfroReggae segue colaborando comigo na organização deste processo que em construção. Não nos interessa um pacote fechado. Nos interessa um debate e a construção social e participativa de cidade em cidade. 9
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